quarta-feira, 2 de abril de 2008

sUBWAY tRAIN

Com espera de mais de 30 anos, o mundo presencia a volta de uma das grandes lendas do rock: os New York Dolls – ou, pelo menos, o que sobrou deles.
O Brasil poderá vê-los em ação no festival recifense Abril pro Rock, no dia 11, ao lado de mais um monte de atrações.
Da formação original sobrou apenas o vocalista David Johansen e o guitarrista Syl Sylvan. Os outros morreram nas piores circunstâncias possíveis.
Piores até prum astro do rock: o ídolo Johnny Thunders, irrecuperável viciado em heroína (cuja morte comoveu até mesmo Keith Richards) se foi em 1991, quando levou gato por lebre, ou melhor, ácido por herô.
Thunders, provavelmente o maior junkie da história do rock, comprou uma superdose de LSD com traficantes pilantras em New Orleans, onde estava produzindo um disco de jazz (!). Injetou o barato nas detonadas veias, fritou e viajou até morrer.
Segundo o laudo policial, o corpo do guitarrista se contorcera a ponto de ficar na forma de V, tão inimaginável fora a viajem. Pobre Johnny Thunders - pobre mesmo.
A diferença entre ele e Richards, seu ídolo, é que não tinha grana mal pra comprar a próxima dose, quanto mais para pagar um médico pra andar na cola o dia inteiro, caso tivesse uma over.
Arthur Kane Killer, Jerry Nolan e Billy Murcia (o primeiro baterista foi vítima de uma overdose de boletas numa festa de embalos na Inglaterra), todos eles, se degradaram nas drogas ultrapesadas.
Nenhuma banda foi mais delinquente e drogada que os New York Dolls; poucas foram tão arrasadoras quanto.
A essa altura do campeonato, 2008, dificilmente repetirão ao vivo o som & a fúria do primeiro disco, homônimo, e do derradeiro - Too Much Too Soon. Porém, só pela oportunidade de ver dois sobreviventes dos Dolls, nem pense muito: vá! Chance única.
São tantas canções inesquecíveis. Vou recordar algumas, só pra excitar:
Trash
Jet Boy
Chatterbox (de novo)
Sem falar no fantástico documentário All Dolled Up.
Bom assim?
Todo jovem que se interessa por rock e tá pensando em montar uma banda deveria ouvir os Dolls. Mas, se quiserem seguir o estilo de vida deles, a responsabilidade é inteiramente de vocês.
Junto com os Stooges, eles praticamente inventaram o punk. O que são os Pistols, senão uma "corruptela" dos Dolls? Pergunte pro Mclaren que ele vai te dizer – não eu. Muito melhor ouví-los e, de preferência, bem alto pra não perder o sentido. Ou para perder os sentidos mesmo.
SPEED FREAKS - Os NYD eram um bando egresso da cena dos speed freaks, onde tipos deserdados, heroinômanos, michês, artistas sem reconhecimento e criminosos perambulavam ao redor dos pontos de pico de Nova Iorque.
Um desses points era o Hotel Chelsea, célebre moquifo em que Nancy Spungen, a namorada vela preta de Sid Vicious foi achada morta em circunstâncias estranhas, jamais elucidadas pela polícia.
Os New York Dolls faziam parte da turma chamada Amphetamine Set, voraz consumidora de barbitúricos – por isso, speed freaks.
A banda "inovou" no visual ao se trajar como mulheres, evidenciando afetações transexuais e conduta tresloucada, embora os caras pegassem todas as gatinhas que faziam a logística sexual.
Definindo-os além do barulho: os New York Dolls tocavam o rock mais vigoroso do monótono período sobre o qual o rock andava gravitando, com certas excessões.
Guitarras flamejando riffs torpes, vocalista com falsete de negro Black Panther e um baterista que estocava seu instrumento tal qual uma britadeira.
Johnny Thunders, como alguém disse, "toca sua guitarra como quem solta cusparadas". Pegou? Tem que ouvir.
Habitués da loja de Malcon McLaren em Nova York, a banda se formou, inicialmemente, usando roupas da estilista Vivienne Westwood.
Nos EUA, os Dolls apareceram como salvação. Na época, Stooges - que voltou só em 1973 com Raw Power - e Velvet Underground não apitavam mais no underground novaiorquino. O MC5, então, nem mais existia.
Os Dolls foram a grande banda - que nunca fez o sucesso merecido.
Seu último disco é One Day It Will Please Us To Remember Even This, de 2006. Tem a forcinha de Morrissey, presidente do fã-clube na Inglaterra milhões de anos atrás.
Não ouvi – nem quero, pra não estragar com a eterna magia.