sexta-feira, 27 de março de 2009

fREE cLASSICS






aVÔ & pAI, nETO & fILHO

No aguardado show de hoje no Teatro do Bourbon Country, em meio a versões de músicas de Bob Dylan e sucessos de sua carreira, o grande ZÉ RAMALHO vai cantar um de seus melhores clássicos: Avôhai.

Em entrevista ao jornalista gaúcho CRISTIANO BASTOS, publicada na revista Rolling Stone Brasil deste mês, o músico paraibano contou a origem da canção, dedicada ao avô – à esquerda na foto, em que Ramalho aparece no cantinho do outro lado.

"Depois da morte do pai, poeta, afogado num açude do sertão, foi criado pelo avô para ser médico. O avô-pai, após uma viagem lisérgica do neto envolvendo cogumelos, extraterrestres e mensagens telepáticas, virou a canção-hino Avôhai", escreveu o repórter.

A entrevista é ilustrada por fotos do álbum de família do intérprete como estas aqui. Passa lá no Bloger Lerina – www.zerohora.com/blogerlerina – pra ver mais fotos do jovem Zé Ramalho...

*

... Entre outras revelações, o cantor e compositor falou para a publicação sobre sua experiência com a cocaína durante 12 anos, que resultou em músicas como Frevo Mulher – outra que está no repertório desta noite:

– Essa música foi feita numa madrugada, num quarto de hotel. De repente dá aquela chispa. Eu estava tão agoniado, a cabeça latejando de tanto pó que tinha entrado, e fui tomar um banho para relaxar. Quando saí do banho, a música saiu junto. E fiz rapidamente. Foi feita para a Amelinha gravar.

*

Leia (e veja mais fotos) na Contracapa Zero-Hora de hoje.

quinta-feira, 26 de março de 2009

pAÊBIRÚ (ePÍLOGO)

Achávamos que ali estariam as chaves maiores. Eu conversava com Zé (Ramalho) e as imagens das palavras ecoavam na minha mente fundindo-se à realidade. Andávamos ou voávamos, e encontramos um outro traçado.

Nós os chamamos de Tratado dos Triângulos. Uma das rochas formando uma parede a mais ou menos vinte metros à esquerda da cabeça do lagarto, (digo à esquerda em se estando voltado para o sentido da corrente).

Trazia sua superfície totalmente talhada com triângulos de relevo agudo como sendo o entalhe posterior ao resto das escrituras existentes. Seria a própria formação atômico-molecular das rochas?

Olhávamos em volta pedras do templo recentemente quebradas. (Dizem os nativos que por Doutores Franceses). E não encontramos nenhum sinal da solidificação em triângulos como pensávamos.

As pedras mesmo em suas rachaduras naturais apresentavam-se sempre compactas, mostrando pequenos filetes brancos, paralelos e horizontais, possivelmente de sua solidificação em camadas.

Mais adiante encontramos traçados dos mesmos triângulos anteriores, porém tão desgastados como o resto das inscrições da pedra.

Teria sido duas as civilizações era épocas diferentes?

Seriam os triângulos a formação da própria rocha?

Ou uma certificação da existência de uma pirâmide naquele local?

O mistério se estende em tudo e lá continua em seu semi-esquecimento silencioso, provocando apenas tensões em nossos nervos, ânsias em nossos peitos e sons em nossas vidas.

Poucos e raros são os livros que tratam sobre as pedras, e nunca se descobriu ou relacionou seus símbolos com nenhum alfabeto da terra.

Apenas uma enorme lenda paira entre as idades do sertão.

SUMÉ.

O feiticeiro índio de cabelos vermelhos e barbas de fogo, que trilhou das praias e matas de cajús da Paraíba, até a porta do sol, ora com os índios, ora fugindo dos carirís-guerreiros canibais.

Conta-se que nessa fuga passou pelo Ingá e muitos sertões até Machu-pichu fazendo conhecer sua caminhada como PAEBIRÚ - A Estrada da Montanha do Sol.

