segunda-feira, 12 de novembro de 2007

fLU

O baixista Flávio Santos, o Flu, é da formação clássica do De Falla, nome que a banda gaúcha escolheu para homenagear o erudito Manuel De Falla (1876-1946). Ou, sabe-se lá, simplesmente por causa da excentricidade melódica do nome do compositor espanhol.
Entre as décadas de 80, 90 e 00, o De Falla manufaturou hits em série - "Não Me Mande Flores", "Repelente", "It´s Fuckin Borin to Death", "Screw You, Susie Doll", "Popozuda Rock’n’Roll". Músicas que nunca desfilaram entre as mais pedidas, mas financiaram o lugar da banda na história do rock brasileiro. Desafiadoras e potentes, as releituras infernais que o De Falla fez pros balanços "Sossego" e "Como Vovó Já Dizia", anteciparam em uns bons anos a colisão explosiva entre hard rock, funk e mpb.
Quando o De Falla se desintegrou, Flu dedicou-se à novidade dos softwares de gravação. Experiência que, no De Falla, foi testada com o piloto Kingzobullshit Backinfulleffect, de 92, ao flertar rock com eletrônica. No seu primeiro álbum solo, E a Alegria Continua, de 1999, Flu combinou bossa nova, rock experimental, psicodelismo e lounge music com o slogan "uma idéia na cabeça e um computador na mesa".
Em 2003, lançou na praça No Flu do Mundo, disco editado pelo selo Instituto/YB com distribuição da Trama. "O rock foi minha escola. Só aprendi a gostar de mpb depois de velho, quando comecei a ouvir música instrumental dos anos 60. Coisas tipo Miltinho, Oscar Castro Neves, Soul Bossa Trio e Tamba Trio", conta o baixista que, atualmente, mora e trabalha no Rio de Janeiro.
Como sócio e produtor da Deff Produtora de Áudio, Flu remixou faixas de Otto, Bidê ou Balde e Nervoso e fez a direção musical do filme Tolerância. Um novo disco, ainda sem selo, deve ser lançado em março do ano que vem. A participação do velho parceiro Edu K não está descartada: "Acho difícil - não impossível. Musicalmente a gente anda meio distante. Talvez role algum encontro maluco. Quem sabe...".
[[DESORIENTAÇÃO]] Você disse que tá fechando parcerias pra lançar um novo disco ainda esse ano. Algum paralelo com os anteriores?
Eu vim pro Rio de Janeiro em 2004 com o objetivo de fazer um trabalho novo. Já estamos 2007... Estamos numa nova era de produção. Tem que se dedicar totalmente ao trabalho ou ir fechando algumas idéias com o tempo. Optei pela segunda opção, pois sempre é preciso correr atrás dos pilas. Tenho feito contato com muitas pessoas pra firmar parcerias de composição e produção. Duas delas já estão prontas, outras duas encaminhadas e várias estão por começar. Já fechei com Rafael Crespo (ex-Planet Hemp) e com os Ritmistas (Dany Roland, Stephan San Juan e Domenico Lancelotti). Estou produzindo com o Gordo Miranda e com o João Brasil. Já fiz contatos com Dado Villa Lobos, o estúdio Toca do Bandido (que era do Tom Capone), Marcelo Fruet, BNegão, a banda Do Amor (Rio de Janeiro) e Junior Tolstoi (guitarrista do Lenine).Estou sempre à procura de um som. Me descobrir, descobrir influências e achar caminhos. Nesse processo, as coisas ficam com uma cara. Mesmo que seja a minha.
[[DESORIENTAÇÃO]] Porque a idéia de gravar cada música num estúdio diferente?
Principalmente pra deixar registrado esses encontros e pra mostrar o som e o estilo de produção de cada parceiro. Claro que sempre vai ter um pouco do que penso sobre produção. Tenho deixado rolar. Ainda não consigo ter idéia de como vai ficar o resultado final, mas com certeza terá uma interessante característica de junções e pensamentos. Pelo menos é isso que procuro.
