quarta-feira, 18 de agosto de 2010

eU sOU uM íDOLO pOP!*

Com dois discos para serem lançados e um tributo em sua homenagem em produção, Plato Divorak reforça seu status de herói cult da psicodelia brasileira
POR CRISTIANO BASTOS
1966. O ano do "amanhecer psicodélico" – que, em 1967, culminou no summer of love – alvejou o rock-n-roll, até então uma musicalidade "p&b", com sonoridades multicoloridas. Revolucionários álbuns lançados neste ano alteraram o curso histórico do rock:
Revolver (Beatles), Pet Sounds (Beach Boys), Fifth Dimension (Byrds), Face to Face (Kinks), Freak Out! (Mothers Of Invention), The Psychedelic Sounds of The 13th Floor Elevators (13th Floor Elevators).
Há 44 anos, o ventre do Planeta Terra também paria o ser (humano?) batizado Paulo Alexandre Paixão de Oliveira – o qual atende, porém, pela artística alcunha de "Plato Divorak".
Muito melhor do que apresentá-lo é deixar tais honrarias para a epígrafe que o compositor de mão cheia, que Plato é, escreveu na canção "Eu sou um ídolo pop", que abre um de seus novos discos:
"Hoje eu crio o ambiente das festas de minha juventude. Amanhã estarei de olhos vendados para a sua maldade. Que nasçam os frutos da bonança. Eu não vou compor a minha Yesterday, porque eu sou o Paul McCartney. Só que ele não sabe que ele sou eu… Na escuridão, eu atiro na tarântula. Não gosto de mulheres afetadas. E então, é nessa hora cósmica que proclamo: eu sou um ídolo pop!"

O caminho de Plato para o "estrelato pop" começa em 1988, ao integrar a banda Os Jaquetas e, depois, tocando com Edu K no power trio O.F.F. No mesmo ano, saiu-se com a cultuada Père Lachaise e, em 1994, montou a Lovecraft.
O duo Frank & Plato é de 93 e existe até hoje com o título de Frank Jorge & Plato Divorak e Empresa Pimenta. Plato Divorak & Os Sha-Zams foi seu primeiro projeto combo-solo. Com o Momento 68, Divorak gravou Onde estão suas canções?, álbum de 1999, com Sandro Garcia (hoje no Continental Combo).
Plato & Os Analógicos veio em 2004: "De 1996 a 2004, me dediquei quase que integralmente às gravações-solo — uma espécie de ‘Jovem guarda de expansão’: muita lisergia, ritmos brasileiros e rock", Plato explica.

Dono de vasta produção musical, Plato Divorak é persona essencial do underground não só porto-alegrense, como mundial e brasileiro, ao lado, por exemplo, de Jorge Amiden (da cultuada e esquecida banda carioca Karma) e—ousaria dizer—do mutante Arnaldo Baptista.
A verdade é que Plato Divorak, usando de expressão de sua lavra, "nunca está dormindo". Ele não para, ou melhor, nunca parou de compor. Em abril, o compositor gravou 18 músicas novas.
Três delas estão no recém-lançado single virtual Psychodisk. Nele, Plato Divorak apresenta três novas canções, hits-instantâneos que farão parte de seu próximo álbum, Space Fusion, em fase de finalização.
Para 2010, além de Space Fusion, Plato prepara suas cartas para o lançamento de Plato Divorak & Os Exciters, disco inédito pronto desde 2007 e, também, pelo tributo que vem sendo produzido a todo vapor pelo jornalista brasiliense Pedro Brandt.
A NOIZE ouviu os três lançamentos com exclusividade.
"Eu crio uma filosofia musical para os heróis deserdados de outras eras. Esse rock intransferível, uma abrupta paixão por autores, bandas e artistas dos espetaculares anos 60 fazem parte de nossa vida ainda hoje. Estou na terceira camada ou no subterranean sixties", diz Plato sobre sua arte lisérgica.
Para os registros sonoros (tanto o disco com os Exciters, quanto os mais recentes), Plato, mais uma vez, contou com o abrilhantamento do produtor Thomas Dreher.
No disco gravado este ano, Plato e o guitarrista Leonardo Bomfim também contaram com o especial little help do guitarrista Julio Cascaes (Hipnóticos) e do Gésner Mess (Maria do Relento), um dos fieis escudeiros de Plato. Ambos "xamânicos", ele conceitua os parceiros.

