sexta-feira, 29 de agosto de 2008
iNCENSOS, hORTELÃS & sAMBINHAS pSICODÉLICOS*
A cena de Los Angeles pós-66 foi uma das maiores ebulições da música sixtie. A cidade era berço dos hippies, um pouco mais cheirosos que os de San Francisco, mas empatados no consumo desenfreado de ácido lisérgico.
Isso resultava na proliferação de grupos psicodélicos, a grande maioria passando do ponto nas viagens interestelares. Apesar disso, a cidade também revelou algumas das bandas mais criativas daquela década nos Estados Unidos.
Love, Byrds, Buffalo Springfield e o Strawberry Alarm Clock são apenas algumas delas. O SAC infelizmente pagou o preço por ter a imagem exageradamente hippie, escondendo do grande público o que possuía de melhor: a capacidade de compor e arranjar lindas melodias.
Começaram em 1965 como Thee Sixpence, fazendo um estilo mais cru e garageiro calcado no som pré-punk inicial do Love. Nessa época, eles chegaram a lançar vários compactos com versões da banda de Arthur Lee.
Isso resultava na proliferação de grupos psicodélicos, a grande maioria passando do ponto nas viagens interestelares. Apesar disso, a cidade também revelou algumas das bandas mais criativas daquela década nos Estados Unidos.
Love, Byrds, Buffalo Springfield e o Strawberry Alarm Clock são apenas algumas delas. O SAC infelizmente pagou o preço por ter a imagem exageradamente hippie, escondendo do grande público o que possuía de melhor: a capacidade de compor e arranjar lindas melodias.
Começaram em 1965 como Thee Sixpence, fazendo um estilo mais cru e garageiro calcado no som pré-punk inicial do Love. Nessa época, eles chegaram a lançar vários compactos com versões da banda de Arthur Lee.
A formação variou bastante até 1966, mas teve sempre como base Lee Freeman (voz e guitarra), Ed King (guitarra),Gary Lovetro (baixo), Gene Gunnels (bateria) e Mark Weitz (órgão e voz). Mas 1967 estava chegando e o mundo todo começava a viajar nos fluídos psicodélicos. Em Los Angeles então... Ali o ácido estava praticamente no ar! Ou melhor, na Sunset Strip...
O Sixpence, assim como praticamente todas as bandas locais, embarcou na onda e começou a mudar radicalmente o som. O single "Heart Full of Rain" já mostrava raízes melodiosas e lisérgicas que viriam formar a cara do SAC.
O segundo single dessa fase do Sixpence tornou-se o hino psicodélico da época: "Incences and Peppermints", música que merece um parágrafo solo.
Hino hippie, flower power, trilha sonora de filmes cult e uma das primeiras canções realmente psicodélicas a entrar nas paradas de sucesso, "Incences and Peppermints" é, até hoje, a primeira coisa que vem à cabeça quando qualquer um lembra do SAC. Mas espera aí, a banda não era Thee Sixpence?!
Pois é, além do som viajante, o nome e a imagem do grupo também precisavam entrar naquele novo mundo e os integrantes resolveram que Thee Sixpence não era 'groovy' o bastante. Trocaram então para Strawberry Alarm Clock (existe nome de banda mais psicodélico do que esse??). Na segunda prensagem do hit o nome já estava alterado.
Outro fato curioso cerca a história da canção. A voz que se ouve na gravação não é de nenhum integrante da banda e sim de um jovem amigo dos caras, de apenas 16 anos! Greg Munford tocava numa banda desconhecida chamada Shapes of Sound e sempre estava presente nos ensaios e festas promovidas pelo SAC, porém não se sabe o motivo certo pelo qual ele gravou sua voz. Vai ver que todo mundo estava chapado demais pra cantar...
Com o sucesso do single, estava na hora de gravar o primeiro álbum, que ganhou o oportuno título "Incences and Peppermints" (lógico que incluíram o hino hippie nele). Nas gravações, dois novos e importantes integrantes entraram na banda: o excelente baterista Randy Seol, responsável pelas levadas de 'sambinha' do grupo, e o baixista George Bunnel, que viria a ser um dos principais compositores nos discos seguintes.
Nas apresentações, a banda chegava a tocar com dois baixos ao mesmo tempo, algo totalmente inusitado para a época. O disco de estréia superou todas as expectativas, alternando os momentos melodiosos e suaves de "Birds In My Tree", "Rainy Day Mushroom Pillow" e "Strawbery Means Love", com as loucuras mais radicais de "The World’s On Fire" e "Lose To Live".
Depois do disco, o SAC participou do alucinógeno filme Psych Out com o jovem Jack Nicholson no elenco. O SAC compôs diversos temas do filme e ainda aparece tocando numa festa muito louca. Psych Out ajudou ainda mais a colocar o Strawberry Alarm Clock no hall das bandas mais hippies do mundo.
Na mesma época do filme, lançaram o segundo e melhor disco da carreira. Wake Up... It's Tomorrow é uma obra-prima perfeita do começo ao fim, mostrando a banda na sua melhor forma tanto no lado psicodélico quanto na parte de melodias.
"Soft Skies, No Lies" , "Sit With The Guru" e "Pretty Song from Psych Out" são canções de beleza singular. A doideira também dá as caras em "Curse of The Witches" e na trilogia freak, "Black Butter past, present & future".
Nesse disco eles desenvolveram uma identidade totalmente própria fazendo até inusitados climas de sambinhas psicodélicos. Essencial para qualquer coleção!
Aproveitando-se do estouro dos dois discos, a banda partiu em turnê com os Beach Boys e o Bufallo Springfield, o que rendeu diversas jams com o jovem guitarrista Neil Young. O SAC também participou da tour de The Who e Hermann Hermitts pela Califórnia. Em um desses shows, o baterista Randy Seol, tentando de qualquer forma superar o performático Keith Moon, ateou fogo nas próprias mãos durante os improvisos de "The World's On Fire".
Mas nem tudo era paz e amor na vida do SAC. Em 68 a primeira crise estava instalada. Culpa dos produtores que empurraram para a banda o letrista Roy Freeman (fato já comentado na letra de "I Saw The Fat Man Coming", do segundo disco), alegando que o material escrito por eles era um lixo. Bunnel e Seol não concordaram e saíram logo após a gravação do terceiro disco, "The World In A Seashell", no ano de 68.
É um disco bastante irregular devido à crise interna e à presença não muito bem vista de Freeman. Alguns momentos ainda lembram o SAC do ano anterior. "Sea Shell", "Heated Love" e "Shallow Impressions" são belos exemplos.
Depois do período turbulento em 1968, a banda entrou no ano seguinte de cara nova. A entrada de Gene Gunnels (bateria) e Jimmy Pitman (guitarra e voz) deu um novo gás. Pitman, inclusive, passou a ser a voz principal e contribuiu com várias composições.
Nessa época foi lançado o quarto e último disco do SAC, mostrando um lado mais roqueiro e menos viajante. Good Morning Starshine, de 1969, não foi muito bem aceito pela crítica. A mudança radical no som também não agradou muito aos antigos fãs.
Apesar da fraca recepção, músicas como "Small Package" e "Hog Child" estão entre as melhores do repertório mais roqueiro do SAC.
Nesse mesmo ano a banda fez um de seus registros mais interessantes, participando do clássico filme De Volta ao Vale das Bonecas, do pirado e genial diretor norte-americano Russ Meyer. A banda aparece tocando três músicas (logicamente uma delas é "Incences and Peppermints") numa festa promovida pelo empresário e figuraça Z-Man Barzell. Russ Meyer gostou tanto da banda que até os convidou para tocar no seu casamento.
