quinta-feira, 1 de abril de 2010

gUITARRAS (e bAIXOS) eM pEDAÇOS

POR CRISTIANO BASTOS

É incerta a origem da Mail Art (Arte Postal), mas a peça de Marcel Duchamp, "Pode Bal Duchamp" - um telegrama postado em primeiro de junho de 1921, de Nova York para Paris, consagra o dadaísta como desbravador na apropriação do sistema de correios para a difusão artística.

Intraduzível, o texto do telegrama traz a mensagem "Peau de balle et balai de crini", um comunicado a Tristan Tzara no Salão Dadá, que se realizava na galeria parisiense Montaigne.

A complexa rede de Arte Postal, que se formou ao redor do mundo, despontou somente na década de 1960. A maioria dos participantes eram egressos do grupo novaiorquino Fluxus, do qual fizeram parte nomes como George Maciunas, Yoko Ono e o músico experimentalista John Cage.

Liderados pelo lituano Maciunas, o fluxistas defendiam o fim da cultura comercial e conservadora e da arte dos museus. Se a proposta do Fluxus era a insurgência contra o stablishment artístico, o fluxista Geoffrey Hendricks, porém, acredita que, com sua chegada, a arte não foi afetada, tampouco mudou.
A arte, nas suas palavras, estará eternamente subordinada a uma "maquiavélica" força: Great Art Structure - a Grande Estrutura da Arte:
"Essa estrutura tem o poder de cooptar idéias, de acomodá-las, obscurecê-las, negá-las e destruí-las. Não só o Fluxus, mas muitas das grandes forças artísticas radicais do século 20 foram mortas por essa entidade".

As conclusões do norte-americano são respaldadas pela crítica de arte francesa Muriel Caron. Conforme Muriel, vanguardas como Dadá e Futurismo, que acreditavam poder revolucionar a arte, assim como as neovanguardas dos anos 60 - a exemplo do próprio Fluxus e da arte conceitual -, ainda tentaram escapar ao estigma de simples produtos culturais.

Todas, entretanto, foram reabsorvidos pelos museus e pelo mercado das artes: "Cedo ou tarde, essas rupturas foram reintegradas à história oficial da arte e às instituições culturais", ela situa.

O dilema da obra de arte, hoje em dia, entende Muriel, é claramente colocado. Tendo se perdido ou se afastado de sua aura original, ela tornou-se item dentre tantos do "entertainment":

"A única margem de subversão que as obras possume, atualmente, é a possibilidade de se posicionarem de forma diferente, principalmente lá onde não se espera: no imprevisível".

MAIL ARTE - No Brasil, o artista multimídia pernambucano Paulo Bruscky foi reconhecido "trabalhador" na filamentada teia de Arte Postal, com ramificações pelo mundo todo. Bruscky guarda o maior acervo Fluxus do país, com mais de 150 obras.

Ligado às ações vanguardistas e ao experimentalismo desde os anos 70, o artista manteve correspondência regular – ainda que patrulhado pela ditadura – com os excêntricos ativistas da Correspondence School. Dentre eles, Ana Banana, Genesis P. Orridge (um dos inventores da acid house) e Pauline Smith – essa perseguida por liderar na rede um fã-clube de Adolf Hitler.

O que melhor identifica a Arte Postal, explica Brusky, é seu caráter não tradicional: um processo evolutivo decorrente da veloz mutação dos meios de comunicação. No princípio, com os correios (telex, telegramas, cartas, postais, selos e assemblagens); em seguida também nos formatos de Arte Telefônica, Fax Arte, Arte Computadorizada e outras "ultrapassadas" mídias.
Para o pernambucano, a Arte Postal conseguiu romper mundialmente todas as barreiras institucionais da arte e da cultura e levou à tona o subterrâneo:
"A Arte Postal é anti-sistema, anti-comercial e anti-burguesa. Tanto que quase toda 'crítica de arte' passou às brancas nuvens, ignorando sua existência por muito tempo. Agora corre em busca do tempo perdido", provoca.
Substituiu, também, os museus e as galerias, espaços de exposição, na opinião de Bruscky, caducos: "A Arte Postal surgiu num momento em que a arte oficial estava cada vez mais comprometida com a especulação do mercado capitalista e com a exploração do artista. Uma realidade que beneficiava uns poucos: marchands, críticos e galerias".

NERVO ÓPTICO - Em Porto Alegre, a conjuntura retratada por Paulo Bruscky (da busca de linguagens e de novos locais para exibição de arte contemporânea) foi contestada por um grupo formado por jovens artistas: o Nervo Óptico.

Na década de 1970, o Nervo Óptico chegou a utilizar expedientes da Arte Postal como alternativa de veiculação artística. Surgido em 1976, em encontros realizados no Museu de Artes do Rio Grande do Sul (Margs), o Nervo Óptico, esclarece o fotógrafo e artista plástico Clovis Dariano, "confluia pessoas em comum, que tentavam fazer algo para romper o vicioso círculo de amostragem da época".

Dertre os quais, Carlos Asp, Mara Alvares, Telmo Lanes, Carlos Pasquetti e Vera Chaves Barcellos. Na capital gaúcha, recorda Dariano, o acesso à galerias era privilégio exclusivo de obras que tivessem "alguma possibilidade de venda".

Situação paradoxal, na opinião do fotógrafo, se levado em conta que toda a tendência do período seguia uma linha não comercial: "O Nervo Óptico protestou contra a lógica da arte de mercado, o sistema de artes dirigido e o circuito de galerias, onde quaisquer manifestações modernas eram excluídas", conta Dariano.

O manifesto Nervo Óptico, de dezembro de 1976, fala pelo grupo: "Não somos contra a venda da obra de arte. Não aceitamos, isto sim, que o mercado dirija o movimento artístico. A venda não é medida de qualidade da obra de arte, como prova a história".

Artisticamente, a ação do Nervo Óptico era centrada na publicação de cartazetes homônimos, mensais e colecionáveis – "abertos a divulgação de novas poéticas visuais" – enviados por um mailling à instituições de ensino e para artistas do Brasil e de outros países.

Algumas edições, que tinham a fotografia como linguagem principal, chegaram a ser encartados na revista dadaísta sueca Ephemera, com marcante atuação no circuito internacional de Arte Postal.
NO FLUXO DO FIM (DOS BEATLES) - Quando John Lennon conheceu Yoko Ono, em 1966, ela já era conceituada artista Fluxus, o grupo vanguardista criado, em Nova York, por Geoge Maciunas a partir de idéias do compositor John Cage.
O beatle foi ver a exposição de Yoko, "Ceiling Painting" (instalação em que uma escada conduzia o observador até um vidro no teto. No alto, uma lupa ampliava a pequena inscrição: "Yes!"), e ficou encantado com a obra da futura esposa.
A rigor, o começo do fim dos Beatles foi tudo culpa do Fluxus...
Se o Fluxus fez o favor de enterrar os Beatles (pois era hora de alguém pará-los mesmo), ao menos a natureza bizarra e destrutiva de certas atuações, como as chamadas Música de Ação, deixaram "lições simbólicas" para o rock.