Existem marcos realmente por todo o interior do Brasil que parecem confirmar a lenda. Cidades e vilas, curas e plantas que trazem o nome de SUMÉ ou ainda variações em torno desse nome, como se um mesmo homem ou motivo, os tivesse denominado assim na mesma era.

Muitos ouviram falar de Sumé. Poucos procuraram recompor a sua trilha.

Mas o templo de Ingá do Bacamarte nos deixou crer que todos aqueles símbolos gravados na pedra, formam um documento palpável de épocas bem anteriores ao carirís e ao grande feíticeiro.

Mãos ou raios?

Homens ou não gravaram esses sinais?

Eu quase já nem durmo.

LULA CÔRTES


terça-feira, 24 de março de 2009

pAÊBIRÚ (PARTE 3)



POR LULA CÔRTES

Corri ate lá, e descendo uma pequena elevação dei com o inesperado: uma imensa pedra medindo uns 15 a 20 metros de comprimento com a forma de um lagarto imenso e sua barriga era totalmente bordada pelos fungos antiqüíssimos e pelas escritas estranhas, imagens humanas e espirais desenhadas em relevo forte.

Êxtase.

A cabeça rodava sobre o pescoço e os olhos não sabiam ainda o que fitar. Entramos num templo, era a única coisa que sabíamos ao certo. Na areia quente, fosseis de búzios do mar, toda aquela área fora um mar antigo, a água cantava, as cigarras e os pássaros invisíveis, eram como sereias.

Nenhuma nuvem, e no rosto da terra os mesmos mapas dos rostos dos homens que havíamos encontrado em BACAMARTE.

A pedra brilhava e hipnotizava os lagartos pequenos. Estes correndo dada a quentura do chão, caiam em buracos espiralados e lisos, cavados pelas águas através dos anos, dali não podendo mais sair.

Suas pequenas garras não aderem à superfície lisa e quase mármore da Pedra Polida. As cobras têem as suas presas quando cai o sol. Sentamos a beira d'água. Os sapos entoavam um canto como o som do OMM.

Os troncos gemiam com vento que era mais forte. Uma música estranha se formava com os carros-de-boi gemendo distante, como um misto de festa e de incelença, como lamento e festejo do uno vital.

Harpa dos ares, e o mundo era um feixe de afinadíssimas cordas de cobre brilhante, e essas cordas loucas, e os gemidos seus se entrelaçavam nos galhos dos arvoredos tortos se misturando no verde do juazeiro novo e entre as bages secas e as sementes duras e vermelhas do mulungú sozinho.

AXÉ-CAÔ.

E as lâminas das pedreiras brilhantes eram como as tarrachas dessa afinação natural. O lagarto imenso coxilava e sua boca tocava um poço no lajedo levemente.

Ele bebia.

Com o tempo passando e os dedos nervosos como se tocassem, apalpávamos a pedra, enquanto com pequenos cacos de um coité quebrado, jogávamos água no dorso do templo ou nos altares do réptil.

Jogávamos água com avidez e os símbolos pulsavam e se moviam, cresciam e respiravam. O calor da pedra transformava em ar a umidade e um cheiro estranho emanava dessa fumaça, como se saindo dos fungos cinza-esverdeados.

Os fungos grandes eram como escamas e se estendiam em todo o corpo do animal. Às vezes sentados numa pequena sombra de uma rachadura, parecíamos assustados trogloditas, raquíticos e indefesos.

E aquele imenso sáurio nos olhava e era manso e pleno. Ali seria um templo da fertilidade?

O vento trazia as sementes da Paina, voando em seus veículos de seda de algodão quase cristalino, e os levava passeando ante as cavernas dos nossos olhos acesos.

Na barriga do templo-animal outro calango menor se achava gravado. Medindo uns três palmos. Outro símbolo redondo e com uma cruz, muito se assemelhava a um gameta feminino.

Órion regendo a terra-mãe.

E formas como um homem e uma mulher de cabeça para baixo, como se deitados talvez, o milho, as frutas encravadas, e ainda um símbolo incrível que multo nos fazia crer em toda essa loucura verdadeira.

