Precisou o The Doors (ou melhor, o Riders on the Storm) tocar no Nilson Nelson para tirar o roqueiro brasiliense de casa.
O grupo californiano levou quase 5 mil pessoas ao ginásio na sexta-feira, 11 de abril.
O projeto liderado pelo tecladista Ray Manzarek tinha tudo para não ser um simples caça-níquel, mas quem foi ao show pôde comprovar que a idéia não é essa.
Performance, interação com a platéia, timbre dos instrumentos, tudo soava estranho, premeditado e previsível.
A impressão era de uma banda cover no palco, e não de um grupo com dois dos responsáveis pelo som inconfundível dos Doors (Manzarek e o guitarrista Robbie Krieger).
Parecido com um show do Doors mesmo, só a presença da polícia (andando em grupinhos de cinco, seis policiais), o que inibiu quem quisesse abrir as portas da percepção com menos discrição.
Brett Scallions, escalado para o cargo que um dia foi de Jim Morrison, não se sustenta por seus próprios méritos.
Não canta mal, mas também não se impõe no repertório da banda (como fez Ian Astbury, do The Cult, integrante do Doors of the 21st Century, que passou pelo Brasil faz uns anos), limitando-se a macaquear o "rei lagarto".
O solo de baixo em Light my fire, os comentários em "portunhol" de Scallions ("Catchaça! Catchaça!"), Manzarek tocando seu instrumento com o pé, a simpatia exagerada dos músicos… tudo destoava do que poderia ter sido uma apresentação honesta de uma banda veterana.
Muito diferente do evento realizado no último sábado no Arena Futebol Clube, quando subiram ao palco os jamaicanos do Skatalites. Pioneiros do ska (gênero musical que originou o reggae), fizeram um show alegre, dançante e caloroso para aproximadamente 2 mil pessoas.
Sem pirotecnia, tocaram clássico atrás de clássico com muita técnica e carisma – sem forçar a barra. Prova de que idade (quase todos na banda são sexagenários) não é justificativa para um show ruim.
*Texto assinado pelo jornalista Pedro Brandt, da equipe do Correio Braziliense.