quarta-feira, 24 de junho de 2009

eRASMO é rOCK, bICHO!


POR CRISTIANO BASTOS

"Rock não é coisa para maricas. Erasmo está aí que não me deixa mentir. (...) Desde Marlon Brando e James Dean sou chegada num bad boy. Erasmo era o bad boy da Jovem Guarda, o que para mim significa ser ele o verdadeiro pai do rock brasileiro. E no meio dos trocentos clones que poluem as atuais paradas de sucesso com suas mesmices, eis que nosso Tiranossaurus Rex abre alas só com inéditas."

As palavras, excertadas do texto de apresentação de Rock'n'Roll, novo álbum do Tremendão Erasmo Carlos, são da pena da tia do rock: Rita Lee. A realidade, de fato, é que traduzem a natural vocação de Erasmo – por excelência, legítimo rock'n'roller brasileiro (com direito a cara de bandido).

O novo disco prova essa condição: não há embustes ou oportunismo. Erasmo – brincalhão, como de costume – fala sobre a farra dos downloads, Renato & Seus Blue Caps, Jovem Guarda e conta, com exclusividade, os sons que não saem de sua vitrola: "Sou uma miscelânia de influências, bicho!"

Você foi, esses dias, ao programa da Ana Maria Braga e reclamou que ninguém faz cover de você. Na mesma semana, em Porto Alegre, rolou um grande tributo à sua obra. Integrantes de bandas como Bidê ou Balde e Pública reuniram-se para tocar seu álbum Carlos, Erasmo na íntegra.

Pô, bicho, que legal! Fico muito contente, de verdade. Como faço para ouvir? Quero conhecer esse pessoal...

E a capa do novo disco? É puro Johnny Cash...

Lembra bastante o Johnny Cash, tudo preto. A ideia foi surguindo. O rock sugere cores escuras, pretas. Foi por sugestão da fotográfa Gilda Midani. Ela disse: "Vamos fazer uma foto bem Johnny Cash". Ficou elegante. Rock’n’roll mesmo.

O nome fala por si.

Muito colorido fica parecendo Menudo, Jonas Brothers. Eu estava devendo esse disco há muito tempo – para mim e para os fãs. É um álbum com menos teclados e mais guitarras. A coisa, aos poucos, foi amadurecendo. Juntei material durante uns dois anos, até chegar a hora de gravar uma leva de músicas. Tinha uns cinco bons temas. Para não me repetir em 12 músicas, pensei: "Vou levar para outros parceiros, também". Tem o melhor meu e deles. É um bom disco. Estou muito feliz com o resultado.

Como escolheu os parceiros?

Saí catando. Nelson Motta, por exemplo, estava em Portugal. Daí envei para ele um MP3. Samuel Rosa, do qual aprecio muito a poesia, também foi o mesmo processo. Nando Reis idem.

Você sabe que toda sua discografia está disponível para download na internet, não é? Como você reage a isso?

Bicho, se é assim, tem que ser desse jeito. Eu vejo os lados bom e chato disso. O lado chato é para os autores: não há remuneração. Mas, isso não é culpa do público. É culpa da indústria, que não evoluiu junto com a internet. Quando prestaram atenção no problema era tarde. O público acostumou-se e, agora, não vai desacostumar-se.

Entrevistei Renato Barros e ele me revelou um divertido episódio envolvendo você...

Eu fui um Blue Cap. Foi uma passagem muito bonita de minha vida, porque, em minha época, não existiam muitas bandas. Elas só vieram com os Beatles. Estive no Renato pouco tempo. Mas deu para a gente registrar em disco. Depois comecei minha carreira solo. Eles também gravaram um comigo.

O Renato contou que vocês se conheceram por causa de uma garota.

Verdade. Eu queria organizar o grupo. Eles eram muito desorganizados. Em São Paulo tinha os Jet Blacks; eles eram muito organizados. Eu achava que o Renato também tinha que ser rganizado. Então, comprei nas Lojas Pernambucanas um tecido quadriculado – parecia tecido de mesa de cantina italiana, quadriculada. Descolei um alfaiate e mandei confeccionar os paletós. Botei gravata borboleta, meias e sapatos brancos. Esse virou o uniforme dos Blue Caps. Todo mundo pensava que eu era o Renato, porque eu ficava no meio, trajado nessa roupa ridícula.

Do alto de sua sabedoria: o que significou, para você, o mito Raul Seixas? Este ano completa-se 20 anos de sua morte.

Essa semana mesmo eu fiz uma analogia com ele, exaltando os novos meios de mídia, como a internet. Hoje vejo a falta que ele fazia em 1958, quando Roberto, Erasmo e Tim Maia estava surgindo. Ele morava na Bahia, que não era o centro gerador de mídia brasileira. O tempo que Raul levou para ir da Bahia para o Rio, e solidificar-se no meio, durou cinco ou seis anos. Nesse meio tempo é que nos projetamos. Ele é contemporâneo nosso, mas demorou a chegar por causa dessa ausência dos meios imediatos de comunicação.

Sergio Sampaio foi grande amigo de Raul Seixas e, para você, Sampaio fez uma canção. Qual sua lembrança dele?

A música que ele fez para mim foi belíssima, "Feminino Coração de Deus". Ele achava que tinha sido eu um dos responsáveis pelo sucesso dele com "Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua". Ele foi lá em casa quando estava fazendo a música. Estava deprê porque o Roberto Carlos não quis gravar "Meu Pobre Blues", que fez para ele. Ele me mostrou "Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua" e eu e minha mulher demos força: "Pô, bicho, essa música é lega! Parece uma marcha-rancho. O refrão é popular". Ele achava que fui um dos responsáveis – mas era ele, na verdade, que achava. Eu não. No fim, Sérgio inscreveu a música no festival e foi um enorme sucesso. O mérito foi totalmente dele.

O que não sai da sua vitrola?

Ouço muita música antiga: Ray Charles, Ottis Reding e grupos vocais. Sou uma miscelânia de influências. Da modernidade, geralmente, fico sabendo só quando todo mundo já conhece. Mas, para mim, é novidade. Como a Cachorro Grande, que descobri esses dias.


domingo, 21 de junho de 2009

cAVALHEIRO eLÉTRICO



POR CRISTIANO BASTOS

"Rory Gallagher foi dos grandes guitarristas de todos os tempos. Um grande cavalheiro". O singelo epitáfio deixado pelo vocalista do U2, Bono Vox, durante o cortejo fúnebre do guitarrista pelas ruas de Cork, cidade irlandesa onde Rory nasceu, dá exata medida da grandeza desse legítimo herói da guitarra.

Gallagher faleceu em 1995, em decorrência de complicações após um transplante de fígado (a bebida era seu fraco). Entretanto, antes de ir, Rory pôs a Irlanda no mapa do blues e do rock. A memória desse período de glória está registrada no triplo DVD Rory Galagher – Shadow Play (ST2 Records).

A caixa é uma saborora maratona de dez horas de música (cerca de 600 minutos), recapitulando as participações do irlandês no programa da TV alemão Rockpalast. Por décadas, Rory e o rockpalast mantiveram um "namoro que deu certo".

São cinco shows, nos quais ele desfia as robustas canções de seu repertório, como "Calling Card," "Tatoo'd Lady", "Bullfrog Blues", "Moonchild" e "Shadow Play". O ouro escondido, porém, é a inclusão de uma entrevista com o guitarrista, feita em 1976.

Sentado à beira do palco, durante 20 minutos (de agradável bate-papo), o músico responde a perguntas sobre sua técnica de guitarra slide, fala sobre seu processo criativo e, de quebra, reafirma sua paixão pelo blues e skiffle.

