segunda-feira, 30 de novembro de 2009

rAUL: o INÍCIO, o fIM e o mEIO

fRANK sINATRA: a aRTE dE dIZER

Bebida
"Sou a favor de tudo que ajude a passar a noite, sejam orações, calmantes ou uma garrafa de Jack Deniel's."
"É preciso tomar cuidado com as pessoas com quem você bebe. Muitos não conseguem beber sem ficar bêbados. O sujeito às vezes fica tão bêbado que eu o vejo em dobro."
Resoluções de ano-novo
"Ser gentil com animais idiotas, inclusive gatos, cachorros e repórteres da revista National Enquirer."
"Parar de fumar durante o banho, por exemplo."
"Fazer mais para ajudar o meu país e começar enviando para o presidente e ao Congresso tubos de supercola para eles escovarem os dentes."
Elegância
"Quando você sabe que um chapéu lhe cai bem? Quando ninguém ri."
"Colônias fortes me dão vontade de sair correndo."
"Sou um homem fanaticamente simétrico."
"Para mim, smoking é um modo de vida. Quando um convite diz que o smoking é opcional, é mais seguro usá-lo."
Mulheres e sexo
"Não me importo de ser acusado de adorar mulheres - só não me acusem de odiar algumas delas."
"Não gosto de maquiagem em excesso. Sei que as mulheres precisam um pouco disso, mas acho que elas - em geral - têm beleza suficiente para não precisar usar maquiagem de circo."
"Desde que comecei a perceber as diferenças entre homens e mulheres, que foi mais ou menos perto do meu primeiro aniversário, usa-se todo tipo de nome para se referir às mulheres. Para mim, são todas ladies."
"Se eu tivesse tantos casos amorosos quantos me creditam, estaria agora lhes falando de dentro de um frasco da Escola de Medicina de Harvard."
Fama e fracasso
"Chega desse papo de 'tragédia da fama'. A tragédia da fama é quando ninguém aparece e você está cantando para a faxineira num botequim vazio que não recebe um cliente pagante desde o dia de São Nunca."
Brigas
"Nunca cheguei a entrar numa briga na rua. Minhas brigas foram parar na rua - começaram num botequim e só depois nós fomos para a rua."
Saudações
"Durma quentinha, doçura." (para terminar uma noitada)
Morte e vida
"Só se vive uma vez. E da maneira que eu vivo, uma vez basta."

fRANK, jUDY & dEAN

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

bAÚ mUITO bEM tRANCADO*

Disputas judiciais entre familiares de Raul Seixas barram novos lançamentos do músico baiano

POR CRISTIANO BASTOS

Nos anos 60, o "vidente" da comunicação Marshall McLuhan profetizou: "O meio é a mensagem". E a mensagem é, justamente, a herança mais valiosa transmitida pelo missivista do rock brasileiro - Raul Seixas (1945-1989).

A música foi o "meio" escolhido, veículo através do qual, por toda a vida e obra, insultou o "monstro sist". Hoje, contudo, refém de várias contendas judiciais pelo imaterial espólio, tem seu libelo asfixiado pelo mais complexo e surpreendente dos sistemas: a família.

Dos milhares de fãs de Raulzito, morto aos 44 anos, poucos sabem que ele deixou três herdeiras: as filhas Simone Vannoy (38) e Scarlet Vaquer (33), que vivem nos Estados Unidos desde crianças, e Vivian Seixas (27), no Brasil.

As duas primeiras, frutos da união conjugal de Raul com as norte-americanas Edith Wisner e Gloria Vaquer Seixas (hoje Sky Keys), respectivamente; a terceira, fruto do relacionamento amoroso com Angela Affonso Costa, autointitulada Kika Seixas.

Além da abastada fortuna musical, Raul Seixas não deixou patrimônio significativo, sequer existe espólio aberto. Nesses 20 anos, tudo o que suas filhas herdaram consiste em direitos autorais - de execução e imagem - pagos ao longo dos anos.

O astro baiano é o que se pode chamar de "long-seller": verdadeiro fenômeno, absolutamente espontâneo. Antiga, a briga (que nada tem a ver com música) desenrola-se em um cenário "internacional".

Nos Estados Unidos, as sucessoras de Raulzito defendem o lançamento de vários projetos envolvendo a obra do pai - muitos dos quais vetados na Justiça por Kika Seixas, que hoje atua como procuradora legal da filha, Vivian Seixas.

A procuradora de Simone Vannoy, a advogada Flávia Vasconcelos, ressalta que as três herdeiras detêm todos os direitos de autor e conexos relativos à obra de Raul Seixas, assim como os direitos de uso de sua imagem e nome.

Na prática, pontua, significa que somente elas podem autorizar ou desautorizar qualquer projeto:

"O equívoco ocorre porque muitos consideram Kika como 'viúva de Raul Seixas' e, em consequência, detentora de tais direitos. No entanto, como não se casaram oficialmente, ela não é viúva dele". Apenas Simone, Scarlet e Vivian são as legítimas herdeiras.

Primogênita de Raul, Simone conta que, na medida do possível, procura não envolver-se nesses conflitos judiciais, mas, regularmente, diz cultivar a memória do pai.

"Tenho todas as músicas dele em meu iPod e as escuto com frequência. Escutar sua música, assistir seus vídeos, ouvir suas entrevistas e ler artigos sobre ele me ajudam a entender o homem e pai que não cheguei a conhecer".
A polêmica inflamou de vez quando Kika, em agosto, vetou a biografia que o jornalista Edmundo Leite escreve há cinco anos sobre Raul. Embora lhe tenha concedido duas entrevistas, Kika voltou atrás radicalmente.
Agora não quer mais saber do livro. Edmundo foi advertido por telegrama: “Caso o senhor insista na realização irregular de tal biografia, serão tomadas medidas judiciais cabíveis”.