[[DESORIENTAÇÃO]] Como anda Porto Alegre pra música? O mercado está melhor no Rio?
Com a invenção da banda larga, muita coisa mudou. A troca de arquivos de músicas na internet é intenso. Muita gente descobrindo coisas novas. Isso faz com que o dito mercado musical tenha uma drástica mudança. Não se fala mais em preços abusivos de cds, pois não vendem mais. A pirataria também já está em queda. Sou muito a favor da democratização da cultura. Que o povo tenha acesso fácil ao novo. Só assim é que algo realmente pode mudar na cultura contemporânea. Porto Alegre sempe foi do rock. Tem rádios e uma forte ligação com o rock. Isso é legal até o ponto de se tornar preconceito. Lá, me senti muito "estranho no ninho" com o som que faço. Minha banda acabou virando de rock. Não que não gostasse, mas parece que tava sendo induzido a isso. Mesmo assim, não consegui fazer parte das turminhas alternativas. E nem de música eletrônica. Mesmo incoscientemente, o pessoal da música é bem careta na maneira de olhar pro seu trabalho. Eles se dedicam mais as influêcias e idolatrias do que exatamente procurar por arte. Aqui no Rio, como samba e chorinho são muito fortes, a mistura de estilos é natural. Se vê muitas bandas misturando muita coisa e não se fala muito em estilo. Não existem os gravatinhas, os jaquetinhas e nem a turma mod. Têm muitas pessoas fazendo música. Se vai ficar bom ou ruim só o tempo mostrará.
[[DESORIENTAÇÃO]] E a versão de "Não me Mande Flores" que você regravou, o que tem de novidade?
Inclui uma versão da música no repertório dos shows com Os Dubem, que era minha banda em Porto Alegre. Eu senti que a canção tinha muito a ver com o que estava fazendo, manipulando rock com outros elementos. Daí rolou o primeiro arranjo. A versão que gravei com o Rafael Crespo ainda tem resquícios desse arranjo. Tem a pegada rock, mas a maluqueira ficou mais forte. Tem intervenções de eletrônicas e guitarreiras doidas. Acho que ficou bem diferente das versões do De Falla e do Urubu Rei.
[[DESORIENTAÇÃO]] O novo disco vai mesmo se chamar Di-Versão?
Di-Versão foi o nome que pensei caso o disco fosse todo de versões de músicas que gosto. Mas vai ser variado. Ainda não pensei no nome. O conceito vai ser da destruição total de preconceitos. Quero mostrar que o Século 21 tem que se render ao bom senso. Nada é bom ou ruim. Ambos tem seu valor!
[[DESORIENTAÇÃO]] Saudades dos tempos do De Falla?
Gosto muito de história. Adoro meus companheiros de banda. De todas que já tive e de todas que terei. Acho sempre importante o aprendizado que as pessoas trazem pra nossas vidas. Mas não sou saudosista. Já fizemos uma volta em 2005. Foi divertido. Estamos conversando pra, talvez, dar uma nova ativada. A gente gosta do que fez e sempre é bom tocar com os amigos. Espero que role muitas reuniões – até porque, a gente nunca falou que a banda acabou. Volta o e meia alguém se adona do nome e lança alguma coisa...
[[DESORIENTAÇÃO]] Alguma parceria com o Edu K?
O Edu K é um parceiro musical e amigo muito importante. Aprendi muita coisa com ele. Mesmo sem ele saber disso. O cara sempre foi um criador e destruidor – quase ao mesmo tempo. Estávamos sempre nos recriando no palco e nos discos. Ele era o cabeça. Claro que, depois de um tempo, ele tomou conta geral de tudo. Daí ficou meio chato. Mesmo assim, achei importante fazer parte de todos os momentos dessa convivência. Muito do que sou hoje veio dessa época. Vem de muitos fatores, mas Edu K é um fator importantíssimo! Acho uma parceria meio difícil, mas não impossível. Musicalmente a gente está meio distante. Talvez em algum encontro maluco. Quem sabe...