quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

aS mIL vIDAS dE dYLAN

É fácil dizer porque Tod Haynes conseguiu transformar I’m Not There numa majestosa cinebiografia sobre o maior gênio da música do século 20 – Robert Allen Zimmerman, melhor reconhecido como Bob Dylan. Simples, Haynes entendeu que Dylan viveu a vida de mil homens juntos.
I’m Not There tem o atributo de provocar nos fãs ardorosos um longo suspiro e, da mesma forma, instigar a fração do público que, ingenuamente, pensa que ele se reduz ao prosador fanhoso e profético de "Blowing in the Wind". Se bem que, se Dylan tivesse vivido só a vida do profeta, já teria sido satisfatório.
O cineasta Tod Haynes é um aficcionado por "cultura pop". Refazendo o conceito: Haynes é uma aficcionado pela história da música pop, o que não é apenas questão de ordem semântica, mas porque a expressão encerra uma significação muito mais profunda. Diminuindo ainda mais para maximizar o entendimento: ele é um aficionado pela história da música. Ponto.
O termo cultura pop está mais para fenômeno da natureza do que para léxico definidor de "conjunto de conhecimentos". Apesar das bobagens açucaradas produzidas pela fábrica de entretenimento musical, cultura pop, no fundo, é apenas o que Roland Barthes chamou de fait divers. Nascimento de bezerros de duas cabeças, gêmeos grudados pelo ventre, crianças com três olhos, micro-anões. Ou seja, tudo o que, além dos fatos, é lido como "notícia" nos jornais. No rock, é saber pelos tablóides que Damon Albarn, do Blur, namorou Justine Frischmann, do Elástica, e tomou um fora da mocinha. Diferente de saber, por exemplo, que é o baixista Bill Wiman que ronca na música "She's a Rainbow", do disco Their Satanic Majesties Request, dos Stones. Isso é fato.
Como a própria vida de Dylan, I’m Not There, que ainda não entrou em cartaz no Brasil (mas pôde ser assistido no IX Festival Internacional de Cinema de Brasília e em outras mostras pelo país), não é um filme fácil. É como um cut-up alucinado de fatos e imagens, cheio de ida e vindas, voltas e reviravoltas. Os neófitos devem ter saído "boiando" da sessão, porque em nenhum momento o filme persegue uma cronologia dos acontecimentos. O que mais deve ter confundido a cabeça de muitos foi a solução inteligente do diretor, ao colocar vários atores para interpretar diferentes fases da vida de Dylan com atuações completamente metafóricas. Funcionou perfeitamente.
Tem o garoto negro de onze anos (Marcus Carl Franklin) que perambula com um violão se apresentando como Woody Guthrie, que foi o maior mentor de Dylan; um sábio surrealista (Ben Whishaw) cuja atuação é apenas proferir charadas repletas de simbologia, representando o fascínio de Dylan pelo poeta Arthur Rimbaud; o velho excêntrico Billy The Kid (Richard Gere) percorrendo o Velho Oeste em retiro voluntário do mundo moderno - na verdade, um paralelo à estadia de Dylan em um local retirado próximo a Woodstock, no estado de Nova York, onde se reuniu com a The Band e gravou o álbum The Basement Tapes.