Em outra declaração, escudada por Vivian, Kika justificou sua decisão baseando-se pelo "teor do livro". Segundo disse a caçula de Raulzito à reportagem da Rolling Stone, o jornalista insistiu em bater na tecla da relação do cantor com as drogas.
O biógrafo se defende dizendo que não abordou apenas este temário. Segundo ele, esse capítulo foi explorado, sim, em momentos da entrevista. Todavia, sem a insistência e obsessão alegadas pela ex-fonte:
"Drogas e álcool fizeram parte da vida de Raul, como várias vezes a própria Kika relatou em entrevistas e livros por ela editados".
No juízo de Sky Keys – para a qual os "dias de controle ilegal" de Kika aproximam-se do fim –, o fato de Raul ter consumido álcool e drogas nunca foi segredo. "E daí?", interroga:
"Vincent van Gogh estava totalmente bêbado de absinto quando cortou sua orelha e Sigmund Freud cheirava cocaína. Scarlet e eu faremos tudo o que pudermos para revelar a verdadeira história de Raul, que pertence ao Brasil".
A terceira companheira de Raul Seixas, Tânia Menna Barreto, também alinha-se a favor de Edmundo Leite. Ela revela que ao retornar dos Estados Unidos foi entrevistada pelo jornalista num fim de semana em Paquetá, Rio de Janeiro.
Sequer, garante Tânia, o biógrafo focou a seara das drogas: "Foi abrangente em suas perguntas e soube conduzir a entrevista de forma leve e profissional".
"Existe uma seita secreta querendo destruir o legado de Raul Seixas". Após acusar Edmundo de valer-se, na biografia, de abordagem tendenciosa, Kika Seixas, novamente, apareceu na imprensa.
Dessa vez, apelando para justificativas "além-túmulo" para impedir a edição do livro. Segundo ela, seu "guia espiritual" lhe teria dito que o momento "não era oportuno para lançamento de livros a respeito de Raul Seixas".
Ao ser procurada, Vivian endossou as declarações maternas:
"Tenho certeza de que as famílias de Elis Regina, Renato Russo ou Cazuza teriam a mesma cautela. Além do mais, meu guia espiritual me avisou que o momento astral não é propício para o lançamento de mais uma biografia".
Para Vivian, no entanto, a temporada é propícia. Ela, que é DJ, recém lançou o álbum de remixes Geração da Luz, no qual manufaturou clássicos paternos como "Metamorfose Ambulante", "Como Vovó Já Dizia" e "Rock das Aranhas" nos domínios da eletrônica.
Na Bienal do Livro do Rio, o escritor Ruy Castro disse que no Brasil "o biografado ideal tem que ser órfão, solteirão, filho único, estéril e brocha". O escritor penou para ver publicado o livro Estrela Solitária – Um Brasileiro Chamado Garrincha, sobre o lendário jogador das pernas tortas.

Proibido pelas filhas de Garrincha, que diziam defender a "integridade moral" do pai, o livro, posteriormente, foi liberado. Castro é curto e grosso: "Biografia autorizada não é biografia; é press-release".
Os vivos, completa Ruy, não são confiáveis: "Mentem muito e obrigam os amigos a mentir sobre eles".
A solução para tanta censura pode estar no Projeto de Lei 3378/08, do deputado federal Antonio Palocci (PT-SP). Postula o projeto, com parágrafo único:
"É livre a divulgação da imagem e de informações biográficas sobre pessoas de notoriedade pública ou cuja trajetória pessoal ou profissional tenha dimensão pública".
"É um direito da sociedade ter acesso às informações que dizem respeito às figuras públicas", afirma Pallocci. Personalidades públicas, observa, normalmente, interferem na história politica, economica ou cultural de uma sociedade:
"Não se pode tirar o direito da sociedade de conhecer esses processos".
Anos após enfrentar a proibição de Deixa Eu Cantar (trilogia de álbuns com produções de Raul na gravadora CBS, no período de 1970 a 1972, embargado na justiça), o pesquisador Marcelo Froes encontrou novo tape de Raul Seixas, onde cantava, além de músicas dos Beatles, inéditas canções.
Froes confessa que, apesar de traumatizado, resolveu arriscar uma edição. Desistiu, contudo, quando teve como resposta sonoro questionamento: "Onde está a fita?!" Marcelo prefere não falar sobre seu novo achado – "Para os espertalhões não irem atrás".
Mas adianta: há uma maravilhosa jam session onde Raul e banda tocam por quase dez minutos enquanto Paulo Coelho disserta sobre "o exercício de entrar num caixão e fechar a tampa".

