quinta-feira, 21 de julho de 2011

eU, cHRISTIANE f., 13 aNOS, dROGADA, pROSTITUÍDA...

Nova edição do notório best seller que chocou no final da década de 70

POR CRISTIANO BASTOS - ROLLING STONE

Não há como negar, entre o público, o mórbido fascínio exercido pelo gênero "literatura da adicção". Embora decadentes, livros autobiográficos, como Memórias Alcoólicas de John Barleycorn, de Jack London, e Junkie, de William S. Burroughs, são obras-primas estupefacientes.

Isto é válido para o best seller Eu, Christiane F., 13 Anos, Drogada, Prostituída... (Betrand Brasil), lançado originalmente em 1978, que agora chega à 51ª edição.

Vera Christiane Felscherinow comprou seu bilhete para o vício pagando apenas pelas drogas "triviais" – haxixe e LSD entre elas –, mas desembarcou na irreversível coqueluche europeia: a heroína ou, simplesmente, "H".

Seu debute foi após ver um show de David Bowie, que lançava na época o álbum Station to Station. Eu, Christiane F. é baseado em depoimentos dados pela adolescente alemã a Kai Hermann e Horst Rieck, repórteres da revista Stern.

Nessa nova tiragem, a capa é estampada, pela primeira vez, com uma foto da "lolita junkie". Para saciar a "fissura" dos curiosos, o volume traz retratos dos parceiros de pico de Christiane, incluindo até um ex-namorado.

O testemunho ainda choca, porém, perto da atual tragédia brasileira, refém da nefasta dobradinha crack/oxi, está mais para a fábula de "Cinderela do submundo".

terça-feira, 12 de julho de 2011

a eRA dOS eXTREMOS

Com discursos radicais e forte tendência ao conflito, políticos como Jair Bolsonaro ganham voz e colocam fogo nos debates ideológicos

POR CRISTIANO BASTOS - ROLLING STONE
ILUSTRAÇÃO: LÉZIO JÚNIOR

Desde que o Brasil restaurou a liberdade democrática, há 26 anos, o cenário da política nacional parece ebulir na intensidade de um vulcão que desperta em calorosa erupção. Como em nenhum outro momento da história, o debate nunca foi tão vasto, um sinal de que a democracia está amplamente assegurada.

Nos últimos tempos, respingando em todas as direções, à direita ou à esquerda, inflamáveis questões impregnaram a opinião pública e os noticiários - uma autêntica "fornalha ideológica" na qual ardem temas controversos da atualidade: homofobia, união homoafetiva, cotas raciais, religião, pena de morte.

E, em um déjà vu dos anos militares, até a tortura entrou em pauta.

Mas que novos ares são estes? Afinal, os tempos vivenciados pela política atual não são diferentes dos anteriores, nos quais a democracia reinou no Brasil.

Vale lembrar, contudo, que a política sempre foi o "reino do conflito ou do consenso", conforme reforça o cientista político Octaciano Nogueira, autor da obra Vocabulário da Política.

"Ou buscamos o consenso ou entramos em conflito. Todos gostaríamos de conceber a política como o reino do consenso e não como a predominância do conflito. O conflito, porém, é inerente à política."

Conflito é quase a palavra de ordem para o deputado federal Jair Messias Bolsonaro (PP-RJ), cuja popularidade foi alçada graças às suas extremadas declarações sobre tópicos polêmicos como homofobia, preconceito racial, tortura, pena de morte e militarismo.

Um militar da reserva, Bolsonaro alardeia abertamente, por exemplo, as "benesses" do golpe militar de 1964. Teria sido, a seu ver, um "glorioso período" da história do Brasil - "Vinte anos de ordem e progresso".

Tão anacrônico quanto o totalitarismo, o parlamentar advoga a favor do uso de tortura em casos de tráfico de drogas e sequestro. "O objetivo é fazer o cara abrir a boca", justifica. Mortalmente radical, por outro lado, é sua solução para crime premeditado: execução sumária.

Incontáveis são as controvérsias com as quais Bolsonaro se envolveu desde que entrou para a política, em 1988. Seu linguajar impetuoso não poupou a presidente Dilma Rousseff, o ex-Luiz Inácio Lula da Silva e, muito menos, o antecessor, Fernando Henrique Cardoso.

Quando FHC ainda estava no poder, em 2000, Bolsonaro disse que o ex-presidente estava "cometendo um crime" ao governar o Brasil da forma como fazia. Deveria, portanto, "ser fuzilado".

Hoje, o deputado afirma que é preciso analisar o contexto da época - e também levar em conta seu nacionalismo exacerbado:

"Quando FHC privatizou a Vale do Rio Doce, falei que, se vivêssemos num país sério, ele seria fuzilado".

Segundo ele, o lucro da empresa foi de R$ 50 bilhões em 2010. "O que a Vale produziu até hoje para o país? Somente buraco. Tira daqui o que temos de melhor, in natura, minerais, e vende a preço de terra no primeiro mundo."

Na cartilha educativa de Jair Bolsonaro, para "corrigir" filhos com tendências homossexuais, reza um antiquado método: as palmadas. De acordo com ele - que declarou preferir "ter um filho morto em um acidente a um homossexual" -, o propósito seria "mudar o filho gayzinho".

Como era de se esperar, a artilharia pesada fulminou como belicoso petardo entre defensores dos direitos humanos e associações LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais). A despeito desse flagrante reacionarismo, é válido lembrar que nenhum político está na Câmara, no Senado ou na Presidência da República sem, antes, receber os votos dos cidadãos.

"Bolsonaro não sobressai por contribuições, grandes pronunciamentos ou pela defesa de reconhecidas ideias democráticas. Ele faz, justamente, o contrário", afirma o cientista Nogueira, para quem o deputado do PP "prega no deserto", ou seja, fala somente para um pequeno segmento de extrema direita.

terça-feira, 5 de julho de 2011

o cORAÇÃO dAS tREVAS

Uma das obras literárias mais influentes de todos os tempos ganha edição bilíngue

POR CRISTIANO BASTOS - ROLLING STONE

Ainda menino, o escritor anglo-polonês Joseph Conrad contemplou o mapa e decidiu, um dia, visitar as profundezas da então inexplorada África. Marinheiro na mocidade, em 1890 o escritor levou a cabo a promessa.

Destino: o Congo, no centro-oeste do continente.

Parte considerável dos romances de Conrad – tal qual as grandes obras do chamado "cânone ocidental" (Moby Dick, de Herman Melville, e Relato de Arthur Gordon Pym, de Edgar Allan Poe) – tem no mar sua abissal "personagem".

O Coração das Trevas, que agora ganha inédita versão bilíngue, porém, navega por vias fluviais. Pela voz do aventureiro Charles Marlow, seu alter ego, o escritor conta magistralmente uma história dentro da história.

Navegando pelas águas do mítico Rio Congo, a missão de Marlow é achar o paradeiro do senhor Kurtz, comerciante de marfim sumido no selvagem coração africano.

É o enredo-base "furtado" pelo cineasta Francis Ford Coppola, a partir do qual o cineasta filmou o inquietante Apocalypse Now, de 1979.

Célebre pela atuação de Marlon Brando como Kurtz, o filme transpôs a congolesa narrativa para o infernal território da Guerra do Vietnã. Não à toa, o livro é tido como uma das maiores obras da literatura universal.

Who's Next?