Na conversa, o músico também fala sobre sua Strato, que o acompanhou por toda carreira – desde os 15 anos de idade. Reza a lenda que, além de Peter Frampton, Jeff Beck e Roy Buchanan, Gallagher foi um dos que fez audições com os Stones, em 1974.

O objetivo era preencher a vaga deixada pela saída de Mick Taylor. Tudo indica que o irlandês não aceitou as condições do "contrato". Motivo: nos Stones, não teria tanto espaço para brilhar. Um dos DVDs, traz uma jam session, feita em 1982, que deveria entrar para o Livro dos Recordes.

São 41 minutos de sonzeira, acompanhado por gente do calibre de Eric Burdon (ex-The Animals), Wolfgang Niedecken e David Lindley. No repertório do improviso, só clássicos: "Knocking On Heaven's Door", "Lucille", "I'm Ready", "Be Bop a Lula".

Rory Gallagher iniciou sua carreira como membro do power trio Taste, em 1965. O Taste tocou no Festival Isle of Whigt Rock, em 1970, no qual também estrelaram Jimi Hendrix, The Who e Miles Davis.

Palavras do Rory:

"Eu amo tocar para o povo. Significa muito para mim. Eu também amo gravar, mas preciso de um contato regular com o público. O público é a fonte da minha energia". O baixista do Deep Purple, Roger Glover, rememorando Rory, certa vez contou:

"Tarde da noite, Rory estava ao microfone, no estúdio, dando um sermão como um pastor, exortando a todos. Durou noite adentro. Isso explica porque foi um grande performer. Rory tinha o dom de divertir o público, independentemente da ocasião".





sábado, 20 de junho de 2009

pIXINGUINHA: jOIAS dESENCAVADAS


POR CRISTIANO BASTOS


"P
ixinguinha surgiu quando a música popular tornou-se violentamente a criação mais forte e a caracterização mais bela da nossa raça, nos últimos dias de império e primeiros da República".

Sábias palavras, legadas pelo modernista Mario de Andrade, que ilustram o valor de Alfredo Rocha Vianna Filho – o Pixinguinha – para a música brasileira crescida no século 20. Tamanha relevância artística, enfim, pode ser ouvida, com a edição do box set Pixinguinha no Cinema, Sinfônico e Sinfônico Popular (Sesc Rio/Crioula Records).

São três álbuns dedicados à obra do compositor e arranjador, e que traz o que deve ser o último registro gravado do maestro Silvio Barbato - uma das vítimas do voo 447 da Air France, desaparecido no Atlântico.

Entre as preciosidades, pinçadas do acervo particular do compositor, há valsas, maxixes, mazurcas, polcas, modinhas, macumbas e sambas. Pixinguinha faleceu em 1973, porém, só em 1999 seu acervo passou a ser cuidado, quando foi adquirido pelo Instituto Moreira Salles.

O volume Sinfônico Popular, gravado em 2008, com a Orquestra Sinfônica do Recife, tem repertório que privilegia orquestrações assinadas por Pixinguinha, entre 1930 e 50. O disco une, com efeito, naipes sinfônicos aos metais das big bands. Registro conta com participação de músicos como Carlos Malta, Oscar Bolão e Roberto Silva.

Pixinguinha no Cinema, sem dúvida, é o lançamento mais elegante da caixa. São regravações da trilha original do filme Sol Sobre a Lama, de Alex Vianny, cujas letras foram escritas por Vinícius de Moraes. "Mundo Melhor" tem a voz de Elza Soares.

Fecha a trinca Pixinguinha Sinfônico, peça que resgata orquestrações sinfônicas do compositor carioca sob regência de Silvio Barbato.

SILVIO BARBATO


"Pixinguinha afirma a primazia do conhecimento sobre o sentimento. A sua música tinha natureza sentimental, mas era frojada na técnica musical".

"Analisando as partituras presentes em nossa gravação, é plausível afirmar que Pixinguinha estudou a fundo o compositor Hector Berlioz".

"Na interpretação de obras busquei dar uma mensagem de beleza (...) Sacrifiquei a emoção para dar espaço à maestria ténica do compositor".



fREE mUTLEY

sexta-feira, 19 de junho de 2009

pONTEADO aUTÊNTICO



POR CRISTIANO BASTOS

Se há uma legítima música "folk" brasileira, com certeza ela não reside nas grandes metrópoles urbanas, como dá a entender o modismo criado no rastro de bons nomes, como o Vanguart e a "sensação" Malu Magalhães.

Esses artistas, na verdade, bebem do folk britânico – que, a rigor, não tem nada a ver com a música praticada no interiorzão brasileiro. Violeiro Bugre, segundo álbum registrado por José Pereira de Souza, o Índio Cachoeira, soa como "testamento telúrico" desse violeiro, que vem de Junqueirópolis, na divisa de São Paulo com o Mato Grosso.

Nada mais folclórico e rural, portanto.

O que impressiona, porém, nem é isso, mas sim o virtuosismo aliado ao sentimento de sua viola. Cachoeira, segundo o produtor do disco, Ricardo Vignini (integrante do grupo Matuto Moderno), é um dos principais violeiros em atividade na vastidão do território nacional:

"Ele gravou tanto, que nem lembra quantas gravações fez", observa Vignini no encarte do disco. Aos oito anos, Cachoeira travou contato com seu instrumento ouvindo um velho violeiro da região. Sua mãe, no entanto, não gostava que ele frequentasse as rodas de viola e as festas de Folia de Reis.

Porém, sempre que podia, o menino fugia de casa para ouvir de perto os ponteados. Seguindo a tradição dos velhos violeiros, Índio Cachoeira fabrica suas próprias violas, além de outros instrumentos – a exemplo daquele que batizou de "canaã", uma pequena viola de incríveis 15 cordas.

As 15 faixas de Violeiro Bugre levam a rubrica de Cachoeira. Abrem o trabalho, "Remelexo", com
seus fraseados melodiosos. Outros predicados são notados em canções como a bela e lamuriosa Alvorada Sertaneja", e no introspectivo solo de "O Castelhano".

Também harpista, Violeiro Cachoeiro mostra desenvoltura tocando guarânias paraguaias e canções do folclore mexicano. O músico obtém seu sustento construindo violas, violões, cavaquinhos de oito cordas e harpas em sua oficina.

"Não procuro imitar ninguém e, sim, criar meu estilo. A música que faço é rural mesmo, meio indígena. Dentro de mim está um índio. De lá de dentro eu tirei esse estilo".

Eis um álbum feito com a cor e o sabor do Brasil profundo.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

aRNALDO eM pORTO aLEGRE


POR ROBERTO PANAROTTO*

Estava eu no meu local de trabalho (em Chapecó). Quando recebo via 'messenger' a notícia de que iria ter show do Arnaldo em Porto Alegre. No início não acreditei. Mas tratei de localizar alguns amigos que, assim como eu, são fãs de Mutantes e do Arnaldo para organizar um esquema para ir até Porto.

Achei curioso porque não tinha quase nada na mídia dizendo o que era o evento, como iria acontecer e onde.
Chegou a me passar uma dúvida pela cabeça. Será que vai ter o evento? Será que não vai ter? Será que eu vou, será que não vou?

Resolvi arriscar e fui! No dia (já em Porto Alegre), é que fiquei realmente sabendo o que era e onde que a coisa toda iria acontecer. O local: Galpão do IBGE.