E a maior sacada de todas: uma chapadona Cate Blanchet interpretando o provocador Dylan que chocou a Inglaterra, enrolou o primeiro baseado do Beatles (eles aparecem como quatro bobalhões fugitivos da alucinada turba feminina) e enfrentou a imprensa britânica. Diante do pedido suplicante de um jornalista para "dar uma palavra para a imprensa", ele responde com o sarcasmo lacônico dos incompreendidos: "cosmonauta".
O subtítulo do filme já entrega o estilo da narrativa - “Inspirado nas várias vidas de Bob Dylan”. Dylan aprovou o formato da produção e permitiu a Haynes a mais rara das concessões: o direito de usar músicas originais e covers no filme. Era pra David Bowie ter feito o mesmo em Velvet Goldmine (1999), o filme de Tod Haynes sobre o glitter rock, inicialmente concebido para homenagear o alter-ego do cantor, Ziggy Stardust. Só que o astro não aprovou o filme e ainda proibiu Haynes de utilizar suas músicas. Ficou apenas o nome, Velvet Goldmine, título de canção do b-side de um single de Bowie.
Haynes, fã de Dylan na adolescência, voltou a escutar o velho poeta à beira dos quarenta anos, quando iniciou o roteiro do drama Longe do Paraíso, de 2002. Começou a vasculhar músicas e a ler biografias do artista e ficou perplexo com todas as transformações de Dylan: "O que mais escutava de todos os relatos sobre ele era sobre uma vida de infinitas mudanças, de uma maneira muito mais profunda em termos culturais do que as modificações camaleônicas de David Bowie ou Madonna que ocorreriam décadas mais tarde", comentou.
Mudanças que tiveram profundos efeitos intelectuais, culturais e quase físicos no público de Dylan: "Ele liquida com tudo que você acredita, todos os seus padrões e conceitos. Ele sacode tudo aquilo que as pessoas construíram para servir-lhes de base. Sempre que você pára para prestar a atenção nele, ele já está em outro lugar. Achei que a única forma de contar uma história em um filme sobre ele seria exacerbando esse fato, usando isso como o princípio para organizar a narrativa, ou as narrativas".
I'm Not There reproduz com fidelidade passagens marcantes da carreira de Bob Dylan, como o famoso show de 1966, no Royal Albert Hall, Inglaterra, em que um fã grita "Judas!" e Dylan responde, exclamando: "Eu não acredito em você!". A melhor resposta para uma acusação cretina.
Memorabilia - Desde 2001, Bob Dylan vem revelando quem é o verdadeiro Robert Allen Zimmerman. Em cinco anos, Dylan abriu seu baú de memórias. Lançou o livro Down the Highway: The Life of Bob Dylan (Conrad Livros), biografia assinada por Howard Sounes. Em 2005, publicou o volume um de Crônicas (Editora Planeta), onde o próprio Dylan relembra o passado em textos curtos. Depois, saiu o imperdível documentário para televisão No Direction Home, de Martin Scorsese (disponível em DVD). E, no ano passado, ele ainda lançou o aclamado e excelente álbum Modern Times (2006). Veja, reveja e junte tudo isso. Ainda vai faltar todo o resto para entender o mínimo sobre Bob Dylan.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

