sexta-feira, 5 de junho de 2009
sexta-feira, 29 de maio de 2009
quarta-feira, 27 de maio de 2009
eVALDO gOUVEIA: cANTOR dE gABARITO*
CRISTIANO BASTOS
Em 1957, o compostor cearense Evaldo Gouveia compôs "Deixe que ela se vá" (parceria com Jair Amorim), sua primeira música e um dos sucessos mais populares de Nelson Gonçalves. A canção está no álbum Escultura (1959), que traz os big hits "Destino" e "És tudo pra mim."
Gouvea tocou seu violão no especial Eternamente Nelson. Nelson refere-se a Gouveia como um "cantor de muito gabarito".
Na década de 50, Gouvea frequentava um restaurante no Leme, no Rio, chamado Cabeça Chata. Por lá, comia bebia; na hora de pagar, recebia um violão para cantar. Mário Lago, ocasionalmente, ia ao lugar.
Evaldo tentava-lhe mostrar algumas de suas composições – mas ele sempre desconversava...
Um dia, no bar da Rádio Nacional, Mário Lago chamou Evaldo: "Vem cá menino. Mostra aqui pro Nelson aquela música que você cantou no Cabeça Chata. Após ele cantar, o Metralha disse: "Pode parar. Leva lá na Victor (RCA) que vou gravar essa música".
Se passaram sete meses e nada. Evaldo já tinha até esquecido. Nelson cruzava por ele, e nem cumprimentava. "Um dia, eu estava tomando cerveja e escutei no rádio aquele vozeirão do Nelson a cantar:
'Deixe que ela se vá, não lhe diga que não, que não'... P... que o pariu! Foi a maior emoção de minha vida!".
Evaldo elucida que Nelson gravou a canção, mas não lhe avisou. Por sua vez, ele admite que era muito acanhado. Portanto, tinha vergonha de chegar em Nelson e perguntar.
Soube pelo rádio. "Deixa que ela se vá' é uma grande dor-de cotovelo. Eu só faço canções de
amor", confessa o letrista, incurável romântico. Grande emoção, para Evaldo, foi ter a primeira composição de sua vida gravada por Nelson Gonçalves:
"Se não houvesse esse encontro, jamais eu teria ficado na música. Depois, quando fui receber pelos direitos da canção, veio uma bolada alta. Coisa que, normalmente, demorava um ano para eu ganhar", revela.
Nelson pode ter esquecido de Gouvea, ao gravar sua música. Mais tarde do que nunca, porém, agradeceu o parceiro em Eternamente Nelson: "Um cantor de gabarito", elogiou.
*Extra da matéria da matéiria sobre o DVD Eternamente Nelson. "Deixe que ela se vá" é umas das que estão no meu top românticas de Nelson:
Camisola do Dia
A Deusa da Minha Rua
Maria Bethânia
Fantoche
Castigo
Pensando Em Ti
Deixe Que Ela Se Vá
Três Apitos
Segredo
Destino
Dos Meus Braços Tu Não Sairá
Gouvea tocou seu violão no especial Eternamente Nelson. Nelson refere-se a Gouveia como um "cantor de muito gabarito".
Na década de 50, Gouvea frequentava um restaurante no Leme, no Rio, chamado Cabeça Chata. Por lá, comia bebia; na hora de pagar, recebia um violão para cantar. Mário Lago, ocasionalmente, ia ao lugar.
Evaldo tentava-lhe mostrar algumas de suas composições – mas ele sempre desconversava...
Um dia, no bar da Rádio Nacional, Mário Lago chamou Evaldo: "Vem cá menino. Mostra aqui pro Nelson aquela música que você cantou no Cabeça Chata. Após ele cantar, o Metralha disse: "Pode parar. Leva lá na Victor (RCA) que vou gravar essa música".
Se passaram sete meses e nada. Evaldo já tinha até esquecido. Nelson cruzava por ele, e nem cumprimentava. "Um dia, eu estava tomando cerveja e escutei no rádio aquele vozeirão do Nelson a cantar:
'Deixe que ela se vá, não lhe diga que não, que não'... P... que o pariu! Foi a maior emoção de minha vida!".
Evaldo elucida que Nelson gravou a canção, mas não lhe avisou. Por sua vez, ele admite que era muito acanhado. Portanto, tinha vergonha de chegar em Nelson e perguntar.
Soube pelo rádio. "Deixa que ela se vá' é uma grande dor-de cotovelo. Eu só faço canções de
amor", confessa o letrista, incurável romântico. Grande emoção, para Evaldo, foi ter a primeira composição de sua vida gravada por Nelson Gonçalves:
"Se não houvesse esse encontro, jamais eu teria ficado na música. Depois, quando fui receber pelos direitos da canção, veio uma bolada alta. Coisa que, normalmente, demorava um ano para eu ganhar", revela.
Nelson pode ter esquecido de Gouvea, ao gravar sua música. Mais tarde do que nunca, porém, agradeceu o parceiro em Eternamente Nelson: "Um cantor de gabarito", elogiou.
*Extra da matéria da matéiria sobre o DVD Eternamente Nelson. "Deixe que ela se vá" é umas das que estão no meu top românticas de Nelson:
Camisola do Dia
A Deusa da Minha Rua
Maria Bethânia
Fantoche
Castigo
Pensando Em Ti
Deixe Que Ela Se Vá
Três Apitos
Segredo
Destino
Dos Meus Braços Tu Não Sairá
oS fEVERS & o SIMONAL

O baixista dos inofensivos The Fevers, Liebert Ferreira, lamenta o triste episódio. Na sua avaliação, Simonal nunca teve envolvimento político:
"Acompanhamos toda sua carreira, após termos sido contratados pela TV Record. Acredito que seu grande sucesso, na verdade, foi o que lhe derrubou", aposta.
Para Liebert, Simonal, acima de tudo, foi um cara que inovou a música. "Nos anos 60, ele chegou no Maracanazinho, sozinho, e comandou uma multidão inteira. Até começou seu show com a 'Turma da Pilantragem', música feita para o povo cantar".
Os The Fevers, faz justiça, são eternamente agradecidos a Simonal:
"Quando tocamos para o Simonal, em "Mamãe passou açúcar ni mim", éramos apenas garotos. Maestro Peruzzi, arranjador do degregado Simonal, nessa canção, sugeriu que ele não usasse apenas arranjos de orquestra. Mas, sim, que o juntasse com uma guitar band, para que saísse algo diferente. Veio daí a ideia de misturar sopros e côro", retrata Liebert.
Trata-se, na verdade, da primeira gravação que Os The Fevers realizaram no estúdio da antiga Odeon. Logo de saída, a composição (autoria de Carlos Imperial,) explodiu no país inteiro. "A gravação rolou em dois canais, como era naquele tempo. Foi uma vitória maravilhosa".
segunda-feira, 25 de maio de 2009
sábado, 23 de maio de 2009
bURTISMO bEM pEGADO!*
Burt Bacharach – Porto Alegre, Teatro do Sesi – 13/04/2009
Eu apertei a mão do Burt Bacharach! Bota isso na capa da revista! Liga pro além e avisa o meu coroa que rolou essa preza – ele vai abrir um sorrisão orgulhoso e levantar o polegar da mão direita como quem diz "Agora sim!", enquanto pede mais uma rodada de scotch pra ele, pro Frank, pro Dean e pro tio Russo.
Depois disso, sinceramente, fico apenas no aguardo de um bate papo com o Sean Connery e o Francisco Cuoco, uma churrascada com o Beck e os caras do Flaming Lips (de repente alguém do Wilco de bicão), uma beberragenzinha qualquer com o Adam Sandler e o Steve Buscemi e uma pajelança com Woody Harrelson, Willie Nelson e Snoopy Dogg...
Depois de apertar a mão do Burt Bacharach, na boa, fiquei bem menos exigente com meus sonhos absurdos (exceto os que envolvem a Eva Mendes, claro!).
Mas não foi só isso não, jóvens! Teve o show - e é isso que me trás à escriba dessas linhas. Showzão! Empolgante, romântico, finíssimo e, claro, em se tratando de um dos maiores compositores da música moderna, repleto de hits.
Tão repleto de hits que logo no começo, depois de uma introdução com "What the world needs now is love", ele cometeu o que cheguei a pensar ser o disparate de "gastar" alguns de seus maiores sucessos em um medley – nele, "This guy is in love with you", "I say a little prayer", entre outras, praticamente reduzidas a breves citações.
Mas não, eu estava enganado, não foi disparate, foi a melhor forma encontrada para incluir num show de cerca de duas horas o grosso de sua excelente produção nestes mais de 50 anos de carreira.
Antes de chegar ao Teatro do Sesi, onde aconteceu o espetáculo, ou até antes de ler as matérias que rolaram sobre o show na imprensa, na semana que o antecedeu, eu estava também curioso com o formato da banda com a qual ele se apresentaria – e sonhando com os fabulosos arranjos orquestrados dos discos do mestre.