Mas onde diabos fica isso? Não importa. Comprei o ingresso e tratei de ir cedo para entender o que se passava e acompanhar todos os movimentos minuciosamente. O restante das atrações do evento: Júpiter Maçã, Bebeco Garcia e o Bando dos Ciganos. Baladas do Bom Fim. Julio Reny, Pata de Elefante, Os Arnaldos, Suco Eléctrico, Oly Jr.

Sem palavras talvez seria a expressão mais clichê do mundo que eu utilizaria para definir o momento. Mas, no meu caso, em nenhum outro momento essa expressão teve tanto significado. A partir desse dia, eu vou ter que parar de usar a expressão "sem palavras", porque essas serão destinadas eternamente ao momento que vivi no show do Arnaldo.

Já estava acontecendo um frisson desde o momento em que o Arnaldo chegou no local do show. O camarim era numa sala do lado de fora do local dos shows. "Olha, o Arnaldo está chegando!", gritou alguém. Todo mundo saiu para ver ele passar.

Ele entrou na sala e ficou todo mundo rodeando, tentando entrar ou olhar pela janela, tirar uma foto ou filmar um pouco.
Assim que ele subiu ao palco restaram poucos segundos para as pessoas se agilizarem para se posicionar nos melhores lugares. Em poucos segundos o palco estava rodeado de pessoas que não arredavam o pé de jeito nenhum.

Arnaldo pisou no palco com o público se manifestando através de gritos histéricos no melhor estilo "beatlemania". As duas laterais do palco estavam tomadas e os seguranças não conseguiram conter o público que queria se aproximar do Arnaldo, pegar nele, beijar, abraçar, ver de pertinho.


Foi uma das manifestações mais impressionantes que eu já vi com um artista brasileiro que não está na mídia, e que não se apresenta há muito tempo. Ele ficou muito emocionado e surpreso. Tocava trechos das canções, sempre puxadas por um coro (platéia) que o acompanhava com gritos ensandecidos.

A apresentação durou dez minutos. Ele saiu do palco ovacionado e muito aplaudido, com o público gritando "Arnaldo! Arnaldo!". Na hora estava tão emocionado, assim como a maioria das pessoas que estavam no local, que eu não consegui reagir diferente.


Sobre a apresentação, o show em si, o que vimos foi a aparição de um mito. Além do que foi tocado e cantado, as pessoas queriam manter um contato com o ídolo, nem que fosse por alguns minutos. Nesse sentido, a reação do público me pareceu unânime, tanto antes quanto depois do show.

Todo mundo dizia que se ele subisse no palco e apertasse uma nota no teclado e fosse embora já estariam satisfeitos. Música? Que música o quê! As pessoas queriam ver ele. Se ele tocasse alguma coisa melhor.

Se não tocasse, não faria a menor importância.
Depois do show a indignação foi de quem não conseguiu chegar perto do palco pra ver. O ‘camera man’ que transmitia para os telões estava longe e não conseguiu filmar nada, porque a redoma humana que se formou em torno do Arnaldo cobriu tudo.

Ouvir estava difícil porque o publico gritava o tempo todo. Simplesmente inacreditável. Quem é mais louco? O Arnaldo ou o público? Se for pensar assim somos todos loucos.


ENTREVISTA COM ARNALDO BAPTISTA

Roberto
Panarotto – Como é que tu sentiu a reação do público ontem no show?

Arnaldo Baptista – Eu fiquei assustado, porque eu não tenho muita experiência com o público aqui no Sul, né. Eu achei o público muito efusivo, ele se retrai muito, mas, na hora, exteriorizam. Num sentido assim generalizado, comparam o Rio de Janeiro com a Califórnia, São Paulo com Londres e Nova York e aqui comparam com a Escócia. O pessoal aqui já tem uma tradição e eu acho muito bonito.

Panarotto A gente que acompanha a carreira e observa de longe muitas vezes não consegue ter uma real noção do que acontece...

Baptista Ah, isso é verdade. O grau de efusividade no show foi grande e ver o cara aplaudindo e ver que o cara gosta de verdade. É difícil de colocar isso em pratos limpos.

Panarotto Como é que foi pra ti estar lançando um disco novamente depois de tanto tempo?

Baptista – Pra mim foi uma espécie de recomeço da minha carreira, colocando o disco em banca de jornal e com um preço acessível. Então, eu estou tentando entrar nessa alternativa pra fugir da loja de disco com o preço caríssimo. Esse é um momento em que eu estou explorando isso do disco ser vendido em banca e barato.

Panarotto E a divulgação desse disco?

Baptista – Eu estou fazendo bastante coisa. Então, eu estou vendo um jeito de promover esse trabalho. E fazer o melhor que eu posso, né. As entrevistas em televisão tem que ser com pessoas que curtam o suficiente para entender e entrevistar sobre o trabalho.

Panarotto E como tem sido a aceitação do público?

Baptista – Eu estava ansioso para ser julgado. Não adianta eu ficar falando que é assim que é assado, que eu prefiro Fender do que Gibson, se o pessoal não gosta daquilo que eu faço. Então tudo o que eu falo eu consegui botar em forma de música. Eu tenho a impressão que todo mundo tem uma música que está guardada dentro de si, e eu espero encontrar essa música e tocar. Vamos ver até onde eu alcanço.

*Relato (editado) de Roberto Panarotto, que integra o grupo Repolho - ele é um d'Os Irmãos Panarotto -, durante a passagem de Arnaldo Baptista por Porto Alegre, nos tempos de Let It Bed. Saqueado do portal Senhor F. Foto: Ricardo Koktus.


terça-feira, 16 de junho de 2009

cABEÇA dE aRNALDO

O que público e crítica podem esperar de seu primeiro romance?

Arnaldo Baptista - Rebeldia à direção tomada pela evolução. To burn or not to burn. What is the question?. Romance vem a ser a palavra, que sendo o primeiro, acende uma esperança; que nos ascende a algum Deus.

O nome "Mutantes" foi inspirado em um famoso livro de ficção científica do francês Stefan Wul. Você sempre foi um entusiasta do tema?

Arnaldo Baptista - Sim, pois pessoas como o escritor Ray Bradbury encontram essa acertada direção da evolução. Na minha juventude creio haver lido todos os livros da Série Futurâmica..

Como foi o processo de criação de Rebelde entre os Rebeldes?

Arnaldo Baptista - Encontrei-me, após ler a Bíblia, perante um desafio de colocar-me num livro. O processo de criação tem a ver com quem sou. Através da escrita, consegui me expressar, explicar minha opinião.

Escrever um livro é mais trabalhoso do que gravar um disco?

Arnaldo Baptista - Um livro é mais fácil, pois você só precisa de uma caneta e papel para mostrar sua mente. E quanto ela mente. Ficção pode ser mentira, Científica, nunca. Um músico depende de outras pessoas. A música e a poesia existem para explicar o inexplicável.

Em sua obra, um computador superinteligente chamado Horácio é programado para ajudar a humanidade. Você acha que um robô pode ser o melhor amigo do homem?

Arnaldo Baptista -
Pode ser, pois sua memória é algo bem importante. Além da filosofia, da Inteligência Artificial (Vida). Quanto a isso, enveredo-me pelos caminhos de Cristo, nos quais a amizade é assexuada (filosofia).

Em Rebelde entre os Rebeldes, a música de Beethoven ainda é capaz de fazer diferença em um universo dominado pela alta tecnologia. Na sua opinião, qual o papel do artista no século 21?


Arnaldo Baptista -
O papel do artista no século 21 é alcançar uma hiperconsciência dos governos. O artista deve conseguir definir, entretendo e sendo agradável, a diferença entre certo e errado.