A performance "Peça de Guitarra", do fluxista Robin Page, apresentada durante o Festival de Desajustes, foi uma das mais impactantes, como descreve Victor Musgrave no livro The Unknown Art Movement.
A ação lembra a cena do filme Blow-Up, de Michelangelo Antonioni, na qual Jeff Beck arrebenta guitarra&amplificador numa espelunca da swinging london tocando "Stroll On" (assista no post abaixo) - cena que, originalmente, fora concebida para o The Who interpretar:
"Vestido em um reluzente capacete prateado e segurando sua guitarra pronta para tocar, Robin esperou alguns minutos antes de jogá-la no palco violentamente e chutá-la na direção do público, pelo corredor e escada abaixo, até sair na rua Dover. O efeito foi dramático, os espectadores levantaram-se e correram atrás dele enquanto ele dava voltas no quarteirão chutando o que ainda sobrava da guitarra".

O guitarrista do The Who, Pete Towshend, transformou a destruição da guitarra numa poderosa alegoria para a juventude hippie, em Woodstock e, em igual medida, num emblema ainda mais legítimo para os punks dez anos depois.

O instantâneo perfeito, no entanto, é a imagem congelada do baixista Paul Simonon, do The Clash, na cultuada capa do álbum-testamento London Calling (foto do post). A fotógrafa Pennie Smith - numa sublime hora de felicidade fotográfica - capturou o exato momento em que Simonon, irritado com a péssima do equipamento, imola seu baixo num show nos Estados Unidos.
Os fluxistas foram longe demais e perderam-se na loucura das extravagâncias performáticas. O cúmulo foi a "Missa-Fluxus", uma divertida deturpação até mesmo para os pioneiros do Fluxus. Insanidades ainda maiores, como os Esportes-Fluxus, o Casamento-Fluxus, o Divórcio-Fluxus e até o Funeral-Fluxus decretaram a morte do grupo.
O inglês Stewart Home, autor do revelador Assalto à Cultura - Utopia, Subversão e Guerrilha na Antiarte do Século 20 (Conrad Livros), traz um divertido relato sobre a bizarra "Missa Fluxus":

"Na cerimônia, de liturgia semelhante à católica, os coroinhas trajavam fantasias de gorila, o vinho sacramental era mantido num tanque e derramado por uma mangueira, as hóstias eram biscoitos azuis recheados de laxante e o pão era consagrado por uma pomba mecânica que cagava sobre ele.

O ritual tinha prosseguimento com o sacrifício de um Super-Homem inflável abarrotado de vinho; tudo acompanhado intermitentemente pela sucessão de uma sonoplastia previamente gravada com sons desconexos como o latir de cães raivosos, assobios de locomotivas, o piar de passarinhos e o estopim de tiros".

sTROLL oN!

pENSANDO o iMPENSÁVEL sOBRE jOHN lENNON*

A gente nunca sabe como vai reagir a essas coisas, mas não posso dizer que fiquei tão surpreso quando a NBC interrompeu seu "Tonight Show" para anunciar que John Lennon estava morto. Sempre achei que ele seria o primeiro dos Beatles a morrer, porque sempre foi o que mais viveu no limite existencial, seja mergulhando de joelhos na inconseqüência de esquerda ou simplesmente por calar a boca durante cinco anos, quando decidiu que não tinha mais muito a dizer. Mas eu sempre imaginei que seria com as próprias mãos. Que ele tenha sido a mais recente celebridade a ser assassinada por um provável psicótico apenas reforça a banalidade em torno de sua morte.

Veja bem: não creio que eu esteja sendo insensível ou rabugento. Em 1965, John Lennon era uma das pessoas mais importantes do mundo. É só que hoje eu me sinto profundamente alienado do rock'n’roll e do que ele significou ou poderia significar, alienado de meus amigos e amigas mais próximos, de seus sonhos e aspirações.

Não sei o que é mais patético, as pessoas da minha geração que se recusam a deixar sua adolescência nos anos 60 morrer de morte natural, ou os mais jovens, que irão arrancar e devorar qualquer pedaço, qualquer migalha de um sonho que alguém declarou acabado há mais de dez anos. Talvez os jovens sejam os mais tristes, porque ao menos os meus companheiros ainda têm alguma memória nostálgica das longas e frias lembranças que hoje eles se ajoelham para reavivar, enquanto que os garotos têm de se virar com coisas tipo o show de beatlemania e uma lista de mercadorias de consumo.

Não consigo ficar de luto por John Lennon. Eu não conhecia o cara. Mas sei bem que, depois de tudo que se fez ou falou, isso é tudo que ele era – um cara. Essa recusa de seus fãs, de jamais deixá-lo ser ele mesmo simplesmente, foi por fim quase tão letal quanto seu "assassino" (e, por favor, vamos parar com esse papo de "assassinato político", e não o chame de "mártir do rock'n roll"). Você assistiu aos especiais de TV na terça à noite? Viu todas aquelas pessoas paradas na rua em frente ao edifício Dakota, onde Lennon vivia, cantando "Hey Jude"? O que você acha que o John Lennon real - o cínico, indolente, sarcástico, convulsivamente perspicaz e iconoclasta – teria dito disso tudo?

John Lennon, nos seus melhores momentos, desprezava sentimentalismo barato e teve que aprender da maneira mais difícil que, uma vez que você deixou sua marca na história, aqueles que não o conseguiram ficarão tão agradecidos que vão transformá-la numa jaula para você. Aqueles que escolhem falsificar suas próprias memórias – que anseiam por uma terra-do-nunca de uma década de 60 que nunca aconteceu daquela maneira em primeiro lugar – insultam o Éden retroativo que eles idolatram.

Assim, nessa hora de hipocrisias de gelar as tripas a respeito de ícones supremos, espero que você agüente minhas próprias considerações por tempo suficiente para me deixar dizer que os Beatles foram com certeza muitíssimo mais que um grupo de quatro músicos talentosos que podem muito bem ter sido os melhores de sua geração. Os Beatles foram acima de tudo um momento. Mas a geração deles não foi a única geração na história, e insistir em manter a brasa daqueles sonhos acesa de qualquer maneira, com a esperança de que a ela voltará de alguma forma a arder novamente nos anos 80, é uma busca tão fútil quanto tentar transformar as letras de Lennon em poesia. É por aquele momento – não para o homem John Lennon – que você está de luto, se é que você está de luto. Em última instância, você está de luto por si mesmo.

Lembra-se daquele outro sujeito, um velho amigo deles, que disse uma vez, "Não siga líderes"?(1) Bem, ele estava certo. Mas as mesmas pessoas que pegaram essas palavras e as transformaram em bandeiras estavam violando o slogan que endossavam. E continuam fazendo isso até hoje. Os Beatles de fato comandaram, mas eles fizeram isso com uma piscadela de canto de olho. Eles podem ter sido mais famosos que Jesus, mas não creio que quisessem ser a religião mundial. Isso teria barateado e tornado cafona o que era especial e maravilhoso a respeito deles. John Lennon não queria isso, de outra forma não teria se retirado por toda a segunda metade dos anos 70. O que aconteceu na noite de segunda-feira foi só a extensão mais extrema de todas as forças que o levaram a se comportar daquele jeito.

Em alguma das suas últimas entrevistas antes de morrer, ele dissera, "O que eu percebi nesses cinco anos longe de tudo é que, quando eu disse que o sonho havia terminado, fiz uma separação física dos Beatles. Mas mentalmente ainda tem essa coisa enorme nas minhas costas, que é o que as pessoas esperam de mim". E também: "Nós éramos os bacanas dos anos 60. Mas o mundo não é mais como nos anos 60. O mundo todo mudou". E: "Produza seu próprio sonho. É bem possível fazer qualquer coisa... o desconhecido é que é o lance. E ter medo disso é o que leva todo mundo a se arrastar por aí caçando sonhos, ilusões".