Apesar de toda a loucura, os anos 70 chegavam e o pessoal da banda já estava de saco cheio. A psicodelia já tinha passado, as drogas lisérgicas já não eram mais novidade, as flores já estavam murchas e as hippies bonitinhas de 1967 já tinham virado barangas sujas e chatas.
O Strawberry Alarm Clock encerrou suas atividades oficialmente em 1971, lançando o estranho disco "Changes", espécie de coletânea sem nenhum hit!
Com o fim da banda, os membros da formação clássica do SAC ficaram afastados do mundo artístico, exceto o guitarrista Ed King que participou da primeira formação do Lynyrd Skynyrd (não, ele não morreu no acidente!).
Já na década de 80, a banda tentou fazer alguns shows comemorativos, mas percebeu que a mágica dos anos 60 tinha ficado para trás. Nunca mais voltaram a tocar.
O tempo passa, mas basta ouvir as harmonias de grandes discos como Incenses and Peppermints e Wake Up...It's Tomorrow que a magia da época transparece novamente. E nem precisa de uma little help from the...
*Leonardo Bomfim toca com o Plato.
terça-feira, 26 de agosto de 2008
domingo, 24 de agosto de 2008
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
dESTRUIÇÃO: o pUNK
CRISTIANO BASTOS
A palavra que melhor define a paternidade musical do punk é "inextricável". Ainda que os Sex Pistols não tivessem sido forjados (e lucrado as maiores condecorações do levante, em 1977), um timbre com essas qualidades, inevitavelmente, teria se imposto.
É só pensar no legado sônico dos seminais New York Dolls, Sonics, Stooges, Who, Velvet Underground. Ou nas centenas de bandas psychopunkgarageiras que, durante os anos 60, literalmente, despencavam de árvores.
No plano da contestação de cânones artísticos e da retórica política, contudo, a genealogia do punk tem outra ascendência. Uma análise que remonta as primeiras vanguardas de revolta contra a arte no Século 20, os ismos: futurismo, dadaísmo e o obscuro - mas de significação estética decisiva - situacionismo.
No plano da contestação de cânones artísticos e da retórica política, contudo, a genealogia do punk tem outra ascendência. Uma análise que remonta as primeiras vanguardas de revolta contra a arte no Século 20, os ismos: futurismo, dadaísmo e o obscuro - mas de significação estética decisiva - situacionismo.
Na Itália, o futurismo de Fellipo Marinetti desencadeia uma nova vanguarda de revolução contra os moldes impostos pela inteligência produtora de arte no início do século, fundindo, num só expediente, a dinâmica pintura-poesia-música-moda-política e arquitetura.
Entusiastas da publicidade, o Primeiro Manifesto, redigido por Marinetti, em 1909, louvava a juventude, as máquinas, o movimento, a energia, a guerra e a velocidade. Um incontestável pendor juvenil, que muito remete ao punk, pela semelhança de atitudes e o ímpeto de reinventar.
O elemento destruir é o amálgama entre punk & futurismo; a dicotomia está no "o que" precisamente destruir. O futurismo almejava dizimar modelos artísticos senis, imbuído na rearquitetura da arte. Um dos núcleos da rebelião punk é a insubordinação contra os estandartes que levaram o rock à monotonia e à opulência erudita. O fator musical que conflagrou seu acontecimento.
Se o futurismo havia se maravilhado com a possibilidade estética da guerra (algo "ruidoso, veloz e teatral"), antes de ela ocorrer, o dadaísmo insurgiu-se em oposição às fascinações desta ordem.
Ainda que partilhassem da mesma revolta a determinado tipo de realização artística, os dadaístas estavam em dissonância face à definição de arte.
Surgido em 1916, em Zurique, na Suíça, ao inverso do futurismo, o dadaísmo não era de um movimento propriamente artístico - "mais atitude do que estilo", postulavam.
Erigido por uma linhagem de "artistas" avessos ao trabalho, que acreditavam estar alienados muito além das belas-artes, dos quais os mais loquazes expoentes são o poeta Tristan Tzara e o artista plástico Marcel Duchamp, o dadá agiu com atos subconscientes e formulações extravagantes nas investidas de sua plataforma utópica.
A arte, segundo o credo dadaísta, é mera falsificação imposta pela sociedade burguesa, uma válvula de segurança moral, idêntica ao trabalho.
Duchamp, o qual declarava-se anti-artista, dizia que "aqueles que olham é que fazem os quadros". Seu próprio caso é bastante elucidativo nesse sentido. A contribuição de Duchamp para dessacralização da aura de gênio ostentada pelos artistas, uma reminiscência herdada do romantismo, ajudou a solucionar o enigma fantástico do átimo criativo.
Ao utilizar em obras objetos manufaturados, modificados ou não, Duchamp inaugura os ready-mades. A peça Fontaine, de sua autoria, um mictório elevado ao estatuto de arte, é exemplo dessa possibilidade.
Embora o street punk londrino tenha origens não-intelectuais, absorvidas de ferozes slogans de torcidas de futebol, como o Streetford End of Mancheste United ("Nós Odiamos os Humanos!" era o grito de guerra entoado) e a literatura skinhead de Richard Allen, alguns protopunks politizados, egressos das academias de arte britânicas, como os membros da banda The Clash e o empresário Malcom McLaren, posteriormente retomaram doutrinas futuristas e dadaístas.
A absorção do conteúdo anarquista das duas escolas, um dia vanguardas, talvez tenha ocorrido justamente pelo caráter monolítico dessas instituições de ensino.
Nos anos sessenta, McLaren era estudante da Croydon Art School, onde tornou-se colega de Jamie Reid, futuro designer do Sex Pistols que, entre outros grafismos, foi responsável pela capa do single anti-jubileu "God Save The Queen". "Eu aprendi política e entendi o mundo através da história da arte", rejubilava-se McLaren.
A temática anti-arte-antilabor dos dadaístas é retomada de forma mais contundente, na década de 50, na Itália, pela Internacional Situacionista, sob a luz de Guy Debord. O termo "situacionismo", que numa significação estrita remete a posições políticas reacionárias, conforme o panfleto número 9 da Internacional Situacionista, de 9 de agosto de 1964, "é uma palavra que contém em si mesma sua própria crítica; uma atividade que pretende fazer as situações e não as examina em função de um valor explicativo ou qualquer outro".
Foi desse filão intelectual, na não-reconhecida seção inglesa situacionista intitulada King Mob, que Malcom Mclaren usurparia idéias e emblemáticos slogans para o estopim da blank generation - outro lampejo alheio, vislumbrado pelo protótipo punkster Richard Hell.
Elementos visuais da cultura underground novaiorquina, a comitiva Pop Art reunida em torno de Andy Warhol na Factory e a banda New York Dolls, tiveram assimilação de natureza distinta nessa gênese, assim como o extemporâneo crossover envolvendo pop music, power pop, Motherfuckers, White Panthers e a banda MC5.
A filosofia professada por McLaren era mais ou menos a seguinte: "se você não roubar as coisas que percebe a sua volta, só porque elas a inspiraram, então você é um estúpido. O mundo é feito de plágios".
Guy Debord, filósofo, agitador social, cineasta e autêntico misantropo de sua práxis, teve uma trajetória envolta em legítimos desastres do destino, o que torna a confrontação com Sid Vicious, baixista dos Sex Pistols, e o americano Darby Crash, vocalista do grupo The Germs (ambos mortos tragicamente em razão do estilo de vida punk), uma extravagante coincidência.
Autor da desdenhada obra A Sociedade do Espetáculo, em 1967, mas de vital importância para alas extremistas em maio de 68, Debord viveu no auto-isolamento, sendo ignorado tanto pela imprensa como por lúmpen-intelectuais.