Você sempre foi um símbolo de irreverência na música brasileira. O que significa para você hoje a palavra rebeldia?

Arnaldo Baptista - Para ultrapassar a velocidade do som (1200 km/h) houve dificuldade. Para ultrapassar a luz também. Minha rebeldia alcança a fórmula criada por mim da viagem no Tempo, que é: T = M > C (T = tempo; > = maior, acima; C = velocidade da luz).

Às vésperas dos 60 anos, longe dos Mutantes, quais seus planos para o futuro?

Arnaldo Baptista - Pesquisas na Tecnologia-Definitiva. Provar meus pontos de vista; fictícios ainda. E, também, expor minhas obras de arte como Artista Plástico que sou.

*Entrevista feita com Arnaldo Baptista, em 2008, época de lançamento da obra Rebelde entre Rebeldes (Fonte - Editora Rocco). Aproveita pra visitar o site dele. O universo arnaldiano num clique.

vENENOS mUTANTES





segunda-feira, 15 de junho de 2009

rEBELDE eNTRE rEBELDES

Premiada cinebiografia de Arnaldo Baptista chega esta semana aos cinemas. Arnaldo: "Aonde é que está meu rock'n'roll?"

CRISTIANO BASTOS

Kurt Cobain, em sua única passagem pelo Brasil, em 1993, saudou o mutante Arnaldo Baptista com um "bilhete-elogio": "Arnaldo Baptista é um gênio brilhante", escreveu o mártir do Nirvana. O hippie moderno Devendra Banhart, por sua vez, criou polêmica ao exaltar a superioridade dos Mutantes em relação aos Beatles.

Sean Lennon – rebento do beatle John – é outro que "rasgou seda" para ele. Em 2000, Sean chegou a convidar Arnaldo para dividir um show no Free Jazz Festival.

Os episódios de reverência mencionados acima ajudam a compreender por que a cinebiografia Loki – Arnaldo Baptista vem amelhando inúmeras láureas em festivais mundo afora. No sábado passado, a produção saiu consagrada do Festival de Cinema Brasileiro de Miami, na categoria documentário.

Antes, já havia conquistado corações no Festival do Rio e na Mostra de Cinema de São Paulo. A estréia em grande circuito ocorre na próxima sexta-feira.

Dirigido por Paulo Henrique Fontenelle, o filme refaz a vida do músico, da infância à pacata rotina atual (dedicada à pintura), passando pelos ácidos e rebeldes anos à frente dos Mutantes, quando os excessos passaram a corroer sua saúde.

Uma pessoa só - Direto do pacato sítio em Juiz de Fora, Minas Gerais, Lucinha Barbosa, mulher de Arnaldo, conversou com a reportagem do Jornal de Brasília.

"O Arnaldo, ultimamente, tem pintando muito e, com frequência, faz novos registros musicais no seu gravador", conta. Lucinha é, na verdade, a guardiã do artista – foi ela quem o amparou no período "barra pesada", de internações em instituições psiquiátricas.

E o ajudou a reerguer a carreira: Arnaldo deixou o ostracismo faz cinco anos, com o lançamento de Let it Bed, disco de inéditas. Em sua florida trilha-sonora, Loki privilegia 55 músicas. Cancioneiro que se presta tanto para delinear a história de vida do músico como para conduzir a narrativa.

No final dos anos 70, foi Arnaldo o responsável por cunhar a popular expressão "loki" (deus da mitologia nórdica), que batizou, também, seu primeiro trabalho solo fora dos Mutantes. Esse período é remontado em detalhes no filme.

Além de falas emocionantes de Arnaldo, a cinebiografia costura depoimentos de seu irmão, Sérgio Dias, e de uma turma de "confirmados": Tom Zé, Gilberto Gil, Roberto Menescal, entre outros. O doc, com duas horas de duração, é também o primeiro longa-metragem produzido pelo Canal Brasil.

Na vida de Arnaldo, os Mutantes são capítulo encerrado – definitivamente. O grupo havia retornado em 2006 para uma série de shows (com Zélia Duncan fazendo as vezes de Rita Lee). Em setembro de 2007, Arnaldo anunciou sua deserção.

O gênio justificou a saída numa mensagem redigida em estilo contemporâneo, por e-mail: "Cumpri a minha empreitada nessa nova jornada de nossa trajetória". Lucinha, leal ao marido, deu-nos mais pistas: "Tinha tudo para dar certo. Mas não souberam repartir as fatias do bolo".


fREE aRNALDO


domingo, 14 de junho de 2009

cHICO cÉSAR: eTERNO cONSTESTADOR


POR CRISTIANO BASTOS

O cantor e compositor Francisco César Rocha – ou simplesmente Chico César – tem uma habilidade nata para unir linguagens musicais. Seu dom será exercitado hoje, ao lado do artista africano Ray Lema – os dois dividem o palco pelo projeto Todos os Sons, no CCBB.

O pianista Ray Lema, natural do Congo, conjuga em sua música porções equilibradas de jazz e sons de sua terra natal. O encontro com Chico César ocorreu em 1998 e logo prosperou.

"Um sofisticado duo de piano, violão e vozes, parte da cultura ancestral africana e nordestina. Clima transcendental de magia estética", definiu o compositor paraibano à reportagem do Jornal de Brasília.

Nascido em 1964, Chico César deixou sua querida Catolé da Rocha aos 16 anos. Destino: João Pessoa. Lá, formou-se em jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba (UFP). No mesmo compasso, engrossava as fileiras do grupo-manifesto Jaguaribe Carne, responsável por criar música e poesia de vanguarda – e por tomar de assalto a desavisada capital paraibana.

Em 1991, no princípio de sua experiência em São Paulo, Chico foi convidado a excursionar pela Alemanha. O sucesso da empreitada o animou a abandonar o jornalismo e dedicar-se somente à arte musical. Formou a banda Cuscuz Clã e lançou seu primeiro álbum: Aos Vivos, de 1995.

Há um mês, Chico César assumiu novo desafio: presidir a Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), cargo no qual enfrentará a desafiante "política cultural". Em entrevista exclusiva ao Jornal de Brasília, ele comentou a novidade e opinou sobre Brasília, Sérgio Sampaio e, claro, música.

Musicalmente, como você anda hoje em dia?


Lancei novo álbum há um ano: Francisco, Forró e Frevo. Foi super bem-recebido por crítica e público, indicado ao Prêmio da Música Brasileira em três categorias: Melhor Cantor Regional; Disco Regional e Projeto Gráfico.

O que vai rolar na apresentação com Ray Lema, no CCBB de Brasília?

Ele é um dos músicos mais renomados e respeitados da África, da geração de Youssou N'Dour. Somos como irmãos, amigos há muitos anos. Fizemos esse show em muitos lugares do mundo: São Paulo, Itália, Espanha, França. Tocamos músicas dele e minhas.

Traçando paralelo entre música e política: qual a peculiaridade na Paraíba?

Olha, cara, na verdade, o maior pararelo é que minha opção em ser músico tem a ver com política. Eu fui do movimento secundarista, pertenci ao movimento estudantil da universidade. Fiz greve de fo me: junto com outros colegas, passei 11 dias sem comer, certa vez. Também me envolvi com política cultural, dos 16 aos 21, aqui em João Pessoa, no inicío dos anos 80. Minha geração não era governo, pelo contrário: estava saindo da ditadura. Só agora, na verdade, que o Ministério da Cultura traçou um Plano Nacional de Cultura – o qual passa pela Lei Rouanet e contamina estados, muncípios e instituições culturais. Aliás, esse é um projeto muito bacana para os País se envolver – para que o dinheiro da renúncia fiscal não sirva, apenas, para artistas escolhidos pelos empresários. Assim, o artista desconhecido da cidade- satélite, por exemplo, vai concorrer às mesmas verbas que nossa queridíssima Fernanda Montenegro.

