Ricardo Alexandre (ex-editor-chefe da BIZZ): Não acho que o rock gaúcho encontre resistência realmente. Veja Engenheiros, Nenhum de Nós, Cachorro Grande, Júpiter Maçã, Wander... Acho que os artistas gaúchos não se empenham o suficiente para avançar sobre o mercado nacional.
E nem deveriam: o mercado gaúcho já é grande o suficiente e muito mais profissional e interessante. Falei isso pro Julio Porto, da Ultramen, num show deles no Bar Opinião: "Tá vendo essa gatinha que veio te pedir autógrafo? Se a gente estivesse em São Paulo, ela estaria num show do Daniel".
E é verdade: por que a Ultramen deixaria de tocar num Opinião lotado para tocar para num Morrison Rock Bar vazio? Porque deixaria de prestigiar a Rádio Atlântida para ter de pagar jabá para NÃO tocar na Mix FM? Sem chance.
Gustavo Mini Bittencourt (Walverdes): Concordo plenamente com o Ricardo Alexandre, sem tirar nem pôr. É o que eu sempre pensei. Acredito que o "mainstream local" (uma rede de rádios de comunicação forte como a RBS e um circuito de shows consistente no interior) acaba segurando as bandas por aqui pois elas conseguem se estabelecer profissionalmente sem precisar ir pra São Paulo. Acredito que grande parte do sucesso do mangue beat se deu porque os caras precisavam vir pra cá pra cena não minguar em Recife.
Fora isso, sempre existem fatores mais macro, como o contexto pop da época. Por exemplo, além do talento e da competência da Cachorro Grande, eles ainda pegaram uma boa conjunção de fatores no qual o tipo de som deles "caiu bem" para o momento da música atual.
Parece que havia uma lacuna que eles preencheram. O mesmo aconteceu com o mangue beat: olhando pra trás você vê que havia uma latência de acontecer o surgimento de uma linguagem que trouxesse um pouco de cultura brasileira tradicional com cultura pop contemporânea.
Calhou que o pessoal de Recife cozinhou esse caldo na hora e na temperatura certa. O Júpiter fez isso com o rock dos anos 60 e, embora ele não tenha "estourado" (eita palavrinha....), o Sétima Efervescência foi um dos discos mais influentes na volta dessa estética sessentista no cenário musical brasileiro.
Se o Cachorro Grande está hoje onde está, em parte é porque o Júpiter abriu essa picada esteticamente. Esses movimentos são muito difíceis de serem previstos com exatidão, mas são freqüentes como fator de sucesso no mundo pop. Não adianta nada ser a banda certa na hora e local errados.
Flu (ex-DeFalla, artista solo): Tudo é uma questão de objetivos de vida. Se pensar que fazer música é ganhar dinheiro e umas fãs, pode se contentar com um mercado ou gestão da situação vigentes. Não existe uma só verdade. Pessoas vão atrás de sonhos, de aventuras, de confusão. A arte é isso. A busca de algo que não se sabe o quê. O mercado é sempre dirigido a te satisfazer.
Quanto a isso, o gaúcho é bem servido: tem uma ótima qualidade de vida, se comparado aos outros Estados. Mas e quanto a deixar uma marca forte na história? Não seria essa a maneira de um artista se satisfazer? Claro que não existe lugar marcado pra deixar essa marca. Mas só ganhar dinheiro e comer gatinhas é meio vazio. O lance é isso e muito mais. Sempre pensar que não acabou a nossa missão.
Não se sentar numa cadeira e dizer: "agora alcancei meu objetivo". Existem muitos objetivos. Na arte tudo está sempre evoluindo, mudando. Temos sempre que inventar e nos aventurar. Por isso não podemos dizer que uma situação é certa ou errada. Cada um escolhe seu caminho.