AS PROIBIÇÕES
Em cinco anos de apuração para escrever a biografia sobre Raul Seixas, Edmundo caçou todos os rastros que se deparou pelo caminho.
O jornalista conta que trabalhou com inúmeros acervos e arquivos, o que resultou, de acordo com ele, em vastíssimo material - praticamente inédito - sobre Raulzito.
Leite, inclusive, encontrou pessoas nunca antes ouvidas. A grande surpresa foi a participação da primeira esposa de Raul, Edith Wisner, a qual Edmundo entrevistou nos EUA: "
Não foram poucos os que, além de abrirem seus arquivos, dividiram comigo grandes histórias", avalia o jornalista.
Entre 1971 e 1972, Raul Seixas registrou no estúdio montado no apartamento do guitarrista norte-americano (e ex-cunhado) Jay Varquer, no Rio de Janeiro, várias músicas que seguem inéditas até hoje - muitas das quais foram editadas em seu primeiro LP Krig-há, bandolo!.
Há alguns anos, o produtor Rick Bonadio, sabendo da existência dessas gravações propôs ao guitarrista que fizessem um álbum. Nos Estados Unidos, Jay gravaria as bases e depois as enviaria a Bonadio, em São Paulo, para que inserisse a voz de Raul nas novas bases.
No início da mixagem da voz de Raulzito, Kika Seixas ficou sabendo do projeto e, a fim de barrá-lo, ameaçou Rick com processo judicial.
"Ele não teve escolha ao na ser largar o projeto", afirma o guitarrista. Jay ainda tentou as aproveitar as novas bases feitas no tributo Relembrando Raulzito, porém, Kika vetou o lançamento do disco no Brasil.
Edição 38 da Rolling Stone, novembro/2009

sábado, 21 de novembro de 2009

vETO a bIOGRAFIAS eSTÁ pERTO dO fIM, aFIRMA pALLOCCI

Deputado é autor do projeto de lei que tramita na Câmara e modifica artigo sobre obras não autorizadas
CRISTIANO BASTOS, especial para o estadao.com.br
SÃO PAULO - Em 2008, o deputado federal Antônio Palocci (PT-SP) apresentou projeto de lei, atualmente tramitando na pauta da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara, cujo objetivo é coibir a proibição de livros biográficos no Brasil.
De sua autoria, o Projeto de Lei 3378/08 modifica o artigo 20 da Lei 10.406, de 2002, que dá brecha para que biografados e herdeiros consigam na Justiça impedir a circulação de biografias não autorizadas.
No Brasil, Ruy Castro enfrentou problemas com a família de Garrincha, no momento da publicação da biografia do jogador, Estrela Solitária; e o historiador Paulo César Araújo teve sua obra Roberto Carlos em Detalhes, com a biografia do cantor, vetada por ação do próprio "Rei".
Palocci afirma que a legislação, assim como está, tem levado a interpretações errôneas, segundo as quais os autores estariam explorando comercialmente os direitos de imagem de seus biografados.
Postula o projeto de lei: "É livre a divulgação da imagem e de informações biográficas sobre pessoas de notoriedade pública ou cuja trajetória pessoal ou profissional tenha dimensão pública". Para Palocci, "é um direito da sociedade ter acesso às informações que dizem respeito às figuras públicas".
Personalidades públicas, analisa, normalmente interferem na história política, econômica ou cultural de uma sociedade: "Não se pode tirar o direito da sociedade de conhecer esses processos", diz Palocci.
O deputado lembra que, na década de 70, o Código Civil francês foi o primeiro a consagrar o direito à intimidade, estabelecendo uma distinção entre a vida pública e a vida privada, a fim de proteger os indivíduos de notoriedade social que frequentam as páginas dos jornais e revistas.
Observa o deputado que, a partir de então, diversos países - entre eles o Brasil - passaram a adotar leis similares, voltadas, na maioria das vezes, para impedir a divulgação de fotografias ou filmes considerados inconvenientes.
O projeto de Lei de Palocci é resultado de um amplo debate na área do livro e tem o apoio de escritores, editores, advogados e especialistas no tema.
"Como não foram apresentadas emendas ao substitutivo do relator, José Eduardo Cardozo (PT-SP), na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, a matéria está pronta para entrar em votação na própria comissão", diz o deputado.
Leia a seguir a entrevista com Antônio Palocci:
O seu Projeto de Lei 3378/08 garantirá liberdade de divulgação de imagens e informações de personalidades públicas. Como a liberdade de informação e expressão vem sendo cerceada por conta dessa lei que, atualmente, vigora? O senhor vê risco à liberdade de expressão no Brasil?
A proposta busca modificar um artigo da legislação em vigor que permite interpretar, equivocadamente, que ao escrever a biografia sobre uma pessoa de interesse público, o biógrafo estaria fazendo o uso indevido do direito de imagem da personagem biografada, movido por interesse comercial.
Mas é preciso levar em conta que biografias têm muito mais do que um mero interesse comercial. Elas são, na verdade, obras de grande valor histórico e cultural e, portanto, de interesse público. Todo mundo sabe que um livro, para ser lançado, demanda pesquisa, produção e um investimento alto, que só será recuperado com seu lançamento como produto no mercado.
Informar, analisar e apresentar aos leitores esses dados, inclusive fazendo uso de fotografias e documentos históricos, não pode ser confundido com exploração comercial não autorizada da imagem de personagens notoriamente do interesse público.
Além de atentar contra a liberdade de expressão, também tem, sob outro aspecto, desestimulado autores e editores a investirem tempo, dedicação e recursos na pesquisa e publicação de biografias. Isso representa uma perda muito séria para a sociedade.
O projeto proposto, na sua visão, será suficiente para garantir isso?
Esse é um objetivo claro do projeto de lei. Com a modificação proposta, quem cometer injúria ou difamação poderá ser processado por isso, mas fica assegurada a liberdade de expressão. Mesmo porque, essa onda contra as biografias, seja por proibição prévia ou pela apreensão de livros publicados, é um equívoco que tem causado graves prejuízos à memória nacional, à cultura e à sociedade.
Do jeito que está, quem sai perdendo mais: autor, personagem ou leitor?
Todos perdem. Mas, principalmente, a sociedade.
Na sua opinião, pessoas públicas deveriam ter menos direito à privacidade? Por que?
Eu prefiro colocar a mesma questão de uma outra maneira: é um direito da sociedade ter acesso às informações que dizem respeito às figuras públicas e que suscitam o interesse público.
Sobre a tramitação do Projeto de Lei, existe alguma previsão para que ele, de fato, vire lei?
O projeto tem muita chance de ser aprovado. Já está na pauta da Comissão de Constituição Justiça e Cidadania da Câmara, com o parecer favorável do relator, o deputado José Eduardo Cardozo, e já em regime conclusivo.
Ou seja, não precisará ir a plenário. Se for aprovado, irá diretamente ao Senado e, caso seja também acolhido pela comissão similar por lá, vai direto para a sanção do presidente da República. Há boas chances de ser aprovado nas duas casas, em prazo razoável.
Você tem acompanhado os casos recentes, como o que envolveu a biografia do Roberto Carlos, escrita pelo Paulo César Araújo? Qual a sua opinião?
Sem entrar no mérito e nas razões que podem ter motivado este e outros inúmeros casos parecidos, penso que é fundamental para a sociedade conhecer sua história. As biografias de pessoas de interesse público têm um papel muito importante nesse sentido.
Afinal, a soma de cada uma das histórias dessas personagens, inclusive com suas diferentes e quase sempre visões conflitantes de mundo e dos fatos narrados em si, é que se escreve a história de um povo e de uma nação.
Como surgiu a ideia de elaborar o Projeto de Lei 3378/08? A problemática do tema, literalmente, saltou aos seus olhos?
Houve um amplo debate sobre o tema no Blog do Galeno, do Observatório do Livro e da Leitura (www.blogdogaleno.com.br). Autores, editores, leitores, especialistas e interessados em geral travaram uma boa discussão a respeito.
Os autores de biografias e mesmo os autores de ações contra as biografias também foram convidados a opinar. Há uma grande preocupação diante do quadro atual. Muitas editoras deixaram de investir no gênero, assustadas com a onda de proibições.
Vários autores engavetaram projetos fundamentais para nos ajudar a entender nossa história. Isso é negativo para a nação.
O senhor gosta de ler biografias? Lembra de alguma cuja leitura apreciou?
Já li muitas biografias, gostei de todas, tanto nacionais como estrangeiras. Lembro-me das biografias de Assis Chateaubriand, Mauá, Getúlio Vargas, Inés Soárez e Pedro de Valdívia, Leon Trotsky, Franklin Roosevelt, e estou lendo agora a de Churchill.
*Foto: Agência Brasil