Poderia falar um pouco sobre sua participação no coletivo Jaguaribe Carne?

Ingressei no Jaguaribe em 1980. O cerne do grupo são os irmãos Paulo Ró e Pedro Osmar. Eu sou o agregado mais próximo. Foi nessa época, quando cheguei do sertão para a capital, que me filiei ao Jaguaribe Carne. Comecei exercitar, então, política cultural de cunho comunitário – anarquista até. Experiência importante para formar o ser político e o artista que hoje sou.

Você ainda se considera membro efetivo do Jaguaribe?


Eu me considero! A não ser que eles me expulsem (risos). Continuamos trabalhando juntos. Inclusive, os membros-criadores, Ró e Osmar atualmente também estão traçando essa política cultural aqui, em João Pessoa. Não somente com a nossa geração de artistas, mas, também, com a nova geração de artistas da cidade.

Qual o desafio cultural de João Pessoa?

O maior desafio foi enfrentado por meus antecessores. Eles, finalmente, conseguiram cessar com essa coisa de fazer só os grandes eventos – de praia, micaretas – e realizar uma programação popular e digna, com artistas locais. Era o mais difícil: romper com as máfias que se formam em torno da indústria cultural e de entretenimento. Assumir uma política comprometida com práticas culturais comunitárias. O maior desafio ainda é resistir ao assédio dessa indústria do entretenimento, que pretende fazer das cidades a sua arena. Trazer de volta os valores da cultura popular.

Brasília: você já passou muitas vezes por aqui. Qual sua impressão sobre a capital do País?

Brasília é a melhor platéia para qualquer artista brasileiro. Porque, de certa forma, tem o Brasil inteiro aí dentro. E, diferentemente de São Paulo, o público brasiliense não é tão bombardeado com informações. Ele se relaciona de modo mais afetuoso com a arte produzida não só no Brasil como na América Latina.

Soube que você, assim como Zeca Baleiro, é grande fã do Sérgio Sampaio. Verdade?


Sim! Sou muito admirador da pequena obra do Sérgio Sampaio. Gravei no disco em sua homenagem, Balaio do Sampaio. Sérgio era o tipo de artista que ficava entre Caetano Veloso e Raul Seixas. Um artista que não era nem roqueiro, nem baiano e nem sambista. O tipo de cronista urbano que usava de todas as referências com forte visão urbana. Visão que, ainda hoje, mantém-se viva e atual. Sou, realmente, grande fã do Sérgio.

Ele faz muita falta hoje?

Acho que cada um tem seu tempo. Eu sinto mais falta dos que virão do que dos que já se foram.

gRUPO dE eSTUDOS jAGUARIBE cARNE


sexta-feira, 12 de junho de 2009

qUEM mATOU a bAMBINA?

Na Inglaterra, estreou o filme Who Killed Nancy, do jornalista Alan G. Parker. O doc é baseado no livro Sid Vicious: No One is Innocent, o qual defende a inocência de Sid Vicious em relação ao assassinato de sua girlfriend enlouquecida - Nancy Spungen.

No dia 12 de outubro de 1978, Nancy foi encontrada morta com a marca de uma facada no abdômen. Estavam no quarto 100 do Hotel Chelsea, onde o casal "tomador" vivia. Apesar de ter negado a acusação de homicídio, Vicious foi levado preso, após a polícia confirmar que o ferimento feito em Nancy viera de uma faca pertencente a Sid, na verdade.

Vicious foi solto sob fiança, mas, morreu de over logo depois. O mistério continua insolúvel.

Ou, parafraseando a máxima punk, assista Who Killed Nancy e conclua-você-mesmo...



Recorda a memorável cena de Gary Oldman - Sid&Nancy (Alex Cox, 1986) - cuspindo "My Way" escadaria abaixo? Simulacro bem acabado da performance do próprio Sid Vicious, no filme The Great Rock'n' Swindle (1980), de Malcon Mclaren. Veja as duas performances:



cENA dO cRIME





quarta-feira, 10 de junho de 2009

qUANDO éRAMOS bEM jOVENS*

Um novo nome está circulando entre os formadores de tendência: The Who. Eles são quatro mods de Shepherd's Bush, e sua popularidade vem ganhando cada vez mais força. Do mesma maneira como aconteceu com o Animals, dois anos atrás.

Assim como o Animals e o Yardbirds, o Who é produto do cenário das casas noturnas.

Atualmente, com um hit nas paradas e outro a caminho, eles são reconhecidos pelo povo "por dentro" por estarem na crista de uma onda de sucesso que pode fazer deles a nova sensação - numa escala nacional.

The Who é Roger Daltrey (20 anos, vocalista), Pete Townshend (19 anos, guitarrista), John Entwistle (19 anos, baixista) e o baterista Keith Moon, 17.

Sua música é desafiadora, assim como sua atitude. Seu som é viciante. Este não é um grupo afinado de showbiz, cantando em harmonia e tocando acordes limpos de guitarra. O Who deita uma batida pesada, aplicando grande ênfase nos ritmos alternados.

Moon troveja por toda sua bateria. Townshend desenha círculos completos com seu braço direito. Ele golpeia uma espécie de código morse ao ligar e desligar os pick-ups de sua guitarra. As notas se contorcem e ganem. Ele vira-se num repente e arremessa o braço de sua guitarra contra o amplificador. Um acorde treme com o impacto. O amplificador balança.

Townshend ataca novamente no ressalto. Ele rasga a tela de proteção, rompe o cone do alto falante, e um solo distorcido é cuspido do amplificador demolido.

Multidões presenciam fascinadas tais demonstrações de violência.

O Who teve início há um ano, mudando seu nome para The High Numbers. Eles começaram a tocar regularmente no Goldhawk em Shepherd's Bush, mas avançaram para o emplumado Marquee no West End de Londres.

Eles se tornaram os favoritos dos mods. Os mods se identificavam com o Who porque o Who se identificava com eles. A música pop costuma se aliar a tendências sociais e estilos. E foi assim que se sucederam os primórdios do Who.

Pete Townshend usa uma jaqueta de veludo e Roger Daltrey, calças bem justas. Mods só ouviam música mod. É um show exaustivo de se assistir. Mas também altamente original e preenchido com um ritmo tremendo.

Qual o barato do Who no palco?

Townshend: "Não há repressão em nosso grupo. Dizemos o que queremos, na hora que queremos. Se não gostamos de algo que alguém esteja fazendo, falamos na cara."

"Nossas personalidades colidem, mas discutimos e extravasamos os problemas. Há bastante fricção, e fora do palco não somos particularmente companheiros. Mas não importa."

"Se não fôssemos assim isso destruiria nossa apresentação. Nós tocamos de acordo com o que estamos sentindo."

O Who está ligando sua imagem à pop art. Eles descrevem seu atual sucesso nas paradas, "Anyway, Anyhow, Anywhere", como "o primeiro single pop art".

"Pop art é algo aceitável pela sociedade, mas representamos isso de uma forma diferente. Como a bandeira do Reino Unido. Ela deveria ficar no mastro. Mas John a usa como casaco."

"Nós achamos que o movimento mod está morrendo. E não pretendemos afundar com ele, e foi por isso que nos tornamos individualistas."