E ele se veio com um pianão de cauda no centro do palco, de onde regia cheio da energia e empolgação com que carrega seus 80 anos no corpo, um grupo de 10 integrantes: uma violinista gatinha; dois bróders encarregados dos sopros (um variava entre tipos de sax e outro ficava entre o trompete e o flugelhorn); um baixista e um batera que cumpriram com as expectativas e mantiveram as sempre bem engrenadas traquitanas da típica cozinha bacharachiana; três vocalistas (duas cantoras com vozeirões lindos e um magrão que cantava legal, mas era meio balaqueiro demais pro meu gosto); e outros dois tecladistas (que às vezes abusavam dos timbres de strings e meio que quase chineleavam a coisa toda - mas, beleza, faz parte!).
A primeira música que o próprio Burt cantou no show só apareceu lá pela metade, e foi "The Look of Love", no meio de um outro medley, dedicado às canções que ele compôs para trilhas de filmes, onde também estavam "Raindrops Keep Falling on My Head", "What’s New, Pussycat", "Alfie" e mais outras várias – talvez o momento mais emocionante!
Foram uns cinco ou seis medleys na noite toda, reunindo em uma estrutura só, clássicos do maestro alternando-se com canções que eram executadas separadamente, sempre apresentadas com muita simpatia por Bacharach (por exemplo, antes de "That’s what friends are for" ele a dedicou aos presidentes Lula e Barack Obama, como "novos amigos", e antes de um medley com as primeiras composições suas a serem gravadas ele disse que até para ele, elas pareciam ser de outro compositor).
Às vezes a introdução era para destacar a canção ou medley que estavam por vir, ou algum músico ou vocalista que eram destaque na faixa, às vezes era só um gracejo ou charminho, afinal o cara é pura catêga!
E a importância de se ter um manancial de catêga desses na nossa cidade, a Porto Alegre que sempre foi vista como usina de boas idéias, principalmente musicais, será que foi valorizada?
Bom, aí podemos correr pruma discussão semântica, pois valorizada foi sim, e pacas – os ingressos mais baratos, no 'distante mezanino', custavam 250 reais e os de platéia baixa, bem pertinho do Cara, eram 450 reais (que, na boa, há de ser salgado até pra quem tem muuuita grana!).
Mas infelizmente essa valorização toda afastou o público das gostosas cadeiras do teatro e do espetáculo de música e finésse que se assistiu. Afastou um público mais jovem de ter contato com um dos maiores compositores ainda vivos do mundo, e o afastou um pouco mais de sua excelente música.
Assim como a crise financeira (que existe sim!) afastou gente que teria condições, de dar-se o luxo de ir assistir Burt Bacharach em um evento elegante... E o resultado foi um teatro com apenas metade de sua capacidade recebendo um dos maiores verbetes da música moderna. Pena!
Mas o showman não deu bola pra isso, pois de vários "issos" é feita a estrada de um mestre do seu porte! Fez um showzão! E ainda recebeu com carinho a cidade e foi atrás de Porto Alegre oferecendo amor e cumplicidade como suas canções falam.
Segundo a produção local, logo após o café da manhã do dia do show, Burt foi correr no Parcão (parque próximo ao hotel que o hospedou), e mais tarde caminhou no Parque da Redenção e pela orla do Rio Guaíba, pontos turísticos obrigatórios da capital gaúcha.
E depois de toda essa andança e mais de uma hora e meia de show, ele e seus 80 anos ainda voltaram ao palco sorridentes para fazer dois bis. Pois a cada vez que saía, ele ganhava um mimo de algum fã, um arranjo de flores, uma palavra de carinho, um aperto de mão...
Ah sim, eu já contei? Eu apertei a mão do Burt Bacharach! Acho que já, né?! Mas, enfim... Sim, é verdade! Juro! Foi bem no finalzinho do show, no último bis, ele e sua banda repetiram "Raindrops Keep Falling on My Head" e antes de encerrar tudo de vez com a música que haviam aberto o show, "What the world needs now is love", ele se aproximou da beira do palco e abaixou-se para cumprimentar os fãs que já não mais aguentavam aquela austeridade toda de show de 450 reais e foram para a frente do palco demonstrar o carinho, respeito e amor pelo grande maestro que haviam assistido.
Foi demais! Inesquecível!
*Carlinhos "Bidê ou Balde" de Mascarenhas Carneiro apertou a mão do Burt. Acho que ele já disse isso, né? Como diria o Chicão, parceiro nosso: "Préééééééééza!". Fotos: Diego Marques. Leia o original na edição de maio da revista Noize.
Depois disso, sinceramente, fico apenas no aguardo de um bate papo com o Sean Connery e o Francisco Cuoco, uma churrascada com o Beck e os caras do Flaming Lips (de repente alguém do Wilco de bicão), uma beberragenzinha qualquer com o Adam Sandler e o Steve Buscemi e uma pajelança com Woody Harrelson, Willie Nelson e Snoopy Dogg...
Depois de apertar a mão do Burt Bacharach, na boa, fiquei bem menos exigente com meus sonhos absurdos (exceto os que envolvem a Eva Mendes, claro!).
Mas não foi só isso não, jóvens! Teve o show - e é isso que me trás à escriba dessas linhas. Showzão! Empolgante, romântico, finíssimo e, claro, em se tratando de um dos maiores compositores da música moderna, repleto de hits.
Tão repleto de hits que logo no começo, depois de uma introdução com "What the world needs now is love", ele cometeu o que cheguei a pensar ser o disparate de "gastar" alguns de seus maiores sucessos em um medley – nele, "This guy is in love with you", "I say a little prayer", entre outras, praticamente reduzidas a breves citações.
Mas não, eu estava enganado, não foi disparate, foi a melhor forma encontrada para incluir num show de cerca de duas horas o grosso de sua excelente produção nestes mais de 50 anos de carreira.
Antes de chegar ao Teatro do Sesi, onde aconteceu o espetáculo, ou até antes de ler as matérias que rolaram sobre o show na imprensa, na semana que o antecedeu, eu estava também curioso com o formato da banda com a qual ele se apresentaria – e sonhando com os fabulosos arranjos orquestrados dos discos do mestre.
E ele se veio com um pianão de cauda no centro do palco, de onde regia cheio da energia e empolgação com que carrega seus 80 anos no corpo, um grupo de 10 integrantes: uma violinista gatinha; dois bróders encarregados dos sopros (um variava entre tipos de sax e outro ficava entre o trompete e o flugelhorn); um baixista e um batera que cumpriram com as expectativas e mantiveram as sempre bem engrenadas traquitanas da típica cozinha bacharachiana; três vocalistas (duas cantoras com vozeirões lindos e um magrão que cantava legal, mas era meio balaqueiro demais pro meu gosto); e outros dois tecladistas (que às vezes abusavam dos timbres de strings e meio que quase chineleavam a coisa toda - mas, beleza, faz parte!).
A primeira música que o próprio Burt cantou no show só apareceu lá pela metade, e foi "The Look of Love", no meio de um outro medley, dedicado às canções que ele compôs para trilhas de filmes, onde também estavam "Raindrops Keep Falling on My Head", "What’s New, Pussycat", "Alfie" e mais outras várias – talvez o momento mais emocionante!
Foram uns cinco ou seis medleys na noite toda, reunindo em uma estrutura só, clássicos do maestro alternando-se com canções que eram executadas separadamente, sempre apresentadas com muita simpatia por Bacharach (por exemplo, antes de "That’s what friends are for" ele a dedicou aos presidentes Lula e Barack Obama, como "novos amigos", e antes de um medley com as primeiras composições suas a serem gravadas ele disse que até para ele, elas pareciam ser de outro compositor).
Às vezes a introdução era para destacar a canção ou medley que estavam por vir, ou algum músico ou vocalista que eram destaque na faixa, às vezes era só um gracejo ou charminho, afinal o cara é pura catêga!
E a importância de se ter um manancial de catêga desses na nossa cidade, a Porto Alegre que sempre foi vista como usina de boas idéias, principalmente musicais, será que foi valorizada?
Bom, aí podemos correr pruma discussão semântica, pois valorizada foi sim, e pacas – os ingressos mais baratos, no 'distante mezanino', custavam 250 reais e os de platéia baixa, bem pertinho do Cara, eram 450 reais (que, na boa, há de ser salgado até pra quem tem muuuita grana!).
Mas infelizmente essa valorização toda afastou o público das gostosas cadeiras do teatro e do espetáculo de música e finésse que se assistiu. Afastou um público mais jovem de ter contato com um dos maiores compositores ainda vivos do mundo, e o afastou um pouco mais de sua excelente música.
Assim como a crise financeira (que existe sim!) afastou gente que teria condições, de dar-se o luxo de ir assistir Burt Bacharach em um evento elegante... E o resultado foi um teatro com apenas metade de sua capacidade recebendo um dos maiores verbetes da música moderna. Pena!