Adeus, baby, e amém.

- Los Angeles Times, 11 de dezembro de 1980

1- "Don’t follow leaders/ and watch the parking meters”; trecho da música "Subterranean Homesick Blues", de Bob Dylan. (N. T.)

* Lester Bangs em Reações Psicóticas (Conrad Editora)

fREE dUCHAMP

terça-feira, 30 de março de 2010

sONIC'S rENDEZVOUS: sOFISTICAÇÃO nOISE

Após a pane total da "Motor City Five" os sobreviventes do desvario emecefiveano ainda juntaram forças criativas para zunir a potência sônica de Detroit em várias bandas - e muita barulheira.

A maioria delas segue tão anônima, que se deparar com registros gravados, hoje em dia, é como pisar sobre um refrigerado oásis de som encravado na árida (e morta) sigla "rock pesado".

Em 1970, com a falência do MC5 as moribundas almas que sobraram não tardaram em dar continuidade às suas "carreiras": como o guitarrista Wayne Kramer revela no livro Please Kill Me, um tempo chegou abandonar o rock e foi traficar e roubar (de televisões a carros) para sustentar sua adição em "herô".

Mas Fred "Sonic" Smith, o guitar-hero do protopunk (que deixou viúva a poetisa Patty Smith, em 1994), não ficou parado e, junto com o baixista Scott Morgan - ex-The Rationals e atual The Solution -, montou o supergrupo Sonic's Rendezvous Band.

Criado em 70, em Ann Arbor, Michigan, os Sonic's também tinham em seu line-up o baterista Scott Asheton, ex-Stooges, e o baixista Gary Rasmussen, do UP! (também filiados, como o MC5, ao Partido dos Panteras Brancas comandado por John Sinclair).
Exceto por um punhado de gravações ao vivo, editaram somente um único single: "City Slang". Sem trabalho fixo, em 1978 viraram banda de apoio de Iggy Pop na turnê do disco Kill City.

Muitas foram as "larvas" crescidas do cadáver do MC5. O Sonic's Rendezvous, contudo, legou aulas magnas de como fazer rock sujo, punk, bem tocado e - o melhor - sem clichês.
Os suecos do Hellacopters beberam, claramente, seu rock'n'roll "high energy" na fonte sônica. Tanto que o guitarrista Jens Dalkvist chega a personificar um Fred "Sonic" ainda mais branquelo.
Thurston Moore, guitarrista do Sonic Youth, contou que o Sonic's Rendezvous foi definidor sobre como sua banda deveria soar...

Os álbuns Sweet Nothing (live, 1978) e City Slang (1977) são edições das mais difícieis de se arrumar por aí. Então não marca bobeira: aqueles que se excitam com guitarras flamejantes ardendo nos infernos vão gozar no paraíso.


City Slang (single 1979 + canção secreta)

cITY sLANG

oN sTAGE*


*Fotos by Robert Matheu.

sONIC fLYERS

sábado, 27 de março de 2010

aRTE, lENDA & fÉ

Se a Igreja Católica inspirasse obras tão magníficas quanto certos livros, quadros ou monumentos juro que eu me convertia. Mas não é assim. Na sucessão dos séculos, o "estado da arte católico" tornou-se mais crível do que a própria fé - o que, pelo princípio religioso, está errado.
Não é?
A fé é divina, mas a arte, embora ostente a aura superior dos grandes mestres, tem beleza profana. A arte é Deus&Diabo trabalhando juntos por intermédio do homem. Sagrada ou profana, toda Renascença está guardada sob eterna vigilância dos padres.
Concílio de Trento, Banco do Vaticano, palacetes lambuzados de ouro e sangue, Santas Cruzadas, venda de indulgências, o silêncio do holocausto, Opus Dei. Passado estranho, para cujos pecados é complicado conceder remissão.
Hoje, a cruzada católica contra o ser humano é farmacêutica: fogueira e impalação são coisas do passado. Na proibição da pílula anticoncepcional e do preservativo, o cajado apostólico romano ainda tenta se impor. No final das contas, de pouco adianta.
Dogmas que nunca darão para entender e, na pior das hipóteses, resultam em explosão demográfica, doenças e tristeza sem explicação. Claro que um pouco de educação global também daria aquela mãozona ao mundo.
E, já que o Brasil é um "país católico", a Igreja deveria preocupar-se mais é com a educação, não só extensiva como ostensiva. Se não há grana, o que é uma injúria, que poupem nos milionários sapatos italianos do Bento 16.
Como nada tem só um lado "ruim" (e a questão leva mais do que um purgatório inteiro para ser debatida legitimamente), que, justamente, é uma das boas facetas do catolicismo que gostaria de explorar: a arte.
O que restou de bom no catolicismo pode ser apreciado na produção artística em mais de dois milanos de história pós-Cristo. Tal mostra a história, a arte sobreviveu a tudo: modas, política, egos, enchentes, mecenato e, até mesmo, abalos sísmicos.
Sobreviveu à religião e, muitas vezes, graças à ela.
Na literatura, um livro muito bonito escrito por Charles Dickens (1912/1870), especialmente para os seus filhos, passou 85 anos sem edição porque o caçula do romancista falecera pouco antes do natal de 1833, quando deveria ser publicado. Se lançada nos obscuros tempos do cristianismo, com certeza a obra seria considerada profana - de tão singela.
A Vida de Nosso Senhor (Editora Francisco Alves) é a daptação na qual Dickens refaz com sua prosa popular o nascimento e o calvário de Jesus Cristo; e, feito para os pequeninos, não carrega o angustiante sofrimento com que o desígnio do Salvador sempre é narrado.
Mel Gibson envergonharia-se desse livro.
Dickens pegou a maior história da humanidade e fez com ela o que sabia de melhor, isto é, suavizou-a e, com poesia, enlevou a crueldade que marca a passagem da crucificação de Cristo. Sofrimento que, para os católicos, fez-se necessário para "livrar-nos dos pecados do mundo".
Se bem que versejou por todos nós, os "outros", a poetisa punk Patty Smith: "Jesus died for somebody's sins but not mine" (Jesus morreu pelos pecados de todos, menos os meus).
Arrematei a edição de A Vida de Nosso Senhor num sebo em Passo Fundo, Rio Grande do Sul, provavelmente "calhau" que restara da disputada Jornada Literária que, anualmente, toma a cidade.
Na ocasião, comprei outros dez títulos, entre os quais, O Baphomet, de Pierre Klossowski (1905/2001). Baphomet é o "inimigo de Deus". Por sinal, segundo consta na biografia de Klossowski, o escritor, amigo de Gide e Bataille, fora "acometido por uma crise religiosa que o levou a abandonar a vida pública".
O que viria a ser "crise religiosa"?
Superada a crise, Klossowski virou noviço dominicano e estudou nas universidades católicas de Lyon e Paris. Depois largou o catolicismo de mão e regressou, então, à vida laica em 1945. Dois anos depois escreveu seu primeiro livro: Sade Meu Próximo. Como percebe-se, sua "reconversão" foi ultraradical.
A edição de A Vida de Nosso Senhor, que voltei a topar num empoeirado sebo de Brasília, traz uma seleção de gravuras (a imagem que ilustra o post é uma delas) do contemporâneo de Dickens, um tal Julius Schnorr von Carolsfeld.
As gravuras de Julius têm o estilo de ilustração que os filhos de Dickens gostavam e conheciam por causa das bíblias domésticas da era vitoriana. Ao dedicar a obra aos filhos, Dickens pensou até mesmo nas ilustrações.
Isso que é pai!
LENDAS DO SUL - O catolicismo também batizou a literatura gauchesca com bastante água benta, diga-se de passagem, mas produziu passagens tão belas quanto as planices pampeanas.
O escritor pelotense João Simões Lopes Neto (1865-1916) fez de "O Negrinho do Pastoreio" o definitivo conto dessa antiga e sincrética lenda. Foi publicado originalmente no volume Contos Gauchescos & Lendas do Sul, de 1912.
É dessas leituras na qual as lágrimas, por vezes impossível de detê-las, rolam salgadas pelas maçãs do rosto. Se você estiver num dia meio "sensível" - um dia "emo" - deixa para ler depois.
Mais bonito, contudo, é o jeito como Neto junta literatura rio-grandense valendo-se da paisagem típica do Sul e do pitoresco linguajar para tecer seu regionalismo. Perfeito para se ler em voz alta na volta da fogueira, tomando chimarrão amargo e carneando uma costela gorda.
O livro é dividido em duas partes: Contos Gauchescos ("O Negro Bonifácio", "O Boi Velho", "Jogo do Osso") e Lendas do Sul ("Amboitatá", "A Salamanca do Jarau")".
A biografia de Simões de Lopes Neto é curiosa: nascido em Pelotas, para ganhar a vida envolveu-se numa série de negócios: de uma fábrica de vidros à uma destilaria. Os negócios, porém, fracassaram.
Vitimada pela guerra civil no Rio Grande do Sul, a Revolução Federalista, a economia do Estado fora duramente abalada. Cessada a beligerância, Lopes Neto ergueu uma fábrica de cigarros. Os cigarros ganharam o nome de "Diabo", ou melhor, "Marca Diabo", o que gerou protestos religiosos e a expressão que - até hoje - designa "produto de qualidade duvidosa".
A audácia empresarial de Lopes o levou a montar uma firma de torrar e moer café. Ele também desenvolveu uma fórmula, à base de tabaco, para combater sarna e carrapatos. Fundou, ainda, uma mineradora com a meta de explorar prata em Santa Catarina.
Empobrecido, em certa fase da vida sobreviveu como jornalista em Pelotas. Como escritor, Lopes Neto valorizou a história do gaúcho e suas tradições.
Todavia, o conto "A Lenda do Negrinho do Pastoreio" não se trata, exatamente, de "cultura gauchesca" (um código quase fechado para o resto dos brasileiros).
A lenda é meio africana/meio cristã, era contada no final do século retrasado pelos defensores do fim da escravidão, mui popular no Sul do Brasil, particularmente no Rio Grande do Sul.
João Simões Lopes Neto descreveu-a magistralmente: mais do que lenda, um libelo de fé redentora, a fé que salva. Foi escrito para os que nada possuem, senão a fé.
Pode chorar à vontade.