Pessoas anti-Who taxam seu som de atravancado e barulhento. E o Who acha ótimo. "É a melhor publicidade que poderíamos ter."

O Who é composto por modernos rebeldes com causa. Há sadismo em sua índole e em sua música. Mas pelo menos eles estão trazendo algo novo para o mundo pop.

Eles são sem sombra de dúvida o grupo mais emergente do cenário atual. E com legiões de fãs gritando à sua frente, eles podem muito bem serem os grandes astros de amanhã.

*Dito e feito. Melody Maker, 05/06/1965. Tradução: Vinícius Mattoso. Daqui ó.


eNTREVISTA cOM iOTTI - pARTE 1

IOTTI - pARTE 2

terça-feira, 9 de junho de 2009

fREE bERGA

tHE gODFATHER oF pUNK

Década de 70. Músicas de 26 minutos e quarenta e sete segundos: elas existem, pode acreditar.
Sons tão complexos quanto o Alcorão e mais caudalosos que o Niágara desaguam dos sulcos dos vinis. Valei-me hipérbole!

Quase esse vira o único modelo de uma geração que estava apenas crescendo nos '70, mas pouco - ou nada - tinha a ver com a mania de grandeza sonora inventada pelos roqueiros. Os grandes músicos, ocupados com viagens egoastrais que mal cabiam nos LP's, nem percebiam que parte da juventude da época não sintonizava na mesma freqüência que a deles.

A década nascia com a ressaca dos sixties e, de largada, já prometia combinações completamente diferentes: individualismo com hedonismo, niilismo com diversão, perdição com drogadição. O futuro era bem mais excitante que o passado recente, que trouxera a espátula. O presente vinha com o bolo: já se desperdiçara um tempão afofando a massa - chegara a hora de atacar!

Só que velhos hábitos são uma praga: "Me descola mais tempo num lado que ocupo na boa", seria frase possível de se ouvir da boca de um músico insatisfeito com o espaço disponível num álbum, por volta de 1975.

Se rock progressivo clássico fosse coisa atual, com as mídias ilimitadas que se têm por aí, não se pode duvidar, esses mesmos caras fariam músicas de 24 horas, de uma semana - quem sabe, de meses, anos até (!). Expedições musicais com nascimento, desenvolvimento e morte da música; inclusive, do próprio músico.

Tais epopéias só foram impedidas porque a pulsão que movia o prog-rock, no seu contexto histórico, hoje, não existe com mesma intensidade. Projeto: Música para uma Vida Inteira.

PLANETA TERRA: 1972-1977.
Reich absoluto do rock progressivo. Bandas de duas toneladas e meia deixam pegadas maiores que a do King-Kong a cada pisada. Os ouvidos dos jovens são massacrados pela megalomania dos rockstars de bata indiana.

Tempos há muuuito deletados - dos lados A & B, dos stereos, das agulhas, das jaquetas LEE, dos autoramas, da revista Pop! e dos singles.

Nos rock dos '70, ser grande era documento: calçar grandes orgias, cheirar grandes botas de plataforma, dar grandes quantidades de cocaína (porque LSD tava fora de moda) - e, sim, fazer grandes shows, compor grandes canções & gravar grandes álbuns.

Mas o rock, que nascera bebê dinossauro, perdera o sentido original, a sacanagem e a direção; não era mais barulhento, se não fosse apoteótico, e pra ser pop, obrigatoriamente, precisava se pasteurizar como leite.

Aos dezessete minutos e meio do solo do teclado em alguma arena gigante, as cláusulas primárias firmadas no pacto que Robert Johnson fechou com Satã, o Pai do Rock, foram esquecidas nalguma encruzilhada do old south.

O rock tinha crescido e se tornado tudo, menos endiabrado: as excessões eram Led & Sabbath, que o impediam de ficar adulto de vez por todas. A tutela do Diabo fora escanteada; passara-se a negociar, às portas fechadas, com poderosas majors.

Elas passaram a representar a figura paterna & bastarda do capeta: tinham os contratos, mas eram apenas "padrastos" & "madrastas". A alma ainda pertencia a Louis Cypher...

Até o punk implodir em 1977, com o start "oficial" dos Sex Pistols, na Inglaterra, e seu séquito de bandas, houve uma mente que vislumbrou a revolução pelo menos cinco anos antes: Marc Bolan.
Bolan viu que tudo andava muito chato e adulto e retomou as rédeas do negócio pro Diabo.

Diversão, com sensibilidade & genialidade, ganhava devido lugar no rock após muitos anos. O capeta deu a maior força.

GODFATHER -
Por isso, entre os britânicos, Marc Bolan é o The Godfather of Punk. Daí alguém pode dizer: "Mas ele era glitter! Nada a ver - olha só o cabelo dele! E as roupas?! O sonzinho: punk?".

Pode ser que, de primeira, você não caia na feitiçaria de Bolan e, muito menos, saque direito como comunica sua misteriosa música. Mas, ouvindo, com o tempo passa a entender que ele foi único: o que mais impressiona é a sua simplicidade.

Marc era tão simples - e sempre exigente - que, segundo Tony Visconti, se não acertava uma canção em três takes logo desencantava. Marc Bolan se transformou no grande herói dos adolescentes que, cinco anos a frente, assumiram o punk & o pós-punk na troca da guarda do glitter rock.

Esses jovens eram Morrisey, Sioux-Sioux, Johnny Marr, Billy Idol, Steve Jones - esse pessoal, todos fãs. Quando Bolan teve o seu programa de televisão em 1977, Marc Shows, na TV Granada, "deu força" pra todas as bandas punk da época, de Generation X a The Jam.

David Bowie foi amigo e rival, mas confesso admirador que um dia entregou sua relativa inveja pelo amigo:

Nunca tive nenhum adversário na Inglaterra, a não ser Marc Bolan. Eu tentei como um louco colocá-lo na lona. Na teoria eu sabia que isso era bobagem, mas na prática eu realmente queria acabar com ele de qualquer maneira

Bowie fez pra ele a belíssima "Prettiest Star", do álbum Aladin Sane. Não precisa explicar mais nada. O Duke Magro cantou "Heroes" no programa de Bolan.

Marc Bolan foi "punk", mas de uma forma bem elegante, na realidade: recuperou o antigo rock simples dos pioneiros Elvis & Perkins e, nem por isso, deixou de sofisticá-lo com sua visão pessoal.

Lembrou, para que nunca se esqueça, novamente, que riffs são a alma do rock: foram inventados pra se abusar, variar e derivar.

A influência de Marc Bolan fez-se sentir em artistas dos estilos mais variados, que apareceram depois dele. Anacronicamente: Violent Femmes, Sig-Sig Sputnik, Patty Smith, Bauhaus, Guns'n'Roses (olha a cartola e o cabelo do Slash...), Supergrass, Kiss, Blondie, New York Dolls, Alice Cooper (Bolan tocou nas sessões de Billion Dollar Babies).

"Marc Bolan foi o primeiro artista que nos disse que o futuro era mais importante que o passado", disse Morrisey na reportagem The Rise & Fall of The Ultimate '70 Superstar, capa da revista inglesa Mojo de maio de 2005.

ASGARD -
Na tradição dos anos 70, editar um single era o motivo para lançar, no lado A, a "música de trabalho", aquela que ia promover o novo álbum.
O precioso espaço do verso não era satisfatório para caber toda gradiloqüencia de viagens cósmico-conceituais.