eNTERTAINMENT

O baixista Dave Allen liberou quatro músicas inéditas do Gang of Four no seu ótimo blog, o Pampelmoose - Music Media Web. “Second Life”, “Password", "American Man" e "Fakin'It" vão fazer parte de um EP que a banda pretende lançar no começo de 2008.
"É pra mostrar que estamos trabalhando firme, e não só acomodados debatendo Situacionismo ou o colapso da indústria fonográfica", brincou Allen. O baixista também postou um vídeo do Gang of Four no backstage em Instanbul tocando “I Love a Man in a Uniform” antes do show.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

aRTE, vIDA & mEDITAÇÃO

"Vocês podem dizer: 'Ok, David Lynch é maluco. Então eu digo: porque não experimentar!?'". É assim que o realizador de Twin Peaks chama a atenção das pessoas sobre a sua militância pela meditação transcendental. Lynch define-se como engajado praticante há mais de três décadas.
Para o cineasta, a meditação conduz à felicidade universal: "Um oceano de consciência sem limites - eterno, profundo", comparou.

No último domingo, 18, o diretor norte-americano David Lynch esteve em Estoril (Portugal) para receber o Prêmio de Carreira do European Film Festival, onde foi saudado com uma completa retrospectiva da sua carreira cinematográfica. Lynch deu ensinamentos de meditação transcendental à imprensa e chegou mesmo a criar uma típica "atmosfera lynchiana". A começar pela sua masterclass de produção: A Arte, a Vida e a Meditação Transcendental.
Meditação transcendental não é religião, deixou bem claro: "É uma técnica meditativa que abre as portas que nos levam ao mais profundo dos estados da consciência", disse o cineasta. E lembrou a todos com a estranha sabedoria que lhe é peculiar: "Estamos na superfície da vida. Todos temos consciência, mas nem todos em um mesmo nível".
Lynch acredita que a prática da meditação transcedental (que ele descreveu como uma "claridade doce e elétrica que traz ondas de felicidade") leva à paz real. Aos atores, recomendou a meditação como ferramenta de busca de criatividade, felicidade e disponibilidade. E para afastar a negatividade – o pior dos venenos, expressou o cineasta.
Sobre os seus filmes, falou que as idéias sempre surgem em fragmentos e brincou que, depois de descobrir o paraíso das câmaras digitais, durante sua última produção, Inland Empire (2006), ficaria doente se fosse obrigado a rodar outro filme em celulóide. Lembrou que cinema não é só intelectualidade: "Boa parte deve ser intuição", defendeu.
Há dois anos, David Lynch organizou uma fundação para financiar pesquisas sobre os efeitos positivos da meditação transcendental (ouça aqui a entrevista que ele deu para a World Radio sobre o assunto). Um dos planos mais ambiciosos é a construção do complexo "Palácios da Paz", cujo projeto inclui a edificação de sete centros inteiramente voltados à disseminação de técnicas avançadas da disciplina. Antes de seguir ao aeroporto, Lynch hasteou civicamente uma "bandeira da invencibilidade da meditação trancendental" ao som do Hino Nacional de Portugal. Nada menos estranho e mais apropriado.

fILMOGRAFIA dAVID lYNCH

Curtas
2002 - Darkened room
1995 - Lumière: Premonitions Following an Evil Deed
1990 - Industrial Symphony No. 1: The Dream of the Broken Hearted
1989 - The Cowboy and the Frenchman
1974 - Amputee, The
1970 - Grandmother, The
1968 - The Alphabet
1966 - Six figures getting sick

Televisão
1990 - Twin Peaks
1990 - American Chronicles
1992 - On the Air
1993 - Hotel Room

Longas
2006 - Inland Empire
2001 - Mulholland Drive (Mulholland Drive)
1999 - The Straight Story (História real)
1997 - Lost Highway (A estrada perdida)
1992 - Twin Peaks: Fire walk with me (Twin Peaks: Os Últimos dias de Laura Palmer)
1990 - Wild at Heart (Coração Selvagem)
1986 - Blue Velvet (Veludo Azul)
1984 - Dune (Duna)
1980 - The Elephant Man (O Homem Elefante)
1977 - Eraserhead