o nEGRINHO dO pASTOREIO


JOÃO SIMÕES LOPES NETO
Naquele tempo os campos ainda eram abertos, não havia entre eles nem divisas nem cercas; somente nas volteadas se apanhava a gadaria xucra e os veados e as avestruzes corriam sem empecilhos...
Era uma vez um estancieiro, que tinha uma ponta de surrões cheios de onças e meias-doblas e mais muita prataria; porém era muito cauíla e muito mau, muito.
Não dava pousada a ninguém, não emprestava um cavalo a um andante; no inverno o fogo da sua casa não fazia brasas; as geadas e o minuano podiam entanguir gente, que a sua porta não se abria; no verão a sombra dos seus umbus só abrigava os cachorros; e ninguém de fora bebia água das suas cacimbas.
Mas também quando tinha serviço na estância, ninguém vinha de vontade dar-lhe um ajutório; e a campeirada folheira não gostava de conchavar-se com ele, porque o homem só dava para comer um churrasco de tourito magro, farinha grossa e erva-caúna e nem um naco de fumo… e tudo, debaixo de tanta somiticaria e choradeira, que parecia que era o seu próprio couro que ele estava lonqueando...
Só para três viventes ele olhava nos olhos: era para o filho, menino cargoso como uma mosca, para um baio cabos-negros, que era o seu parelheiro de confiança, e para um escravo, pequeno ainda, muito bonitinho e preto como carvão e a quem todos chamavam somente o — Negrinho.
A este não deram padrinhos nem nome; por isso o Negrinho se dizia afilhado da Virgem, Senhora Nossa, que é a madrinha de quem não a tem. Todas as madrugadas o Negrinho galopeava o parelheiro baio; depois conduzia os avios do chimarrão e à tarde sofria os maus tratos do menino, que o iudiava e se ria.
* * *Um dia depois de muitas negaças, o estancieiro atou carreira com um seu vizinho. Este queria que a parada fosse para os pobres; o outro que não, que não! que a parada devia ser do dono do cavalo que ganhasse. E trataram: o tiro era trinta quadras, a parada, mil onças de ouro.
No dia aprazado, na cancha da carreira havia gente como em festa de santo grande. Entre os dois parelheiros, a gauchada não sabia se decidir, tão perfeito era e bem lançado cada um dos animais.
Do baio era fama que quando corria, corria tanto, que o vento assobiava-lhe nas crinas; tanto, que só se ouvia o barulho, mas não lhe viam as patas baterem no chão... E do mouro era voz que quanto mais cancha, mais agüente e que desde a largada ele ia ser como um laço que se arrebenta...
As parcerias abriram as guaiacas, e aí no mais já se apostavam aperos contra rebanhos e redomões contra lenços.
—Pelo baio! Luz e doble!…
—Pelo mouro! Doble e luz!...
Os corredores fizeram as suas partidas à vontade e depois as obrigadas; e quando foi na última, fizeram ambos a sua senha e se convidaram. E amagando o corpo, de rebenque no ar, largaram, os parelheiros meneando cascos, que parecia uma tormenta...
Empate! Empate! — gritavam os aficionados ao longo da cancha por onde passava a parelha veloz, compassada como numa colhera. — Valha-me a Virgem madrinha, Nossa Senhora! — gemia o Negrinho. — Se o sete-léguas perde, o meu senhor me mata! hip! hip! hip!...
E baixava o rebenque, cobrindo a marca do baio.
— Se o corta-vento ganhar é só para os pobres!... retrucava o outro corredor. Hip! hip!
E cerrava as esporas no mouro.
Mas os fletes corriam, compassados como numa colhera. Quando foi na última quadra, o mouro vinha arrematado e o baio vinha aos tirões… mas sempre juntos, sempre emparelhados.
E a duas braças da raia, quase em cima do laço, o baio assentou de supetão, pôs-se em pé e fez uma caravolta, de modo que deu ao mouro tempo mais que preciso para passar, ganhando de luz aberta! E o Negrinho, de em pêlo, agarrou-se como um ginetaço.
— Foi mau jogo! — gritava o estancieiro.
— Mau jogo! — secundavam os outros da sua parceria.
A gauchada estava dividida no julgamento da carreira; mais de um torena coçou o punho da adaga, mais de um desapresilhou a pistola, mais de um virou as esporas para o peito do pé... Mas o juiz, que era um velho do tempo da guerra de Sepé-Tíaraju, era um juiz macanudo, que já tinha visto muito mundo.
Abanando a cabeça branca sentenciou, para todos ouvirem:
— Foi na lei! A carreira é de parada morta; perdeu o cavalo baio, ganhou o cavalo mouro, Quem perdeu, que pague. Eu perdi cem gateadas; quem as ganhou venha buscá-las. Foi na lei!
Não havia o que alegar. Despeitado e furioso, o estancieiro pagou a parada, à vista de todos, atirando as mil onças de ouro sobre o poncho do seu contrário, estendido no chão.
E foi um alegrão por aqueles pagos, porque logo o ganhador mandou distribuir tambeiros e leiteiras, côvados de baeta e haguais e deu o resto, de mota, ao pobrerio. Depois as carreiras seguiram com os changueiritos que havia.
* * *O estancieiro retirou-se para a sua casa e veio pensando, pensando calado, em todo o caminho. A cara dele vinha lisa, mas o coração vinha corcoveando como touro de banhado laçado a meia espalda… O trompaço das mil onças tinha-lhe arrebentado a alma.
E conforme apeou-se, da mesma vereda mandou amarrar o Negrinho pelos pulsos a um palanque e dar-lhe, dar-lhe uma surra de relho.
Na madrugada saiu com ele e quando chegou no alto da coxilha falou assim:
— Trinta quadras tinha a cancha da carreira que tu perdeste: trinta dias ficarás aqui pastoreando a minha tropilha de trinta tordilhos negros... O baio fica de piquete na soga e tu ficarás de estaca!
O Negrinho começou a chorar, enquanto os cavalos iam pastando. Veio o sol, veio o vento, veio a chuva, veio a noite. O Negrinho, varado de fome e já sem força nas mãos, enleou a soga num pulso e deitou-se encostado a um cupim.
Vieram então as corujas e fizeram roda, voando, paradas no ar, e todas olhavam-no com os olhos reluzentes, amarelos na escuridão. E uma piou e todas piaram, como rindo-se dele, paradas no ar, sem barulho nas asas.
O Negrinho tremia, de medo... porém de repente pensou na sua madrinha Nossa Senhora e sossegou e dormiu.
E dormiu. Era já tarde da noite, iam passando as estrelas; o Cruzeiro apareceu, subiu e passou; passaram as Três-Marias: a estrela-d’alva subiu... Então vieram os guaraxains ladrões e farejaram o Negrinho e cortaram a guasca da soga. O baio sentindo-se solto rufou a galope, e toda a tropilha com ele, escaramuçando no escuro e desguaritando-se nas canhadas.