Uma maçã e uma serpente.

O vento cantava entre as horas do mundo. E elas se passavam vagas e acústicas, lerdas e infladas, sopradas como as nuvens, raras e brancas. Os quatro elementos juntos formavam como um só corpo.

De homem e de mulher composto em formas indefinidas, e esse corpo fecundo, se alastrava no vento, se derretia no tempo, se demonstrava no mundo. Fetos dentro da água éramos no leito do rio.

E pássaros sobre o juízo éramos pensando muito.

Que caminho maravilhoso se estendia como sendo o rio, que branco e cristalino se move. Havíamos achado uma pirâmide anterior às Aztecas ou Incas?

A imagem da montanha com arestas quase triangulares do município de Bacamarte nos invadia e nos fazia crer estarmos em terras de um antigo reino ou civilização.

Será que a localização dessa montanha formaria um triângulo eqüilátero com as pirâmides do México e do Egito? A vontade que nos afligia agora, era de cavarmos com as próprias mãos o sopé da montanha piramidal.

Continua...

sexta-feira, 20 de março de 2009

pAÊBIRÚ (pARTE 2)


POR LULA CÔRTES

Comemos alguns cogumelos secos que encontramos. Não tínhamos água e uma forte emoção pairava sobre tudo. Um forte silêncio enchia a claridade, e dali por diante seriam as pedras, os lagartos, as cobras e as urtigas.

E como são elétricas as urtigas.

A informação parecia estar correta. Achamos o regato e acompanhamos o sentido do seu caminho. A água era clara e bastante salgada. E entre as rochas de formações vulcânicas, escorrendo leve e fria, ela descia conosco e nos refrescava o rosto e a boca, seca e sem saliva.

A irrealidade se apossava cada vez mais dos nossos corpos e de nossas mentes, e toda a lenda que nos havia enchido os ouvidos até aquele dia parecia florar em tudo.

Nas sombras raras onde descansávamos, nos maribondos e nas borboletas, e na nossa pele que se avermelhava ou se coloria com os primeiros símbolos que encontramos, claros e bem gastos dentro de uma loca.

Começamos a andar melhor sobre as pedras. Já sem os sapatos, éramos como os índios, e a medida que nos compenetrávamos disso, sabíamos mais onde procurar os escritos. E achamos vários.

Muitos quase findos. A água secular levou consigo muitos dos seus relevos e segredos. Éramos como os índios? Ou estranhos seres primitivos ou sem idade?

E como loucos assim achamos estrelas de um relevo mais forte.

Como pequenos sóis, elas estão talhadas na rocha de ferro vulcânico. Como se cunhadas por estranhos raios ou ainda gravadas por enormes homens.

Com um papel na mão subi a uma pedra que se punha ao lado da estranha constelação, e constatei que se assemelhava muito a Órion, constelação esta que nos escritos dos mapas estrelares dos astrólogos, regem os signos ligados à Terra.

Antes mesmo que falássemos das nossas assustadas conclusões, os olhos eram novamente surpreendidos.

Estávamos em pleno templo e olhávamos em volta felizes. Zé (Ramalho) foi andando como quem voa e encostou o rosto na pedra quente, e me chamava dizendo:

"É aqui, a pedra está VIVA!".




Continua...

tIGER fEET*


*Segundo do Tiger B. Smith:
We're the Tiger Bunch. Tão legal quanto Tiger Rock só que mais "colorido". A dadaística capa é obra à parte.










quinta-feira, 19 de março de 2009

pAÊBIRÚ (pARTE 1)


POR LULA CÔRTES

Todos os sóis do universo imenso, parece que brilhavam sobre nós naquele instante: seis léguas de sol e caatinga já havíamos andado desde ITABAIANA, a cidade mais próxima. O caminho de barro vermelho, esburacado e seco, banhava de poeira os mandacarus e arbustos de espinheiro, espalhando em tudo os tons de fogo, aumentando alucinadamente a sede e o calor.