Mas o showman não deu bola pra isso, pois de vários "issos" é feita a estrada de um mestre do seu porte! Fez um showzão! E ainda recebeu com carinho a cidade e foi atrás de Porto Alegre oferecendo amor e cumplicidade como suas canções falam.
Segundo a produção local, logo após o café da manhã do dia do show, Burt foi correr no Parcão (parque próximo ao hotel que o hospedou), e mais tarde caminhou no Parque da Redenção e pela orla do Rio Guaíba, pontos turísticos obrigatórios da capital gaúcha.
E depois de toda essa andança e mais de uma hora e meia de show, ele e seus 80 anos ainda voltaram ao palco sorridentes para fazer dois bis. Pois a cada vez que saía, ele ganhava um mimo de algum fã, um arranjo de flores, uma palavra de carinho, um aperto de mão...
Ah sim, eu já contei? Eu apertei a mão do Burt Bacharach! Acho que já, né?! Mas, enfim... Sim, é verdade! Juro! Foi bem no finalzinho do show, no último bis, ele e sua banda repetiram "Raindrops Keep Falling on My Head" e antes de encerrar tudo de vez com a música que haviam aberto o show, "What the world needs now is love", ele se aproximou da beira do palco e abaixou-se para cumprimentar os fãs que já não mais aguentavam aquela austeridade toda de show de 450 reais e foram para a frente do palco demonstrar o carinho, respeito e amor pelo grande maestro que haviam assistido.
Foi demais! Inesquecível!
*Carlinhos "Bidê ou Balde" de Mascarenhas Carneiro apertou a mão do Burt. Acho que ele já disse isso, né? Como diria o Chicão, parceiro nosso: "Préééééééééza!". Fotos: Diego Marques. Leia o original na edição de maio da revista Noize.
uMA cASA nO cÉU
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Músico do campo e criador do rock rural, Zé Rodrix não gostava de médicos
À meia-noite de ontem (quinta-feira), o destino carregou outro brasileiro ilustre. Seu nome: Zé Rodrix. O cantor e compositor, fundador do grupo Sá, Rodrix & Guarabyra, morreu em casa, em São Paulo, aos 61 anos,vítima de parada cardiorrespiratória.
Rodrix deixa mulher, seis filhos e dois netos.
A filha Bárbara Rodrix, 18, prestou ao pai o primeiro atendimento: "O que me tranquiliza, é que ele não sofreu. Estava muito bem, gozando o melhor momento de sua saúde. Aparentemente, não havia nada de errado", contou a filha ao Jornal de Brasília. Segundo Bárbara, Zé Rodrix chegou em casa sentindo-se mal", conta.
A irmã, Mariana, médica,foi chamada para atendê-lo como fazia habitualmente. "Papai não gostava de médicos. Ele não queria ir para o hospital. Sentiu que ia desmaiar, teve convulsões e uma parada respiratória." Zé Rodrix faleceu a caminho do Hospital de Clínicas, em São Paulo:
"Tentaram reanimá-lo mais ou menos à meia-noite. Recentemente, ele tinha feito exames, sua saúde estava perfeita", lamentou Bárbara, que toca violão e, recentemente, finalizou a gravação de seu primeiro disco, produzido pelo pai: "Como sempre, ele não parava".
O multiartista recifense, Lula Côrtes (que, nos anos 70, foi expoente do chamado "udigrudi nordestino"), diz que o som de Sá, Rodrix & Guararabira embalou boa parte de sua juventude. O rock rural, observa Lula, era a demonstração verdadeira da vontade de toda uma geração que descobriu em "ir morar no campo", uma forma toda particular de liberdade e de integração com a natureza, bem característico das experiências lisérgicas hippies daquela época:
"É uma perda irreparável. A música brasileira fica, mais uma vez, privada de um grande talento."
A co-autora do livro Psicodelia Brasileira - Um Mergulho na Geração Bendita (que narra as histórias da contracultura brasileira, nas décadas de 60 e 70), Tatiana Melo, situa mais importantes do que se convencionou chamar de contracultura brasileira".
Na década de 1970, Rodrix morou no famoso Solar da Fossa – espécie de pensão-pulgueiro, lar
dos desbundados cariocas – e fundou o Som Imaginário, big band dos sonhos e uma das mais importantes representantes da psicodelia nacional.
"Depois, caiu na estrada como Sá e Guarabyra e, em suas letras, conseguiu traduzir o ideário hippie americano para a juventude brasileira."
Rodrix cantava a liberdade, a natureza e a vida simples. Quando a música lhe impediu de criar, no início dos anos 80, voltou-se à publicidade: "Além de seu trabalho, Zé foi um cara que vivia e
transpirava, liberdade e criatividade. Não é a toa que seus filhos são artistas", diz Tatiana, ao rememorar que, na época em que escrevia o livro, seus autores eram apenas estudantes.
Zé Rodrix, porém, nem se importou com isso, e abriu-lhes o coração e suas histórias da juventude. "O Brasil perdeu um de seus grandes compositores".
Music: non-stop - Multi- instrumentista (piano, acordeom, flauta,bateria, saxofone e trompete), compositor de jingles e publicitário, Zé Rodrix não "parava". Em 1967, participou do Festival de Música Brasileira da TV Record,acompanhado de Marília Medalha, Edu Lobo e o Quarteto Novo, com a canção Ponteio Nos anos 70, integrou o progressivo Som Imaginário,mas continuou compondo.
"Casa no Campo", composição sua e do músico Tavito, ganhou o Festival de Juiz de Fora, em 1971, e fez muito sucesso na voz de Elis Regina. Outro sucesso seu foi "Soy Latino Americano" Ao lado de Sá e Guarabyra,Rodrix se consagrou como um dos ícones do chamado "rock rural".
Também atuou no grupo Joelho de Porco No início dos anos 2000, o músico causou polêmica ao revelar, em uma entrevista,que era maçom. Zé Rodrix chegou a lançar uma trilogia de livros sobre a maçonaria.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
a bRASÍLIA dOS fEVERS
The Fevers fala de sua relação com a capital federal e lembra início de carreira, como banda de apoio de Roberto e Erasmo
POR CRISTIANO BASTOS
No distante ano de 1966, a caravana Hoje é Dia de Rock (na verdade, um show televisivo, outrora comandado pelo apresentador Jair de Taumaturgo, na TV Rio) aportou numa Brasília ainda bebê.
No bagageiro, vinha junto uma turma de ídolos da nova música brasileira: a Jovem Guarda. Entre os quais, os The Fevers, conjunto que apresenta amanhã, na capital federal, seu Show Baile Anos 60&70.
"Levei um susto ao chegarmos em Brasília. Os hotéis eram edificados em madeira", lembra o baixista e vocalista Liebert Ferreira, 44 anos de banda. "Ficamos impressionados com o descampado, a terra roxa, que dava cor ao solo".
Depois disso, Liebert perdeu as contas de quantas vezes retornou à cidade: "Muita gente, que era fã no Rio de Janeiro, migrou para Brasília. Os brasilienses nos curtem muito", reconhece.
Por volta de 1965, a banda, ainda instrumental – na onda surf de grupos como Ventures e dos Surfaris –, usava o "ilegal" nome The Fenders, o qual tomaram emprestado da famosa marca de instrumentos.
Com a popularidade, entretanto, alguém alertou que não poderiam usá-lo por mais tempo. Ouvindo The Fever, incendiária canção de Elvis Presley, resolveram mudar para o atual. O nome colou.
"Naqueles dias, para para fazer sucesso precisava uma nomenclatura em inglês." O ponto de ebulição da banda, aconteceu quando estrelaram o televisivo Hoje é Dia de Rock – da mesma franquia que trouxera os Fervers à Brasília.
O programa abocanhava incrível audiência aos domingos, entre todas as faixa-etárias. Terminado o teste que tiveram de prestar, ganharam uma apilha de discos, para que tirassem as bases das músicas:
"Gostaram e, daí para frente, acompanhamos grandes artistas, como Erasmo Carlos, Wandeléa e Roberto Carlos. Na época, a turma era dura de grana. Todo mundo estava apenas começando", retrata.
Carlos Imperial, lendário produtor musical, foi quem aconselhou os The Fevers a tentarem suas primeiras canções vocalizadas: "'Tem que cantar!' – o Imperial nos dizia sempre".
Como todos os garotos dos sixties, eles também adoravam Beatles e Rolling Stones. A sorte grande, contudo, veio quando a banda se mudou do Rio para São Paulo – momento culminante, no qual a Jovem Guarda invadia o território nacional.
Foi quando o trio de ouro Erasmo-Wanderléa-Roberto, fez o convite para que os companhassem. Na escada rolante do sucesso vieram Golden Boys, Wandeley Cardoso e Jerry Adriani.