Desprezo que talvez encontre explicação no fato de ele mesmo intitular-se "doutor em nada"; nunca freqüentou bancos acadêmicos, tampouco abandonou as teorias que formulou. Retratos seus são raros e jamais concedeu uma entrevista sequer em toda vida.
Aumenta nele a mácula de maldito o pai ter exaurido a fortuna da família, acumulada durante gerações, e ter sido implicado no assassinato do amigo e editor Gérard Lebovici, em 1984, em Paris, incidente que justifica como "uma emboscada não explicada".
Debord publicou A Sociedade do Espetáculo com o objetivo de legar um apêndice teórico plausível aos situacionistas, até então órfãos de um, e obteve alguma repercussão nos meios intelectuais e estudantis franceses. Através de uma aleatória compilação de conceitos de concisão aforística sobre a lógica de funcionamento do império midiático, o livro perfila uma acurada análise acerca da moderna sociedade de consumo.
O desdobramento de imagens manufaturadas, transmitidas no feitio de eventos palpáveis de política e de cultura, como substitutas da veemente ação criadora, é a principal insígnia situacionista contra a sociedade espetacular análoga à arte. Tal sociedade, no horizonte vislumbrado por Debord, fincada nos alicerces do espetáculo, é "o capital em tal grau de acumulação que se personifica em imagem".
No artigo de 1988, "Comentários sobre a Sociedade Espetacular" - com dedicatória a Lebovici -, Debord revela ter suprimido de A Sociedade do Espetáculo inúmeras conclusões relevantes. O intuito, segundo ele, foi privar os agentes do espetáculo de conhecerem detalhes sobre o organismo desta sociedade e gerar, deliberadamente, o ruído que produz a desinformação.
No mesmo ensaio, Debord acautela-se: "É preciso levar em consideração que, dessa elite que vai se interessar pelo texto, quase metade é formada pelos que se esforçam para manter o sistema de dominação espetacular, e a outra metade por aqueles que se obstinam em agir em sentido oposto.
Como devo levar em conta leitores muito atentos e de tendências diversas, é evidente que não posso falar com inteira liberdade. Devo ter cautela para não ensinar demais". Mas o protecionismo de informações de Debord justifica-se, levando em conta que Malcom McLaren certamente deveria ser um desses leitores bastante atentos.
O homem que "inventou o punk", egresso da King Mob, abandonou a causa revolucionária situacionista e transformou a crítica anticapitalista e antiarte numa forma de encher os bolsos de dinheiro.
A King Mob, na verdade, apesar da retórica situacionista, tinha sua ascensão de outros grupos. McLaren, por exemplo, vinha da cena freak anarquista em Notting Hill, oeste de Londres. "Não há limites à nossa total ausência de lei", promulgavam eles no volante impresso King Mob Echo.
Da King Mob, Mclaren deu prosseguimento à farsa ao encampar frases de efeito da cartilha situacionista e aplicá-las aos Sex Pistols, dando-lhes semântica e alvos novos. "Fique Puto, Destrua!" (Get Pissed, Destroy!), de "Anarchy In the UK" (Anarquia no Reino Unido) - banida das rádios - e "Sem Futuro!" (No Future!), da música homônima, epistemologicamente, muito traduzem o apocalipse situacionista da arte, a qual, para ser realizada, deve ser destruída.
Debord e seu séquito, contudo, não estavam nem um pouco interessados quanto à representação da King Mob em solo britânico. Um comentário realizado na Internacional Situacionista 12 evidenciava a aversão dos debordistas à fração britânica: "uma trupe chamada King Mob...passa-se, de maneira bastante errônea, por ligeiramente pró-situacionista".
Para Debord, o espetáculo é apenas o aspecto mais visível e superficial de uma verdadeira maquinaria de manipulações que fragmenta a vida cotidiana em imagens. Essa imagética, veiculada pelos meios de comunicação, induz os indivíduos a consumir, passivamente, tudo o que efetivamente lhes falta na vida real.
Para Debord, o espetáculo é administrado pelo próprio espetáculo, uma entidade viva governando a sociedade. Esse fenômeno, fruto independente de sua cognição, é uma artimanha, espécie de conluio maligno engendrado pelas sociedades capitalistas, que tornaram a economia um fim e a alienação, subsidiada pelo espetáculo, uma forma de domínio.
Debord critica até mesmo os metadebates realizados sobre o espetáculo, atribuindo-lhes o epíteto de "discussões vazias". As diretrizes dessas discussões também são ditadas pelo espetáculo, a fim de que não revelem absolutamente nada sobre sua pragmática.
Algumas teorizações envolvendo a Internacional Situacionista e o punk, porém, estão inventariadas em análises de que se depreende um certo nonsense ao concatenar as duas unidades. O jornalista americano Greil Marcus, utilizando o método de livre associação no livro Lipstick Traces (Marcas de Batom), de 1990, faz interligações genealógicas que culminam em fatos referentes a ambos.
Por exemplo: a semelhança fonética entre John of Leyden (pertencente à tradição do Livre Espírito das heresias medievais) e Johnny Lydon (pseudônimo de Johnny Rotten, vocalista dos Sex Pistols), é encarada por Marcus como uma "releitura radical e extravagante da história".
Marcus, entre outras considerações, postula que "a Internacional Situacionista foi uma bomba, que passou despercebida no seu tempo, e iria explodir décadas depois sob a forma de 'Anarchy In The Uk' e 'Holydays In The Sun'". O autor credita a McLaren a conexão entre os dois movimentos.
O ideário faça-você-mesmo, todavia, praticado singularmente pelo Punk, cuja principal alavanca foi McLaren, na encarnação do Sex Pistols, já é semeado pelos situacionistas em 1960. Na Internacional Situacionista 4, de 17 de maio, o papel do sujeito comum - imberbe nas grandes massas - pode ser o de realizador artístico e o nascimento da máxima faça-você-mesmo fica visivelmente perceptível.
"Inauguramos agora o que será, historicamente, o último dos ofícios. O papel de situacionista, de amador-profissional, de anti-especialista, é ainda uma especialização até o momento da abundância econômica e mental no qual todo mundo se tornará 'artista', num sentido que os artistas não alcançaram: a construção da própria vida".
E a questão da erudição sonora proposta pelos praticantes do chamado rock progressivo (que reinou despoticamente em respeitável parte dos anos 70 e terminou por desencadear outra legítima revolta punk), é homóloga ao desgosto tanto de punks quanto de situacionistas, na figura de Debord, ao caráter experimental da música.
Johnny Rotten celebrizou-se ao vestir uma camiseta com os enfáticos dizeres "I Hate Pink Floyd" (Eu odeio Pink Floyd) na época em que a banda era a divindade intocada da geração progressiva e gigante da música pop de então.
Em 1967, às vésperas de o Pink Floyd lançar o primogênito álbum The Pippers Gates of Dawn, o baixista Roger Waters escreveu uma espécie de minimanifesto, distribuído pela gravadora inglesa EMI como parte da estratégia de divulgação.
Nessa época, o rótulo "Rock Progressivo" nem havia sido cunhado e o sistema nervoso da banda ainda era Syd Barret, que vitimado de outra modalidade de misantropia, a lisérgica, foi literalmente segregado da banda no disco seguinte, The Saucerful of Secrets.
Waters parece escarnecer do sentido "anti" do qual certos movimentos se revestem. O que pronuncia no manifesto soa como uma réplica à negação da música experimentalista que Debord tanto execrava e um anticorpo à aversão e o ódio dos punks ao Rock Sinfônico de exatamente 10 anos depois.