Plato define as três faixas do single, que conta com "A mulher brasileira é a mais linda" e "Crematory Boys", como "uma diversificada sugestão autoral". A primeira canção é uma espécie de samba-rock psicodélico que remete a Jorge Ben fase Tábua de Esmeralda, e a segunda tem o clima The Who/Pink Floyd dos primórdios:
"Coisas que saíram de moda em Porto Alegre, mas que ainda são ótimas para pegar emprestado", nota Bomfim.

Em Space Fusion, Leonardo toca baixo, os quais foram gravados todos num take, praticamente. Detalhe: as guitarras de Julio Cascaes foram registradas sem que o instrumentista tivesse ouvido as composições anteriormente.
"O disco todo foi gravado de primeira", conta Leo. O produtor Thomas Dreher, responsável pelas excepcionais gravações, por sua vez, entende-se exemplarmente com a "complexidade psicodélica" do Plato.
"O disco foi gravado numa velocidade supersônica, porém, com qualidade. É cheio de detalhes nos arranjos, violões, percussão e guitarras", continua o guitarrista.

O resultado, de fato, atingiu a excelência. Além das experimentações costumeiras, está repleto de hits, como "Xenon Light", sobre o amor de um homem por sua robô, e "Let shine on", na qual Plato prova que sua lisergia não é só aquela batida anacrônica fincada em previsíveis territórios dos imprevisíveis sixties.
"Space Fusion viaja pelo krautrock, soul e funk. Tem as 'Syd Barrett ballads' e várias surpresas que as pessoas, com o tempo, irão aglutinar. Espero não estar sendo arrogante nesse caso”, desculpa-se Plato, que divide a psicodelia em três "camadas".
Ele, certamente, encontra-se na terceria delas, nada devendo a legendas psicodélicas da linhagem de Syd Barrett (Pink Floyd), Alexander "Skip" Spence (Moby Grape) e Rocky Erickson (13th Floor Elevators).
Exceto por Erickson, nosso Divorak, que se afirma um "connoisser de rock, sixties e jazz", gravou mais do que esses dois britâncos, os quais—muito diferente do que, comumente, supõe-se sobre o gaúcho—perderam-se na loucura. Plato segue firme com a sua "lucidez" criativa.
Frank Jorge não mais consegue precisar o ano, muito menos a data exata, em que conheceu Plato Divorak. A única lembrança certa, Frank examina a memória, é que o encontro entre eles rolou na segunda metade do anos 1980.

Para Frank, a "mania sixtie" sulista de venerar Beatles e Stones, e o punk e a new wave do período fizeram com que Lou Reed e Jim Morrison ficassem esquecidos em Porto Alegre. "Passaram quase batidos", afirma.
O Plato era um destes outsiders que se ligavam nas outras vertentes estéticas.
"Ele trazia essas outras influências, mas, obviamente, recicladas, abrasileiradas. Ou melhor, "aportoalegrezadas". Se Dylan trouxe poesia para o rock, Plato trouxe o sadomasoquismo, a poesia de Rimbaud e o surrealismo para os nossos insistentes iê-iê-iês. Plato tem sempre alguma novidade escondida em algum bolso. Chegou a hora do mundo conhecer Plato Divorak. Atreva-se a não gostar. “Canaaaaaaaaaaaaaaalha!!!".

No tributo organizado por Pedro Brandt, participam bandas de diversos estilos, como a psicodélica Band of Pixies, que regravou "Antiglitter". De acordo com o músico, a escolha do fonograma caiu como uma luva na sonoridade de seu novo acid trio.
A música, que tem atmosfera de conto de fadas espacial, canaliza o encontro de Jimi Hendrix com os duendes do Planeta Gong.
"Adicionamos uma seção final spaced-out, desconstruindo o espaço-tempo galático. Dobra espacial 5, Sr. Sulu. Viva Plato, já estamos em 2032!!!", anima-se Golfetti, que estabeleceu o link com Plato ainda no final dos anos 1980, quando trocavam mensagens através da Radio Gnome Invisible.
Brandt conta que começou a articular o tributo ao Plato—de quem é amigo há anos—escolhendo, primeiramente, as músicas de seu repertório. Depois os convites foram feitos às bandas. “Eu escolhi algumas bandas, o Plato, outras.
Tocam bandas de Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, São Paulo, Aracaju e Florianópolis. Serão feitas versões para músicas de todas as épocas da carreira dele: Père Lachaise, Lovecraft, Frank & Plato e Plato solo”, explica o jornalista.