Parodiando o hit Mar de Rosas, um dos mais ganchudos da banda, seguiu-se um verdadeiro "mar de sucessos": "Já Cansei", "Cândida", "Sou Feliz", "Nathalie", "Hey Girl", "Trem da Alegria". Sem falar nas trilhas sonoras de novelas globais campeãs de audiência, como "Elas Por Elas" e "Guerra dos Sexos". Ambas alcançaram popularidade internacional.
Importante capítulo dessa história – que é parte da gênese da música jovem brasileira –, os The Fevers vão contar tim-tim por tim-tim, do jeito que melhor sabem fazer: cantando.
THE FEVERS SOBRE...
Erasmo Carlos – "Gravamos dois LP's acompanhando o Tremendão. Erasmo nos ajudou muito em São Paulo, quando fomos pra lá. A gente ia na casa dele filar bóia. Das maiores pessoas que
cruzaram o caminho dos Fevers"
Roberto Carlos – "Também nos ajudou muito. Gravamos com ele, "Eu te Darei o Céu" e "Estou Apaixonado". Era muito exigente no estúdio. Perfeccionista"
Jorge Ben – "Jorge Ben morava com Erasmo, na época da Jovem Guarda. Ele, aliás, participou dela. Rejeitado pelos bossanovistas, foi acolhido pelos jovemguardistas. Juntos, estouramos a
canção Se Manda, no LP O Bidú"
Trio Esperança/Golden Boys – "Os dois grupos eram da mesma praia. Ambos foram muito importantes em nossa trajetória"
Chacrinha – "Integramos a Orquestra do Chacrinha. Tenho a felicidade de ter produzido todos os discos de Carnaval dele"
Carlos Imperial – "Profissionalmente, nos deu muitos conselhos no início da nossa carreira. Do Imperial, tocamos na composição 'A Praça'"
Rossini Pinto – "Rossini foi tudo para os The Fevers. Os grandes sucesso da jovem guarda passaram pela sua mão"
Wilson Simonal – " Acompanhamos toda a carreira dele. Acredito que seu grande sucesso, na verdade, foi o que lhe derrubou. Quando tocamos para o Simonal, em 'Mamãe Passou Açúcar ni Mim', éramos apenas garotos"
"Levei um susto ao chegarmos em Brasília. Os hotéis eram edificados em madeira", lembra o baixista e vocalista Liebert Ferreira, 44 anos de banda. "Ficamos impressionados com o descampado, a terra roxa, que dava cor ao solo".
Depois disso, Liebert perdeu as contas de quantas vezes retornou à cidade: "Muita gente, que era fã no Rio de Janeiro, migrou para Brasília. Os brasilienses nos curtem muito", reconhece.
Por volta de 1965, a banda, ainda instrumental – na onda surf de grupos como Ventures e dos Surfaris –, usava o "ilegal" nome The Fenders, o qual tomaram emprestado da famosa marca de instrumentos.
Com a popularidade, entretanto, alguém alertou que não poderiam usá-lo por mais tempo. Ouvindo The Fever, incendiária canção de Elvis Presley, resolveram mudar para o atual. O nome colou.
"Naqueles dias, para para fazer sucesso precisava uma nomenclatura em inglês." O ponto de ebulição da banda, aconteceu quando estrelaram o televisivo Hoje é Dia de Rock – da mesma franquia que trouxera os Fervers à Brasília.
O programa abocanhava incrível audiência aos domingos, entre todas as faixa-etárias. Terminado o teste que tiveram de prestar, ganharam uma apilha de discos, para que tirassem as bases das músicas:
"Gostaram e, daí para frente, acompanhamos grandes artistas, como Erasmo Carlos, Wandeléa e Roberto Carlos. Na época, a turma era dura de grana. Todo mundo estava apenas começando", retrata.
Carlos Imperial, lendário produtor musical, foi quem aconselhou os The Fevers a tentarem suas primeiras canções vocalizadas: "'Tem que cantar!' – o Imperial nos dizia sempre".
Como todos os garotos dos sixties, eles também adoravam Beatles e Rolling Stones. A sorte grande, contudo, veio quando a banda se mudou do Rio para São Paulo – momento culminante, no qual a Jovem Guarda invadia o território nacional.
Foi quando o trio de ouro Erasmo-Wanderléa-Roberto, fez o convite para que os companhassem. Na escada rolante do sucesso vieram Golden Boys, Wandeley Cardoso e Jerry Adriani.
Parodiando o hit Mar de Rosas, um dos mais ganchudos da banda, seguiu-se um verdadeiro "mar de sucessos": "Já Cansei", "Cândida", "Sou Feliz", "Nathalie", "Hey Girl", "Trem da Alegria". Sem falar nas trilhas sonoras de novelas globais campeãs de audiência, como "Elas Por Elas" e "Guerra dos Sexos". Ambas alcançaram popularidade internacional.
Importante capítulo dessa história – que é parte da gênese da música jovem brasileira –, os The Fevers vão contar tim-tim por tim-tim, do jeito que melhor sabem fazer: cantando.
THE FEVERS SOBRE...
Erasmo Carlos – "Gravamos dois LP's acompanhando o Tremendão. Erasmo nos ajudou muito em São Paulo, quando fomos pra lá. A gente ia na casa dele filar bóia. Das maiores pessoas que
cruzaram o caminho dos Fevers"
Roberto Carlos – "Também nos ajudou muito. Gravamos com ele, "Eu te Darei o Céu" e "Estou Apaixonado". Era muito exigente no estúdio. Perfeccionista"
Jorge Ben – "Jorge Ben morava com Erasmo, na época da Jovem Guarda. Ele, aliás, participou dela. Rejeitado pelos bossanovistas, foi acolhido pelos jovemguardistas. Juntos, estouramos a
canção Se Manda, no LP O Bidú"
Trio Esperança/Golden Boys – "Os dois grupos eram da mesma praia. Ambos foram muito importantes em nossa trajetória"
Chacrinha – "Integramos a Orquestra do Chacrinha. Tenho a felicidade de ter produzido todos os discos de Carnaval dele"
Carlos Imperial – "Profissionalmente, nos deu muitos conselhos no início da nossa carreira. Do Imperial, tocamos na composição 'A Praça'"
Rossini Pinto – "Rossini foi tudo para os The Fevers. Os grandes sucesso da jovem guarda passaram pela sua mão"
Wilson Simonal – " Acompanhamos toda a carreira dele. Acredito que seu grande sucesso, na verdade, foi o que lhe derrubou. Quando tocamos para o Simonal, em 'Mamãe Passou Açúcar ni Mim', éramos apenas garotos"
terça-feira, 19 de maio de 2009
jOHNNY mCCARTNEY - pARTE 1*

segunda-feira, 18 de maio de 2009
fORÇA eSTRANHA
POR CRISTIANO BASTOS
A misteriosa da asa-delta que compunha, imóvel e portentosa, a gestalt do palco, no show de estreia do álbum Zii Zie, de Caetano Veloso, na noite de sábado no Centro de Convenções, em Brasília, ganhou metáfora não-planejada na última canção do bis: braços abertos - estendidos para a plateia de mais três mil pessoas -, Caetano entoava com entrega absoluta "Força Estranha" (canção sua em homenagem a Roberto Carlos).
Ao aproximar-se da beirada do palco, o baiano precipitou-se do alto de mais de um metro do chão. O cantor caiu empunhando sua guitarra acústica. Intacta, a asa-delta não sofreu danos.
Na hora da queda, o show - a praticamente uma frase de seu final - foi interrompido, músicos e roadies abandonaram o palco para socorrer o Caetano, que não perdeu o rebolado. Sem acompanhamento musical, ainda no chão, o cantor retomou "Força Estranha" da estrofe na qual parara:
"Por isso uma força me leva a cantar/Por isso esta força entranha no ar/Por isso é que eu canto, não posso parar". Foi ovacionado.
"O Caetano andava como se estivesse no ar", testemunhou ao Jornal de Brasília, a médica Aparecida Adréas, que, no inesperado momento, estava sentada na primeira fila, e assistiu a tudo de uma posição privilegiada.
Porém, para aqueles que estavam nas últimas fileiras, a impressão é que uma "força estranha", de fato, o sugara para o fosso que separa o palco da platéia. Segundo Aparecida, Caetano aparou todo o peso de seu corpo no joelho esquerdo, ao cair: "Na hora da queda, ele tinha um olhar 'beatífico' em seu rosto. Parecia um anjo", descreveu.
O guitarrista da bandaCê, Pedro Sá, estava tocando concentrado na hora do tombo. Viu, no entanto, que o front leader teve sagacidade ao cair: "Ele soube cair e soube se levantar", falou ao Jbr. Espirituoso, nos camarins, depois do show, Caetano ainda recebeu dezenas de fãs. Ansiosos, eles aglomeravam-se em busca de notícias e de uma oportunidade de demostrar algum carinho.