"Tocamos como queremos e o que achamos de novo. Somos a orquestra do movimento alternativo porque tocamos o que as pessoas livres querem ouvir. Não somos um anti-grupo, não somos anarquistas: somos a favor da liberdade, da criatividade e da beleza".
O caso envolvendo a música - talvez a única ramificação das artes que possa se dar ao luxo de renegar padrões rígidos de educação - também foi a fagulha de desencontros ideológicos na Internacional Situacionista. Dicotomias internas, envolvendo conceitos díspares de um mesmo credo, deixaram à mostra a ausência de dinâmica interna.
Um desses embates sucedeu-se entre Debord e o músico situacionista Walter Olmo, que apresentou um texto chamado "Por um Conceito de Música Experimental". O escrito, radicalmente rechaçado por Debord, onde Olmo relatava suas pesquisas musicais referentes a construções de ambiências, é relegado à "atitude típica do pensamento de direita".
O ensaio custou a expulsão sumária de Olmo da Internacional Situacionista. Outra polêmica de Olmo em torno das experimentações é relacionada à invenção do tereminófano, uma traquitana emissora de notas, variáveis conforme o ir e vir de pessoas em uma galeria de arte.
No cerne dos situacionistas, nova incompatibilidade é denotada pela ala de Munique, representada pela revista Spur (traço ou caminho), editada pelo grupo Spur, em 1960. O Spur apostava na produção coletiva e não-competitiva da arte, contrastando com os arraigados objetivos de supressão propostos por Debord.
"A arte não tem nada a ver com verdade. A verdade está entre entidades. Querer ser objetivo é ser parcial. Ser parcial é pedante e entediante...NÓS EXIGIMOS O KITSCH, A SUJEIRA, A GOSMA PRIMORDIAL, O DESERTO. A arte é o monte de excremento no qual o kitsch cresce. Em vez de idealismo abstrato, queremos niilismo honesto", atestava a reclamatória de 1961, publicada no periódico.
Em 1978, o ativista situacionista David W., centrado em Guy Debord, no texto "The End of Music", reprova o trabalho do programador visual do Sex Pistols, Jamie Reid. O designer era colaborador de um veículo oficial dos situacionistas, o Point Blank, e utilizou algumas das imagens que produziu na capa do single "Pretty Vacant". Pelo ponto de vista de W., Reid estava suprindo a renegada King Mob de trabalhos pertencentes à Internacional Situacionista.
"Malcon McLaren", protesta ele, "empresário dos Sex Pistols, foi amigo de indivíduos versados na crítica situacionista na Inglaterra e se apropriou de alguns dos slogans e atitudes daquele ambiente...O EP 'Pretty Vacant' foi promovido por um pôster com fotos cortadas de dois ônibus indo na direção das palavras TÉDIO e LUGAR NENHUM - imagem tirada direto das páginas de Point Blank".
Quando, em 1989, Debord publicou um dos seus últimos escritos, "Comentários sobre a Sociedade Espetacular", argüindo que as premonições feitas 1967 tornaram-se verdades, fez apenas uma ressalva: a sociedade espetacular, no mundo contemporâneo, transmutou-se numa nova forma, definitivamente integrada ao espetáculo.
De maneira análoga ao Punk, Debord privilegiou um estilo de vida às margens dos oficialismos; das artes, da política e das instituições. Em dezembro de 1994, contando então 64 anos e vivendo no mais restrito isolamento, Debord escolhe pelo suicídio.
A imprensa francesa, que o havia repudiado durante mais de quarenta anos, de maneira absurdamente irônica, constrói sobre ele o estereótipo de celebridade "hollywoodiana", reprocessando seu libelo, de pífio subproduto cultural, a objeto de culto em diversos países.
Tal como ocorreu com o punk, à medida em que, de underground, passou a top of the pops. A Sociedade Espetacular, contra a qual Debord e o punk se debateram a vida inteira, não concedeu indulgências nem mesmo aos seus maiores visionários.
*Artigo publicado originalmente na revista portuguesa Mondo Bizarre. Na foto: Debord, Michelle Bernstein, Asger Jorn
sábado, 16 de agosto de 2008
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
o pAÍS dAS mARAVILHAS dE bRENNAND
Para se compartilhar: há poucas horas voltei de uma magnífica experiência na vida. "Na vida" é bem melhor que "de vida", com seu embutido ranço. O ranço não é apenas semântico. A hipérbole, sim, é proposital.
O que vi e ouvi não foi satânica obra de qualquer psicotrópico: bastaram duas horas de fluente e lúcida conversação com o mestre Francisco Brennand, o artista pernambucano. Forte batida.
O sentido "material" do encontro é o perfil que vou escrever para a revista Aplauso. A exposição Brennand: Uma Introdução (esculturas, pinturas e desenhos) estará em Porto Alegre, de 26 de agosto a 28 de setembro, no Museu da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
Compatriotas, não percam!
O encontro, porém, não foi movido pelo "lead acima". Brennand não precisa de lead. O lead é que deve precisar dele.
Cultor assumido cultor da clássica antigüidade européia (e com outros temas mais interessantes em mente), certamente que Brennand deveria achar terrível bosta esse negócio de lead.
O lead do qual a imprensa brasileira é fidelíssima cativa. Somos pró-lead. Ou seja, todos yankees nesse ponto. Aposto que na China o lead já foi pras cucuias há muitos sóis nascentes.
Lead é a ervilha que escorrega para baixo do colchão e atrapalha o bonificador sono da madrugada:
"Quem madou comer ervilha na cama?", lhe diria sua mãe ao amanhecer, enquanto você repara no espelho fundas olheiras como o Túnel do Tempo de Irwin Allen.
"Malditas ervilhas".
O lead é algo assim: a ervilha.
Digressões sobre lead&ervilhas a parte, por volta das 15 Horas desta sexta-feira, 16, eu e a fotógrafa Flora Pimentel somos conduzidos ao gabinete secreto do octagenário homem-artista.
Digressões sobre lead&ervilhas a parte, por volta das 15 Horas desta sexta-feira, 16, eu e a fotógrafa Flora Pimentel somos conduzidos ao gabinete secreto do octagenário homem-artista.
Para lá de disposto, recebe-nos alegremente, ao passo que vai se livrando do entrevero de papéis com os quais andava às voltas até aquele momento.
Sauda-nos da maneira mais nobre e simpática que a gente espera ao ser saudado por um grande artista:
"Pela juventude de vocês", ele nos diz.
A deferência, entretanto, é toda nossa.
Rec no gravador Boombox! A tentação é grande só que, infelizmente, daqui não dá para passar. Para ler compre a Aplauso e ajude, assim, a conservar as boas publicações impressas vivas - antes que Wikipedia e Google virem os lumiares do conhecimento no Século 21.
Alguém tem alguma coleção dos Tesouros da Juventude pra vender?
Proseamos sobre tudo, eu e Brennand, nos mais de 120 minutos a mim concedidos:
Moby Dick, Joseph Conrad, Iberê Camargo, dadaísmo, aventuras em alto-mar, manifestos, vanguardas, ismos, Amazônia (ferrenho defensor), índios, armorialismo, cachorros, semiótica, gansos selvagens, Cristo, sexualidade, pornografia, "Pica de Brennand".
Numa capítulo privado do papo, trocamos nossas melhores opiniões sobre os fabulosos seres que 100% moram na imaginação masculina: elas, as mulheres.
E quem mais seria?
Aos 81 anos, Brennand afirma sem sofisma: "Mulheres são a melhor coisa".
Totalmente de acordo: "E como como não, seu Brennand?!".
Também falamos sobre uma "mitologia de becos": "Coisas fantásticas se desenrolam em becos, acredita o artista. Concordo plenamente.