Novamente a estrada se dividia, e nós nos decidimos por intuição, ao caminho da direita. Depois soubemos a resposta afirmativa: chegamos a Ingá do INGÁ DO BACAMARTE, pequeno povoado aos pés de uma montanha de arestas desgastadas como uma pirâmide antiga.

Nós caçávamos o passado, e os corações se encheram de esperança com aquela visão. Conversamos com os nativos que limpavam umas quadras de roça. O caminho que havíamos abandonado mais atrás era o de PEDRAS DE FOGO, outro pequeno aglomerado quase sem nenhuma chance de vida.

A água e muito escassa. Conversávamos sobre as pedras. E ao longo, no horizonte agora curto, o lombo prateado da BORBOREMA desenha curvas leves, demonstrativas de sua imensa idade.

A CUPAOBA - como a chamavam os CARIRÍS guerreiros que habitavam aqueles vales há muitas eras. Os nativos tinham mapas no rosto, e o sol lhes rachou os lábios como racha a terra, as pedras duras e afiadas que dificultam a caminhada, lhes endureceu o riso.

Quase sempre calados com os olhos brancos e fundos, eles aos poucos se aproximavam de nós e começavam a nos falar de lendas e de pedras pintadas deixadas pelos índios. Falavam do rio que atravessava o vale, o qual não tinhamos visto ainda, e à medida que contávamos o motivo da nossa estada ali, eles achavam muito estranho.

Um dos homens mais velhos informou enfim o destino que deveríamos seguir: mais cinco léguas por outra picada na caatinga, e quando encontrássemos um eucalipto grande dobrar à esquerda na última porteira branca. Lá se acabava para o carro todo o acesso, e os lajedos iam ficando mais freqüentes. O resto faríamos a pé.

Continua...

*A foto foi tirada no dia em que conheci Lula Côrtes. Em Casa de Pedra (espécie de comuna cultural encravada em Recife) - ambiente no qual se deu a concepção artística de Paêbirú. Algumas locações importantes de Nas Paredes da Pedra Encantada têm a casa como ambiente

íDOLO pOP*

Viver é um afago.

Hoje, como em todas as quintas, das 20h às 21h, vai ao ar na rádio Ipanema - 94.9 FM (ou www.ipanema.com.br) -, o programa Ping Pong!

Apresentado por Zelmo Swift, Pancho e Bam Bam, com agradáveis intervenções de mais um monte de gente da rádio e convidados, a pilha do programa é tocar sons bizarros, pouco conhecidos, toscos, de criadores geniais e subestimados, curiosidades, lados b ou o que bem passar pela cabeça dos caras!

E para regozijo geral da nação psicodélica desse mundão astral, o programa de hoje terá como convidados os mestres que estão na fotinho catêga aí de cima: Léo Bonfim e Plato Divorak!

Sim, PLATO DIVORAK, o mestre absoluto da psicodelia, bicho! Estará contando suas aventuras com dragões, alienígenas e pin ups desfiguradas, e apresentando seu novo lançamento, o disco "Vulcão de Preciosidades".

E além de ir lá pra tocar um som com o Plato (pois faz parte da banda dele, os Exciters), o carioca acochambrado em porto alegre Léo Bonfim vai também para falar sobre o filme que está finalizando, cuja direção divide com o jornalista Cristiano Bastos (o Terréks).

A pepita cinematográfica que estão para lançar chama-se "Nas Paredes da Pedra Encantada" e é um road movie que acompanha o músico Lula Côrtes em uma viagem de volta ao templo natural que inspirou o disco Paêbiru, que realizou em 75 com Zé Ramalho - e hoje é o vinil mais caro e raro do Brasil.

Não Perdam!