O tropel acordou o Negrinho; os guaraxains fugiram, dando berros de escárnio, os galos estavam cantando, mas nem o céu nem as barras do dia se enxergava: era a cerração que tapava tudo.
E assim o Negrinho perdeu o pastoreio. E chorou.
* * *O menino maleva foi lá e veio dizer ao pai que os cavalos não estavam. O estancieiro mandou outra vez amarrar o Negrinho pelos pulsos a um palanque e dar-lhe, dar-lhe uma surra de relho.
E quando era já noite fechada ordenou-lhe que fosse campear o perdido. Rengueando, chorando e gemendo, o Negrinho pensou na sua madrinha Nossa Senhora e foi ao oratório da casa, tomou o coto de vela acesa em frente da imagem e saiu para o campo.
Por coxilhas e canhadas, na beira dos lagoões, nos paradeiros e nas restingas, por onde o Negrinho ia passando, a vela benta ia pingando cera no chão; e de cada pingo nascia uma nova luz, e já eram tantas que clareavam tudo.
O gado ficou deitado, os touros não escarvaram a terra e as manadas xucras não dispararam... Quando os galos estavam cantando, como na véspera, os cavalos relincharam todos juntos. O Negrinho montou no baio e tocou por diante a tropilha, até a coxilha que o seu senhor lhe marcara.
E assim o Negrinho achou o pastoreio. E se riu...
Gemendo, gemendo, o Negrinho deitou-se encostado ao cupim e no mesmo instante apagaram-se as luzes todas; e sonhando com a Virgem, sua madrinha, o Negrinho dormiu. E não apareceram nem as corujas agoureiras nem os guaraxains ladrões; porém pior do que os bichos maus, ao clarear o dia veio o menino, filho do estancieiro e enxotou os cavalos, que se dispersaram, disparando campo fora, retouçando e desguaritando-se nas canhadas.
O tropel acordou o Negrinho e o menino maleva foi dizer ao seu pai que os cavalos não estavam lá...
E assim o Negrinho perdeu o pastoreio. E chorou...
* * *O estancieiro mandou outra vez amarrar o Negrinho pelos pulsos, a um palanque e dar-lhe, dar-lhe uma surra de relho... dar-lhe até ele não mais chorar nem bulir, com as carnes recortadas, o sangue vivo escorrendo do corpo… O Negrinho chamou pela Virgem sua madrinha e Senhora Nossa, deu uni suspiro triste, que chorou no ar como uma música, e pareceu que morreu...
E como já era noite e para não gastar a enxada em fazer uma cova, o estancieiro mandou atirar o corpo do Negrinho na panela de um formigueiro, que era para as formigas devorarem-lhe a carne e o sangue e os ossos... E assanhou bem as formigas, e quando elas, raivosas, cobriam todo o corpo do Negrinho e começaram a trincá-la é que então ele se foi embora, sem olhar para trás.
Nessa noite o estancieiro sonhou que ele era ele mesmo, mil vezes e que tinha mil filhos e mil negrinhos, mil cavalos baios e mil vezes mil onças de ouro… e que tudo isto cabia folgado dentro de um formigueiro pequeno...
Caiu a serenada silenciosa e molhou os pastos, as asas dos pássaros e a casca das frutas. Passou a noite de Deus e veio a manhã e o sol encoberto. E três dias houve cerração forte, e três noites o estancieiro teve o mesmo sonho.
* * *A peonada bateu o campo, porém ninguém achou a tropilha e nem rastro. Então o senhor foi ao formigueiro, para ver o que restava do corpo do escravo.
Qual não foi o seu grande espanto, quando chegado perto, viu na boca do formigueiro o Negrinho de pé, com a pele lisa, perfeita, sacudindo de si as formigas que o cobriam ainda!...
O Negrinho, de pé, e ali ao lado, o cavalo baio e ali junto a tropilha dos trinta tordilhos... e fazendo-lhe frente, de guarda ao mesquinho, o estancieiro viu a madrinha dos que não a têm, viu a Virgem, Nossa Senhora, tão serena, pousada na terra, mas mostrando que estava no céu... Quando tal viu, o senhor caiu de joelhos diante do escravo.
E o Negrinho, sarado e risonho, pulando de em pêlo e sem rédeas; no baio, chupou o beiço e tocou a tropilha a galope.
E assim o Negrinho pela última vez achou o pastoreio. E não. chorou, e nem se riu.
* * *Correu no vizindário a nova do fadário e da triste morte do Negrinho, devorado na panela do formigueiro. Porém logo, de perto e de longe, de todos os rumos do vento, começaram a vir notícias de um caso que parecia um milagre novo...
E era, que os posteiros e os andantes, os que dormiam sob as palhas dos ranchos e os que dormiam na cama das macegas, os chasques que cortavam por atalhos e os tropeiros que vinham pelas estradas, mascates e carreteiros, todos davam notícia — da mesma hora — de ter visto passar, como levada em pastoreio, uma tropilha de tordilhos, tocada por um Negrinho, gineteando de em pêlo, em um cavalo baio!…
Então, muitos acenderam velas e rezaram o Pai-nosso pela alma do judiado. Daí por diante, quando qualquer cristão perdia uma cousa, o que fosse, pela noite velha o Negrinho campeava e achava, mas só entregava a quem acendesse uma vela, cuja luz ele levava para pagar a do altar da sua madrinha, a Virgem, Nossa Senhora, que o remiu e salvou e deu-lhe uma tropilha, que ele conduz e pastoreia, sem ninguém ver.
* * *Todos os anos, durante três dias, o Negrinho, desaparece: está metido em algum formigueiro grande, fazendo visita às formigas, suas amigas; a sua tropilha esparrama-se, e um aqui, outro por. lá, os seus cavalos retouçam nas manadas das estâncias.
Mas ao nascer do sol do terceiro dia, o baio relincha. perto do seu ginete; o Negrinho monta-o e vai fazer a sua recolhida; é quando nas estâncias acontece a disparada das cavalhadas e a gente olha, olha, e n&o vê ninguém, nem na ponta, nem na culatra.
* * *Desde então e ainda hoje, conduzindo o seu pastoreio, o Negrinho, sarado e risonho, cruza os campos, corta os macegais, bandeia as restingas, desponta os banhados, vara os arroios, sobe as coxilhas e desce às canhadas.
O Negrinho anda sempre à procura dos objetos perdidos, pondo-os de jeito a serem achados pelos seus donos, quando estes acendem um coto de vela, cuja luz ele leva para o altar da Virgem Senhora Nossa, madrinha dos que não a têm.
Quem perder suas prendas no campo, guarde esperança: junto de algum moirão ou sob os ramos das árvores, acenda uma vela para o Negrinho do pastoreio e vá lhe dizendo —Foi por aí que eu perdi... Foi por aí que eu perdi... Foi por ai que eu perdi!...
Se ele não achar… ninguém mais.