Confortava a todos: "Levei um baita susto!". E ainda deu uma brincadinha: "Cai bem. Só ralei o joelho", comentava com o ministro da Cultura, Juca Ferreira, já inteiramente refeito do incidente. À produção, Caetano pediu gelo para aplicar nas partes do corpo que ficaram mais doloridas.
Queda e ascenção - O baque, todavia, nem de longe maculou o esplendor do show. Tanto a voz, afinação e interpretação de Caetano quanto os atributos técnicos do som estavam impecáveis - perfeitamente equalizados. O que muito impressiona é que os tempos mudam; a voz de Caetano, contudo, é imutável.
"Sem cais", primeira canção de Zii Zie a ser tocada, ganhou projeção de gaivotas acizentadas no telão. Em "Trem das Cores", as cores assumem tonalidadades entre vermelho e azul.
Os riffs metálicos de guitarra em "Perdeu", acompanhados pelo "aquático" piano Fender Rhodes, remetem a rispidez pós-punk dos ingleses do Gang of Four. Nos momentos barulhentos, como nessa música, Caetano fica num segundo plano. A banda Cê, então, dá seu "show de noise":
"Sou chegado num rock barulhento, sim", comentou Pedro Sá, no backstage, ao fim da apresentação.
"Lobão tem razão", uma das mais cerebrais de Zii Zie, tem a engraçada frase: "O homem é o próprio Lobão do homem". Na verdade, uma alfinetada daquelas no colega polemista. A música é a resposta de Veloso a Lobão, que fez para ele, anos atrás, "Mano Caetano".
Caetano Veloso dedicou o show ao dramaturgo Augusto Boal, falecido este mês. "Boal foi o primeiro a dirigir minha 'maninha' Bethânia", disse. Depois emendou “Irene” - canção de 1970, tema da personagem homônima, interpretada por Regina Duarte, na novela Véu de Noiva -, em cuja versão original o lendário Lanny Gordin esmerilha sua Gianinni Sonic.
"Volver", definiu Caetano, é um "transtango: um 'tanguito'", complementou. Contemporâneo, aproveitou, também, para dedicar a estreia ao seus "amigos blogueiros brasilienses" - uma das turmas co-participantes do novo disco.
Em "Tarado ni você", Pedro Sá desfere as guitarradas mais pesadas do recente álbum. Quando, atualmente, nenhuma banda nacional (ao menos no mainstream) aposta no velho conceito de barullho, é como se Caetano tivesse ao seu dispor um power trio privado.
É assim - e muito por conta disso, aliás - que a coisa funciona tão bem. Não há choque de gerações.
"Menina da ria" é a canção solar do disco, com sua batida tropicaliente e letra pop. Junto com "A cor amarela", na qual Caetano exortou o público a bater palmas - sem dúvida - é o número "mais Brasil" de Zii Zie.
"Base de Guantanamo" remete aos Titãs em "O camelo e o dromedário". Isoladamente, no final de sua execução, aqui e ali umas quantas pessoas manifestaram-se quanto a letra.
Que diz:
"O fato dos americanos desrespeitarem os direitos humanos em solo cubano/ É por demais forte simbolicamente para eu não me abalar/ A Base de Guantánamo/A Base da Baía de Guantánamo/A Base de Guantánamo/Guantánamo".
"Coll e popular", assim Caetano define o bairro carioca da Lapa (reduto de personagens como Madame Satã, Nelson Gonçalves, Orlando Silva e Ataulfo Alves) na letra da canção, uma das que fecham a atribulada passagem pela capital federal.
É uma de suas prediletas, contou em entrevista ao Jbr. Até agora, Caetano apresentou o melhor show de rock em Brasília, no ano de 2009. Na mesma noite, foi ao céu da glória ao constrangimento (pequenino) da queda. Bateu até nos metaleiros do Heaven and Hell.
Lobão tem razão
Tarado ni você
Lapa
Ao aproximar-se da beirada do palco, o baiano precipitou-se do alto de mais de um metro do chão. O cantor caiu empunhando sua guitarra acústica. Intacta, a asa-delta não sofreu danos.
Na hora da queda, o show - a praticamente uma frase de seu final - foi interrompido, músicos e roadies abandonaram o palco para socorrer o Caetano, que não perdeu o rebolado. Sem acompanhamento musical, ainda no chão, o cantor retomou "Força Estranha" da estrofe na qual parara:
"Por isso uma força me leva a cantar/Por isso esta força entranha no ar/Por isso é que eu canto, não posso parar". Foi ovacionado.
"O Caetano andava como se estivesse no ar", testemunhou ao Jornal de Brasília, a médica Aparecida Adréas, que, no inesperado momento, estava sentada na primeira fila, e assistiu a tudo de uma posição privilegiada.
Porém, para aqueles que estavam nas últimas fileiras, a impressão é que uma "força estranha", de fato, o sugara para o fosso que separa o palco da platéia. Segundo Aparecida, Caetano aparou todo o peso de seu corpo no joelho esquerdo, ao cair: "Na hora da queda, ele tinha um olhar 'beatífico' em seu rosto. Parecia um anjo", descreveu.
O guitarrista da bandaCê, Pedro Sá, estava tocando concentrado na hora do tombo. Viu, no entanto, que o front leader teve sagacidade ao cair: "Ele soube cair e soube se levantar", falou ao Jbr. Espirituoso, nos camarins, depois do show, Caetano ainda recebeu dezenas de fãs. Ansiosos, eles aglomeravam-se em busca de notícias e de uma oportunidade de demostrar algum carinho.
Confortava a todos: "Levei um baita susto!". E ainda deu uma brincadinha: "Cai bem. Só ralei o joelho", comentava com o ministro da Cultura, Juca Ferreira, já inteiramente refeito do incidente. À produção, Caetano pediu gelo para aplicar nas partes do corpo que ficaram mais doloridas.
Queda e ascenção - O baque, todavia, nem de longe maculou o esplendor do show. Tanto a voz, afinação e interpretação de Caetano quanto os atributos técnicos do som estavam impecáveis - perfeitamente equalizados. O que muito impressiona é que os tempos mudam; a voz de Caetano, contudo, é imutável.
"Sem cais", primeira canção de Zii Zie a ser tocada, ganhou projeção de gaivotas acizentadas no telão. Em "Trem das Cores", as cores assumem tonalidadades entre vermelho e azul.
Os riffs metálicos de guitarra em "Perdeu", acompanhados pelo "aquático" piano Fender Rhodes, remetem a rispidez pós-punk dos ingleses do Gang of Four. Nos momentos barulhentos, como nessa música, Caetano fica num segundo plano. A banda Cê, então, dá seu "show de noise":
"Sou chegado num rock barulhento, sim", comentou Pedro Sá, no backstage, ao fim da apresentação.
"Lobão tem razão", uma das mais cerebrais de Zii Zie, tem a engraçada frase: "O homem é o próprio Lobão do homem". Na verdade, uma alfinetada daquelas no colega polemista. A música é a resposta de Veloso a Lobão, que fez para ele, anos atrás, "Mano Caetano".
Caetano Veloso dedicou o show ao dramaturgo Augusto Boal, falecido este mês. "Boal foi o primeiro a dirigir minha 'maninha' Bethânia", disse. Depois emendou “Irene” - canção de 1970, tema da personagem homônima, interpretada por Regina Duarte, na novela Véu de Noiva -, em cuja versão original o lendário Lanny Gordin esmerilha sua Gianinni Sonic.
"Volver", definiu Caetano, é um "transtango: um 'tanguito'", complementou. Contemporâneo, aproveitou, também, para dedicar a estreia ao seus "amigos blogueiros brasilienses" - uma das turmas co-participantes do novo disco.
Em "Tarado ni você", Pedro Sá desfere as guitarradas mais pesadas do recente álbum. Quando, atualmente, nenhuma banda nacional (ao menos no mainstream) aposta no velho conceito de barullho, é como se Caetano tivesse ao seu dispor um power trio privado.
É assim - e muito por conta disso, aliás - que a coisa funciona tão bem. Não há choque de gerações.
"Menina da ria" é a canção solar do disco, com sua batida tropicaliente e letra pop. Junto com "A cor amarela", na qual Caetano exortou o público a bater palmas - sem dúvida - é o número "mais Brasil" de Zii Zie.
"Base de Guantanamo" remete aos Titãs em "O camelo e o dromedário". Isoladamente, no final de sua execução, aqui e ali umas quantas pessoas manifestaram-se quanto a letra.
Que diz:
"O fato dos americanos desrespeitarem os direitos humanos em solo cubano/ É por demais forte simbolicamente para eu não me abalar/ A Base de Guantánamo/A Base da Baía de Guantánamo/A Base de Guantánamo/Guantánamo".
"Coll e popular", assim Caetano define o bairro carioca da Lapa (reduto de personagens como Madame Satã, Nelson Gonçalves, Orlando Silva e Ataulfo Alves) na letra da canção, uma das que fecham a atribulada passagem pela capital federal.