Pra viajar no cosmo não precisa gasolina (by Nei Lisboa)


*Plato - "nosso Rocky Ericson predileto" - terá participação especialíssima/artística no filme. Aguardem! Safadeza...

quarta-feira, 18 de março de 2009

fORÇA vERDE (1982)

Na abertura do quarto disco, Força Verde (que chegou cercado de expectativas), a viagem sonora começa com o som de um piano. Segundo Ramalho, as canções desse álbum têm intensa referência a deuses, figuras mitológicas, bíblia, apocalipse, esoterismo, paixão:

"É um disco feito para os fãs viajarem com as letras e ambiências criadas nas sessões de gravação", definiu. A música-título foi acusada de plágio - porém, não passou de equívoco. Tudo por causa de uma revista em quadrinhos...do Incrível Hulk!

A história de Força Verde vem desde 1976, quando Zé, chegado ao Rio de Janeiro, ainda atravessava seu período lisérgico pós-Paêbirú. Folheando um gibi do Hulk, reparou que os balões de determinada historinha continham "pura poesia". Fez uma música em torno daquilo e, quando finalmente resolveu gravá-la, achou que "não daria nada".

Contudo, um colecionador de gibis (um maletão né?) reconheceu o texto na letra e denunciou Zé Ramalho na TV, dizendo que ela pertecia, na verdade, a um poeta irlandês não creditado na revista original. A imprensa brasileira transformou o fato em escândalo: o apresentador Flávio Cavalcante chegou a chamar Zé de "ladrão".

Stan Lee e a Marvel Comics, criadores do personagem "Incrível Hulk", chegaram a ser procurados pela imprensa, mas resolveram pedir que abafassem o caso. Afinal, eles próprios não haviam creditado o poeta irlandês na revista original...

A CBS ficou temerosa e preferiu esconder o disco.

Hoje em dia, nem Hulk ou Marvel (muito menos o morto Cavalcante) poderão nos impedir de "pegar Força Verde emprestado" na internet. Qualquer dia desses devolvemos... Ah: de sua autoria, Zé regrava a paebiruana "Nas Paredes da Pedra Encantada" - transformada em "Segredos de Sumé".

Força Verde

Segredos de Sumé


Eternas ondas

fREE cLASSICS



eM bUSCA dO pAÊBIRÚ

*O artista plástico e arqueólogo paraibano Raul Córdula (homem que, nos anos 70, apresentou a Pedra do Ingá a Lula Côrtes e Zé Ramalho), escreveu esse texto em prosa poética que se encontra no encarte original do long-play de Paêbirú. Neste encarte, que torna o disco mais valioso ainda, também tem relatos da expedição feita por essa turma à localidade de Ingá do Bacamarte. Os relatos são assinados por Côrtes. Leia-os aqui em breve. Em 4 episódios

terça-feira, 17 de março de 2009

oH vIDA dE gADO!



*Dos arquivos de Zé Ramalho: proibida de cantar pelos censores militares, Joan Baez entra de surpresa no palco. Ramalho estava tocando "Admirável Gado Novo"

aS tRILHAS dE sUMÉ*

A pintura representa Sumé (Pai Tumé ou São Tomé) descerrando mata adentro o Caminho de Peabirú. Eis um mapa
Na imagem abaixo, uma ramal paranaense do caminho. Mui utilizado por índios, exploradores espanhóis, tropeiros e bandeirantes. Pelos entradas também
Regato que atravessa a ramal catarinense do Peabirú, em São Bento do Sul (SC)

Outro vestígio de Peabirú

No antigo retrato, expedidores saem em busca de Paebirú


*Uma das mais importantes heranças indígenas encontradas pelos colonizadores ao chegar ao Brasil foi, sem dúvida, o Peabirú, uma estrada de mais de 2.500 quilômetros - e com inúmeras rotas secundárias - que ligava o alto dos Andes até o litoral sul brasileiro.

O Peabirú era uma valeta de 1,40 metro de largura e 40 centímetros de profundidade, forrado por uma gramínea que impedia erosões. Os primeiros relatos sobre o caminho datam de 1516 e são envoltos em mistérios e lendas.

Entre eles, a de que o Peabirú fazia parte da Estrada do Sol, construída durante o Império Inca. O seu formato mais largo em relação às outras trilhas existentes em território brasileiro na época reforça a tese dos defensores dessa teoria.