sexta-feira, 26 de março de 2010

pORTO aLEGRE: o tEMPO vOA cOMO uM bONDE

Feliz aniversário Porto Alegre!
238 anos de existência dessa cidade cheia de coisas legais (belas prendas, churrasco de primeira, Mário Quintana, amigos eternos, rock'n'roll, roupas de inverno, Parque da Redenção, bergamotas, aqueles dias de frio ensolarados...) e, também, com seus inúmeros defeitos e mesquinharias - como em todos os lugares do mundo, praticamente. Minha singela homenagem à cidade na qual me criei e ainda amo muito, apesar do afastamento, é essa clássica série de fotos que remontam, através das décadas, a história dos bondes (!) na capital gaúcha.
Boa viagem.

terça-feira, 23 de março de 2010

sAMBOLERO*

Mais um capítulo da eterna reinvenção sonora de um estilista cuja obra desafia categorizações
POR CRISTIANO BASTOS
Em 1956, Donato e seu regional entraram em estúdio para o registro de Chá Dançante, o acetato de 12 polegadas no qual Tom Jobim empresta sua sotisficação ao piano em quase todas as faixas, embora o importante dado tenha sido omitido na época. Mas o disco noticiava na contracapa: "O mestre do acordeon João Donato num repertório de primeira".
Dois anos depois, quando o LP suplantou o formato anterior de 78 rotações, o acriano adotou, definitivamente, a execelência do piano como instrumento. Só em 1962, porém, ano de grandes álbuns de jazz, como Tamba Trio, Go, de Dexter Gordon e Samba Jazz, de Stan Getz & Charlie Bird, Donato lançou com o trio formado por Tião Neto, Milton Banana e Amauri Tristão seu primeiro disco autoral, Muito à Vontade.
Gravado na norte-americana Pacific Jazz, lar de Chet Baker, Bud Shank e Gerry Mulligan, a produção ganhou nos states o jingado nome de Sambou, Sambou. Foi a bolacha que flechou o coração dos grandes jazzistas para a bossa nova e projetou Donato para o mundo.
Sambolero, o novo de João Donato, persegue a mesma doutrina instrumental de Sambou, Sambou, mas não é tão somente um simulacro da "álgebra" que lhe consagrou planetariamente. O disco excursiona por uma fração de sua obra selecionada, literalmente, a dedo pelo pianista: entre outros gêneros, navega do samba ao bolero e aporta na velha bossa-nova e na eternidade do jazz. O resultado apruma-se entre o fino e popular.
Galvanicamente unidos estão o compositor, o pianista e o arranjador – indissolúvel trindade. À menor frase sacada de seu piano lustrado em Debussy, o senso rítimico prodigioso de Donato põe o ouvinte para "balançar" em Sambolero.
"Amazonas" abre o disco com sua melodia nascida de um sonho que João teve na temporada que passou nos EUA. Posteriormente letrada (duplamente) por Lysias Ênio e Arnaldo Antunes, em no disco a música foi vestida instrumentalmente apenas. "Lugar comum", também batizada de "Índio Perdido", é a primeira menção que Donato fez, nos anos 40, à terra natal, o Acre.
O próprio tema que dá nome ao álbum, "Sambolero", conta uma história: remete à curiosa "Chombo Lero", originalmente uma homenagem ao sax tenor cubano José "Chombo" Silva. O piano de Donato também flana cristalino por standarts de seu repertório, como "Bananeira", "Brisa do mar", "Jodel", "A rã" e a bossa com jazz afro-cubano de "Nasci para bailar".
"Sambou, Sambou" (a única que apresenta letra), malemolente dueto com Zeca Pagodinho, cuja gravação havia sido registrada em Prova de Amor, último álbum do pagodeiro. É séria candidata à hit do disco. Para tocar no álbum, João escalou a dupla de ouro Robertinho Silva, na bateria e Luiz Alves, no baixo acústico, dois dos mais hábeis ritmistas com militância no círculo das boates cariocas. O trio toca há 30 anos e, juntos, rodaram o globo terrestre.
Às vésperas de gravar Sambolero, João Donato andava de um lado para o outro, sem ter bem certo o repertório e o conceito do álbum. O produtor João Samuel queria cancioneiro novo combinado ao antigo. Era madrugada e a esposa e empresária de Donato, Ivone Belém, receitou: "O disco que te mostrou ao mundo e tem o genuíno toque donatiano é Muito à Vontade. Vai beber nessa fonte!". Assim ele fez.
Aliás, "muito à vontade", na gíria da época significava que o cara tinha fumado um "cigarrinho do diabo" e ficado muito descontraído. Não se sabe se foi o que aconteceu em Sambolero, mas que dá vontade de relaxar ouvindo, isso dá.
*Rolling Stone. Na foto, João Donato e João Gilberto flanam muito à vontade pelas ruas de New York City, 1957.

segunda-feira, 22 de março de 2010

yES, mULHERES








*Filho do poeta Vinicius de Moraes (1913-1980), o fotógrafo autodidata Pedro de Moraes iniciou-se na finada revista Manchete. Sua missão, flagrar os ambientes artístico-popularescos do Rio de Janeiro.