Durante temporada de sua vida, o artista contou-me que habitou um loft, literalmente, localizado num beco sem saída, em Paris.
Sinceras desculpas: daqui para diante não falo mais. Segredos editoriais devem ser respeitados como os discos do Velvet Underground e dos The Stooges.
Alguém ousaria discordar?!
Contudo, tem uma coisa aberta ao público que posso falar sobre: a Oficina Brennand. Pena que não baste ler a respeito. Precisa-se ver com os olhos - redundância explícita.
Contudo, tem uma coisa aberta ao público que posso falar sobre: a Oficina Brennand. Pena que não baste ler a respeito. Precisa-se ver com os olhos - redundância explícita.
Nem adianta muito tentar explicar o que é. Até porque não é coisa, objeto ou lugar, apenas.
Em Recife, visite.
Como "A imaginação é a maior de todas as faculdades", escreveu Charles Baudelaire, exercite-a comigo:
Como "A imaginação é a maior de todas as faculdades", escreveu Charles Baudelaire, exercite-a comigo:
Imagine se Lewis Carroll resolvesse construir - escultórica e/ou pictoricamente um planeta todinho seu (com acesso livre ao desfrute do público) para abrigar seus personagens, signos, símbolos e charadas.
Pense em Alice no País das Maravilhas capítulo por capítulo. Essa foi a minha "visão". Tenha a sua: são infinitas, como os saguões da Faculdade da Imaginação. Já estou viajando.
Pense em Alice no País das Maravilhas capítulo por capítulo. Essa foi a minha "visão". Tenha a sua: são infinitas, como os saguões da Faculdade da Imaginação. Já estou viajando.
No apagar (ou no acender) das luzes, essa não é essa a elevadora finalidade da arte?
Se te vais longe de Pernambuco, adimira-te com a grandeza de Francisco Brennand pela tela do seu microprocessador.
Se te vais longe de Pernambuco, adimira-te com a grandeza de Francisco Brennand pela tela do seu microprocessador.
Mil vezes melhor do que o nada absoluto, garanto.
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
o dRAGÃO rENASCE*
Futuristic Dragon
Edsel UK
Edição dupla remasterizada celebra 30 anos do álbum imcompreendido
POR CRISTIANO BASTOS
Em 1976, o T. Rex, banda do ídolo Marc Bolan, amargava o sabor intragável da decadência. Sem perder o glamour, iniciou sua escalada de volta ao panteão pop.
Dois anos antes, Bolan afirmara que o rock purpurina havia fenecido: "O glitter está morto", decretou. Futuristic Dragon marca a virada do T.Rex, que malograva o fracasso dos álbuns Bolan's Zip Gun e Zinc Alloy & the Hidden Hiders of Tomorrow.
Com Futuristic, Bolan conduziu os hits "New York City" e "Dreamming Lady" - flertes entre a exacerbação do glam e o pop eletrônico - ao Top 30 do Reino Unido.
Recebido com estranheza, o disco não foi bem compreendido. O tempo, no entanto, confirmou a riqueza das canções. A idéia de Bolan era realizar um sonho antigo: tomar a parada de sucesso dos EUA.
Para cumprir o feito - não concretizado -, reformulou o T.Rex, escoltado pelos backing vocals da esposa Gloria Jones, e assumiu a produção no estúdio. Bolan alcochoa as pulsantes "Jupiter Liar", "Sensation Boulevard" (um dos seus melhores riffs) e o clima apocalíptico de "Calling all Destroyers" com poderosa pegada power pop.
Futuristic Dragon tem a grandiloqüência de "Theme for a Dragon", único registro instrumental do T.Rex em discos oficiais. E muita plastic soul mas grooveadas "Ride my Wheels", "Casual Agent" e "My Little Baby".
Apesar de obscuro, o lugar do álbum é ao lado de Eletric Warrior e The Slider, as obras-primas de Bolan.
*Bizz, janeiro de 2007. Edição 209. Na capa, Pitty segura uma champagn; sobre a cabeça, repousa uma corôa. No post acima, o clima ultrakitshelegante de "New York City". T.Rex Sound em nova formação: no moog, Dino Dines, ex-beach boy. "Beach-glam", à época.
PRA CANTAR JUNTO
Did you ever see a woman
Coming out of New York City
With a frog in her hand
Did you ever see a woman
Coming out of New York City
With a frog in her hand
I did don't you know (x3)
And don't it show
Edsel UK
Edição dupla remasterizada celebra 30 anos do álbum imcompreendido
POR CRISTIANO BASTOS
Em 1976, o T. Rex, banda do ídolo Marc Bolan, amargava o sabor intragável da decadência. Sem perder o glamour, iniciou sua escalada de volta ao panteão pop.
Dois anos antes, Bolan afirmara que o rock purpurina havia fenecido: "O glitter está morto", decretou. Futuristic Dragon marca a virada do T.Rex, que malograva o fracasso dos álbuns Bolan's Zip Gun e Zinc Alloy & the Hidden Hiders of Tomorrow.
Com Futuristic, Bolan conduziu os hits "New York City" e "Dreamming Lady" - flertes entre a exacerbação do glam e o pop eletrônico - ao Top 30 do Reino Unido.
Recebido com estranheza, o disco não foi bem compreendido. O tempo, no entanto, confirmou a riqueza das canções. A idéia de Bolan era realizar um sonho antigo: tomar a parada de sucesso dos EUA.
Para cumprir o feito - não concretizado -, reformulou o T.Rex, escoltado pelos backing vocals da esposa Gloria Jones, e assumiu a produção no estúdio. Bolan alcochoa as pulsantes "Jupiter Liar", "Sensation Boulevard" (um dos seus melhores riffs) e o clima apocalíptico de "Calling all Destroyers" com poderosa pegada power pop.
Futuristic Dragon tem a grandiloqüência de "Theme for a Dragon", único registro instrumental do T.Rex em discos oficiais. E muita plastic soul mas grooveadas "Ride my Wheels", "Casual Agent" e "My Little Baby".
Apesar de obscuro, o lugar do álbum é ao lado de Eletric Warrior e The Slider, as obras-primas de Bolan.
*Bizz, janeiro de 2007. Edição 209. Na capa, Pitty segura uma champagn; sobre a cabeça, repousa uma corôa. No post acima, o clima ultrakitshelegante de "New York City". T.Rex Sound em nova formação: no moog, Dino Dines, ex-beach boy. "Beach-glam", à época.
PRA CANTAR JUNTO
Did you ever see a woman
Coming out of New York City
With a frog in her hand
Did you ever see a woman
Coming out of New York City
With a frog in her hand
I did don't you know (x3)
And don't it show
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
nÃO eXISTE mOLHADO iGUAL aO pRANTO
Não se escuta na terra
quem for santo
Não se encobre um só rosto com dois mantos
Não se cura do mal quem só tem pranto
Nenhum canto é mais triste que o final
Não se ouve nos ares nenhum canto
Nem nos cantos da noite nenhum grito
Não se mata o que é feio com o espanto
Não se chora ou agora o que é bonito
Não se pode entender sabendo pouco
Não se dá nota aguda estando rouco
Não se encontra o que é duro aonde é oco
Nem silêncio onde só existe o grito
quem for santo
Não se encobre um só rosto com dois mantos
Não se cura do mal quem só tem pranto
Nenhum canto é mais triste que o final
Não se ouve nos ares nenhum canto
Nem nos cantos da noite nenhum grito
Não se mata o que é feio com o espanto
Não se chora ou agora o que é bonito
Não se pode entender sabendo pouco
Não se dá nota aguda estando rouco
Não se encontra o que é duro aonde é oco
Nem silêncio onde só existe o grito
terça-feira, 12 de agosto de 2008
jAGUARIBE cARNE: aNTROPOFAGIA pARAIBANA
Em 1974, ano em que Paêbirú foi lançado, os irmãos/músicos paraibanos Pedro Osmar e Paulo Ró invadiam o cenário cultural de João Pessoa com o grupo-manifesto Jaguaribe Carne.