Até agora, cinco gravações já foram entregues: "Volta às aulas em San Tropez", com Marcelo Mendes, "Melô do Zé Bigorna", com os Irmãos Panarotto, "Iluminados monstros do amor", com os cariocas Do Amor e a já citada "Antiglitter".
A gravação de "Pensa demais", com os gaúchos Galãs da Menopausa, tinha sido gravada em 2008, nas nunca usada, e acabou entrando para o projeto.

"Escolhemos 'Romance mórbido' porque está inclusa em um de nossos discos favoritos—senão, o favorito—de rock gravado nos Pampas, o Amnésia Global, de Frank e Plato”, sublinha Andrio Maquenzi, da Superguidis.
"É uma canção pueril, desconexa, lasciva, como sempre foi qualquer obra-prima do Plato. Eu e o Lucas Pocamacha gastamos esse disco quando o conhecemos, no início dos anos 2000. Grata e bem-vinda surpresa. Obviamente, vamos fazer uma versão podreira, sentando a lenha com guitarras cortantes à la Dinosaur Jr. E, sim, é uma grande honra fazer parte desse tributo. 'E quem vocês pensam que são?'".

A ideia, explica Pedro, é lançar como disco virtual, para download gratuito na internet. Mas o jornalista sonda, também, selos que possam se interessar em viabilizar o projeto em CD. "O objetivo principal do tributo é prestar uma homenagem ao Plato e, claro, ajudar a popularizar a produção musical dele."

"Sobre o Plato, o melhor de tudo é conviver com a figura durante todos esses anos", conta Leo Bomfim. "Importante ressaltar que ele não é um personagem, o Plato é o Plato, vinte quatro horas por dia. O que ele coloca nas músicas é o que ele vive. É a realidade dele mesmo. Porque há muitos 'doidões' por aí que são puro personagem."

A parceria de Leo e Plato nasceu para participar de um tributo virtual a Ronnie Von. O mais importante projeto, entretanto, é o disco de estréia de Plato Divorak & Os Exciters, ainda inédito, segundo Leo, por conta de uma sacanagem do selo Pisces Records.
Causos e lendas sobre Plato Divorak, há centenas. Em Porto Alegre, todo mundo sabe pelo menos alguma história "absurda" relacionada a ele.
Uma de suas clássicas, destaca Bomfim, é sobre todo integrante novo que entra em suas bandas. O "batismo" dos neófitos músicos consiste em ser devidamente apresentado às suas "amiguinhas"” numa legítima casa da luz vermelha no centro de Porto Alegre—o que, no fundo, não é nada mal...
"O Plato tem uma tática sensacional pra não pagar pelo prazer. Ele começa a fazer as preliminares e depois de amassar bastante a menina, pergunta quanto é o anal. Ela diz o preço e ele diz que não tem essa grana. Aí vai pra outra salinha e faz o mesmo. Depois de umas cinco ele já se satisfez", o amigo revela.
"Acho que nosso novo hit, 'A mulher brasileira é a mais linda', resume um pouco essa vida que eu levo", considera o lendário Plato Divorak. Sobre rock, sua maior especialidade, ele respira como um filósofo pop:
"Eu quero criar uma filosofia. Eu tenho a história do rock em minhas mãos."
Amônia (Père Lachaise)

A mulher brasileira é a mais linda (Exciters)
Crematoy Boys (Exciters)
*Revista NOIZE

