Romance visionário de Jack London escrito em 1907. Admirado por nomes como Anatole France e Leon Trotski, O Tacão de Ferro descreve uma insurreição a qual teria ocorrido entre 1914 e 1918, nos Estados Unidos, e que previa um confronto colossal entre capitalistas e a classe trabalhadora.
Nas edições lançadas anteriormente em português, o prólogo era normalmente omitido, o que tornava incompreensível a profusão de notas. Ciente da lacuna, a editora Boitempo não apenas recuperou o formato original como acrescentou um prefácio de Anatole France, escrito em 1923, e um posfácio assinado por Leon Trotski, em 1937.
O livro ganhou importância com o tempo, quando nomes consagrados reconheceram seu valor. O autor de 1984, George Orwell, contava que a leitura, nos anos 1940, de O Tacão de Ferro deixou-o profundamente impressionado.
O Povo do Abismo: Fome e Miséria no Coração do Império Britânico (Perseu Abramo)
Jack London também foi jornalista e destacado militante socialista nos Estados Unidos no começo do século 20, além de defensor ardoroso de mudanças na sociedade. Em 1902 foi à Londres, então principal metrópole do capitalismo mundial, para ver como viviam as pessoas degredadas pela máquina industrial do Império Britânico. Desempregados, doentes, idosos e pobres em geral. Foi viver entre eles no East End londrino, região da cidade onde a pobreza se concentrava. É esse relato sincero, contundente e revelador que deu origem a O Povo do Abismo, retrato sem retoques da injustiça social e da miséria no centro do império mais poderoso da época.
Lobo do Mar (Martin Claret)
Em 1904, quando lançou O Lobo do Mar, um de seus maiores sucessos, London consagrou um estilo em que explorava sua desolada infância e adolescência e as experiências que viveu tanto no mar como em terra firme. Em 1894, jurou encontrar meios para sair da pobreza, da servidão do trabalho braçal e da degradação social.
A Praga Escarlate (Conrad)
A Praga Escarlate foi escrito no conturbado período da vida de London que precedeu seu suicídio, cometido em 1916. Demonstra toda a aflição do escritor diante do destino da humanidade mergulhada na Primeira Guerra Mundial. London aprofunda uma tendência primitivista em sua literatura e cria um espetacular romance sobre o fim dos tempos: a história de uma praga súbita que dizima os seres humanos em minutos faz do auge da civilização industrial o terreno para um princípio de devastação. Partindo de uma reflexão sobre as condições de vida na sociedade moderna, passando pela crítica sobre a cidade urbana, o livro é contado segundo a vivência de um sobrevivente da praga escarlate. Até o Brasil está na história.
Antes de Adão (Lp&M)
Neste impressionante ensaio, Antes de Adão, o escritor fala do que chama de "personalidade dissociada": o "Dentuço", ser pré-histórico pertencente ao povo das cavernas, que teria vivido há milhões de anos e transmitido intactas suas impressões e vivências ao cérebro de Jack. A descrição exata e a emoção permanente fazem deste livro um fantástico relato de aventuras.
Memórias Alcoólicas de Jon Barleycorn (Paulicéia)
Jack London foi uma personalidade fantástica — corporificou a aventura, o destemor, a obstinação, a resistência física, o orgulho & inteligência. Mas Memórias Alcoólicas (não originalmente publicado como um apanhado de memórias e, sim, no formato de periódico, em fascículos) é o relato de todas as etapas que conduziram um ser não-alcoólico, London, a submeter-se a John Barleycorn, a personificação etílica de seu alcoolismo. A obra narra suas experiências com o álcool desde criança.
É seu livro mais triste, por causa da tremenda honestidade com a qual foi escrito, sem, no entanto, trazer um pingo sequer de auto-comiseração. Durante muito tempo, London confessa: "Beber não foi um ato voluntário, mas imposição, prova de masculinidade e único ponto de encontro de solidariedade humana". E mais:
"Todos bebem; bebe-se por tudo; as lembranças das grandes bebedeiras dão mais prazer que as de todos os demais feitos, verdadeiramente heroicos. John Barleycorn está em todo o lado e obriga os homens mais valorosos (porque os medíocres ele não ataca) a fazerem cenas ridículas, selváticas, assassinas, suicidárias. Entretanto, os sentimentos gloriosos, o brilhantismo das idéias, os poderes ilimitados — tudo isso John Barleycorn vai dando e é por aí que ele é mais condenável".
Curiosamente, até muito tarde na vida, quando London não precisava beber, não bebia. Até o dia em que, revela o o escritor revela, teve o apelo cerebral para embebedar-se — e foi aí que deixou de recear John Barleycorn. Seu trajeto final estava traçado: beber sozinho, todos os dias, cada vez mais e por razão nenhuma, simplesmente pela longa convivência com o álcool:
"Eu estava carregando um belo fogo alcoólico comigo. A coisa era alimentada por seu próprio calor e queimou 'the fiercer'. Não houve nenhum momento, enquanto estive acordado, que eu não quisesse uma bebida. Comecei a antecipar o término de minhas mil palavras diárias bebendo um drink quando apenas quinhentas haviam sido escritas. Isso não durou muito. Chegou o momento em que eu prefaciava as mil palavras com uma bebida".
De Vagões e Vagabundos (LP&M)
"Deixando de lado os possíveis imprevistos, um bom vagabundo, jovem e ágil, pode resistir até o fim num trem, apesar de todos os esforços da tripulação para 'despejá-lo' - dado, é claro, a noite como condição essencial. Quando tal vagabundo, sob tais circunstâncias, decide firmemente que irá resistir até o fim, não há modo legal pelo qual os tripulantes do trem possam desalojá-lo. A menos que apelem para o assassinato. Por isso, muitas vezes, os restos mortais de vagabundos são recolhidos à beira das linhas férreas e uma nota nos jornais menciona que um desconhecido - vagabundo, sem dúvida; embriagado, com certeza - provavelmente adormeceu nos trilhos."
Trecho foi extraído do livro Vagões e Vagabundos, que traz o emocionante ensaio O que a vida significa para mim e o relato Como me tornei um socialista.