Para enfrentar a ditadura militar, na Paraíba, o Jaguaribe Carne armou-se para uma verdadeira guerrilha cultural. A munição que tinham: anti-música & anti-arte.
Criminosos. Assim eram tachados, em meados de 70, os grupos com esses preceitos: "estudo, difusão, prática, experimento e intercâmbio cultural". Hoje, clichê de qualquer grupo auto-intitulado como "transgressor".
A foto do post sugere um estatus fora-da-lei, deveras original, ao Jaguaribe. Enquanto bandas do mainstream ou da "cena independente", às pencas, se esgoelam para tentar mimetizar tremiliques e malvadeza (out) do rock estrangeiro - outro empilhamento vencido de simulacros, por seu turno.
O Jaguaribe Carne tem importância grande, seja na Paraíba como nas diversas cidadezinhas nordestinas nas quais sua proposta de arte desconstrutora conseguiu chegar. Pensar o interior do Brasil, iconoclasticamente, fora dos grandes centros urbanos - não dá pra negar: é proposta das mais verdadeiramente atraentes. As metrópoles, indica o conturbado tédio reinante, se esvaziaram de tudo. Se esvairam. Especialmente das temáticas.
Muitos músicos estagiaram no grupo paraibano, como Chico César, que se uniu ao Jaguaribe (ou ao Carne) recém-chegado à capital, João Pessoa. César vinha de Catolé do Rocha. O som do Jaguaribe: ciranda, coco, maracatu, caboclinho e boi - em suas raízes. E o mundo, por outro lado: música oriental, africana, vanguardas européias, modernismo brasileiro, jazz.
No intervalo das filmagens de "Nas Parede da Pedra Encantada" (nome do documentário dirigido por mim e pelo Leonardo Bomfim, na fase de pré-edição), conversei com o mentor do Carne, Pedro Osmar.
O irmão, Paulo Ró, fez uma participação "punk-violeira" no filme. As locações paraibanas são absurdas de lindas para um doc sobre um álbum de rock mitológico como Paêbirú. Algumas locações são decrépitas - e iluminadas pelo vibrante sol sertanejo: "A decrepitude bela da Paraíba".
O Jaguaribe Carne virou um documentário, Jaguaribe Carne: Alimento da Guerrilha Cultural. Produção da Gasolina Filmes, da dupla Fabia Fuzeti e Marcelo Garcia.
Na edição de setembro da Rolling Stone, uma reportagem especial contará os fabulosos mistérios sobre Paêbirú - O Caminho da Montanha do Sol. Aventuras vividas pelo repórter entre Pernambuco e Paraíba. Numa banca pertinho da sua casa. Existe uma?
Na sua opinião, Paêbirú ajudou a desenvolver o cenário paraibano? Já que o disco é 'interestadual', na realidade.
Pedro Osmar - Paêbiru é um caso à parte na discografia nordestina, fruto do "entretenimento experimental" de músicos pernambucanos e paraibanos em suas buscas pessoais por saídas na fusão do rock com a cultura popular (Chico Science nem era nascido ainda...).
Pena que eles não tenham seguido essa linha de experimentação nos anos 80 em diante! Mas geraram a vanguarda da música nordestina a partir de Alceu Valença com a música-manifesto "Vou danado pra catende" (apresentada no festival Abertura, da Rede Globo, em 1975).
Certamente que Alceu não estava sozinho. Com ele estavam Lula Cortes, Zé Ramalho, Ivinho, Israel Semente...E isso gerou um liquidificador bem nervoso que vem rolando coisas até os dias de hoje, tal a força dessa energia criadora.
Como andavam as coisas por aí, por volta de 1975, ano de lançamento de Paêbirú?
Pedro Osmar - João Pessoa vivia o auge da vivência teórica e prática do tropicalismo nordestino, por meio das ações polêmicas de Carlos Aranha e seu grupo, Jomard Muniz de Brito, Celso Marconi, Raul Córdula, Chico Pereira, Unhandeija Lisboa e também Zé Ramalho, Jarbas Mariz, Babi, Paulo Paiva, Paulo batera...
Enfim, a galera pensadora e dos conjuntos de bailes, botando pra quebrar. Isso criava um certo clima de efervescencia entre os compositores como eu, que estavam engantinhando na música.
Mas era um tempo de muito embate estético, dos confrontos da bossa nova, da canção de protesto, da música regional, da jovem guarda, nos festivais de música. Algo bem vigoroso para todos. Praticamente a maioria das grandes obras dos compositores paraibanos vieram desse período.
O Jaguaribe Carne está em qual contexto desta história? E que nome esse! Explica:
Pedro Osmar - O grupo Jaguaribe Carne de Estudos surge no meio dos festivais de música dos anos 70, especificamente em 1974, num festival estudantil promovido pelo gremio do Liceu Paraibano.
Os festivais é quem ditavam a moda naquele tempo, era para onde tudo convergia. O Jaguaribe Carne pôde fazer a diferença com suas experimentações, com sua "arte querendo ser diferente dos outros"...
E conseguimos manter essa identidade até hoje, chegando a ser um grupo de arte multimídia com produção ímpar. O nome do grupo tem a ver com nossas inquietações pelo novo, pelos estudos autodidatas das linguagens experimentais e pela coragem.
Coragem de ousar ser diferente, ocupando o lugar de destaque nas idéias que circularam e circulam, até hoje, na cultura paraibana.
Para enfrentar a ditadura militar, na Paraíba, o Jaguaribe Carne armou-se para uma verdadeira guerrilha cultural. A munição que tinham: anti-música & anti-arte.
Criminosos. Assim eram tachados, em meados de 70, os grupos com esses preceitos: "estudo, difusão, prática, experimento e intercâmbio cultural". Hoje, clichê de qualquer grupo auto-intitulado como "transgressor".
A foto do post sugere um estatus fora-da-lei, deveras original, ao Jaguaribe. Enquanto bandas do mainstream ou da "cena independente", às pencas, se esgoelam para tentar mimetizar tremiliques e malvadeza (out) do rock estrangeiro - outro empilhamento vencido de simulacros, por seu turno.
O Jaguaribe Carne tem importância grande, seja na Paraíba como nas diversas cidadezinhas nordestinas nas quais sua proposta de arte desconstrutora conseguiu chegar. Pensar o interior do Brasil, iconoclasticamente, fora dos grandes centros urbanos - não dá pra negar: é proposta das mais verdadeiramente atraentes. As metrópoles, indica o conturbado tédio reinante, se esvaziaram de tudo. Se esvairam. Especialmente das temáticas.
Muitos músicos estagiaram no grupo paraibano, como Chico César, que se uniu ao Jaguaribe (ou ao Carne) recém-chegado à capital, João Pessoa. César vinha de Catolé do Rocha. O som do Jaguaribe: ciranda, coco, maracatu, caboclinho e boi - em suas raízes. E o mundo, por outro lado: música oriental, africana, vanguardas européias, modernismo brasileiro, jazz.
No intervalo das filmagens de "Nas Parede da Pedra Encantada" (nome do documentário dirigido por mim e pelo Leonardo Bomfim, na fase de pré-edição), conversei com o mentor do Carne, Pedro Osmar.