pLATO dIVORAK: "nUNCA eSTOU dORMINDO"*

Quais as grandes bandas do rock pra você?
Plato - The Deviants, Love, Byrds, Velvet Underground, Can, King Crimson, MC5, Frank Zappa & The Mothers of Invention, Led Zeppelin, Television, Sonic Youth, The Who, Stranglers, Pink Floyd e Them.
Porque têm sonoridade única, transparecendo raça e talento - tão em falta hoje.
Vai fazer rock até morrer?
Plato - Queria que as pessoas soubessem que nunca estou dormindo. Enquanto a maioria dos mortais prepara a "caminha", eu estou com três tipos de canetas (fina, média e grossa) preparadas para um ataque letrístico.
Psicodelia dá manga pro pano nos anos 2000?
Plato - Se está dando pros Mutantes, por que não vai dar pra mim?! Existem tentáculos que direcionam o artista pros mais livres métodos de criação, portanto, a psicodelia também está incluída.
Senão, não estaria tocando, conhecendo pessoas legais, trocando informações com outros músicos, making love, taking acid, smoking pot e touching chicken girls.
É só vir um grupo lá da Europa cantando temas franceses à la Vive La Fête, e todos já ficam ouriçados, loucos pra invadirem as boates. Que culpa tenho eu? É bem culpa do psychedelic world, coberto de invejas e intriguinhas. Eu, fora!
O selo Krakatoa Records ainda rola?
Plato - Existe, sim senhor! Comecei em 1991 com fitas k7, que estava muito na moda naquela época. Do ano 2000 pra cá, só lanço Cds.
Estou preparando um disco com dois shows acústicos: vai se chamar The Good Memories Bootleg, as minhas apresentações-solo.
As apresentações foram gravados em 1997. Outro lançamento na cartola é a coletânea Translucid Trippers, no qual a Krakatoa une os discos Guru Psychosis, de 2001 , e Saifaiscaflex, de 2004 - e mais 12 inéditas.
O rock psicodélico, o protopunk, o lounge, o bizarrodelic dão as caras na coletânea. A qualidade da gravação é muito boa. Entrem em contato e terão o seu.
Qual foi o personagem mais subestimado do psicodelismo?
Plato - Alexander Skipe Spence, do Moby Grape, que lançou o disco solo OAR, em 1969. Ele chafurdou nas drogas sem saber aonde elas o levariam. Estou lendo sobre Spence no livro The Acid Archives, sobre artistas psicodélicos - de 1964 a 1982.
É fascinante. A história do under do underground.
O imaginário em torno de Plato Divorak é verdade - ou mentira deslavada?
Plato - Muitas são as fofocas que me atingem de forma delicada, mas me fazem viver de forma mais arriscada, como o Roberto Carlos dentro de um helicóptero, não é mesmo?
Mas este imaginário, pra mim, são os degraus da sabedoria que eu mesmo galguei até chegar aqui.
Qual o filme mais doido seus olhos já viram?
Plato - Um que vi nos anos 80: era tão ácido que aparecia uma igreja pegando fogo - um barbudo/cabeludo na cruz, e a gurizada de San Francisco fugindo pelas ruas. Safadeza...
O nome era Busca Alucinada! Fora esse, Easy Rider, Venus In Furs, The Trip, Riot on Sunset Strip, o grande Zabriskie Point .
Diga qual é "o disco" do psicodelismo brasileiro?
Plato - Por Favor, Sucesso, do Liverpool. Foi lançado pela Tapecar, um raro selo gaúcho, em 1969. Me desculpem, mas não existem outros. Os Mutantes eu não cito porque eles faziam música lounge.
E a banda mais bizarra?
Plato - Talvez o Hapshash & The Coloured Coat. Esses caras faziam cartazes em 67, o visual dos caras era meio experience e o disco se chamava Western Flyer, de 68. Se você quiser escutá-lo como uma coisa audível, também pode.
Um panorama de sua carreira...
Plato - Em 88, com os Jaquetas, toquei com Big Mac, o incendiário dos teclados. Depois toquei com Edu K no power trio O.F.F.
A Pére Lachaise surgiu ainda em 88, com os guitarristas Irapa e Eduardo Diaz. Flávio Passos, no baixo, e Sérgio Rodrigues, na bateria. Em 91, entraram o Alemão, na bateria, e o Frank Jorge, na guitarra, pois a Graforréia estava falida na época.
Circulavam pelo grupo "os guitarmen" Vasco Piva e Eduardo Christ. A Lovecraft começou em 94, com Betão na guitarra, Regis Sam no baixo e Gésner Mess, na bateria.
O grupo era muito paparicado por trazer de volta o som dos anos 60. Frank & Plato é de 93, e existe até hoje com o título de Frank Jorge & Plato Divorak e Empresa Pimenta.
Plato Divorak & Os Sha-Zams foi meu primeiro combo solo em 1996. Com o Momento 68, gravei o disco Onde Estão Suas Canções?, em 1999, São Paulo, com Sandrinho Garcia. Depois Plato & Os Analógicos veio em 2004.
De 1996 a 2004, me dediquei quase que integralmente as gravações-solo - uma espécie de "Jovem Guarda de Expansão": muita lisergia, ritmos brasileiros e rock.
E o maior dos clichês psicodélicos, hein?!
Plato - Um deles te digo sem pestanejar: é aquela puxadinha de fumo - tipo assim, aquele magrão com a maconha na boca, olhando pra garota: "vamos?!" A outra são os cabelos, de todos os tipos, que todo mundo quer ter igual.
(?)