Durante a ditadura, Pedro alistou-se nas fileiras do Cinema Novo: foi diretor de fotografia de grandes cineastas, como Joaquim de Andrade (Guerra Conjugal, 1975), Glauber Rocha (Idade da Terra, 1979) e Gustavo Dahl (Em Busca do Ouro, 1965).
Em 1967 e 1968, suas câmeras Laica/Rolleyflex serviram aos levantes da esquerda. O fotógrafo se diz confesso admirador do lendário correspondente de guerra, o húngaro Robert Capa, que postulava: "Se as fotografias não são suficientemente boas, é porque não se está suficientemente perto".
Mas a arte de Moraes não estacionou no "engajamento". Nesta série, "Mulheres", sua lente desvela o universo feminino brasileiro dos anos 60, tão denso (e, como se vê, sem muita "repressão" por parte delas) quanto a política daqueles tempos.
"É mal de família, está no DNA", brinca Pedro de Moraes, aludindo ao pai - mestre no assunto. Bom filho, ele se dobra ao gênero: "Elas me ensinaram 80% de tudo o que eu sei".
Dê uma chegadinha no site dele, e veja quantos retratos de dar água na boca.

quarta-feira, 17 de março de 2010

nÃO qUERO sER gRANDE*

"Sentimos que é o grande momento de nossa carreira", aposta o vocalista do Superguidis, Andrio Maquenzi, sobre o terceiro disco da banda gaúcha. Gravado no Estúdio Daybreak, em Brasília, com produção de Philippe Seabra (Plebe Rude), mixagem do norte-americano Kyle Kelso e masterização de Gustavo Dreher, o álbum será editado em versão dupla no Brasil em uma parceria entre os selos Monstro Discos e Senhor F.

Como bônus, terá o áudio do DVD Unplugged, gravado em um inferninho porto-alegrense (a versão em vídeo tem lançamento previsto para maio. São 21 faixas com temas dos três discos e duas covers dos conterrâneos do Prozak). Na Argentina o novo trabalho sai em versão simples, via Scatter Records.

Meio-termo entre o lo-fi ensolarado do primeiro e a compressão noise do segundo, o novo álbum, define Andrio, é um conjunto de altos e baixos, dinâmico e diferente dos outros mais lineares.

"Tem sons limpos e cristalinos seguidos de uma podreira nunca antes executada por nós nos outros discos." Batizado de Superguidis, a banda quer que o álbum seja conhecido pela capa, "como o do cachorro de três patas do Alice in Chains", compara Maquenzi.

Eles juram nunca terem se deslumbrado com o afã de tornar-se "banda grande". "O foco sempre foi a música e o reconhecimento como consequência. Sem contar que fazer música vai ficando cada vez mais divertido à medida que a gente vai aprendendo e se permite experimentar", pontua o guitarrista Lucas Pocamacha.

Longe de serem "indies mimados de apartamento", os integrantes do Superguidis têm a cara da "juventude suburbana emergente". Em uma crítica à pasmaceira do rock de Porto Alegre Wander Wildner chegou a comentar que a parte guaibense da banda é o que a salva. "Ele se referia justamente a essas 'marrentices' da capital, tão careta e conservadora".

De fato, a banda tem cultivado rara coerência como operários na construção do novo mercado de música independente. Nas palavras de Andrio, o Guidis "não foi mordido pela mosquinha azul do mainstream".

"Estamos trilhando um caminho. Para nós, é muito mais coerente do que esses pulos no abismo que muita galera dá. O problema é a afobação e a busca pelo sucesso, nem que isso custe a integridade artística. Especialmente falando-se de um mainstream tão imbecil quanto o nosso."

No segundo álbum, A Amarga Sinfonia do Superstar, parte da crítica avaliou que os Superguidis "cresceram rápido demais". Mas, e no terceiro, quão amadureceram? Andrio vê o novo disco soando pleno de juvenilidade. "As guitarras estão college rock noventão, em contraste com as letras, ainda existenciais, mas não bobas."

O que anda faltando no rock nacional, para ele, são guitarras sujas: "Só ouço guitarras com synth e sopros e sofisticaçõezinhas para encher linguiça", alfi neta. Muitas promissoras bandas do cenário independente acabaram perdendo o bonde por falta de discos e hits e ficarem só no esquemão dos shows. O Superguidis consegue fazer essa dosagem com maestria.

"Não temos uma fórmula e, se tivéssemos, não entregaríamos o ouro. Eu sou o cara que toca como se fosse o último show. É o momento do exorcismo. É aí que a gente ganha a torcida: sendo sinceros." Lucas discorda: "Eu acho que a gente tem uma fórmula, sim! Ela consiste em não se preocupar esperando a chegada do Papai Noel e tentar fazer a próxima música muito melhor que a anterior!"


*Rolling Stone 42. Leia a seguir entrevista com Andrio Maquenzi e Lucas Pocamacha, que responderam as mesmas perguntas (ou quase todas!).

Fã-Clube Adolescente

eNTREVISTA: sUPERGUIDIS


O trecho de qual canção definiria o momento dos Superguidis no terceiro disco?

Andrio: Talvez "I'm still living the dream we had, for me it's not over" (eu ainda estou vivendo o sonho que tivemos, para mim não acabou), refrão de Big Time, do álbum Broken Arrow, Neil Young. Tá, vai a música toda! Sentimos que é o grande momento na carreira da banda.

Lucas: Pô, eu não conseguiria achar uma frase melhor...

A banda mantém rara coerência como "operários" na construção do novo mercado da música independente. Qual segredo?

Andrio: Estamos trilhando um caminho, é verdade. Para nós, muito mais coerente do que esses pulos no abismo que muita galera dá. O problema todo é a afobação e a busca pelo "sucesso", nem que isso custe a integridade artística. Sobretudo falando de um "mainstream" tão imbecil quanto este nosso. Queremos o reconhecimento, sem dúvida, mas que ele venha com a consolidação de um trabalho autoral e de conteúdo.

Lucas: Nunca fomos deslumbrados com essa história de "ser banda grande". O foco sempre foi a música e o reconhecimento como consequência. Eu tô muito feliz com a situação que a nossa banda vive hoje, quer dizer, a gente andou boa parte do Brasil tocando e temos um puta reconhecimento pelo que fazemos. Sem contar o fato que fazer música vai ficando cada mais divertido à medida que a gente vai aprendendo umas coisas e se permite experimentar.

O Lucas disse que "fazemos música para quem quer nos ouvir". Lógica inversa, pois a maioria compõe para os outros ouvirem.

Lucas: O lance é que a música tem que vir em primeiro lugar sempre! É para isso que se deve ter uma banda, ao menos para mim. O que eu quis dizer foi que eu não vou tentar "adivinhar" o que as pessoas querem ouvir ou tentar me "adaptar" a um certo público.. Nos interessa muito mais cativar quem quer nos entender do que tentar convencer as pessoas a nos aceitarem. Pode soar meio prepotente mas, na verdade, é o contrário. Eu tenho uma puta bronca com essa grande indústria fonográfica que fabrica ídolos e os empurra goela abaixo de um público tratado como idiota, incapaz de ter opinião própria. Dou um baita valor aos caras que vão atrás dos nossos discos no soulseek ou em qualquer lugar da internet.

Sobre o que fala, exatamente, a canção "As camisetas"?