O irmão, Paulo Ró, fez uma participação "punk-violeira" no filme. As locações paraibanas são absurdas de lindas para um doc sobre um álbum de rock mitológico como Paêbirú. Algumas locações são decrépitas - e iluminadas pelo vibrante sol sertanejo: "A decrepitude bela da Paraíba".
O Jaguaribe Carne virou um documentário, Jaguaribe Carne: Alimento da Guerrilha Cultural. Produção da Gasolina Filmes, da dupla Fabia Fuzeti e Marcelo Garcia.
Na edição de setembro da Rolling Stone, uma reportagem especial contará os fabulosos mistérios sobre Paêbirú - O Caminho da Montanha do Sol. Aventuras vividas pelo repórter entre Pernambuco e Paraíba. Numa banca pertinho da sua casa. Existe uma?
Na sua opinião, Paêbirú ajudou a desenvolver o cenário paraibano? Já que o disco é 'interestadual', na realidade.
Pedro Osmar - Paêbiru é um caso à parte na discografia nordestina, fruto do "entretenimento experimental" de músicos pernambucanos e paraibanos em suas buscas pessoais por saídas na fusão do rock com a cultura popular (Chico Science nem era nascido ainda...).
Pena que eles não tenham seguido essa linha de experimentação nos anos 80 em diante! Mas geraram a vanguarda da música nordestina a partir de Alceu Valença com a música-manifesto "Vou danado pra catende" (apresentada no festival Abertura, da Rede Globo, em 1975).
Certamente que Alceu não estava sozinho. Com ele estavam Lula Cortes, Zé Ramalho, Ivinho, Israel Semente...E isso gerou um liquidificador bem nervoso que vem rolando coisas até os dias de hoje, tal a força dessa energia criadora.
Como andavam as coisas por aí, por volta de 1975, ano de lançamento de Paêbirú?
Pedro Osmar - João Pessoa vivia o auge da vivência teórica e prática do tropicalismo nordestino, por meio das ações polêmicas de Carlos Aranha e seu grupo, Jomard Muniz de Brito, Celso Marconi, Raul Córdula, Chico Pereira, Unhandeija Lisboa e também Zé Ramalho, Jarbas Mariz, Babi, Paulo Paiva, Paulo batera...
Enfim, a galera pensadora e dos conjuntos de bailes, botando pra quebrar. Isso criava um certo clima de efervescencia entre os compositores como eu, que estavam engantinhando na música.
Mas era um tempo de muito embate estético, dos confrontos da bossa nova, da canção de protesto, da música regional, da jovem guarda, nos festivais de música. Algo bem vigoroso para todos. Praticamente a maioria das grandes obras dos compositores paraibanos vieram desse período.
O Jaguaribe Carne está em qual contexto desta história? E que nome esse! Explica:
Pedro Osmar - O grupo Jaguaribe Carne de Estudos surge no meio dos festivais de música dos anos 70, especificamente em 1974, num festival estudantil promovido pelo gremio do Liceu Paraibano.
Os festivais é quem ditavam a moda naquele tempo, era para onde tudo convergia. O Jaguaribe Carne pôde fazer a diferença com suas experimentações, com sua "arte querendo ser diferente dos outros"...
E conseguimos manter essa identidade até hoje, chegando a ser um grupo de arte multimídia com produção ímpar. O nome do grupo tem a ver com nossas inquietações pelo novo, pelos estudos autodidatas das linguagens experimentais e pela coragem.
Coragem de ousar ser diferente, ocupando o lugar de destaque nas idéias que circularam e circulam, até hoje, na cultura paraibana.
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
pREPÚCIOS tEXTICULARES*
Manda outro, ele disse.
Escrevi assim, cheio de graça, e ela retornou um hehehe dos dela, que é sempre huauhuiau. O carinha dos produtos naturais Niki Lauda, grudado na parede do meu quarto, me olhou com uma cara feia daquelas. Eu tava me sentindo o nerd que eu tinha virado.
Me virei pro amigo que tinha dito pra mandar outro e propus que saíssemos, que nos embebedássemos e que fizéssemos merdas na rua. Ele riu, topando. A mesma coisa de sempre: ou isso ou a tela do computador com pequenas propriedades alteradas (um papel de parede, de repente).
Na rua, quando estou bêbado ao menos, não vejo o carinha dos produtos niki lauda. Mesmo que ele apareça eu não o vejo.
Saí, sem dar tchau, sem mandar bjs, sem emticon nenhum. Cerveja adentro, noite afora. Um espiral de diversões baratas me esperava. Mais e mais conversas fúteis, mais nomes novos que pouco significarão para mim no dia seguinte, uma série de novos sorrisos falsos para a minha memória fotográfica arquivar. Saí sabendo que voltaria, com os bolsos cheios de papéizinhos divulgando shows ou festas, talvez um telefone ou dois, e com a dúvida do "afinal, por que?!", mas com a certeza de que esqueceria na primeira cerveja.
MARGÔ
- Quanta fome, Margô!
- Desculpa! Me esqueço dos modos e começo a comer como uma esbaforida.
- Não se importe! Dá gosto de ver!
- Eu estava mesmo louca de fome!
- Onde andavas?
- Eu fiquei 42 dias numa fila de banco!
- Nossa! Uma vez, em 98, naquela época em que a gente sempre levava umas notas de cinquenta a mais na carteira, por causa da possibilidade de encontrar um cara certo pra levar naquele motel que a gente sempre queria ir - mas que só podia se fosse com o cara certo, lembra?! - aquele na General Galácio, passando a Fagundes Tort, uma quadra depois do Master Sports, onde os guris jogavam bola, lembra?! Então, em 98, quando tava naquele fica-não-fica com o Marcinho, mas já tava começando a suspeitar do lance dele com o Adílsson, eu fui naquele bar que tinha na Limeira Pedroso, que todo mundo ia, o Madeleine, que a Renata era promoter - urgh! - e eu peguei um cara, um carinha lá, Marcos Pantarra, nunca mais vi na vida - ele era daquela agência que o Paulinho Arco-Íris atendia lá na gráfica, a Macedo-Tirol, que tava tri grandona na época, com a conta de uma empresa telefônica suéca que estava implementando o celular com sinal digital na Bolívia, lembra?! Aí arrastei o tal do Pantarra pro tal do motel - ele também tava de carro, daí resolvemos ir no dele e deixamos o meu no estacionamento do bar -, mas quando chegamos lá tinha uma fila gigante, com muitos e muitos carros. A princípio rimos da situação, mas lá pelas tantas a coisa começou a ficar constrangedor, nós dois ali no carro e a fila absolutamente parada, só aumentando - já deviam ter mais uns oito carros atrás do nosso-, e por causa disso não podíamos dar uma ré ou manobrar o carro. Eu achei que o melhor era relaxar e tentar que aproveitássemos ao máximo aquela situação esquisita, e então me atirei na poltrona no carro, da forma mais sexy e descontraída que podia, esperando que ele entendesse o que podia significar a minha linguagem corporal, mas ele era um analfabeto. Ficou lá reclamando da fila, do mau atendimento, do cara do carro da frente, do cara do carro de trás, de todas a minas ele pôde contabilizar na direção (inclusive contou, e me olhava com uma cara vermelha-fúria dizendo: "oito minas dirigindo! oito minas dirigindo! numa fila com uns 22 carros, em oito deles tem mina dirigindo! só podia dá merda!"), reclamando e reclamando e reclamando. Daí eu peguei no sono. Devo ter relaxado demais... Hehehehe! Deu no que deu! Nunca consegui estrear o tal do motel! Faliu, lembra?! Ou algo do gênero... Rolou numa época a história de que lá sido cativeiro de um seqüestro, mas aí parece que não era, mas quando descobriram que não era já era tarde demais e o filme do motel já tava mais do que queimado, lembra?!