*Foto: Fernanda Chemale

pLATO dIVORAK pELO mUNDO*

*Retrato do artista quando jovem

sábado, 7 de agosto de 2010

vLADIMIR cARVALHO: bRASILIANISTA

pASSA a bOLA!

*Filho do poeta Vinicius de Moraes (1913-1980), o fotógrafo autodidata Pedro de Moraes iniciou na finada revista Manchete. Sua missão: flagrar ambientes artístico-popularescos do Rio de Janeiro.

Durante a ditadura, Pedro alistou-se nas fileiras do Cinema Novo: foi diretor de fotografia de grandes cineastas, como Joaquim de Andrade (Guerra Conjugal, 1975), Glauber Rocha (Idade da Terra, 1979) e Gustavo Dahl (Em Busca do Ouro, 1965).


Em 1967 e 1968, suas câmeras Laica/Rolleyflex serviram aos levantes da esquerda.

O fotógrafo diz-se confesso admirador do lendário correspondente de guerra, o húngaro Robert Capa. Que postulava:

"Se as fotografias não são suficientemente boas, é porque não se está suficientemente perto".


Pedro de Moraes também foi "amigo de loucuras" dos Novos Baianos. A amizade rendeu o curta-metragem Gente é Isso (mais informações na Rolling Stone), um dos mais importantes documentos sobre a banda em pleno auge.

Nesse exclusivo relato, Moraes divide conosco um "maconheirístico" causo, dentre os tantos que viveu ao lado do alegre bando.

"Meu primeiro contato com o Novos Baianos foi num concerto de rock que rolou no Rio de Janeiro. Conheci o poeta Luiz Galvão e fumamos um baseado juntos. Fez-se daí nossa amizade.

Galvão me convidou, então, para visitar o sítio Recanto do Vovô, em Jacarepaguá. Logo fiquei amigo de todos eles. Nas minhas primeiras visitas ao sítio, sempre que rolava um baseado me punha a pensar:

"Será que os caras não passam a 'bola' ou estou mesmo sendo discriminado?".
Numa dessas visitas fiquei revoltado: "Porra, vocês não passam o beck, não?!".

Me pondo na palma da mão um lindo, enorme e cheiroso 'camarão', um deles me disse:

'Toma aqui e não reclama, rapaz!'.

Aquelas foram felizes tardes lisérgicas de tempos passados: tudo era só amor e luz. Mas não só amor. Toda semana era um baiano que 'dançava' com a polícia.
Na época tudo era barra pesada.

Logo, porém, resolvia-se a questão. Nessa hora rolava muito som, rango, futebol, irreverências, sexo e muitos planos pro futuro. E muita maconha, lógico.

Eu não conseguia parar de fotografar o cotidiano dos Novos Baianos. Foi quando surgiu a idéia de se fazer projeções fotográficas nos shows. Lindas eram as imagens projetadas no fundo do palco enquanto "Besta é Tu" tocava sem parar

Dinheiro era pouco, mas diversão era garantida.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

nOVOS bAIANOS fUTEBOL cLUBE*













*Em 1972, em meio ao estouro pop-tropical que foi Acabou Chorare (eleito melhor disco de MPB de todos os tempos pela Rolling Stone), os Novos Baianos deixam o apartamento no qual viviam, no Rio de Janeiro (além de palco, era também o "campinho" onde disputavam acirradas partidas de futebol), e vão de "mala e cuia" para Jacarepaguá.

No auge do regime militar, o combo alugou a chácara apelidada de "Sitio do Vovô". E, de forma anarco-lúdica, levavam a vida coletivamente. Após saída da Som Livre - que inaugurara seu cast lançando a obra-prima Acabou Chorare -, os baianos mudam-se para nova gravadora, a Continental, e lançam seu terceiro álbum de estúdio: Novos Baianos F.C.

