quarta-feira, 5 de março de 2008

uMA tARDE nA fRUTEIRA*

POR CRISTIANO BASTOS
A cédula de identidade não mente: o cara se chama Flavio Basso. Com esse nome de ascendência italiana, ele foi frontman dos Cascavelletes, uma das bandas que inventou o rock no Rio Grande do Sul e cuja (má) fama está registrada em artefatos como "Menstruada", "O Dotadão" (gravada pelos Ratos de Porão) e "Minissaia sem Calcinha".
Nos vetustos 1989, Basso protagonizou um dos grandes momentos de picardia do rock brasileiro, quando o semi-hit "Nega-Bom-Bom" (do refrão bubblegum "Bom-bom-bom faz aquela nega do outro lado daquela rua/Baby/Punhetinha de verão") entrou na trilha sonora da novela Top Model.
Flavio Basso, então, saiu de cena. Voltou realinhado, anos mais tarde, folk e dylanesco, como Woody Apple - mas também foi fogo de palha. Transformou-se em Júpiter Maçã, alcunha com a qual lançou o clássico A Sétima Efervescência, com devidos créditos a Timothy Leary, Albert Hofman e aos laboratórios Sandoz. Mas não durou.
Num ataque semântico-artístico, renomeou-se outra vez como Jupiter Apple e adotou o inglês para embarcar de vez no desbunde do álbum Plastic Soda (1999). Em Hisscivilization (2003), a criatura seguinte, deu um passo a frente ao testar sonoridades que - é preciso perseverança, às vezes - não se decidem entre o indigesto e o incompreendido.
Saiu primeiro na Espanha, em julho, pelo selo madrilenho Elefant. Pouco depois, será lançado no Brasil pela gravadora Monstro Discos. Enquanto isso não acontece, Júpiter liberou um aperitivo para aplacar a curiosidade dos fãs: Bitter, um álbum com canções assinadas por ele e Bibmo (sua atual consorte e companheira de banda, na foto acima).
Bitter é gravado em inglês, no melhor estilo take one - rápido e cru. Outra novidade é a reedição de A Sétima Efervescência, no segundo semestre de 2007, acrescido de quatro faixas bônus dos tempos dos Pereiras Azuis, banda que o acompanhou no início da sua imersão psicodélica.
Se você tem alguma idéia a respeito do universo e dos códigos jupiterianos, já sabe: não espere dele respostas convencionais para perguntas "mais ou menos convencionais". Ou você acha que é todo o mundo que fica um mês sem tomar banho, que se diz um "encantador de um rio curvilíneo" e que, um belo dia, acorda e pensa que é o John Lennon em pessoa?
*Entrevista originalmente publicada no site da BIZZ. Reproduzida aqui por acasião do lançamento do disco Uma Tarde Na Fruteira.