É uma de suas prediletas, contou em entrevista ao Jbr. Até agora, Caetano apresentou o melhor show de rock em Brasília, no ano de 2009. Na mesma noite, foi ao céu da glória ao constrangimento (pequenino) da queda. Bateu até nos metaleiros do Heaven and Hell.
Lobão tem razão
Tarado ni você
Lapa
domingo, 17 de maio de 2009
o dESPENCAR dE cAETANO*
sábado, 16 de maio de 2009
cAETANO tEM rAZÃO?
POR CRISTIANO BASTOS
Cantor e compositor inicia em Brasília sua nova turnê, Obra em Progresso, com disposição para questionar os velhos cânones da música popular brasileira
Caetano Veloso é um apaixonado pela capital do Brasil. Para o baiano, que escolheu a cidade para estrear a temporada nacional de shows do álbum Zii e Zie, Brasília é "a imagem por trás da emblemática "Tropicália" – "Eu inauguro o monumento no planalto central do País", como diz a canção.
"Sou apaixonado pela força de sonho que há aí", confessa o baiano, em entrevista ao Jornal de Brasília.
Em outra canção, "Flor do Cerrado" – essa explicitamente sobre Brasília –, ele canta: "Mas da próxima vez que eu for a Brasília/Eu trago uma flor do cerrado pra você". "Adoraria entrar mais fundo na sensibilidade candanga", filosofa.
A formação que toca hoje à noite é a mesma do disco Cê: Pedro Sá nas guitarras, Ricardo Dias Gomes nos teclados e contrabaixo, Marcello Callado na bateria. À frente desse grupo jovem e explosivo, paira o próprio Caetano – em voz e violão.
O crossover "samba'n'roll" soa bem nos dois últimos álbuns. Em certas canções, dá até para fazer um air guitar...Gesto revelador da aderência da música. E, por ser aderente, pop. Você concorda com isso: houve também a busca pelo "pop adesivo" em Zii e Zie?
Sou pop. Mas nunca esperaria que Zii e Zie fosse aderente. Até o David Byrne me disse ter tido dificuldades de atravessar a primeira faixa.O(diretor) Estevão Chiavatta, ao ouvir o disco, me disse: "É muito bom, mas por que você não volta a ser doce?".
Qual a sua canção predileta desse disco?
"Lapa". Gosto muito também de "Tarado Ni Você". Mas estou perto demais para não gostar de todas. Por quem é uma linda canção. E muito original.
O que você estava ouvindo enquanto o álbum era produzido?
Ouvi Animal Collective, Mariana Aydar, Rodrigo de Campos e Moreno – cantando How deep is the ocean (Irving Berlin) em versão brasileira de Carlos Rennó. Ouvi também coisas antigas de que gosto: João Gilberto, Francisco Alves, Mário Reis. Ouvi algumas vezes a ópera Moses and Aron, de Schoenberg, autor que acho genial. É uma peça muito forte.
Acha que, volta e meia, a MPB carece de boas camadas de guitarras para chacoalhá-la da pasmaceira que a acomete?
Nunca pensei nesses termos. Na explosão do tropicalismo, notamos que guitarras – entre outras coisas – podiam servir para quebrar a pasmaceira crítica e criativa que nos ameaçava. Mas essa pasmaceira nunca foi maior do que a vitalidade natural da música brasileira. Adoro nossas guitarradas da banda Cê. Mas detesto a reação costumeira contra tudo o que o Brasil consegue encorpar. Décio Pignatari diz que não fala brasileirês. Eu acho justamente que o brasileirês é essencial.
Você disse que São Paulo não saía da sua cabeça durante a concepção de Zii e Zie, embora a gravação tenha sido no Rio. E compor pensando em Brasília, é uma possibilidade?
Adoraria entrar mais fundo na sensibilidade candanga. Só fiz, que eu lembre, uma música explicitamente sobre Brasília: "Flor do Cerrado". Mas Brasília é a imagem por trás de "Tropicália" ("eu inauguro o monumento no planalto central do País"). Sou apaixonado pela força de sonho que há aí. Odeio "mordomias" e vida chapa-branca. Mas adoro o sonho de futuro, a elegância das linhas e a enormidade do céu. Gostaria de dedicar mais tempo a decifrar Brasília.
O que Brasília tem de legal?
Posso acrescentar que adoro a intimidade de grupos de jovens (não de gangues) nas superquadras. Adolescentes e crianças amam Brasília. Não gosto do aspecto Los Angeles: a impressão de que se tem de andar sempre de carro, a sensação de estar na estrada e não dentro de uma cidade. Mas adoro as conversas, o lago à tarde, as bandas que surgiram aí nos anos 80, o rap zangado das cidades-satélites.
E qual sonoridade teria um disco seu gravado na cidade?
Acho que teria som de guitarra. Mas se eu fosse passar um tempo em Brasília, creio que faria um disco eletrônico. Com sons de guitarra sampleados. Seria um disco mais espacial do que temporal.
Seu gosto pela crítica escrita é bem conhecido. Você até mesmo redigiu o release de seu disco. Redigir é um prazer tão grande quanto escrever canções?
Escrevo meus próprios releases desde os anos 70. Não todos, mas a maioria. Gosto de redigir. Gosto mais de ler do que de ouvir música. O livro Verdade Tropical é longo por causa do meu prazer de escrever. No blog tive uma oportunidade especial de escrever com frequência. Mas não preciso rebater críticas. Gosto disso também, mas não é uma necessidade. Antigamente, eu respondia do palco do show, de viva voz. Mas prefiro me comunicar por escrito. Responder a entrevistas por e-mail, por exemplo, é uma delícia.
Após o lançamento desse álbum "muito claro e denso, nascido num ano de chuvas no Rio, um ano de nuvens pesadas e escuras", pensa em lançar, agora, um disco "leve e solar"?
O show já é mais leve e solar do que o disco. Mas ainda não tenho ideia de que disco poderei fazer daqui a um ano.
O Lobão vive tocando na tecla da "monomania da bossa nova". Em dezembro, fez 10 anos da morte de Nelson Gonçalves e ninguém lembrou. A coisa que ele mais temia era morrer esquecido... A "monomania da bossa" causou um lapso na memória musical brasileira?
Nelson Gonçalves merece muito. Ele não será esquecido. Chico Alves não foi esquecido (aliás, ele é citado numa letra do Zii e Zie). A bossa nova deu mais força à tradição da música brasileira. João Gilberto não só diz que Orlando Silva é o maior cantor do mundo: ele nos pôs todos para ouvi-lo. Sem a bossa nova não teríamos o selo Revivendo. Sei por que a bossa nova teve papel de bússola: João Gilberto é um dos maiores artistas da canção em qualquer tempo e lugar e Tom Jobim é o maior compositor brasileiro e um dos grandes do mundo desde sempre. Mas tanto Nelson Cavaquinho quanto Mário Reis saíram ganhando com isso. Tanto Lupicínio quanto Ciro Monteiro. E mesmo Paulinho da Viola e toda revitalização do samba exclusivamente carioca se beneficiaram das conquistas da bossa. Não sei do que o Lobão se queixava. Talvez de falta de espaço para o rock? Bem, não há nada no mundo que mais se pareça com uma monomania crítica do que a aristocracia do rock'n'roll. Nada jamais vendeu tanto por tanto tempo quanto o rap. Mas o rock é mais nobre – e o rap é um dos seus derivativos.
Como flui a comunicação tocando com músicos tão jovens?
Minha comunicação musical com Pedro, Ricardo e Marcelo é a mais direta e rápida que já experimentei em toda a minha vida musical. Nada demora a ser entendido. E, uma vez entendido, nada tarda a ser realizado melhor do que a encomenda. Eles conhecem tudo a que me refiro – inclusive Nelson Gonçalves.
O que promete seu show em Brasília?
Clareza e inspiração. Nossas apresentações têm sido muito límpidas, calmas e profundas. Estamos muito orgulhosos do nosso trabalho. Mais ainda do que no Cê.
O que você tem a dizer sobre a farra das passagens aéreas?
Odeio a tradição das "mordomias". Tem a ver com o modo como Juscelino conduziu a mudança para Brasília e com a tradição grotesca dos privilégios presumidos que os brasileiros que escapam à miséria se arrogam. É uma desgraça. Não tanto o escândalo das passagens – que é sintoma da inadequação desses hábitos à vida política a que aspiramos – mas a tradição em si mesma. Precisamos mudar muito para chegar perto de ser o que verdadeiramente somos: um país grande, original, generoso, transformador do mundo.
Fora Lobão, quem mais nesse país também tem razão?