O disco ganhou este filme homônimo que Solano Ribeiro, homem responsável pela direção de vários documentários sobre música brasileira destinados à TV alemã, entre os quais Elis Regina (hoje uma preciosidade) e Gilberto Gil. Pela realização do musical Novos Baianos F.C., Solano foi premiado no Festival Europeu de Televisão, na Áustria.

Trata-se, certamente, do mais acurado registro audiovisul que se possui dos Novos Baianos em ação. Eles esbanjam entrosamento, naturalidade e juventude. Em "Mistério do Planeta" Pepeu Gomes assinala porque, disparado, é o melhor guitarrista brasileiro de rock. E olha que o cara tocava de tudo, do samba ao afoxé!

Como diretor de musicais para a TV no Brasil, Ribeiro fez, entre outros, Disparada, com Geraldo Vandré e Som Livre Exportação, na Rede Globo - até hoje, record de público para musicais em recinto fechado (100 mil espectadores, no Anhembi, São Paulo).

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

bARRADOS nO bAILE*

"Pouco antes do lançamento de Acabou Chorare, em 1972 os Novos Baianos fizeram uma apresentação no Salão Nobre do Fluminense, no Rio de Janeiro. Um salão pomposo, com vitrais, que tinha sua ocupação reser vada a grandes festas.
Eu estava no clube com meu irmão, naquele final de tarde de sábado, quando notamos, junto ao portão de acesso ao clube, um cartaz anunciando: "Show dos Novos Baianos". Conhecíamos o grupo porque tínhamos em casa o primeiro LP deles, "É Ferro na Boneca".
Claro, não íamos perder a chance de ver o show deles logo mais. Fomos até o "salão" e ouvimos do porteiro que nossa entrada não seria permitida: estávamos com sandálias de couro, cabelo grande, bem ao estilo hippie daquela época.
Teríamos que colocar um calçado apropriado, essa foi a informação. Assim que chegamos de volta ao portão do clube, quem estão chegando? Os Novos Baianos, que desciam de uma kombi portanto seus instrumentos.
Era um bando de cabeludos (os cabelos muito maiores que os nossos), com roupas que pareciam terem sido colhidas aleatoriamnete num brechó, sandálias de couro e/ou de borracha de pneu, como que saidos diretamente dos arredores da Lagoa de Abaeté, epicentro dos hippies do Rio, de São Paulo e da própria Salvador.
Meu irmão e eu sorrimos, imaginando a cara do porteiro que nos barrou ao ver os "artistas" que se apresentariam logo mais no salão pomposo do clube. Evidentemente, meu irmão e eu vimos o show, mas antes tivemos que ir em casa colocar roupa adequada.
Embora não conhecêssemos o repertório, achamos o máximo aquela mistura do sotaque brasileiro embalado pela guitarra ensandecida de Pepeu, uma Supersonic, se não me engano, com o corpo cortado numa diagonal por ele mesmo.
Parecia ter sido achada no lixo, mas o som que ele extraía dalí...
Curioso é que aquele bando de hippies não combinava mesmo com o ambiente. Mas o público careta gostou do espetáculo. Para nós, foi a senha para comprar o Acabou Chorare assim que o disco foi lançado, um dos melhores da música brasileira de todos os tempos.
*Depoimento do historiador Nelio Rodrigues, autor do livro Histórias Perdidas do Rock Brasileiro (Nit Press).

terça-feira, 3 de agosto de 2010

pRÉ-cHORARE*

Você me dá um disco?

Globo da morte

29 beijos

Mini-planeta Íris

Caminho de Pedro


*Faixas gravadas entre 1969 e 1971 pelos Novos Baianos. Mais roqueiras, psicodélicas e bluesy do que, propriamente, "MPB", encontram-se nos compactos:
"Colégio de Aplicação/"De Vera" (1969), "Volta que o Mundo dá" (1971), "Psiu"/"29 Beijos" e "Globo da Morte"/"Mini Planeta Íris" (Duplo/1971) e "Dê um rolê"/" Você me dá um disco?" e "Caminho de Pedro"/"Risque" (Duplo/1971).

Who's Next?