Lucas: "As camisetas" é sobre um pé na bunda que aconteceu na época em que a gente estava compondo o disco! Boa parte das minhas músicas no disco são sobre esse assunto. Também fiz músicas para o meu avô, como "O véio máximo" do primeiro disco e "Nova_completa" do terceiro. Ele morreu meio que nos meus braços e, incrivelmente, começou a chover bem na hora. Por isso que a musica tem aquele refrão "quase" meloso (risos).

Que nuances há entre o álbum novo e os anteriores?

Andrio: Eu vejo este como um conjunto de altos e baixos, dinâmico, diferente dos outros mais lineares. Tem coisa limpa e cristalina, seguida de uma podreira nunca antes executada por nós nos outros discos. Para mim é a principal diferença.

Lucas: Concordo. Esse disco foi feito pensando em ser um disco, saca? Os outros dois foram a união das músicas que a gente tinha feito até o dia de começar a gravar. Nesse, nós nos permitimos brincar de Pink Floyd e tentar moldar as músicas de acordo com a cara que queríamos dar ao disco. Para isso, foi essencial a pré-produção que fizemos em casa. Acho que nunca mais vamos gravar um disco sem fazer isso antes.

Longe de serem "indies mimados de apartamento", os Guidis têm a cara da "juventude suburbana emergente". É mais legal que ser "cosmopolitano"?

Andrio: Wander Wildner disse, certo dia, que a parte guaibense da banda é o que a salva (risos). Ele se referia justamente a essas marrentices da capital, sobretudo Porto Alegre, tão careta e conservadora.

Lucas: Bom, eu não posso falar nada... Fui criado em Porto Alegre desde guri! (risos). Mas em minha defesa tive uma criação old school com patinete, carrinho de lomba e futebol no meio da rua. O andrio que é o cara do video-game e da bicicleta 18 marchas! (risos).

Músicas como "Mais um dia de cão", "Espiral arco-íris", "Quando se é vidraça" e "Não fosse o bom humor" descrevem o cotidiano de vocês, mas também dizem sobre "condição social" e de como vêem o mundo: uma juventude pragmática e desideologizada...

Andrio: Talvez "Mais um dia de cão" seja a nossa canção mais política, mas não no sentido panfletário. Isso, sim, é uma merda. Já tive banda assim, de botar o dedo na cara e fazer discurso, mas quando tinha 18 anos. A gente sempre procura ser o menos óbvio possível, porém, falando de coisas óbvias, que nos aproximam de quem nos ouve. Desafio hein... Até agora deu certo.

Lucas: Eu só sei fazer música olhando para dentro e não para fora. Juro que já tentei...


Parte da crítica availou que, no segundo álbum, a banda cresceu rápido demais. E no terceiro, quão amadureceram?

Andrio: Eu vejo esse disco soando muito juvenil. Porra, as guitarras tão college rock noventão, em contraste com as letras, ainda existenciais, mas não bobas. Todo mundo faz aniversário e envelhece. E o que está faltando na música nacional são guitarras sujas. Só ouço galera com synth e sopros e sofisticaçõezinhas para encher linguiça.

Lucas: Eu vejo o terceiro meio assim também: tem bastante coisa sofisticada, mas nada metido à besta. A gente ainda é muito criança pra fazer disco "cabeção", contudo, não vamos fazer de novo o primeiro disco.

Muitas bandas independentes promissoras perderam o bonde por falta de discos e hits e ou por ficarem só no esquemão dos shows. Como vocês fazem essa dosagem?

Andrio: Não temos uma fórmula e, se tivéssemos, não entregaríamos esse ouro (risos) .Eu sou o cara que toca como se fosse o último show, é o momento do exorcismo. Música é isso, é descarrego. Nas letras também rola esse tipo de coisa. Vai ver é aí que a gente ganha a torcida: sendo sinceros.

Lucas: Eu acho que a gente tem uma fórmula sim! Ela consiste em não se preocupar esperando a chegada do Papai Noel e tentar fazer a próxima música muito melhor que anterior!

E a opção de permanecer em Porto Alegre?

Andrio: Eu tenho uma vida toda por aqui, casado e trampando numa produtora de jingles muito bacana. Se um dia quisesse me mudar, seria para Buenos Aires. Que cidade do caralho! Efervescência cultural. São Paulo até é legal, pois tem tanta gente que certamente terá um nicho para a tua música, mas sei lá... Ou você entra naquele esquema e dá um tiro no seu pé, ou fica onde está. Nós achamos que o fluxo deste cenário está tão descentralizado que não vemos necessidade de nos mudar, ao menos no momento.

Lucas: É... Eu tenho um assunto inacabado aqui chamado Engenharia Elétrica. Pelo jeito vai continuar inacabado por mais uns anos. E Porto Alegre não é tão longe.

O acústico que virá encartado com o disco saiá em DVD e CD?

Lucas: Sim! Ele entra no terceiro disco como um bônus para o pessoal que ficou esperando 2009 inteiro pra ouvir o disco! (risos) A idéia é lançar em DVD em maio, se tudo correr como planejado.

E a relação "platina" da banda?

Andrio: É uma parceria muito frutifera entre os selos Senhor F e Scatter Records. É uma honra para nós fazer parte deste circuito, que está se expandindo por toda a América Latina. O Festival El Mapa de Todos, realizado pelo Fernando Rosa, em Brasília, confirma isso.

Lucas: O nosso primeiro show em Buenos Aires foi um divisor de águas para mim. Nunca tínhamos tocado para uma platéia que nunca tinha nos ouvido e foi incrível a recepção. O pessoal realmente prestou atenção ao som e aplaudiu com sinceridade. Foi um dos nossos grandes momentos, na minha opinião.

Vocês também estão se aventurando como produtores, produzindo as bandas Prozak e Loomer. Falem sobre a experiência.

Andrio: O Lucas é quem faz as vezes de engenheiro de som: procura captar da melhor forma os instrumentos. Claro que ele também sugere algumas modificações quanto as estruturas das músicas. Mas isso, no caso da Prozak, acho que coube mais a mim, bem como ocupei-me em aprimorar a execução das canções deles. É sempre legal trabalhar com bandas amigas. Os momentos de folga com churrasco e cervejas são os mais recompensadores.

Lucas: Cada centavo que eu ganho hoje em dia é gasto com equipamento para gravação. Descobri que é extremamente divertido. Ô cachaça braba! (risos) Nessas férias eu e o Andrio gravamos a Prozak e eu gravei sozinho a Modernage, aqui de Porto Alegre.

Os Superguidis tocou em dois tributos: Guided By Voices e Mudhoney. Que tal homenagear os ídolos?

Andrio: Muito bacana e divertido. Vem aí também um tributo ao Plato Divorak, que vamos participar. Esse vai ser literalmente mais insano.

Brasília: segunda casa?

Andrio: Até não sei se já não foi promovida a primeira casa...

Lucas: Brasília é que nem a casa da vó!



Superguidis (2010)

1 Roger Waters (Lucas Pocamacha)
2 Não fosse o Bom humor (Andrio Maquenzi)
3 Visão Alem do alcance (Andrio Maquenzi)
4 As camisetas (Lucas Pocamacha)
5 Quando se é vidraça (Andrio Maquenzi)
6 Fã-clube adolescente (Andrio Maquenzi)
7 De mudança (Andrio Maquenzi)
8 Casablanca (Lucas Pocamacha)
9 O usual (Lucas Pocamacha)
10 Nova_completa (Lucas Pocamacha)
11 Aos meus amigos (Andrio Maquenzi)

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