terça-feira, 13 de maio de 2008

gOIÂNIA rOCK ciTY*

POR CRISTIANO BASTOS
A nona edição do Bananada – como de praxe – foi de alta octanagem roqueira. Mas, curioso: num festival em que parte das atrações são bandas novas, quem roubou a cena foi um remanescente da velha guarda de Belém do Pará, o carismático Mestre Laurentino.
Aos 82 anos, Laurentino tem fôlego comparável a Jerry Lee Lewis quando moçoilo. Ele dançou e tocou sua harmônica, contente como um fauno, acompanhado pela banda Coletivo Rádio Cipó, e matou de vergonha a moleirice showgazer dos indies criados em apartamento.
O sinhozinho fisgou o público com seu traquejo malandro de jazz, rock, bolero, valsa e a mazurca, o louco ritmo do Pará. Na primeira noite, abafando com um dos seus rocks, "Lourinha Americana" (gravado pelo Mundo Livre), o mestre conduziu a incauta platéia à catarse.
Depois, distribuiu autógrafos às moças, recebeu congratulações dos rapazes e, não satisfeito, subiu ao palco da Born a Lion e lançou candidatura ao posto de "Bez" dos portugueses. "O negócio é não cair em bandalheira!", segredou o velhinho ao público.
Este, a propósito, é capítulo à parte na história do festival. Sua presença maciça, a cada edição, perpetua uma das missões do Bananada: ser uma alternativa barulhenta ao Festival Agropecuário, que todo ano entope Goiânia de agrogirls, cowboys e atrações da dimensão paralela da música sertaneja.
Embora a maioria do público seja de apóstolos fervorosos do hard rock (o Grand Funk Railroad já foi canonizado por aqui), nenhum show deixa de ser prestigiado por eles. Com ardor, sobem no palco, cantam com os artistas, dão malfadados stage divings e se quebram no chão.
A banda Mechanics exortou a turba para sua festa de microfonias, e a vibração noise foi às alturas. A Graforréia Xilarmônica, pela primeira vez em solo goiano, encarou uma massa sedenta que tinha o repertório da banda na ponta da língua.
A Pública, de Porto Alegre, prendeu a atenção com um show barulhento, pop e de inclinações ao britpop. No Bananada, Fabrício Nobre, o grande pastor desse culto, é reverenciado como um deus pagão. A MQN, sua banda, nem precisou medir esforços para ter o público na mão.
Dedo em riste e banhado a ouro com a cerveja derramada sobre ele, Nobre prova que é licenciado na arte de surrar o próprio rebanho: entra em luta corporal com os maníacos da primeira fila, distribui cusparadas e manda a platéia se foder.
Só assim, afinal, todos podem dormir felizes e sonhar com mais rock'n'rol ultrajante no ano que vem.
*Publicado na última edição da Bizz, julho de 2007. Aqui Bananada 2008.

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