[[DESORIENTAÇÃO]] - Em Uma Tarde na Fruteira (pelo que já podemos ouvir nas nossas cópias falsificadas) você assume uma cultura tropicalista.
Já em Bitter, o tráfego de influências é o oposto: new wave, pós-punk, Dylan, Stones fase Emotional Rescue, Jefferson Airplaine, Buzzcocks, The Jam. Onde estava com a cabeça quando redirecionou sua musicalidade para o rock de língua inglesa?
Júpiter - Andava meio zonzo... Mas, na realidade, sempre fui o mesmo. Minhas influências já fazem parte de mim. Portanto, não importa por quais caminhos eu ande - o fato é: a canção não está diretamente ligada à influência em si e, sim, a uma espécie de complemento da existência. Algumas vezes soa melhor e, em outras, é melhor ainda! It's getting better all the time!
[[DESORIENTAÇÃO]] Por que lançar Uma Tarde na Fruteira primeiro na Espanha?
Júpiter - Porque, na real, foi o único selo que se interessou pelo disco antes de qualquer outro.
[[DESORIENTAÇÃO]] Em três músicas do disco ("Síndrome de Pânico", "Beatle George" e "Casa de Mamãe") você evoca eflúvios alcoólicos. O componente etílico interfere no seu processo de composição?
Júpiter - Sou obcecado por chá, todavia, nunca tive coragem de assumir. A propósito, o vinho espanhol é bem interessante.
[[DESORIENTAÇÃO]] Como foi o seu encontro com Sean Lennon?
Júpiter - Foi como encontrar meu cúmplice!
[[DESORIENTAÇÃO]] Quando lançou A Sétima Efervescência, em 1996, tinha noção do culto que o álbum teria com o passar dos anos?
Júpiter - Na época, não tinha noção do que iria acontecer. Era um período em que eu era um solteirão, dormia em praças e tomava o café da manhã no Bar João [lendário moquifo da Avenida Oswaldo Aranha, em Porto Alegre, tragado pelo empreendedorismo imobiliário]. Na real, eu não sabia o quanto estava inspirado. Foi uma época lisérgica, sim!
Uma década depois eu entendo a importância deste álbum, do quanto ele mexeu com a vida de algumas pessoas. Na nova capa, elaborada para a sua reedição, particularmente, me pareço bem melhor - pareço Syd Barrett... [risos] Ele foi remasterizado, mas mantém as características originais. Foi um disco que me surpreendeu - e me assustou - quando se tornou um clássico com vida própria.
[[DESORIENTAÇÃO]] Recentemente, A Sétima... foi eleito o melhor disco do rock gaúcho numa votação com 50 especialistas do Rio Grande do Sul. Isso te toca?
Júpiter - A lisonja me pegou de surpresa quando eu tinha 15 anos, portanto, já sei lidar com este tipo de sensação há bastante tempo. Quando me elogiam em excesso, posso reagir como Liam Gallanger ou Bob Dylan, mas não me importo. Pra você ver, hoje acordei pensando que era John Lennon...
[[DESORIENTAÇÃO]] Em "Golden Light", de Bitter, a Bibmo evoca alguns vocais que lembram Grace Slick nos tempos do Jefferson Airplaine. Esses vocais, que as vezes parecem os duetos que Slick fazia com Paul Kantener no Airplaine, transportam diretamente praquele climão São Francisco, White Rabbit, LSD...
Júpiter - A Bibmo me encontrou morando num quarto de hotel no centro de Porto Alegre. Ela me salvou daquele quarto de hotel. Foi lá que bati meu recorde: um mês sem tomar banho. Grace Slick tinha a mesma fama... O LSD e a química que ele ocasionou no mundo mudaram contextos e, de certa forma, mudaram o mundo também.
Hoje, vivendo com a Bib, eu tomo banhos. Não sei se vou morar em Nova Iorque ou em qualquer outro lugar do mundo, mas a expectativa é que os próximos álbuns me levem a traduzir e a concretizar mais e mais - tanto no plano da existência como no da experiência.
[[DESORIENTAÇÃO]] Dizem por aí que você anda chafurdando na literatura beatnik. Na busca do quê, escrita automática, jazz, acampamentos e fogueiras, vagões de trem, comida enlatada, vagabundos iluminados?