Já os jesuítas acreditavam que ele havia sido construído por São Tomé. Especulações à parte, o fato é que o caminho, ladeado por muitas aldeias de índios guaranis, foi amplamente usado por diversos conquistadores, em diferentes períodos da colonização.

O trecho inicial do Peabirú, chamado de trilha dos tupiniquins, era o único meio conhecido na época de cruzar a Serra do Mar. Passou a ser muito utilizado também pelos jesuítas, principalmente por José de Anchieta, quando estes colocaram em prática o trabalho de catequização dos índios. Por isso, a trilha foi rebatizada como "Caminho do Padre José".

Daqui

Também tem um documentário rolando - "Expedição Peabirú". Parece bem interessante:

segunda-feira, 16 de março de 2009

nUM gOLE sÓ



Ao lado de Satwa, No Sub Reino dos Metazoários, de Marconi Notaro (outra raridade), de 1973, profetizou o "surto de nordeste" que inoculou gerações musicais do Recife e da Paraíba, nos anos 70 - cujo desbunde pleno desaguou na odisséia de gravação do mitológico Paêbirú.

"Desmantelado", samba rock composto por Notari, em 1968, nos tempos áureos do Teatro Popular do Nordeste, dá largada aos trabalhos. A banda que toca na bolacha é formada por Notaro, Robertinho de Recife, Zé Ramalho e Lula Côrtes. Entre outros.

O 'frevinho' "Fidelidade" (da letra: Permaneço fiel às minhas origens / filho de Deus / sobrinho de Satã) tem muito do espírito estradeiro do doc Nas Paredes da Pedra Encantada. Ou vice-versa.

"Made in PB" é a mais "noise": um rockaço. Parceria de Notaro e Ramalho - o début de Ramalho, na verdade. A guitarreira distorcida, cheia de efeitos de eco, é do jovem Robertinho de Recife. A produção gráfica leva a chancela do grupo multimídia Abrakadabra, de Côrtes & Katia Mesel. Em matrimônio, na época.

A surrealística capa do álbum, na verdade, é um desenho de Lula. As imagens deste post fazem parte do encarte original do filho único de Notaro na música. Que, além de poeta, era engajado fanzineiro.

Na foto "Povis", um registro raro de Marconi Notaro (de óculos). Ele posa ao lado poeta de mail art recifense Paulo Brusky (à sua direita).

Leia mais sobre o bendito aqui. "Seria ele um blogueiro?"...

Mais da verve poética de Notaro no trecho do poema "Num gole só"

Não se começa um poema / com provavelmente. / Começa-se com "não se começa." / Os hebraicos / diziam coisas-com-coisas / mas tudo em hebraico / e sou analfabeto de pai e mãe / nesse idioma./ Provavelmente / não se começa o mundo / em Roma / e nem lá se termina. / É que nem o amor / dado, / que outro não existe./ De blás blás constantes. /
ininterruptamente / constantes, / caminho metros de cerveja / e nada busco / senão a diferença / mais fria possível / desses olhares gulosos / remelentos de ociosidade. / Na esquina se grita : / "ei, menino, / interpretar / nada tem com interditar, / e essa metralhadora aí / na sua mão / não é de fogo de artifício não, ouviu ?" /

Felicidade

Made in PB

Não tenho imaginação para mudar de mulher

Desmantelado

pAÊBIRÚ!*

POR DANIEL FEIX

Aqui vão mais algumas informações e dois vídeos que dão uma ideia um pouquinho melhor do documentário Nas Paredes da Pedra Encantada, que o Cristiano Bastos e o Leonardo Bomfim estão montando em Porto Alegre.

O filme - se você leu a capa do Segundo Caderno da ZH de hoje sabe do que se trata - vai resgatar o processo de criação do disco Paêbirú, que os então jovens Zé Ramalho e Lula Côrtes lançaram em 1974.

Trata-se, segundo Bastos e Bomfim, do vinil mais caro do país, avaliado em cerca de R$ 4 mil - só existem 300 cópias do LP original; o restante foi perdido depois da grande enchente que inundou o Recife em 1975.