terça-feira, 17 de novembro de 2009

pRENDA&tROVADOR





*Nas fotos, Teixeirinha posa ao lado de sua "consorte" (amante, na realidade: ele era casado com Zoraida), a cantora e acordeonista Mary Terezinha Cabral Brum, Mary Terezinha - hoje rebatizada Mari Terezinha.

Com Mary, o astro gaudério teve dois filhos e ao lado dela travou trovas de arrebatador sucesso, os chamados "desafios": "Briga de Amor", Chumbo Grosso", "Desafio da Louça".

Antes de conhecer o cantor de "Coração de Luto", ainda guria Mary sabia tocar todas as músicas do ídolo. Essa foi a razão pela qual, logo que ele a revelou, levou a alcunha de "Teixeirinha de saias".

Em 1961, aos 13 anos conheceu Teixeirinha numa das andanças do trovador pelos pagos de Tupanciretã, interior do Rio Grande do Sul.
Enlace amoroso à parte, ao longo de 22 anos a querida dupla tropeou por cravejada estrada de populares sucessos.

Detalhe: na última foto, note o 45 empacotado no coldre do "galo velho". Para defender a prenda, certamente. O ciúme, diz-se, era o ponto mais fraco de Teixeirinha.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

tEIXEIRINHA: o dONO dAS bILHETERIAS

"Se eu fizesse música com intenções sofisticadas ou intelectuais, estaria ainda hoje na beira da praia com meu violão, a ver navios. Quando eu escrevi 'Coração de Luto' o povo se definiu logo. Eu sou povo também, e as pessoas gostam de minhas canções porque elas cabem exatamente no ouvido delas".
Palavras de Victor Mateus Teixeira, o Teixeirinha, ao contrapor a provocação de um jornalista a respeito da suposta alienação de seu cancioneiro durante a seridade musical dos "anos de chumbo".
A impecável resposta (considerando-se a estatura megapopular do astro gaúcho) também cabe como defesa às centenas de críticas - algumas delas positivas - das quais suas produções cinematográficas foram vítimas: desde a estreia do blockbuster Coração de Luto, em 1967, até o derradeiro A Filha de Iemanjá, de 1981.
Ao longo de 14 anos, a Teixeirinha Produções Artísticas LTDA (empresa que era responsável pela gestão dos negócios do artista no baldio terreno da sétima arte no Brasil) rodou 12 filmes de retumbante sucesso, especialmente nos cinemas do Rio Grande do Sul e nos interiores profundos do país.
Passados quase 25 anos da morte de Teixeirinha, em 1985, vítima de câncer do pulmão (detonava três carteiras por dia), seu séquito de fãs ainda espraia-se pela vastidão do território nacional - e mundo afora. Seus admiradores são canadenses, norte-americanos, portugueses.
Em 2006, "Coração de Luto", popularmente zoada como "Churrasquinho de Mãe", ganhou desavergonhado plágio em Portugal, país no qual a canção/cantor sempre desfrutaram fabuloso sucesso.
Além-mar, o pastiche lusitano alcançou as primeiras colocações na parada musical.
No mesmo ano, a Agência Nacional do Cinema (Ancine) divulgou resultado de uma pesquisa coordenada por João Carlos Rodrigues, representante da Superintendência de Acompanhamento de Mercado (ACO).
O objetivo era tentar responder a seguinte charada:
"Quantos e quais filmes brasileiros fizeram mais de 500 mil espectadores?"
O universo pesquisado foi o dos filmes brasileiros lançados a partir de 1970. Coração de Luto, de 1967, não entrou na lista por ser anterior à apuração. Anteriormente, segundo a ACO, simplesmente não existiam dados confiáveis sobre bilheterias no Brasil.
De acordo com a lista, dos 10 primeiros filmes com maior número de espectadores no Rio Grande do Sul nove (!) deles pertenciam à chancela da Teixeirinha Produções.
Em primeiro lugar figura Motorista Sem Limites, longa dirigido por Milton Barragan cujo lançamento deu-se em agosto de 1970. A película, sucessora do retumbante sucesso Coração de Luto, arrastou 1,8 milhão de pessoas às salas de exibição.
Na décima posição estava O Homem que Copiava (2003), realização de Jorge Furtado.
Fora cantar, trovar e "interpretar" - quesito sobre o qual recai boa parte das críticas logradas desfavoravelmente pelo artista no cinema -, Teixeirinha, em todos as incursões cinematográficas nas quais se aventurou, também se vestia na pele de "mocinho".
Na música, entre as décadas de 1960 a 1980, até seu falecimento, Teixeirinha gravou cerca de 80 discos e compôs aproximadamente 1200 canções. "Coração de Luto", de acordo com o crítico musical Juarez Fonseca, ainda permanece imbatível na posição de "música mais vendida da história do disco no Brasil".
Biaggio Baccarim, ex-diretor artístico da gravadora Chantecler, na qual Teixeirinha gravou quase todos os seus discos, disse que só "Coração de Luto" é responsável pela metade dos 25 milhões de discos vendidos pelo cantor de 1960 a 1995:
"Eu nunca vi nada igual em 37 anos de trabalho na indústria fonográfica", afirmou o paulista Biaggio, hoje assessor jurídico da Warner, gravadora que há três anos comprou o acervo da Chantecler.
Baggio dividiu a Fonseca seguinte causo sobre a façanha fonográfica de "Coração de Luto":
"Nós prensávamos o disco em três fábricas, e mesmo assim não se dava conta. Os caminhões carregados chegavam e nem entravam no depósito, iam direto para as distribuidoras e as lojas. Em lugares mais distantes, como Belém do Pará, enquanto não chegavam novas remessas o disco era vendido no câmbio negro, pelo dobro do preço".
O momento que marca o início dos filmes de Teixeirinha, o final dos anos 1960, coincidiu com a ascensão do Cinema Novo no Brasil.
Segundo a pesquisadora Miriam Rossini, no livro Teixeirinha e o Cinema Gaúcho, quando do anúncio do primeiro filme do músico, Coração de Luto, em 66, os críticos animaram-se diante da perspectiva de que a indústria cinematográfica do Estado pudesse progredir após uma década de decepção.
No início, uma euforia coletiva foi gerada ao redor do filme Coração de Luto. "A todo o momento, a imprensa fazia questão de noticiar o andamento das filmagens, detalhes de produção, distribuição e público", escreve Miriam.
Mesmo assim, explica a doutouranda, era fato certo para a crítica que a imensa bilheteria havia sido causada pelo fluxo dos fãs do artista às salas de cinema: "Alguns críticos locais diziam que 'apesar de Teixeirinha' e do argumento melodramático, o filme era 'bem-feito e caprichado'".
Na época, Milton Barragan, diretor que acompanhou Teixeirinha em muitas das suas produções, saiu em defesa do "patrão":
"Quer queiramos ou não, o cinema de Teixeirinha é válido. Ele expressa uma realidade, verdades que compõem o quadro social do estado. Com todas as suas falhas, é cinema autêntico".
Na opinião de Barragan, Teixeirinha conseguia captar a simplicidade do homem do povo; era a única pessoa produzindo para toda uma camada social excluída dos "projetos culturais".
No post debaixo, curta os cartazes de alguns hits de Teixeirinha na telona. Mas ouça, antes, a canção "Coração de Luto" e, depois, assista a um trecho do homônimo filme (chore com a letra aqui).




fILMES dO tEIXEIRA






sábado, 14 de novembro de 2009

tEIXEIRINHA eSPECIAL (1985)*











*Especial da RBS TV sobre a morte do grande astro (trovador, compositor, realizador cinematográfico) Vítor Mateus Teixeira, o Teixeirinha (1927/1985), também chamado "O Rei do Disco".

Para saber mais sobre quem foi este universal artista, que um dia fez dupla com a linda "prenda" Mary Terezinha, dê uma passada no excelente blog - ainda que desativado - Revivendo Teixeirinha.

O blog era tocado pelo Chico Cougo, mestrando que se aventura numa tese sobre o gaúcho de Rolante. A família também mantém site oficial sobre Teixeirinha, autor do milionário single "Coração de Luto".

