sexta-feira, 21 de setembro de 2007

o sÉCULO rEBELDE

Em 2001, finalizei uma grande reportagem sobre o legado das vanguardas históricas na arte do século 20. Por cima: como Dadaísmo, Surrelismo, Cubismo e outros ismos influenciaram (essa é a palavra) manifestações contemporâneas da arte - do CoBrA ao Critical Art Ensemble. E extemporâneas, como o modernismo brasileiro e a Poesia Concreta. A longa análise, que não foi publicada na época por razões comerciais da revista APLAUSO, será capa da edição de dezembro. Com enfoque adaptado aos cinco ou seis anos que se passaram - obviamente. Alguns depoimentos que colhi com fontes respeitáveis:
Décio Pignatari (poeta concreto)

O século 20, na abordagem do poeta paulista Décio Pignatari, foi o "século dos séculos". Na década de 50, ao lado dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos, Pignatari foi responsável pelo lançamento mundial da poesia concreta (vanguarda com bases no Brasil), que decretou a morte do verso como recurso poético. Experimentação, termo-chave para entender a arte produzida nessa época, diz Pignatari, é conseqüência do principal fator operante naquele momento, a industrialização. Revolução que desencadeou todas as demais: "Na arte, foi a era do experimento. Na imagem, a fotografia e o cinema; primeiro, em preto e branco, depois, em cores. Na música, a concreta, de ruídos, serial, dodecafonista. O cubismo, na pintura. Depois de Flaubert, na literatura, apenas novidades: de Joyce a Proust, a reforma no romance. Em poesia, então, nem se fale: Apollinaire, Pound, Eliot", pontua.

Claudio Willer (poeta de filiação surrealista)

Em meio ao estrondoso alarido que foram as vanguardas históricas é improvável uma opinião unânime – favorável ou não – quanto ao legado que deixaram. Herança que, positiva ou negativa, incontestavelmente manifesta-se nas inúmeras encarnações contemporâneas da arte. Na opinião do poeta surrealista Claudio Willer, o "poder subversivo da imaginação", que as vanguardas trouxeram à arte, é uma postura que ainda está valendo. No caso do Surrealismo, diz Willer, tem de ser pensado como um movimento de idéias, voltado à relação entre poesia e vida: "Em meados do século 19, Baudelaire, na sua crítica ao realismo submisso ao mundo, já chamava a imaginação de a rainha das faculdades. Essa postura crítica ainda continua valendo", atesta Willer.

Augusto de Campos (poeta concreto)
Para outro poeta de filiação concreta, Augusto de Campos, a contenda – se as vanguardas vingaram ou malograram no intento de rejuvenescer uma arte já senil e discursiva – está superada. Campos afirma que elas agiram positivamente e, mesmo que ao renegar o discurso, terminaram por ditar outros (como na miríade de manifestos escritos), ainda que libertários quando surgiram: "A sublevação das primeiras vanguardas operou transformações fundantes na linguagem artística, colocando-a em sintonia com o seu tempo", coloca. O concretista ainda reforça: "É claro que elas deram certo, pois não há artista posterior significativo que não tenha sido tocado de algum modo pelas suas propostas. É uma evidência histórica que nem cabe mais discutir", diz Campos.