A coordenada da invasão é Sul e avante pelo Nordeste. A conquista parte do Rio Grande do Sul e tem escala no Planalto Central do Brasil – mas o destino é a Capitania de Pernambuco: o alvo é o rock. As armas são guitarras, baixos e baterias.
No Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília, embarco para Recife.
Destacado por APLAUSO, vou ao front investigar porque os artistas gaúchos são maioria numérica no renomado festival Abril Pro Rock – cuja criação, na década de 90, eclodiu com a explosão do Manguebit e revelou Chico Science & Nação Zumbi, Eddie e Mundo Livre S/A.
Na edição de 2008, a curadoria do festival quis voltar às "origens rock" e alistou as duplas geracionais – Wander Wildner/Júpiter Maçã e Pata de Elefante/Superguidis – para engrossar as camadas de guitarras na terra dos ilustres Joaquim Nabuco, Paulo Freire e Reginaldo Rossi.
Na cidade, a chegada da gauderiada foi saudada, óbvio, como "Invasão Gaúcha" – alusão à britsh invasion, da qual, no Brasil, desde os anos 60 e até hoje, o Rio Grande do Sul é um dos maiores aliados.
Por coincidência, tomo a conexão aérea que leva parte da combo roqueiro e outra, com maior quórum no interior da aeronave, políticos sulistas e pernambucanos.
Numa sexta feira à tarde, a parada na Capital Federal, como praxe, faz o transporte (quase especial) dos políticos recifenses de regresso aos seus lares; os gaúchos desembarcavam para um fim de semana no perímetro do poder.
Marco Maciel foi sentado ao meu lado – por precaução, preferi não arriscar um bate-papo.
O político dizia alguma coisa ao vizinho de poltrona. Juro que me esforcei para não ouvir.
Acomodado à janela, Pedro Porto, que era da Ultramen, seguia quieto para o destino rock. Além de artistas nacionais do "mainstream independente", como Céu, Autoramas e Lobão, a viagem serviu para assistir três atrações de fora: os veteranos dos New York Dolls e Bad Brains, dos Estados Unidos, e os jovens neozelandeses dos The Datsuns.
No entra e sai de passageiros, ainda na Capital Federal, uma figura cuja compleição física, por pouco, não atinge o teto do avião se movimenta pelos corredores.
Cabelos compridos ajeitados numa franja esquisitona, paletó mod, estava vestido para o frio londrino-portoalegrense – o jeitão é de roqueiro. O sujeito vai até a poltrona do baixista da Ultramen, se inclina um pouco e, alto, escancara: "Enton tá, vômo tocá nesse tal de Abril pro Rock!".
É Lukas Hanke, o "Cabelo", baixista que acompanha Flavio Basso, o Júpiter Maçã. O sotaque é por causa da sua outra banda, a Identidade, que saiu do interior do Estado para bater-bola no campinho roqueiro de Porto Alegre.
Basso também está no avião e exibe seu novo look – agora uma espécie de Twiggy dark (de preto da cabeça ao pés), cabelos desengrenhados e oxigenados e botas de couro bico-fino.
*Aventura completa no número 92 de APLAUSO. Em breve nas melhores bancas perto da sua casa - sim, se você mora no Rio Grande do Sul. Ou assine a revista, que vale a pena!