Sobre o especial da RBS: um "bah!" para a cobertura "marrom" (parte 4) da emissora, que, na ocasião, pôs mais lenha na fogueira televisionando intimidades um tanto sórdidas sobre o espetacular divórcio da dupla Mary & Teixeirinha.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

lOLLIPOP, cALCINHAS & cOLEÇÕES

A farra gratuita dos downloads romantiza as clássicas dificuldades que o colecionador de discos da velha estirpe dos analógicos tinha de passar até que um dos bons pousasse no seu "aparelho de som".
Os que restaram dessa espécie - virtualmente extinta - seguem a perscrutar o globo terrestre, entre sebos e ultramegastores, no encalço do Grande Álbum Perdido. A memória do velho colecionador deve ser preservada para as novas gerações. Seus dias estão contados.
Logo essa busca de fé ficará sob o domínio especializado de confrarias. É bonito, mas o compartilhamento de arquivos sonoros pela internet (que de novo não tem nada) é mais lindo ainda: o maior milagre realizado no século passado.
O obcecado colecionador não apenas comprava o disco na loja. Com direito a transporte naval ou aéreo até a porta de sua casa, ele empreendia destemida caça ao tesouro.
Encomenda variável entre o fino da pirataria e a mais rebuscada edição oficial catalogada. Epopéia grega, se comparada às facilidades oferecidas por zilhões de enclaves que entregam de lambuja o mapa da mina musical nos mares da web.
Há uma década (um século, porém, na senda do progresso) conseguir aquele disco raro daquela sua banda favorita que nunca-foi-lançado-no-Brasil-e-nunca-o-seria significava a eternidade.
Eternidade com elevado custo para bolsos juvenis vazios, só compensada pelo inigualável deleite místico que vinha como garantia total do produto. O fetiche acalentado por meses materializava-se, afinal, com a chegada da sonhada encomenda.
Mercadoria entregue, o ritual fetichista. Primeiro, fase de excitação: o desembalar do disco, desnudado de seu invólucro como a calcinha que se libera gentilmente das pernas da fêmea pelo ávido controle de suas mãos.
Em seguida, o aguardado momento de abrir a delicada caixinha: olhos fechados para sentir a flagrância evolada pela sedutora química erótico-serigráfica. Que somente as delicadas circunferências têm – que os discos rígidos nunca terão.
O mínimo a fazer é amor com a música, como se fosse a mulher amada. Você esperou aquela música cruzar oceanos revoltos de tempo, imensidões e profundezas abissais para estar com você na intimidade lhe sussurrando melodias ao pé da cama.
Entregue-se. Se fuma, vá em frente: acenda um cigarro. Se ainda fumasse, certamente eu acenderia um Marlboro. Deve ser apenas por causa de sexo & música, além da Primeira Grande Guerra, que inventaram os cigarros.
Veneno de luxo - O colecionador que se criou chafurdando nas lojinhas de discos do bairro ou do centro da cidade (e de todos os lugares pelos quais pisavam seus pés) ainda demorará para ser extinto.
Nas colônias de férias dos colecionadores das antigas nunca faltará uma reedição do In-a-Gadda-da-Vida ou uma versão mono remasterizada do The Piper at the Gates of Dawn. Já os colecionadores modernos têm acesso à praticamente tudo produzido na música do Planeta.
Pela lógica, sem mais ter mais o que colecionar, a raça dos analógicos seria consumada. Os downloaders convictos, todavia, nunca vão sentir o inigualável prazer que é pagar do próprio bolso por uma obra, seus direitos autorais e incontáveis impostos embutidos.
Isto é, prazer livre de culpas.
Por outro lado, também nunca saberão o que é ter o bolso ardendo em cerca de R$ 100 a menos por um disco importado. Com tanta dor, o prazer da compra é facilmente sublimável.
Nunca vou esquecer das inúmeras fases de encomenda e esperas por discos na minha adolescência. Em Porto Alegre, entre outras lojinhas, comprava-os na acolhedora Toca dos Discos, que resiste até hoje na Rua Garibaldi.
Lembro bem que numa brilhante manhã de inverno sobre o bairro BomFim arrebatei poderosa edição da coletânea Sladest!, do Slade, que escutei muito.
Na Toca comprei Too Much Too Soon, dos New York Dolls, ouvido duzentas mil vezes para ver se percebia novos detalhes na guitarra do Johnny Thunders. Mesmo sabendo que grandes detalhes não era, exatamente, o que se podia esperar daquele disco.
O que se podia esperar era uma dose de energia sonora capaz de te fazer levantar, se estivesse sentado e pular, se estivesse de pé.
Too Much Too Soon era encomenda dos festejados tempos em que o dólar valia one by one com o real, por volta de 1997, quando muitos obstinados aproveitaram para completar suas intermináveis coleções.
