quinta-feira, 2 de outubro de 2008

a lETRA dA lEY

A Letra da Ley (Editora Annablume) é o quarto volume da série Mattosiana de sonetos temáticos, recém-lançado pelo poeta paulistano Glauco Mattoso.

Em parte do livro, Mattoso faz uma releitura da contracultura musical, verbetando os principais intérpretes e compositores do gênero mais anárquico e, ao mesmo tempo, mais comercial da história das artes: o rock.

Glauco Mattoso é um dos mais radicais representantes da ficção erótica e da poesia fescenina em língua portuguesa, descendente direto de Gregório, Bocage e, em prosa, de Sade e Masoch.

Na década de 1980, celebrizou-se entre a "marginália" literária como autor do fanzine anarco-poético Jornal Dobrabil e do romance fetichista Manual do podólatra amador.

O poeta liberou um soneto e falou sobre Letra da Ley.

Explique como aperfeiçou a façanha
de transpor rock à métrica do soneto: conhece algum outro que se aventure por esses mares?

GM - Depois de ter feito 3000 sonetos, não tem assunto que me escape. Esse livro tem, na primeira parte, só sonetos sobre a lei de Murphy e, na segunda, a história do rock contada em sonetos. Por aí você vê que tudo cabe no soneto quando um cego bruxo o manipula. Não conheço outro cego bruxo que seja sonetista em português... (risos)

Os "botinudos" do rock tiveram preferência dessa vez?

GM - Até que não. Papariquei mais os hippies que os punks, mais o rockabilly que o metal. Portanto, tem mais tênis e sapato de camurça...(risos)

Algum pezinho feminino que você teria a curiosidade de conhecer?

GM - Muitos, mas, ao contrário da maioria dos fãs, não penso no pé da Madonna ou da Janis, mas num magrelo como o da Joni Mitchell ou um gorducho como o da Mama Cass... (risos)

Você vai do hippie ao punk. É um interesse amplo sobre a cultura pop...

GM - O rock admite essa pluralidade de estilos, mas defendo cada banda na sua praia, e não aquelas bandas metidas a ecléticas que querem fazer de tudo e mudar a todo momento. Os únicos ecléticos bem-sucedidos foram os Beatles, e nem eles conseguiram imitar a batida do Bo Diddley como os Stones conseguiram.

Ninguém é completo.Portanto, é melhor ser bom numa coisa que mau em todas. Os Toy Dolls são ótimos na coisa deles. Os Byrds foram ótimos enquanto só ficaram na guitarra barrockizada. Cada McCartney no seu galho, e todos têm lugar na selva.

SONETO PARA O GRUPO THE SEEDS [2459]

Os Sids são problemáticos: um pira,
um morre, um mata alguém...Mas, nos sessenta,
são Seeds outro problema, p'ra quem tenta
sacar a fértil época e se admira.

Aquele tal de Sky, que os olhos vira,
tontinho de dopado, nada inventa
de novo. Menos canta que lamenta,
meloso, seu enjôo, e adoça a lira.

Cabelo na cintura, a banda até
abriu show dos Estones, mas não tinha
a ver nada com astros. É ralé...

Excêntrica, esquisita, ela se alinha
à safra em que os Ramones têm um pé,
aquela alucinada patotinha...