Um disco com o roteiro a seguir poderia muito bem ter sido feito, se é que não foi. Antes de ler imagine as brumas de Asgard, o primeiro dos três mundos do universo nórdico:

É o reino dos deuses. Em Asgard está situada Valhalla, o palácio dos guerreiros mortos em batalha. Também em uma região de Asgard está Vanaheim, a terra dos Vanir e Alfheim, a terra dos Elfos Luminosos. Em Asgard estão também os palácios de cada um dos deuses, como também Gladsheim, o grande santuário na Planície de Ida.
(?)

A fábula de Asgard, de jeito nenhum, caberia no formato pop - o comprimido formato clássico de 2:24 min. Nem à base de censura. Então, os caras não davam a mínima pro lance.
Leva a pensar que até os progressivos (os pré), um dia, foram mais simples. The Story of Simon Simopath, álbum da banda Nirvana UK (a primeira a usar o nome), de 1967, é dessas histórias contadas de forma resumida.

Consegue ser mais pop, por ser menor, mas já dá pra notar que, a partir de então, clamam para ganhar mais "páginas". Os fãs gastavam seus tostões com os singles, com média de três músicas por compacto: o laureado lado A e, de lambuja, uma ou duas canções no B. Se houvesse algo de bom no verso, lucro!

Poucos artistas deixavam a preguiça de lado pra editar, no lado secundário, um par de canções tão excelentes quanto a apresentada no principal. Afinal, provavelmente, as músicas do lado B, com muita chance, não estrelariam no novo álbum.

Marc Bolan viu que tava tudo errado e reverteu isso com grande efeito pra sua própria carreira, repleta de singles de sucesso que alcançaram o Top of the Pops.

Quem saiu ganhando mesmo foi o miserável público de rock, que perambulava pelas lojas de discos se virando com as antigas bandas de garagem. Talvez seja por isso que Marc Bolan é considerado "realeza" na Inglaterra - Dandy in the Underworld: abasteceu o "teenage dream".

BOOGIE ON! -
Por ordem, a melhor maneira de se iniciar em T-Rex são os álbuns Eletric Warrior, a coletânea Bolan Boogie, The Slider e Tanx.

Todavia, a coletânea Great Hits B-Sides (1972/1977), lançada pela Edsel em 1994, tem algo de very special. Dada perfeição, cuidado & esmero, os B-sides reunidos têm valor de verdadeiros A-sides.

Bolan teve muito cuidado em estúdio ao produzí-los: são pop, no que de melhor o sentido dá à reciclada palavra. Contam que ele se preocupava com a grana que os adolescentes gastavam comprando seus discos. Em troca, queria presentear com os melhores sons que conseguisse gravar.

Great Hits B-Sides é relíquia essencial pros fãs do T-Rex. Ouvintes casuais poderão ser fisgados pelo balanço manhoso de Bolan - daí, um aviso: não tem volta.

No post abaixo, comento todas as músicas reunidas nessa compilação, "obrigação" que tinha desde adolescente comigo mesmo e, só agora, me mobilizei pra fazer.Depois desses anos todos conclui o óbvio: o som continua maravilhosamente igual - até porque, nunca parei de ouvir o disco.

Sim, claro (!), todos os lados A foram hits terrivelmente "grandes" também. O próprio nome já afirma grandeza: T-Rex.A banda tem vídeos da maioria dos singles de sucesso. Reuni aqui pra vocês. Espero que se divirtam-se de montão, como fiz milhões de vezes. Get it On!



