quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

nG tOMA pÍLULA dE aSTRONAUTA e gRAVA aTÉ 2020

Folha da Tarde - 21/12/1995

Revoltado com o desprezo e a falta de memória que o Brasil reserva a seus ídolos, o cantor e compositor Nelson Gonçalves decidiu: "Quero ser cremado, pra niguém fazer xixi na minha lápide".

Aos 76 anos, ele está de volta para lançar a caixa "O Mito", com três CDs, reunindo 71 sucessos em gravações originais realizadas no período de 1941 a 1990.

Apesar de ser dono de uma das mais gigantescas obras musicais da história do país, Nelson não pára. Diz que tem material preparado para lançar 25 LPs, entre velhas e novas canções - forma de garantir o futuro da família. Seu projeto é lançar um por ano.

Leia a seguir trechos de sua entrevista exclusiva por telefone, do Rio, à FT.

*

FT - Por que essa preocupação em gravar tanto?

Nelson - Tenho dez filhos, oito adotivos, que vão se transformar em dez netos. Quero deixar uma força e uma herança musical. Quero que digam: meu bisavô ainda canta.

FT - Por que ninguém vai fazer xixi na sua lápide?

Nelson - Sempre vão existir as pessoas que te querem bem e as que vão te atacar. Por isso, ninguém vai depreciar a minha memória e fazer xixi na minha lápide não. Quero ser cremado.

FT - Como o senhor define sua voz?

Nelson - Sou baixo cantante, capaz de atingir tons gravíssimos. Deus fez a receita e rasgou quando eu nasci.

FT - Por que certa vez o senhor cantou "Castigo", de Lupicínio Rodrigues, depois de ser nocauteado por Éder Jofre no sétimo assalto?

Nelson - Foi só pra demonstrar força de vontade.

FT - O elogio de Frank Sinatra à sua voz é verdade ou uma lenda?

Nelson - Verdade... quando me apresentei no Radio City Hall, em Nova York. Ele chegou e disse: é impossível cantar como você.

FT - Qual a sua filosofia de vida?

Nelson - Viver e deixar viver.

FT - Qual o segredo para manter a forma aos 76?

Nelson - Dois comprimidos de ginseng por dia e cápsulas de astronauta para a renovação das células. Dá pra ficar firme e forte...

*Nelson Gonçalves interpreta "Castigo, de Lupicínio Rodrigues e "Depois de 2001", promessa que não deu pra cumprir...Mui sábia letra de Adelino Moreira e Nelson Gonçalves.




Só pretendo morrer
Depois de 2001
E se deus do céu quiser
Sem inimigo nenhum

Nessas alturas
ninguém liga pro que eu digo
Sou velhinho boa praça
Todo mundo é meu amigo

O que eu fizer, o que eu disser
Tá tudo bem, mocidade ri de graça
Da graça que o velho tem

É no gogó, gugu
!

Só pretendo morrer
Depois de 2001
E se deus do céu quiser
Sem inimigo nenhum

(coro repete o refrão)

Para quem diz
que nada fiz

de extraordinário
Deixo coisas
muitas coisas

Que atestam
o contrário


Pra quem ficar

no meu lugar:
muito progresso


Pra que possa superar

meu recorde de sucesso

Só pretendo morrer
Depois de 2001
E se deus do céu quiser
Sem inimigo nenhum