Lobão tem razão ao me dizer "chega de verdade". Ele também tem muita graça quando não tem razão – o que já justifica parte de suas falas. Ele tem também razão estética ao fazer certas escolhas. É um artista curioso com quem precisei ter um diálogo no nível da criação. Mas quem de fato tem razão no Brasil é Antonio Cicero (que citei extensamente em enrevista à revista Cult, que, uspiana que é, extirpou toda minha observação sobre a importância da razão dele)".

"Sou apaixonado pela força de sonho que há aí", confessa o baiano, em entrevista ao Jornal de Brasília.
Em outra canção, "Flor do Cerrado" – essa explicitamente sobre Brasília –, ele canta: "Mas da próxima vez que eu for a Brasília/Eu trago uma flor do cerrado pra você". "Adoraria entrar mais fundo na sensibilidade candanga", filosofa.
A formação que toca hoje à noite é a mesma do disco Cê: Pedro Sá nas guitarras, Ricardo Dias Gomes nos teclados e contrabaixo, Marcello Callado na bateria. À frente desse grupo jovem e explosivo, paira o próprio Caetano – em voz e violão.
O crossover "samba'n'roll" soa bem nos dois últimos álbuns. Em certas canções, dá até para fazer um air guitar...Gesto revelador da aderência da música. E, por ser aderente, pop. Você concorda com isso: houve também a busca pelo "pop adesivo" em Zii e Zie?
Sou pop. Mas nunca esperaria que Zii e Zie fosse aderente. Até o David Byrne me disse ter tido dificuldades de atravessar a primeira faixa.O(diretor) Estevão Chiavatta, ao ouvir o disco, me disse: "É muito bom, mas por que você não volta a ser doce?".
Qual a sua canção predileta desse disco?
"Lapa". Gosto muito também de "Tarado Ni Você". Mas estou perto demais para não gostar de todas. Por quem é uma linda canção. E muito original.
O que você estava ouvindo enquanto o álbum era produzido?
Ouvi Animal Collective, Mariana Aydar, Rodrigo de Campos e Moreno – cantando How deep is the ocean (Irving Berlin) em versão brasileira de Carlos Rennó. Ouvi também coisas antigas de que gosto: João Gilberto, Francisco Alves, Mário Reis. Ouvi algumas vezes a ópera Moses and Aron, de Schoenberg, autor que acho genial. É uma peça muito forte.
Acha que, volta e meia, a MPB carece de boas camadas de guitarras para chacoalhá-la da pasmaceira que a acomete?
Nunca pensei nesses termos. Na explosão do tropicalismo, notamos que guitarras – entre outras coisas – podiam servir para quebrar a pasmaceira crítica e criativa que nos ameaçava. Mas essa pasmaceira nunca foi maior do que a vitalidade natural da música brasileira. Adoro nossas guitarradas da banda Cê. Mas detesto a reação costumeira contra tudo o que o Brasil consegue encorpar. Décio Pignatari diz que não fala brasileirês. Eu acho justamente que o brasileirês é essencial.
Você disse que São Paulo não saía da sua cabeça durante a concepção de Zii e Zie, embora a gravação tenha sido no Rio. E compor pensando em Brasília, é uma possibilidade?
Adoraria entrar mais fundo na sensibilidade candanga. Só fiz, que eu lembre, uma música explicitamente sobre Brasília: "Flor do Cerrado". Mas Brasília é a imagem por trás de "Tropicália" ("eu inauguro o monumento no planalto central do País"). Sou apaixonado pela força de sonho que há aí. Odeio "mordomias" e vida chapa-branca. Mas adoro o sonho de futuro, a elegância das linhas e a enormidade do céu. Gostaria de dedicar mais tempo a decifrar Brasília.
O que Brasília tem de legal?
Posso acrescentar que adoro a intimidade de grupos de jovens (não de gangues) nas superquadras. Adolescentes e crianças amam Brasília. Não gosto do aspecto Los Angeles: a impressão de que se tem de andar sempre de carro, a sensação de estar na estrada e não dentro de uma cidade. Mas adoro as conversas, o lago à tarde, as bandas que surgiram aí nos anos 80, o rap zangado das cidades-satélites.
E qual sonoridade teria um disco seu gravado na cidade?
Acho que teria som de guitarra. Mas se eu fosse passar um tempo em Brasília, creio que faria um disco eletrônico. Com sons de guitarra sampleados. Seria um disco mais espacial do que temporal.
Seu gosto pela crítica escrita é bem conhecido. Você até mesmo redigiu o release de seu disco. Redigir é um prazer tão grande quanto escrever canções?
Escrevo meus próprios releases desde os anos 70. Não todos, mas a maioria. Gosto de redigir. Gosto mais de ler do que de ouvir música. O livro Verdade Tropical é longo por causa do meu prazer de escrever. No blog tive uma oportunidade especial de escrever com frequência. Mas não preciso rebater críticas. Gosto disso também, mas não é uma necessidade. Antigamente, eu respondia do palco do show, de viva voz. Mas prefiro me comunicar por escrito. Responder a entrevistas por e-mail, por exemplo, é uma delícia.
Após o lançamento desse álbum "muito claro e denso, nascido num ano de chuvas no Rio, um ano de nuvens pesadas e escuras", pensa em lançar, agora, um disco "leve e solar"?
O show já é mais leve e solar do que o disco. Mas ainda não tenho ideia de que disco poderei fazer daqui a um ano.
O Lobão vive tocando na tecla da "monomania da bossa nova". Em dezembro, fez 10 anos da morte de Nelson Gonçalves e ninguém lembrou. A coisa que ele mais temia era morrer esquecido... A "monomania da bossa" causou um lapso na memória musical brasileira?
Nelson Gonçalves merece muito. Ele não será esquecido. Chico Alves não foi esquecido (aliás, ele é citado numa letra do Zii e Zie). A bossa nova deu mais força à tradição da música brasileira. João Gilberto não só diz que Orlando Silva é o maior cantor do mundo: ele nos pôs todos para ouvi-lo. Sem a bossa nova não teríamos o selo Revivendo. Sei por que a bossa nova teve papel de bússola: João Gilberto é um dos maiores artistas da canção em qualquer tempo e lugar e Tom Jobim é o maior compositor brasileiro e um dos grandes do mundo desde sempre. Mas tanto Nelson Cavaquinho quanto Mário Reis saíram ganhando com isso. Tanto Lupicínio quanto Ciro Monteiro. E mesmo Paulinho da Viola e toda revitalização do samba exclusivamente carioca se beneficiaram das conquistas da bossa. Não sei do que o Lobão se queixava. Talvez de falta de espaço para o rock? Bem, não há nada no mundo que mais se pareça com uma monomania crítica do que a aristocracia do rock'n'roll. Nada jamais vendeu tanto por tanto tempo quanto o rap. Mas o rock é mais nobre – e o rap é um dos seus derivativos.
Como flui a comunicação tocando com músicos tão jovens?
Minha comunicação musical com Pedro, Ricardo e Marcelo é a mais direta e rápida que já experimentei em toda a minha vida musical. Nada demora a ser entendido. E, uma vez entendido, nada tarda a ser realizado melhor do que a encomenda. Eles conhecem tudo a que me refiro – inclusive Nelson Gonçalves.
O que promete seu show em Brasília?
Clareza e inspiração. Nossas apresentações têm sido muito límpidas, calmas e profundas. Estamos muito orgulhosos do nosso trabalho. Mais ainda do que no Cê.
O que você tem a dizer sobre a farra das passagens aéreas?
Odeio a tradição das "mordomias". Tem a ver com o modo como Juscelino conduziu a mudança para Brasília e com a tradição grotesca dos privilégios presumidos que os brasileiros que escapam à miséria se arrogam. É uma desgraça. Não tanto o escândalo das passagens – que é sintoma da inadequação desses hábitos à vida política a que aspiramos – mas a tradição em si mesma. Precisamos mudar muito para chegar perto de ser o que verdadeiramente somos: um país grande, original, generoso, transformador do mundo.
Fora Lobão, quem mais nesse país também tem razão?
Lobão tem razão ao me dizer "chega de verdade". Ele também tem muita graça quando não tem razão – o que já justifica parte de suas falas. Ele tem também razão estética ao fazer certas escolhas. É um artista curioso com quem precisei ter um diálogo no nível da criação. Mas quem de fato tem razão no Brasil é Antonio Cicero (que citei extensamente em enrevista à revista Cult, que, uspiana que é, extirpou toda minha observação sobre a importância da razão dele)".
sexta-feira, 15 de maio de 2009
quarta-feira, 13 de maio de 2009
eLES nÃO sÃO aNJOS*

POR CRISTIANO BASTOS
Quantas vezes se tem a chance de ficar cara-a-cara com quatro divindades do olimpo do heavy metal? Mesmo que a oportunidade seja o (geralmente frio) ambiente de uma coletiva de imprensa, a oportunidade é rara. Ainda mais, quando dois "deuses" são fundadores do mítico Black Sabbath.