Júpiter - Respondo com um aforismo beat de minha lavra: "A partir do momento em que você simplesmente se rende a sua existência e procura um novo lugar pra viver um segundo de cada vez, o resto é conseqüência".
[[DESORIENTAÇÃO]] Até que ponto a Madonna - que você sempre cita - é mais uma influência?
Júpiter - Na inveja. Tenho inveja de duas pessoas: Madonna e Bob Dylan. Não tenho inveja do David Bowie... Nem do Lou Reed.
[[DESORIENTAÇÃO]] E suas incursões cinematográficas? Depois da realização de Apartament Jazz e Pescando Júpiter Segundo Huxley, qual seu novo projeto de filme?
Júpiter - Depois que disseram que eu precisava de uma plástica para não parecer mais a Giulietta Masina [atriz de cinema italiana e esposa do cineasta Frederico Fellini], resolvi dar um tempo pra câmera [risos].
[[DESORIENTAÇÃO]] O clipe de Eu Quis Comer Você dos Cascavelletes no Programa da Angélica virou hit no YouTube. Dá impressão que ninguém fazia a mínima idéia do conteúdo altamente sacana da letra. Como você explica isso, assistindo o vídeo quase 20 anos depois?
Júpiter - O Lobo Mau tem a resposta. Os Beatles também!
[[DESORIENTAÇÃO]] E hoje, você renega aquele Flavio Basso com pinta de Mick Jagger ou espreme no seu caldo musical?
Júpiter - Já o engoli!
[[DESORIENTAÇÃO]] Os Cascavelletes têm uma porção de hits. Tem gente que conhece as músicas da banda nos recantos mais absurdos do Brasil. Ainda há lugar para reminiscências daquela fase?
Júpiter - Sou uma espécie de gene embrionário nos Cascavelletes. Logo, tudo que tenho feito desde então é seqüência daquilo que pode ser considerado - ou não - um resultado sonoro "similar" ao dos Cascavelletes.
[[DESORIENTAÇÃO]] Você se orgulha dessa fase? Como definiria os Cascavelletes?
Júpiter - Caras muito bacanas agora e, ontem, um cantor super babaca - eu! Mas um ótimo dançarino, é verdade, como pode ser observado no vídeo de "Eu Quis Comer Você" [risos].
[[DESORIENTAÇÃO]] Algum déjà vu - ou flash back - na volta temporona dos Cascavelletes aos palcos?
Júpiter - Sim, eu era tão babaca... Uma vez o Nei Van Sória me chamou num canto e disse: "Eu sou um cara muito inteligente, mas você é um gênio. E você sabe que um gênio não sabe comer filé a parmegiana sem sujar as calças brancas, né?".
[[DESORIENTAÇÃO]] O que viu de legal na temporada que passou em Londres?
Júpiter -Me tornei a husband da Bibmo. Acordava as dez da manhã pra comprar manteiga. No caminho, eu bebia um refrigerante. Eu era um poeta das docas, um encantador de um rio curvilíneo, the best and the worst - saca?
[[DESORIENTAÇÃO]] Como foi tocar por lá? Acredita que o público o tenha compreendido?
Júpiter - Modéstia realmente à parte, se facilitar, ficaremos muito famosos...
[[DESORIENTAÇÃO]] O Leonardo Bonfim [diretor do clipe de Marchinha Psicótica de Dr. Soup] disse que, no vídeo, sua idéia era interpretar um personagem que fosse amálgama entre Dylan, Caetano, Chico Buarque, o Alex do Laranja Mecânica, Willy Wonka, David Beckham, Madonna, Lawrence da Arábia, Andy Warhol e, por fim, Keith Richards vestido de corsário. Acha que toda essa barafunda explica quem é Júpiter Maçã?
Júpiter - Eu não sei quem é Júpiter Maçã... Quem é Júpiter Maçã?
[[DESORIENTAÇÃO]] Só para descargo de consciência: psicanálise tem qualquer coisa a ver com as suas idéias?
Júpiter - Acabei de me mudar pra um lugar - uma casa, finalmente - que tem cama de casal, de solteiro e um divã. Quer mais?
[[DESORIENTAÇÃO]] Qual o endereço, afinal de contas, desse inferninho onírico que você fala em "Lugar do Caralho"?
Júpiter - Existe em todos os lugares! Come and enjoy the show!