quarta-feira, 31 de outubro de 2007

1001 dISCOS

Quase dois quilos pesam os "1001 discos para ouvir antes de morrer (Sextante, R$ 45, em média)", lançado recentemente no Brasil do original inglês 1001 Albums You Must Hear Before Die. Robert Dimery e Michael Lydon são os coordenadores editoriais deste compêndio de 950 páginas. Dimery colabora com as revistas Time Out e Vogue e escreveu The Rise And Fall Of The Stone Roses. Lydon é um dos fundadores da Rolling Stone e biografou a vida de John Lennon.
Para definir a lista dos 1001 discos, Dimery mobilizou 90 jornalistas e críticos de música de todo o mundo. A lista não é imaculada (e qual é?), mas o livro fica além de simples inventário de música pop. Seria melhor classificado como uma excursão cronológica pela história da indústria fonográfica. Passeio que parte do álbum In The Wee Small Hours (1955), de Frank Sinatra, e vai até Get Behind me Satan (2005), do White Stripes.
Fora a variedade das informações, cada álbum foi contextualizado historicamente com detalhes sobre produção, design e lista de canções. Só as imagens das mais de 900 capas, artistas e bandas valem a aquisição. A única coisa duvidosa foi a escolha de Syd Vicious para ilustrar a capa da edição brasileira. Nos tempos de Never Mind the Bollocks, único disco dos Sex Pistols que aparece no livro, Syd nem era da banda.
O grande gênero privilegiado é o rock, mas todos os estilos estão lá: soul, dance, world music, hip-hop, rap, jazz, bossa nova, eletrônica, blues, punk, heavy metal, disco, experimentalismo. Para o Brasil, a lista reforça o quanto a música nacional ganhou reconhecimento planetário de anos pra cá. São destacados cerca de 20 discos famosos da MPB.
Entre eles: Francis Albert Sinatra & Tom Jobim (1967), Stan Getz e João Gilberto (Getz Gilberto - 1963), Astrud Gilberto (Beach Samba – 1967), Mutantes (Os Mutantes - 1968), Caetano Veloso (Caetano Veloso - 1968), Milton Nascimento e Lô Borges (Clube da Esquina – 1972), Jorge Ben (Africa/Brasi - 1976), Elis Regina (Vento de Maio - 1978), Sepultura (Arise – 1991/ Roots – 1996) e Bebel Gilberto (Tanto Tempo - 2000).
O livro também apresenta as obviedades de sempre: What's Going On, de Marvin Gaye, The Rise And Fall Of Ziggy Stardust, do Bowie e London Calling, do The Clash, são tão previsíveis quanto uma nova tour do Deep Purple no ano que vem. O equilíbrio é possível pela inclusão de estranhices como Einstürzende Neubauten e Aphex Twin. O Radiohead é o grande excesso. Todos os álbuns da banda foram comentados - faltou apenas falar de Pablo Honey, mas isso seria demais da conta. Britney Spears e Mariah Carey são bobagens inevitáveis.
Os textos são bem escritos (a edição brasileira pecou na tradução ao errar o sexo de alguns artistas) e envolventes e, com a leitura, mesmo bandas aborrecidas como Dire Straits e Boston se tornam mais ou menos atraentes. A cada folheada, o impulso de sair correndo pro eMule e baixar o livro página por página. Uma obra para atiçar os neófitos e estimular a curiosidade dos colecionadores de rock.
Go Girl Crazy! (1975) - Dictators
Em 1975, dois rapazes norte-americanos, Legs McNeil e John Holmstrom, gastaram a maior parte do seu verão ouvindo o álbum Go Girl Crazy!, dos Dictators. Embebedavam-se todas as noites e acabavam aos gritos cantando cada uma das canções do disco. Não muito tempo depois, estes dois rapazes foram os fundadores da revista Punk, uma das bíblias desse movimento anárquico que eclodiu nos últimos anos da década de setenta. Tal como os New York Dolls, os The Dictators eram precedentes do punk. Anos antes de se ouvir falar dos Ramones, Dead Boys e dos Sex Pistols, Dick Manitoba, a "arma secreta" dos The Dictators, já cantava sobre vomitar comida no McDonalds, beber cerveja e assistir a filmes duvidosos de série B. Go Girl Crazy! foi um dos primeiros discos punk, muito antes de se ouvir falar dessa definição. Mas oferecia muito mais: sons de garage surf e heavy metal – o guitarrista Ross "The Boss" Funichello fundou muito mais tarde os Manowar. Os The Dictators conseguiram inúmeros admiradores, em parte graças ao sentido de humor da banda. O disco incluía todos os ingredientes para ser um êxito, mas os acontecimentos tomaram um rumo infeliz. Pouco tempo depois do lançamento do álbum a Epic despediu-os: má gerência, turnês mal planejadas e brigas entre os membros da banda não ajudaram. O álbum não atraiu grande interesse até 1977, momento em que bandas como os Ramones tinham já polido a sua própria marca punk. Os Dictators foram marginalizados. No entanto, Go Girl Crazy! chegou primeiro.