EduK (DeFalla): A arrogância dos gaúchos já nos delegou o separatismo. Se reclama que os cariocas e os paulistas são preconceituosos, mas fomos nós que começamos isso, que amarramos os cavalos no obelisco. Sempre tivemos uma cultura própria muito forte.
É como se a gente fosse os gauleses e o resto do mundo fosse os romanos. As bandas de rock gaúcho estão sempre dando a letra, estão sempre à frente e sempre com muito culhão. O gaúcho, por ser gaulês, tem uma espécie de medo de não funcionar fora do Rio Grande do Sul.
Humberto Gessinger (Engenheiros do Hawaii): Não é função dos músicos criar uma escola. Por isso nunca quisemos carregar a bandeira do gauchismo. É muito babaca essa noção de “a escola impressionista, o grupo tal...”
Carlos Eduardo Miranda (Urubu Rei): Quantas bandas tentaram várias coisas por São Paulo, Rio de Janeiro e quebraram a cara...Tem banda que, na boa, o som é feito pra tocar no seu Estado. Não é só Rio Grande do Sul: todos os lugares têm seus “astros” (nota do autor: ou seriam "ídolos"?).
Gustavo x Aguirre (Justa Causa): Ir pra São Paulo foi necessário e bom pra Justa Causa. Depois do primeiro disco independente, gravamos Diversão do Fim do Mundo pela RGE. Só que a gravadora não quis fazer nada pra divulgar. Era um disco pra vender 30 mil e vendeu 10 mil. A gente tinha uma expectativa bem maior.
Raul Albornoz (Selo Antídoto): Hoje, não existe como transportar a nossa cena, por exemplo, pra São Paulo. Não tem lugar pra tocar em São Paulo. Lá acontece o contrário daqui. Ou a tua banda é enorme ou a tua banda não existe. Eu não chamaria mais o que está acontecendo aqui de underground, é uma outra coisa. Hoje parece que o rock gaúcho foi para o maisntream – não o mainstream da mídia.
Humberto Gessinger (Engenheiros do Hawaii): Temos um lance diferente na maneira de lidar com o humor, com a arte, com tudo... O que é um pouco difícil de entender em outros Estados: “esses gaúchos são tão arrogantes...”, é assim que eles entendem. A maioria do pessoal tem um pouco da cara do interior... Mas essa percepção nem tem a ver com uma questão estrutural ou conceitual: nos acham arrogantes por uma maneira de falar, por uma espécie de filigrana formal... Não tem nada a ver com a cultura gaúcha, nada a ver. E se já é difícil eles aceitarem a gaúcha, então a porto-alegrense vai demorar mais um pouco.
Marcelo Birck (Aristóteles de Ananias Júnior): Não é nada difícil perceber que, na maioria das músicas que circulam nas rádios gaudérias, a temática fala de alegria, companheirismo, hospitalidade, celebra a felicidade do amor, exalta as festanças...
O gaúcho não faz apenas questão de proclamar sua autonomia: ele considera este direito alienável - pense o que bem entender quem enxergar nisso qualquer presunção ou jactância. Não há problema algum em um povo ter uma imagem positiva de si mesmo. A satisfação de proclamá-la abertamente, então, nem se fala.
Mas, neste processo, há um fato curioso a ser percebido: as tradições e práticas gauchescas são coisas tão familiares quanto distantes para boa parte dos habitantes do Rio Grande do Sul - aqueles que vivem dentro dos centros urbanos.
Neste vácuo ente pólos antagônicos, algo como um vazio fértil, uma outra atitude musical, vai se impondo, naturalmente. E isso existe, por exemplo, desde o início do século passado: enquanto o país era tomado por discussões inflamadas entre dodecafônicos e nacionalistas, o compositor Armando Albuquerque criou uma obra indispensável, à margem da sombra de ambos. (...) Porto Alegre é a capital nacional da esquisitice". Sejam gauleses ou gaudérios, não vem ao caso: o essencial está no irredutível.