O nome do álbum faz alusão a uma pedreira localizada entre a capital pernambucana e João Pessoa (PB), por onde passava uma trilha indígena pré-histórica que, conforme os arqueólogos, ligava o litoral brasileiro às montanhas peruanas habitadas pelos Incas ("paêbirú" é uma corruptela de "apé biru", ou, "caminho do Peru").

Pois bem. Aos vídeos.

Primeiro, o teaser do filme, com o Lula Côrtes (figuraça!) fazendo às vezes de guia da equipe na expedição pelo sertão paraibano:

E, agora, um raro momento em que Zé Ramalho e o próprio Lula Côrtes aparecem tocando juntos à época. Os dois e o Alceu Valença numa performance inspiradíssima da espetacular Vou Danado pra Catende, de Valença, em 1975 (da esquerda para a direita, na linha de frente da banda, Zé, Alceu e Lula):

Tem mais dados sobre Nas Paredes da Pedra Encantada no blog sobre o filme, mantido por Bastos e Bomfim (acesse clicando aqui).

E, também, no blog pessoal do Cristiano Bastos (clique aqui), onde ele compila as reportagens que saíram sobre o filme e sobre o disco, inclusive a - excelente - que ele próprio escreveu sobre a viagem de Paêbirú para a Rolling Stone.

Pela amostra que se tem, e pelo que vi na mesa de montagem, o filme tem tudo para ficar beeem interessante. É esperar e conferir.

*Postado no Primeira Fila, blog de cinema do jornal Zero-Hora

eXTRA! eXTRA! eXTRA!

*Esse é o "Dia de Lula Côrtes" no Rio Grande do Sul! Capa do Segundo Caderno da Zero-Hora. Psicodélico né? Para uma leitura 8 miles high clique no tricórdio...

sábado, 14 de março de 2009

fREVODELIA mACABRA!



*Do segundo álbum, a psicotropia tropical de "Frevo Mulher". Sucesso na voz da ex-esposa Amelinha. A bem da verdade: Ramalho a compôs no "ritmo do Cartel de Medellín"...

jOAN bAEZ: "eSTOY pROIBIDA!"*

*Zé Ramalho e Joan Baez durante apresentação de "Admirável Gado Novo" - 1980, Rio de Janeiro. Na ocasião, Baez (ovacionada pelo público) foi proibida pela censura militar de se apresentar no Brasil - ao lado do "subversivo" paraibano.

Ramalho conta essa passagem na histórica entrevista à Rolling Stone. A foto do post - separada no Baú do Ramalho por ele próprio - registra o catártico momento.

Leia um trecho no qual Ramalho fala sobre o encontro. Ouça depois saborosa seleção de músicas pinçadas em seu fantástico álbum de estréia.

"Meninas de Albarã" é uma de minhas favoritas. Eu diria: a mais "opiácia"...

Zé Ramalho - Fui pessoalmente ao hotel onde ela (Joan Baez) estava hospedada. Muito simples, ela me recebeu em seu apartamento. Ensaiei eu e essa mulher, sozinho, com um violão, a música do Geraldo Vandré "Vou Caminhando". Em português. Mas a censura não liberou. Veio um documento da Polícia Federal impedindo a apresentação dela nesse show: "Proibida de cantar". Isso eu tenho guardado no meu arquivo. Ela estava aqui pra se encontrar com Lula, sindicalista. O Senador Eduardo Suplici, na época ainda vereador, foi quem a levou. Com Baez tive a sensação de estar muito próximo ao universo de Dylan. No meu arquivo também tenho guardado a gravação da gente cantando Vandré e "Imagine", no quarto do hotel. Baez foi impedida de cantar, mas subiu ao palco e disse: "Não posso cantar...". A platéia delirando. Ela , no entanto, entrou no palco sem avisar. Em "Admirável Gado Novo", dançando e disse: "Não posso cantar. Estoy proibida!". Depois que acabou o show filmamos essas duas canções no seu camarim. Depois enviei uma cópia do VHS pra ela. Já faz quase 30 anos. Se eu botar esse vídeo no youtube pega fogo! Está guardado. Isso não morreu.