Foi a época do regozijo - fenômeno que nunca mais se repetiu no Brasil. Quando a moeda americana voltou a estabilizar o naufrágio se abateu sobre o negócio dos colecionadores.
Outra loja que ainda está no ramo dos "venenos" - nem sempre baratos - em Porto Alegre é a Boca do Disco. O comércio de discos pertence ao lendário Getúlio, cuja irmã é casada com Cid Moreira (de onde -vejam só - saiu o capital inicial pro negócio).
Até hoje, Getúlio vende seu peixe - ou melhor: seu "churrasco de raridades". Sem desfazer-se do bordão pelo qual ficou conhecido: "Leva que é costela gorda, magrão!".
Não era fácil montar uma coleção de respeito. Houve o tempo em que, por telefone (!), eu consultava catálogos de lojas paulistanas, como a London Calling.
Com a ressalva de ter que suportar o atendimento ultrablasé do cara na outra extremidade da linha – um sujeito que, contrariando todos os preceitos universais da mais-valia, não dissimulava o ciúme pela perda de suas jóias.
Ressaltando que, na época, a London Calling vendia as edições mais especializadas do ramo. Com preço e antipatia idem. Os venenos eram trazidos diretamente de quebradas londrinas pra lá de confirmadas.
Só em Alvorada - Nos tempos pré-download, só fui ouvir um disco dos Dead Boys por causa de um amigo que tinha uma banda punk, a Unidos pelo Ódio. O nome dele era Julinho. Um cara que morava em Alvorada, lugar tipo New Jersey, na região Metropolitana de Porto Alegre.
Território ideal para a legitimação de um "status quo punk". Julinho calçava sapatos comprados no varejo popular do centro de Porto Alegre, cujas modelagens ficavam penduradas em fieiras com jaquetas de nylon e calças de moleton.
Pra fazer a cabeça do Julinho, trago de cachaça, cigarros Derby e sua parceria com William Caveman. A dupla arrebentava atacando versões para Heartbreakers, Clash e Sham 69.
Fanta Uva, só com pinga.
Antes do Julinho surgir com Young, Loud and Snotty, os Dead Boys, eram para mim apenas um mistério do rock. Se podia ler tudo sobre eles em Please Kill Me, entretanto, era praticamente impossível era ouví-los.
Só em Alvorada.
Na faculdade de jornalismo da PUC teve um cara que quase ficou famoso. Tão quase famoso que ficou conhecido como "O Cara das Fitas". Jamais se soube seu verdadeiro nome. Sua fama, no entanto, precedeu-lhe.
Virou personagem de tira de HQ criada pelo Nik Neves na finada revista ZE. Chegou a ser personagem do livro Gauleses Irredutíveis. Para quem o conheceu, hoje o Cara das Fitas é o paradigma tecnológico vivo.
Nos corredores da Famecos, fazia vítimas como velociraptor. Em grupos ou individualmente, abordava com a persuasiva - e inesquecível - pergunta:
"Querem dar uma olhada na minha lista de fitas?".
Sua lista de fitas (dita seja a verdade) tinha um monte de coisas legais. O Carlinhos Carneiro comprou uma Basf 90 com os dois Kinks psicodélicos, Village Green e Arthur, um de cada lado. Ficou impressionado com Blur lembrava Kinks. Todos queriam xerocar sua fitinha.
Por volta de 99, o Cara das Fitas foi obrigado a adaptar seu negócio aos novos tempos:
"Querem dar uma olhada na minha lista de fitas? Agora com cd's gravados", reformulava - sem, claro, mudar o famoso bordão-base.
Para os colecionadores convertidos aos novos tempos, a internet é o Jardim do Éden. Dádiva do Deus do Rock (Elvis?) aos seus súditos.
Mas é bom aproveitar: a mamata dos downloads - como tudo o que é bom - não deve durar para sempre. Pra variar, tem muita grana em jogo.
Contudo, levando em conta a areia movediça sobre a qual a indústria discográfica se debate, o orgasmo promete ainda se prolongar: Let's get it on Let's get it on.
Dos álbuns que "algum dia ainda tinha de ouvir" (coleção, aliás, que todo mundo deve ter a sua), Psychedelic Lollipop (1966), do quinteto novaiorquino The Blues Magoos, é desses que haviam ficado para trás.
Sem preliminares; só dois pontos: Psychedelic Lollipop abre com a fenomenal "(We ain't got) Nothin' Yet", que entrou no top 10 EUA e, por lá, descansou de dezembro de 66 a fevereiro de 67. O single vendeu um 1 milhão de cópias.
Enquanto "Tobacco Road" desfecha em sinuosos ruídos, as colantes batidas de "Gotta Get Away" e "One by One" explicam o sucesso nas paradas.
"Love Seems Doomed" (a-t-e-n-ç-ã-o para as iniciais!) é uma viagem de amor por paragens lisérgicas. Não se acanhe e baixe Psychedelic Lollipop. Não é como baixar as calcinhas da garota que você ama, mas a diversão é garantida.
Vai por mim.

