quarta-feira, 2 de julho de 2008

jOHN lENNON: "eU nÃO qUERIA sER mORTO"

Ali – Quando você começou a romper com o papel que lhe impuseram como Beatle?

Lennon – Mesmo nos melhores dias dos Beatles eu tentei ser contra, George também. Fomos algumas vezes aos Estados Unidos e Epstein sempre tentou levar a gente no papo para não falar nada sobre o Vietnã. Aí chegou uma hora que George e eu dissemos: "Olhe, quando perguntarem de novo, vamos dizer que não gostamos dessa guerra e que achamos que vocês deviam sair de lá agora mesmo". Foi o que fizemos.


Ali – De certa forma, você já pensava em política quando parecia combater a revolução?

Lennon – Claro, "Revolution". Há duas versões da música, mas a esquerda underground só escolheu a que diz "count me out" ["não conte comigo"]. A versão original, que termina o LP, também dizia "count me in" ["contecomigo"]; pus as duas porque não tinha certeza. Havia uma terceira versão que era só abstrata, música concreta, com seqüências e coisas assim, gente gritando. Achei que estava pintando uma imagem de revolução com os sons, mas cometi um erro, sabe. O erro foi que isso era anti-revolução. Na versão que saiu no compacto, eu dizia: "Quando falarem de destruição, não contem comigo". Eu não queria ser morto.

Ali – Mas aí seu sucesso foi além de qualquer sonho.

Lennon – Jesus, foi uma opressão total. Quer dizer, passamos por humilhação em cima de humilhação com a classe média, o showbiz, os prefeitos e tudo isso. Eram tão condescendentes e estúpidos, todos querendo nos usar. Para mim foi uma humilhação especial, porque nunca conseguia ficar de boca fechada e sempre tinha de estar bêbado ou ligadão para agüentar a pressão. Foi mesmo um inferno...