Avôhai

Vila do Sossego

A Dança das Borboletas

Meninas de Albarã

sexta-feira, 13 de março de 2009

o lAGARTO qUE iLUMINA









*O arqueólogo Gabriele Baraldi afirma que o monumento paraibano - A Pedra do Ingá - se trata de um "documento milenar", escrito em hieróglifos hititas. Segundo Baraldi, essa região da Paraíba (Ingá do Bacamarte) guarda dois grandes monumentos arqueológicos de longeva antiguidade: a Pedra do Ingá, gravada com hieróglifos hititas e outro, chamado Pedra Arzawa...

Nas ilustrações, codificações feitas dos símblos encontrados na Pedra do Ingá, como essa acima, com pinta de micróbio. Na verdade, a costelação de Orion.

Está nos versos de "Pedra Templo Animal":

"E o canto do Bacurau / Embaixo de Orion / das estrelas pequeninas / Se deita pelas campinas a Pedra Templo Animal / A Sereia do Mar"

Mais

sexta-feira, 6 de março de 2009

nELSON dE tODOS oS tEMPOS

o vELHO & iNDIVISÍVEL zÉ rAMALHO

*Na edição de março da Rolling Stone (nas bancas nos próximos dias), confira a psicanalítica entrevista que fiz com Zé Ramalho, no Rio de Janeiro, no mês de fevereiro. Por enquanto, leia alguns trechos que ficaram de fora da reportagem.
O restante, só na revista. No site da RS, aprecie também uma discografia comentada que analisa 30 anos de carreira desse paraibano natural de Brejo do Cruz.
Na foto acima (e abaixo), Zé Ramalho com o filho Christian, ao lado da avó e do mítico "Avôhai" - seu "avô & pai".
Logo abaixo, o cantor posa de Elvis paraibano em meados dos anos 60.
Outra coisa: Zé Ramalho falou sobre Paêbirú, finalmente...
Fale de Robertinho de Recife que, no último álbum (Canta Bob Dylan - Tá tudo mudando), toca e produz. A parceria de vocês vem desde o tempo de "Made in PB".
Zé Ramalho – No Sub Reino do Metaozários. Marconi Notaro foi um artista que deveria ter seguido em frente. Foi um visionário. Naquela música "Permaneço fiel... Filho de Deus, sobrinho de Satã" (cantarola) - "Fidelidade", letra espetacular. Um disco que merecia ser regravado depois. O som é muito ruim porque não foi gravado na Rozenblit e, sim, na TV Universitária de Recife. É muito embolado, porém, a criatividade é grandiosa.
Saco o compacto dos Mamas and the The Papas – "Dedicated to the love i one" (1967). Álbum original customizado pelo adolescente José Ramalho Neto. Em minha visita à residêndia dos Ramalho, em João Pessoa (durante apuração da reportagem Agreste Psicodélico, sobre o disco Paêbirú), Zélia, sua prima, o havia me "emprestado". Devolvo-lhe a preciosidade...
Zé Ramalho – (pasmo, sem saber o que dizer) Eu me lembro disso aqui, rapaz... Mamas and the The Papas, "Dedicated to the love i one". Nossa, como eu adorava! Porra, muito lindo!
Estou lhe devolvendo. É seu.
Zé Ramalho – Obrigado. (risos) Toda capa de disco meu sou em que faço. Só um álbum meu - o sugestivo Décimas de um cantador - fugiu ao meu controle. Quando resumiram as capas de vinil pra CD muitos detalhes desaparecem. Na capa deste vinil, eu empunho uma gilete de ouro. Eu estou com ela na mão. A gilete era real. Na contracapa, meu nome está grafado com fileiras de cocaína. Mas foi a minha revelia. Como experiência, durou 12 anos de minha vida. Doze anos até esgotar a experiência.

Arquivo do blog

Who's Next?