Melhor, porém, é que os "monstros do rock pesado" – Ronnie James Dio, TonyIommi, Geezer Butler e Vinny Appice, a banda Heaven and Hell – estão num ótimo dia: bem-humorados e, sobretudo, dispostos a encarar seus velhos conhecidos, os jornalistas. "Eu odeio prédios!", brincou, logo numa das primeiras perguntas, o baixista Geezer Butler, ao ser questionado sobre "o que achava da arquitetura brasiliense".
Foi nesse espírito "soft", esbanjando humor e polidez tipicamente britânicos, que os integrantes da Heaven and Hell concederam, ontem, sua única entrevista antes do show que apresentam hoje, no Ginásio Nilson Nelson. O Heaven and Hell aterrissou na cidade para lançar o álbum The Devil You Know, sucessor de Dehumanizer, trabalho de 1992 que encerrou oficialmente a marca Black Sabbath.
Os metaleiros seguem, depois, para São Paulo e Rio de Janeiro. O nome do novo rebento foi dado pelo baixista Geezer Butler: "Ainda que nos intitulemos Heaven and Hell, na verdade, somos o Black Sabbath por detrás do nome", desvendou.
Durante a coletiva, o vocalista Ronni James Dio (ex-Rainbow) desmentiu boatos sobre a banda não ter apreciado a passagem por países latino-americanos, como a Colômbia: "Não, isso não é verdade. Vivemos momentos muitos especiais ao lado dos fãs e demos um grande show por lá", desmente Dio.
Profissão de fé - Qual a emoção de, novamente, pegar a estrada e de escrever canções? "É só o que sabemos fazer. Enquanto eu tocar com competência, não pretendo fazer mais nada da vida. Vivo para isso", confessa Tony Iommi, guitarrista que criou os riffs imortais de "Paranoid" e "Iron Man", ainda nos tempos em que Ozzy Osbourne comandava os vocais.
Em vez de desmistificar, o grupo, pelo contrário, aceita etiquetas como "pais do rock pesado". "Foi o que ajudou a construir nossa reputação. Sem o Black Sabbath, nada disso teria existido na história do rock", explica Iommi, referindo-se às gerações subsequentes do metal.
Entre seus "discípulos" mais destacados, Dio aponta Chris Cornell, cantor que já emprestou o vozeirão para o Soundgarden e o Audioslave. Dio elogia a técnica de Cornell e enfatiza: não gosta dos vocais guturais praticados pelo chamado death heavy metal.
"Existem muitos novos artistas que mantém acesa a chama no mundo inteiro. Para as pessoas que gostam dessa musicalidade, o gênero não morrerá", teoriza.
Uma curiosidade sobre a trajetória do Black Sabbath teve seu mistério elucidado no transcorrer da entrevista. No filme Quase Famosos (Almost Famous, 2002), o diretor Cameron Crowe narra um episódio em que a banda é surpreendida por um repórter da revista Rolling Stone ao descer de um ônibus – encontro que teria rendido uma entrevista memorável. Verdade ou ficção?
"Tomei conhecimento disso quando assisti ao filme", conta Butler.
Numa entrevista com os deuses do rock, uma questão não poderia passar batida: as groupies? Elas continuam a correr atrás do sexagenários roqueiros? "Obvio que sim", responde Dio, em meio a gargalhadas. Estão lá cima nos esperando..."
*Capa do segundo caderno do Jornal de Brasília, desta quarta-feira: divertida missão de ficar frente-a-frente com os titãs do heavy metal. Leia o restante abaixo.
Melhor, porém, é que os "monstros do rock pesado" – Ronnie James Dio, TonyIommi, Geezer Butler e Vinny Appice, a banda Heaven and Hell – estão num ótimo dia: bem-humorados e, sobretudo, dispostos a encarar seus velhos conhecidos, os jornalistas. "Eu odeio prédios!", brincou, logo numa das primeiras perguntas, o baixista Geezer Butler, ao ser questionado sobre "o que achava da arquitetura brasiliense".
Foi nesse espírito "soft", esbanjando humor e polidez tipicamente britânicos, que os integrantes da Heaven and Hell concederam, ontem, sua única entrevista antes do show que apresentam hoje, no Ginásio Nilson Nelson. O Heaven and Hell aterrissou na cidade para lançar o álbum The Devil You Know, sucessor de Dehumanizer, trabalho de 1992 que encerrou oficialmente a marca Black Sabbath.
Os metaleiros seguem, depois, para São Paulo e Rio de Janeiro. O nome do novo rebento foi dado pelo baixista Geezer Butler: "Ainda que nos intitulemos Heaven and Hell, na verdade, somos o Black Sabbath por detrás do nome", desvendou.
Durante a coletiva, o vocalista Ronni James Dio (ex-Rainbow) desmentiu boatos sobre a banda não ter apreciado a passagem por países latino-americanos, como a Colômbia: "Não, isso não é verdade. Vivemos momentos muitos especiais ao lado dos fãs e demos um grande show por lá", desmente Dio.
Profissão de fé - Qual a emoção de, novamente, pegar a estrada e de escrever canções? "É só o que sabemos fazer. Enquanto eu tocar com competência, não pretendo fazer mais nada da vida. Vivo para isso", confessa Tony Iommi, guitarrista que criou os riffs imortais de "Paranoid" e "Iron Man", ainda nos tempos em que Ozzy Osbourne comandava os vocais.
Em vez de desmistificar, o grupo, pelo contrário, aceita etiquetas como "pais do rock pesado". "Foi o que ajudou a construir nossa reputação. Sem o Black Sabbath, nada disso teria existido na história do rock", explica Iommi, referindo-se às gerações subsequentes do metal.
Entre seus "discípulos" mais destacados, Dio aponta Chris Cornell, cantor que já emprestou o vozeirão para o Soundgarden e o Audioslave. Dio elogia a técnica de Cornell e enfatiza: não gosta dos vocais guturais praticados pelo chamado death heavy metal.
"Existem muitos novos artistas que mantém acesa a chama no mundo inteiro. Para as pessoas que gostam dessa musicalidade, o gênero não morrerá", teoriza.
Uma curiosidade sobre a trajetória do Black Sabbath teve seu mistério elucidado no transcorrer da entrevista. No filme Quase Famosos (Almost Famous, 2002), o diretor Cameron Crowe narra um episódio em que a banda é surpreendida por um repórter da revista Rolling Stone ao descer de um ônibus – encontro que teria rendido uma entrevista memorável. Verdade ou ficção?
"Tomei conhecimento disso quando assisti ao filme", conta Butler.
Numa entrevista com os deuses do rock, uma questão não poderia passar batida: as groupies? Elas continuam a correr atrás do sexagenários roqueiros? "Obvio que sim", responde Dio, em meio a gargalhadas. Estão lá cima nos esperando..."
*Capa do segundo caderno do Jornal de Brasília, desta quarta-feira: divertida missão de ficar frente-a-frente com os titãs do heavy metal. Leia o restante abaixo.
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Projeto que tinha tudo para dar errado, por conta do vácuo deixado por Ozzy, tornou-se um dos discos mais adorados do gênero. Lançou, também, bases para o nascimento da new wave of britsh heavy metal, considerada a renovação do estilo na década de 1980.
Para muitos fãs, Neon Nights, petardo que abre Heaven and Hell mostra, de cara, que Dio, tecnicamente, é um cantor superior a Ozzy. Da clássica obra, a introdução de "Children Of The Sea" (com um dedilhado de Tony Iommi acompanhado da voz melódica de Dio), configurou-se como um tipo de balada exaustivamente copiada por outras bandas nos anos seguintes.
Enquanto Lady Evil possui um andamento mais sacana, voltado ao hard rock, a faixa-título, por outro lado, é um daquelas pedradas no estilo dark do Black Sabbath – lenta, soturna e pesada. Nesse disco, as letras continuam fantasiosas, mas, desta vez, ficaram a cargo de Dio.
Ozzy preguiça - A alquimia entre os caras se manteve ao longo dos anos, inclusive no disco novo. Geezer Butler, numa entrevista publicada na revista Decibel Magazine, comentou que trabalhar com Ronnie James Dio era muito mais fácil do que com o antigo vocalista: "Se estaríamos gravando a primeira canção do álbum", alfinetou.
De acordo com o baixista, The Devil You Know, teve um processo de gravação dinâmico. "Finalizamos as composições do álbum em doze semanas". O baixista também revelou que algumas músicas do novo álbum serão tocadas nessa turnê, tais como "Follow the Tears" e "Eating the Cannibals".
A faixa "Time Machine", do álbum Dehumanizer, para a felicidade dos velhos fãs, é outra que poderá ser apresentada ao vivo.
O sucesso da banda mundo afora é grande. Depois do Brasil, as próximas escalas da banda serão do outro lado do Atlântico, com shows na Rússia, Finlândia e Noruega. Clássicos como "Mob Rules", "Die Young" e a canção-título "Heaven & Hell", não faltarão no repertório.
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