domingo, 25 de outubro de 2009

mETAMORFOSE aMBULANTE (rAUL sEIXAS)

Em 1977, o autocrítico Raul Seixas registrou em seu diário: "Attention, Raul, para não se alienar sendo apenas o compositor carismático que é Raul Seixas. Vide a dica de 'Metaforfose Ambulante' (que eu compus com 14 anos ou menos):
'Se hoje eu sou estrela, amanhã já se apagou/ Se hoje eu te odeio, amanhã...'".
Originalmente um blues, ainda menino Raulzito rabiscou a letra dessa existencialista canção na parede de sua casa em Salvador.
Naturalmente, entre dezenas de hits legados pelo compositor, a música - um das mais fortes do cultuado álbum Krig-há, bandolo! - está longe de ser a única pela qual o retado baiano será lembrado até o fim dos tempos.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

100 mAIORAIS

São essas as 20 canções votadas por mim na lista da Rolling Stone (edição especial comemorativa de três anos, nas bancas), que elegeu as "100 Maiores Músicas Brasileiras". Nem dez listas, contudo, seriam suficientes para desfilar o milionário "the best of" do cancioneiro nacional.

Tais escolhas sempre são missões
árduas de cumprir.

Como, acima dos cânones, creio mais ainda é na subjetividade, não espero concordância; eu mesmo refaria a lista inúmeras vezes.