- Pois é! Já eu fiquei 42 dias numa fila de banco. Quando finalmente cheguei no caixa, tinha esquecido do que tinha ido fazer lá. O cara me ofereceu um título de capitalização, pra que eu não perdesse a viagem. Nem fiz o cálculo do rendimento- se valia ou não a pena -, aceitei na hora, para abreviar o embaraço. Ele riu e disse pra eu nem me atucanar, que isso tava sendo comum nestes dias de filas de mais de mÊs. Imaginei que ele risse, na verdade, de satisfeito com o crescimento das vendas de títulos de capitalização para abobados que, como eu, após semanas e semanas na fila, esqueciam pra que diabos tinham entrado nela. Imaginei, chutando um número na minha cabeça, na comissão que ele ganhava com aquelas vendas. Tinha mais é que rir mesmo...
- Foda!
- Muito foda!
- Mas tu tomava ao menos uma água?
- Ahan! Tinha um gurizinho que nos trazia água com gás três vezes ao dia!
- Ahn...
- E em que motel que rolou aquela história do Adílsson, que tu e o Marcinho tinham ido?
- Que história?
- Aquela que tu contou!Que o Adílsson perseguiu vocês e foi até a frente do motel pra ficar
Escrevi assim, cheio de graça, e ela retornou um hehehe dos dela, que é sempre huauhuiau. O carinha dos produtos naturais Niki Lauda, grudado na parede do meu quarto, me olhou com uma cara feia daquelas. Eu tava me sentindo o nerd que eu tinha virado.
Me virei pro amigo que tinha dito pra mandar outro e propus que saíssemos, que nos embebedássemos e que fizéssemos merdas na rua. Ele riu, topando. A mesma coisa de sempre: ou isso ou a tela do computador com pequenas propriedades alteradas (um papel de parede, de repente).
Na rua, quando estou bêbado ao menos, não vejo o carinha dos produtos niki lauda. Mesmo que ele apareça eu não o vejo.
Saí, sem dar tchau, sem mandar bjs, sem emticon nenhum. Cerveja adentro, noite afora. Um espiral de diversões baratas me esperava. Mais e mais conversas fúteis, mais nomes novos que pouco significarão para mim no dia seguinte, uma série de novos sorrisos falsos para a minha memória fotográfica arquivar. Saí sabendo que voltaria, com os bolsos cheios de papéizinhos divulgando shows ou festas, talvez um telefone ou dois, e com a dúvida do "afinal, por que?!", mas com a certeza de que esqueceria na primeira cerveja.
MARGÔ
- Quanta fome, Margô!
- Desculpa! Me esqueço dos modos e começo a comer como uma esbaforida.
- Não se importe! Dá gosto de ver!
- Eu estava mesmo louca de fome!
- Onde andavas?
- Eu fiquei 42 dias numa fila de banco!
- Nossa! Uma vez, em 98, naquela época em que a gente sempre levava umas notas de cinquenta a mais na carteira, por causa da possibilidade de encontrar um cara certo pra levar naquele motel que a gente sempre queria ir - mas que só podia se fosse com o cara certo, lembra?! - aquele na General Galácio, passando a Fagundes Tort, uma quadra depois do Master Sports, onde os guris jogavam bola, lembra?! Então, em 98, quando tava naquele fica-não-fica com o Marcinho, mas já tava começando a suspeitar do lance dele com o Adílsson, eu fui naquele bar que tinha na Limeira Pedroso, que todo mundo ia, o Madeleine, que a Renata era promoter - urgh! - e eu peguei um cara, um carinha lá, Marcos Pantarra, nunca mais vi na vida - ele era daquela agência que o Paulinho Arco-Íris atendia lá na gráfica, a Macedo-Tirol, que tava tri grandona na época, com a conta de uma empresa telefônica suéca que estava implementando o celular com sinal digital na Bolívia, lembra?! Aí arrastei o tal do Pantarra pro tal do motel - ele também tava de carro, daí resolvemos ir no dele e deixamos o meu no estacionamento do bar -, mas quando chegamos lá tinha uma fila gigante, com muitos e muitos carros. A princípio rimos da situação, mas lá pelas tantas a coisa começou a ficar constrangedor, nós dois ali no carro e a fila absolutamente parada, só aumentando - já deviam ter mais uns oito carros atrás do nosso-, e por causa disso não podíamos dar uma ré ou manobrar o carro. Eu achei que o melhor era relaxar e tentar que aproveitássemos ao máximo aquela situação esquisita, e então me atirei na poltrona no carro, da forma mais sexy e descontraída que podia, esperando que ele entendesse o que podia significar a minha linguagem corporal, mas ele era um analfabeto. Ficou lá reclamando da fila, do mau atendimento, do cara do carro da frente, do cara do carro de trás, de todas a minas ele pôde contabilizar na direção (inclusive contou, e me olhava com uma cara vermelha-fúria dizendo: "oito minas dirigindo! oito minas dirigindo! numa fila com uns 22 carros, em oito deles tem mina dirigindo! só podia dá merda!"), reclamando e reclamando e reclamando. Daí eu peguei no sono. Devo ter relaxado demais... Hehehehe! Deu no que deu! Nunca consegui estrear o tal do motel! Faliu, lembra?! Ou algo do gênero... Rolou numa época a história de que lá sido cativeiro de um seqüestro, mas aí parece que não era, mas quando descobriram que não era já era tarde demais e o filme do motel já tava mais do que queimado, lembra?!
- Pois é! Já eu fiquei 42 dias numa fila de banco. Quando finalmente cheguei no caixa, tinha esquecido do que tinha ido fazer lá. O cara me ofereceu um título de capitalização, pra que eu não perdesse a viagem. Nem fiz o cálculo do rendimento- se valia ou não a pena -, aceitei na hora, para abreviar o embaraço. Ele riu e disse pra eu nem me atucanar, que isso tava sendo comum nestes dias de filas de mais de mÊs. Imaginei que ele risse, na verdade, de satisfeito com o crescimento das vendas de títulos de capitalização para abobados que, como eu, após semanas e semanas na fila, esqueciam pra que diabos tinham entrado nela. Imaginei, chutando um número na minha cabeça, na comissão que ele ganhava com aquelas vendas. Tinha mais é que rir mesmo...
- Foda!
- Muito foda!
- Mas tu tomava ao menos uma água?
- Ahan! Tinha um gurizinho que nos trazia água com gás três vezes ao dia!
- Ahn...
- E em que motel que rolou aquela história do Adílsson, que tu e o Marcinho tinham ido?
- Que história?
- Aquela que tu contou!Que o Adílsson perseguiu vocês e foi até a frente do motel pra ficar
gritando: "Marcinho! Eu te amo! Fica comigo! Tu não gosta dessa mina! Tu gosta é de mim!"...
- Ah, isso foi no Le Gran Buffé...
- Hahahahahaha! Como foi? Ele ficava chorando na janela?
- Ah, isso foi no Le Gran Buffé...
- Hahahahahaha! Como foi? Ele ficava chorando na janela?
- Hehehehe! Pior que sim! Pior é que a gente tinha pêgo um quarto que dava de fronte pra saída
do motel e ele nos viu entrando...
- Que coisa bizarra!
- Já diria o Zezé: "É o Amor!"
*Carlinhos Carneiro está de volta com sua seção gineco-literária!
- Já diria o Zezé: "É o Amor!"
*Carlinhos Carneiro está de volta com sua seção gineco-literária!
terça-feira, 5 de agosto de 2008
domingo, 3 de agosto de 2008
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
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