quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

"cANTAVA aTÉ sE bATESSEM cOLHER!"

"O Nelson foi dar um show em Londrina, em 1975, e me levou junto pra abrir. Os músicos que nos acompanhariam eram todos municipais. A assessoria do Nelson, antecipadamente, havia enviado o nome e o tom das músicas que cantaríamos. Era um clube chique da cidade.

Nelson ficou numa sala improvisada de camarim, enquanto que eu, na flor da juventude, circulava pelo clube. Chegou a hora de eu cantar e nada dos músicos. Na vez do Nelson, nadinha - o clube lotado esperando. E só o LP na vitrola...

Começou um ameaço de tumulto eu fui até o camarim. Falei: 'Nelson, o caso está sério!'. Entrou o presidente pedindo pra cancelar, mas o Metralha retrucou: 'Nada disso: não posso ficar aqui. Tenho outros compromissos'. E perguntou pra mim: 'Não tem músico nenhum aí?'. Falei: "Só veio o pandeirista...".

Ele foi pro palco, chamou o pandeirista e começou a cantar. O pandeirista acompanhando e o público gritava seu nome - em delírio. Finalmente chegaram os músicos. Então, em alto estilo ele completou o show cantando por mais 30 minutos, apesar dos protestos do Adelino Moreira, seu empresario na época.

Nelson Gonçalves era assim: se alguem 'batesse colher' sem desafinar ele cantava. Não precisava de mais nada elém dele e de sua voz".

*Causo narrado pelo veterano Paulo Rodrigues, pupilo de Gonçalves que, atualmente, canta na casa Bar do Nelson, em São Paulo. A história é muito plausível. Noutra ocasião, em 1977, o Metralha foi se apresentar em Natal (RN) e, chegando ao local (Palácio dos Esportes), informaram-lhe que seus músicos-acompanhantes não compareceriam - razão de um boicote ao prefeito da cidade, não a ele. Até hoje não se sabe ao certo o motivo do boicote. A única certeza é que Nelson Gonçalves resolveu que se apresentaria mesmo assim. E assim cantou. Eis dois irrefutáveis registros de sua hombridade. Históricos. Entre uma música e outra, Nelson conversa com a platéia que tem na mão. Em "Carlos Gardel", anuncia:

"Essa é pra matar saudades do tempo em que o amor era mais amor. Era mais dado, mais ciumento, mais honesto. Do tempo em que o amor era mais macho. 'Você é minha! Porque foi ficar com outro sem-vergonha?' Tapa na cara: 'Pá!'".



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