"Maria Bethânia" - (Capiba)
"Três apitos" - (Noel Rosa)
"Negue" - (Adelino Moreira)
"Eu quero é botar meu bloco na rua" - (Sérgio Sampaio)
"Será que eu vou virar bolor" - (Arnaldo Baptista)
"Barra Lúcifer" - (Novos Baianos)
"Abigail" - (Wilson Baptista e Orestes Barbosa)
"Você não serve pra mim" - (Roberto Carlos)
"Sentado à beira do caminho" - (Erasmo Carlos)
"Ouro de tolo" - (Raul Seixas)
"Manhãs de Sol" - (Francisco Alves)
"Georgia a carniceira" - (Ave Sangria)
"Canteiros" - (Fagner)
"Respeita Januário" - (Luiz Gonzaga)
"Felicidade" - (Lupícinio Rodrigues)
"Vou danado pra Catende" - (Alceu Valença)
"Primavera" - (Tim Maia)
"Good rocking tonight" - (Raulzito Seixas aos nove anos)
"Trilha de Sumé" - (Lula Côrtes/Zé Ramalho)
"O Futuro é Vórtex" - (Os Replicantes)

Leia e ouça as dez primeiras colocadas no site da Rolling Stone.

Também escrevi sobre cinco eleitas:

"Ouro de tolo", "Metamorfose ambulante", "A flor e o espinho", "Conversa de Botequim" e "Tico-tico no fubá".

"Ouro de Tolo" (Raul Seixas)

Acaso o destino tivesse barrado Raul Seixas, no panteão dos maiores compositores pátrios, bastaria, porém, apenas uma de suas canções para assegurar-lhe eternidade: "Ouro de Tolo". É a música-chave do álbum Krig-há, bandolo!, editado, em 1973, pela Phillips (gravadora dos conterrâneos Gil e Caetano).

Em uma semana, o compacto alcançou tamanha popularidade que se fez necessário prensá-lo duas vezes. Naqueles tempos de milagre econômico, a letra autobiográfica de Raulzito soou como sonoro tabefe desferido na cara da classe média.

"Ouro de Tolo", na Idade Média, era nome dado às promessas de falsos alquimistas. A canção também embalou audaciosa tacada de marketing, bolada por Paulo Coelho, para transmitir aos lares brasileiros preceitos da Sociedade Alternativa.

No dia 7 de junho de 73, no centro do Rio de Janeiro, Raul Seixas convocou a imprensa para registrar sua aparição entoando "Ouro de Tolo" em rede nacional. O "golpe" surtiu efeito. A cena foi exibida no Jornal Nacional e Raul ganhou o Brasil.


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

fELIZ dIAS dAS cRIANÇAS!


POR MARCELO BENVENUTTI

Eu comprei ingresso pro show do Paul McCartney e pensei. Baita bosta. Sim, eu não comprei.  A Betine comprou. Quer dizer, deu a grana. A Bruna e o Franty foram pra fila do Beira. Mas, porra, e se eu não for pro céu?

Quem serão os Beatles? Os Stones?

Será que Huxley ainda viaja no cosmo no LSD final?

Não sei. Não acredito nos beats.

Só copio.

Aliás, não copio. Quero que eles se fodam. Ginsberg era um chato de galocha.

Odeio poetas. Odeio poetas da Osvaldo Aranha. Odeio escritores de vanguarda.

Mas gosto do Lou Reed.

Eu não sei ler o que os outros escrevem. Sou totalmente egocêntrico.

Gosto de quem gosto e ignoro a existência alheia. Sou o maior escritor ignorado por outros que jamais o lerão. Se me importo? Não. Curto caminhar pelo outro lado da rua.

Sim. Os quarenta anos servem pra algo. Servem pra me deixar feliz vendo meu filho crescer e pensar: Foda-se! Ninguém pode compartilhar isso comigo. Nem eu mesmo.

É tão íntimo que me nego a saber que posso ser feliz.

E sei que sou.

Confesso.

Eu sou feliz.

Desculpem-me se se tenho que admitir que só admito escrevendo bêbado às 5 da manhã.

Mas é a verdade. O Lou Reed me disse agora. Ele, o Bowie e, talvez, não sei, Kurt Cobain que ainda tá saindo de dentro do Dilúvio ajudando o Werner.

A Betine tá no quarto assistindo algum seriado de serial killers.

Eu seu que tá na moda. A moda é algo estranho.

Pra mim estar na moda é ser do contra. E se tem alguém do contra, sou contra quem é.

Sou contra e é bom que seja assim.

Meu carro deveria sair da cidade. Eu junto.

Queria morar numa estrada cercado de cerveja e meus amigos.

Uma eterna estrada sem fim de felicidade e conversa fiada e álcool e sutilezas jogadas no lixo.

(mais um copo da tal cerveja preta)

(pausa)

É muito boa essa guitarreira do Vicious do Lou Reed.

Dá até vontade saber algo de música. Eu não sei. Sei o que me dá vida ou não.

Rock me alimenta mais que ceva. Rock me alimenta mais que tudo.

Se tivesse que escolher entre ceva e rock, escolhia rock.

Se tivesse que escolher entre escrever e escutar rock, escolhia escutar rock.

Escutando rock é que escrevo. Me alimento. O rock me alimenta e me julgo por não saber nada de música.

Por isso escrevo.

É minha chance de compensar minha inabilidade com a música.

Não vou dizer que por isso bebo, porque bebo pra me chapar mesmo.

Se chapar é bom pra escrever.

A ressaca é a melhor hora para se ter boas idéias.

A ressaca limpa a sujeira do cotidiano como um alvejante limpando sujeiras acumuladas no chão.

Sei que vocês compartilharão algo comigo.

Se não compartilham, eu compartilho.

É bom estar vivo.

É ótimo escrever.

Mas é bem melhor que tudo errar.

Pois errando eu vou vivendo cada vez mais até acertar.

Espero jamais acertar para viver para sempre.

Viver é muito bom.

Ainda melhor caminhado pelo lado errado da rua.

(um videozinho bem brega da BBC pra vocês)

Who's Next?