gREAT hITS b-sIDES: 1972-1977

CADILLAC [B-side de Telegram Sam – 21/1/72] Hit grandioso nas rádios. Riffs & timbres definidores da primeira fase do T-Rex Sound.
Era esperada nos concertos sold out da banda e quase foi lado A.
"Cadillac" marca fato trágico da carreira de Bolan: ele nunca soube dirigir, tinha fascínio por automóveis e morreu no acidente que comoveu a Inglaterra em 1977.
Sua esposa, a cantora norte-americana Gloria Jones, estava ao volante.
BABY STRANGE [B-side de Telegram Sam – 21/1/72] Power pop! "Baby Strange" é uma canção tão simples e contagiosa que nem dá pra acreditar.
O embalo de três acordes e o apelo irresistível do chorus são sedutores: OOO you're strange Don't lame me baby strange Don't lame me baby
Detalhe: "not a guitar solo". Revoluções são forjadas bem antes do que a gente imagina... Alex Chilton, do Big Star, captou o poder magnético de "Baby Strange" e incluiu no seu repertório ao vivo.
Camille Paglia, professora de humanidades na Universidade de Artes da Filadélfia, fez uma tese inteira sobre os jogos vocais de "Californian Dreaming". Paglia desconstrói o clássico do Mamas and the Papas em sala de aula pros alunos e, depois, monta peça por peça.
Também poderia apresentar uma tese sobre simplicidade & eficiência de "Baby Strange". Sou mais dar uma dica "saudável": num dia de sol, escancare as janelas, coloque a música no volume maior que conseguir em sua casa (pra sentir a força da batera) e deixe a energia do rock correr nas veias. Medicina.
THUNDERWING [B-side de Metal Guru – 5/5/72] "Thunderwing" colocou na cabeça de Bolan a corôa de Rei do Boogie. Funciona como versão remix de "Get it On", seu smash hit.
O resultado caracterizou o chamado "T-Rex Sound" que o Seahorses, do guitarrista John Squire (ex-Stone Roses), perseguiu com Tony Visconty no estúdio.
O som almejado por Squire, típico de "Thunderwing", era resultado da bateria dobrada e dos reforços do bongô de Mickey Finn, conduzidos pelo ritmo sensual da Les Paul de Marc Bolan.
Uma levada muito difícil de emular. "Thunderwing", single de sucesso, não perdeu o gancho depois de 35 anos. Dissemine numa pista louca por rock pra ver no que vai dar...Depois emende com "Do You Wanna Touch Me?".
LADY [B-side de Metal Guru – 5/5/72] Bolan entra surrupiando a introdução de "Eight Days Week", dos Beatles, e segue adiante no estilo Sun Records & Phill Spector, duas referências importantes no seu som.
Do tempo em que Bolan tirava canções da cartola. "Lady" é cheia de overdubs de guitarras acústicas. Os backing vocals são da dupla Flo & Edie.
JITTERBUG LOVE [B-side de Children of the Revolution – 8/9/72] A guitarrista do Cramps, Poison Ivy, confessou que, fora todo catálago da Sun, das velharias rockabilly, dos Stooges e dos Trashman, nada mais lhe chamara atenção no rock - tirando o T-Rex.
"Jitterbug Love" mostra como a guitarra de Bolan influenciou o nervosismo dos The Cramps, ao subverter formas tradicionais do boogie-woogie.
Nesse single, Bolan adiciona distorções fuzz barulhentas e imprime pegada selvagem ao estilo que, depois, ganhou o nome de psychobilly. Combina até com Skate.
SUNKEN RAGS [B-side de Children of the Revolution – 8/9/72] It's a shame it's sunken rags The way you play me down It's a shame the way you hide me in the electric school So ride on, fight on Love is gonna win It's gonna beat your sins
Quanto mais a gente ouve, mais pop fica "Suken Rags", outra pequena obra-prima sem solo de guitarra. No auge da música, Bolan opta por um clímax vocal: é o solo.
XMAS RIFF [B-side não-creditado de Solid Gold Easy Action – 1/12/72] Mensagem de Natal subliminar de Marc Bolan que se tornou famosa entre os fãs. Presente do Papai Noel.
BORN TO BOOGIE [B-side de Solid Gold Easy Action – 1/12/72] Outro B-side que foi parar num álbum oficial, Tanx. Também é o nome do filme-concerto do T-Rex. Separados ou na mesma bolacha, "Solid Gold..." e "Born to Boogie" são uma liga boogie-woogie explosiva.
É letra é isso:
Baby baby I was born to boogie Baby baby l was born to boogie Spend some time with you I wanna do all I wanna do Boogie children, uh ah
Repete 3 vezes.
Precisa mais?
FREE ANGEL [B-side de 20TH Century Boy – 2/3/73] Refrigério depois do calor do lado A. Mais uma sem solo. Preza!
MIDNIGHT [B-side de The Groover – 1/6/73] Período em que Bolan começa a flertar mais com o heavy rock e mostra suas credencias, como já havia exibido em "Buick Mackane" e "Chariot Choogle".
Em "Midnight", o baterista Bill Legend e o baixista Steve Currie são levados a tocar em níveis pouca vezes exigidos em uma banda simples, mas sofisticada, com o T-Rex.
É a faceta mais hard do glitter rock, que influenciou linhagens de bandas rock poodle.
SITTING HERE [B-side de Truck on (Tyke) – 16/11/73] Essa coleção de singles não apresenta muitas baladas, um dos fortes de Bolan, mas tem canções singelas. Nessa, Bolan mostra nova faceta de sua intrigante voz.
Em "Sitting Here", violões & melotrom servem de base para que ele e sua esposa cantem juntinhos:
Sitting here, I don't care for you Sitting there, you don't care for me But I think we're in love Ain't that funny
SATISFACTION PONY [B-side de Teenage Dream – 28/1/74] A guitarra soa alta e inocula maldade. Bolan grita com o nonsense de sempre: "Like a jungle touch, oh my, satisfation pony!". O que isso quer dizer? Mínima idéia...
Em geral, as letras de Bolan mergulham no surrealismo, como "Telegram Sam", labirinto semiótico que só faz sentido na cabeça dele.
Os vocais de Jones são abrasivos. Registrada no verão de 73, durante as sessões de Zinc Alloy & Hidden Riders of Tomorrow.
EXPOSIVE MOUTH [B-side de Light of Love – 5/7/74] Gravada no Eletric Lady Studios, em Nova Iorque, 1974. Baixo tortuoso e novos timbres de guitarras, mui modernos para o tempo, mas pouco notados, ainda assim.
SPACE BOSS [B-side de Zip Gun Boogie – 1/11/1974] Foi ouvindo o lado A que o quadrinista Joe Sacco disse na HQ Derrotista: "Marc Bolan foi um enviado dos deuses para lembrarmos que somos todos crianças".
Em "Space Boss", Bolan nos faz lembrar que, com as palavras, é mais divertido não fazer sentido o tempo todo.
CHROME SITAR [B-side de New York City – 27/6/75] Sim, o single foi gravado com uma cítara elétrica cromada! Pop exótico & estranho.
As vocalizações de Gloria Jones dão tom grandioso ao lado B. É do tipo que, à primeira ouvida, é bem capaz de você não curtir. Quando começar a notar os detalhes, lá no fundo, vai querer descobrir o segredo de "Chrome Sitar"...
DO YOU WANNA DANCE? [B-side de Dreamy Lady – 26/9/75] Poucas das covers gravadas por Bolan, desde "Summertime Blues", lado B de "Ride a White Swan" - que só não entrou nessa compilação porque é de 1970. "Do You Wanna Dance" é a terceira parte do EP T-Rex Disco Party.
Bolan deu tratamento funky ao megahit de Bob Freeman. Funciona numa pista de dança que só vendo. E casa bem com o proto-technopop-cabaré de "Dreamy Lady".
DOCK OF BAY THE BAY [B-side de Dreamy Lady – 26/9/75] Versão pro hit póstumo de Otis Redding cantado com emoção por Gloria Jones. Keyboards pilotados por Billy Preston; Bolan assume a produção.
A melhor versão desse clássico, no vai-e-vem melodioso do Mellotron. Perfeita pra namorar. Aproveite a maravilhosa coleção de fotos do casal Bolan & Jones.
SOLID BABY [B-side de London Boys – 20/2/76] Duas baterias somadas pra conseguir a dance music mais moderna da época. Guitarra em segundo plano, sax insano & clap hands frenéticos durante a música toda. Nada convencional, a começar pelo título: "Solid Baby". Que te parece?
BABY BOOMERANG [B-side de I Love to Boogie – 5/6/76] Songwriter prolífico, Bolan, não se sabe bem o motivo, pegou a música de 72, do álbum The Slider, para compor o formato boogie desse single.
Não faz mal: "Baby Boomerang" é delícia que só melhorou com o tempo. A letra dissimula "Subterranean Home Sick Blues" e a linha de baixo rouba "Hound Dog". Perdoado.
LIFE'S AN ELEVATOR [B-side de Laser Love – 17/9/76] Guitarras e mais guitarras depois, Bolan volta a gravar uma canção só ao violão, o que não fazia desde "Girl", em Eletric Warrior, de 71. Uma das mais belas de todas.
CITY PORT [B-side de To Know Him To Love Him – 14/1/77] Música escrita em 72 para a cantora Pat Hall, artista que Marc Bolan poduzia. A nova versão é um dueto entre Marc e Gloria nos vocais: soul music plastificada, mas, ainda assim, orgânica.
O vídeo de "Know Him To Love Him" é um registro doce e tocante de Bolan & Jones cantando juntos.
ALL ALONE [B-side de Soul of My Suit – 12/3/77] Melodia voluptuosa com toques caribenhos. Entrou em Futuristic Dragon e simboliza o novo visual de Marc Bolan, dark e precurssor do pós-punk e da new romantic que influenciou Damned, a banda punk apoiada por Bolan que acompanhou o T-Rex na sua derradeira turnê.
Sioux Sioux é uma xerox de Bolan nessa fase. O clipe de "Soul of My Suit" tem a cara da new wave. É o T-Rex com duas guitarras. O novo Tyranossauro está com dentes afiados.
GROOVE A LITTLE [B-side de Dandy in the Underworld] Funk branco-minimalista, cremoso feito sorvete de baunilha e cuja base ninguém, nenhum dos espertos produtores, ainda foi meter o bedelho até hoje.
Te liga, EduK! Tá dando bobeira. "Groove a Little" é das últimas tentativas de Bolan pra ganhar o mercado norte-americano. Não rolou, mas sobrou essa pérola. Repare no solo linear, de uma nota só e sintetizado que racha a música no meio da purpurinagem.
Já o vídeo de "Dandy in the Underworld", é uma das últimas apresentações de Bolan ao vivo em uma TV. Captura o metal guru em plena forma, aos 29 anos. A performance é estonteante, especialmente no heróico final.
TAME MY TIGER [B-side de Dandy in the Underworld – 30/5/77] Kitsh até morrer e propositalmente pasteurizada, do jeito que só Bolan sabia produzir. Tamy é o tigre da capa. Marido & mulher duelam nos vocais. Tesourinho com seu pequeno valor pop.
RIDE MY WHEELS [B-side de Celebrate Summer – 5/8/77] Lado B absurdo, já que o verso, "Celebrate Summer", é uma das canções mais pop-punk de Marc Bolan.
"Ride My Wheels" é uma das últimas músicas feitas por Bolan - um legado funky, soul & pop a altura da sua espirituosidade:
I'm just a boy, be my toy Ride my wheels I've got some punk To lay on youJust be real girl I never asked you to be true ♪ Slim is the wind And my head is slight But lady I want to Oil your engines all night Drive me baby I give service
Que o paraíso o tenha.

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