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

fLU

O baixista Flávio Santos, o Flu, é da formação clássica do De Falla, nome que a banda gaúcha escolheu para homenagear o erudito Manuel De Falla (1876-1946). Ou, sabe-se lá, simplesmente por causa da excentricidade melódica do nome do compositor espanhol.
Entre as décadas de 80, 90 e 00, o De Falla manufaturou hits em série - "Não Me Mande Flores", "Repelente", "It´s Fuckin Borin to Death", "Screw You, Susie Doll", "Popozuda Rock’n’Roll". Músicas que nunca desfilaram entre as mais pedidas, mas financiaram o lugar da banda na história do rock brasileiro. Desafiadoras e potentes, as releituras infernais que o De Falla fez pros balanços "Sossego" e "Como Vovó Já Dizia", anteciparam em uns bons anos a colisão explosiva entre hard rock, funk e mpb.
Quando o De Falla se desintegrou, Flu dedicou-se à novidade dos softwares de gravação. Experiência que, no De Falla, foi testada com o piloto Kingzobullshit Backinfulleffect, de 92, ao flertar rock com eletrônica. No seu primeiro álbum solo, E a Alegria Continua, de 1999, Flu combinou bossa nova, rock experimental, psicodelismo e lounge music com o slogan "uma idéia na cabeça e um computador na mesa".
Em 2003, lançou na praça No Flu do Mundo, disco editado pelo selo Instituto/YB com distribuição da Trama. "O rock foi minha escola. Só aprendi a gostar de mpb depois de velho, quando comecei a ouvir música instrumental dos anos 60. Coisas tipo Miltinho, Oscar Castro Neves, Soul Bossa Trio e Tamba Trio", conta o baixista que, atualmente, mora e trabalha no Rio de Janeiro.
Como sócio e produtor da Deff Produtora de Áudio, Flu remixou faixas de Otto, Bidê ou Balde e Nervoso e fez a direção musical do filme Tolerância. Um novo disco, ainda sem selo, deve ser lançado em março do ano que vem. A participação do velho parceiro Edu K não está descartada: "Acho difícil - não impossível. Musicalmente a gente anda meio distante. Talvez role algum encontro maluco. Quem sabe...".
[[DESORIENTAÇÃO]] Você disse que tá fechando parcerias pra lançar um novo disco ainda esse ano. Algum paralelo com os anteriores?
Eu vim pro Rio de Janeiro em 2004 com o objetivo de fazer um trabalho novo. Já estamos 2007... Estamos numa nova era de produção. Tem que se dedicar totalmente ao trabalho ou ir fechando algumas idéias com o tempo. Optei pela segunda opção, pois sempre é preciso correr atrás dos pilas. Tenho feito contato com muitas pessoas pra firmar parcerias de composição e produção. Duas delas já estão prontas, outras duas encaminhadas e várias estão por começar. Já fechei com Rafael Crespo (ex-Planet Hemp) e com os Ritmistas (Dany Roland, Stephan San Juan e Domenico Lancelotti). Estou produzindo com o Gordo Miranda e com o João Brasil. Já fiz contatos com Dado Villa Lobos, o estúdio Toca do Bandido (que era do Tom Capone), Marcelo Fruet, BNegão, a banda Do Amor (Rio de Janeiro) e Junior Tolstoi (guitarrista do Lenine).Estou sempre à procura de um som. Me descobrir, descobrir influências e achar caminhos. Nesse processo, as coisas ficam com uma cara. Mesmo que seja a minha.
[[DESORIENTAÇÃO]] Porque a idéia de gravar cada música num estúdio diferente?
Principalmente pra deixar registrado esses encontros e pra mostrar o som e o estilo de produção de cada parceiro. Claro que sempre vai ter um pouco do que penso sobre produção. Tenho deixado rolar. Ainda não consigo ter idéia de como vai ficar o resultado final, mas com certeza terá uma interessante característica de junções e pensamentos. Pelo menos é isso que procuro.
[[DESORIENTAÇÃO]] Como anda Porto Alegre pra música? O mercado está melhor no Rio?
Com a invenção da banda larga, muita coisa mudou. A troca de arquivos de músicas na internet é intenso. Muita gente descobrindo coisas novas. Isso faz com que o dito mercado musical tenha uma drástica mudança. Não se fala mais em preços abusivos de cds, pois não vendem mais. A pirataria também já está em queda. Sou muito a favor da democratização da cultura. Que o povo tenha acesso fácil ao novo. Só assim é que algo realmente pode mudar na cultura contemporânea. Porto Alegre sempe foi do rock. Tem rádios e uma forte ligação com o rock. Isso é legal até o ponto de se tornar preconceito. Lá, me senti muito "estranho no ninho" com o som que faço. Minha banda acabou virando de rock. Não que não gostasse, mas parece que tava sendo induzido a isso. Mesmo assim, não consegui fazer parte das turminhas alternativas. E nem de música eletrônica. Mesmo incoscientemente, o pessoal da música é bem careta na maneira de olhar pro seu trabalho. Eles se dedicam mais as influêcias e idolatrias do que exatamente procurar por arte. Aqui no Rio, como samba e chorinho são muito fortes, a mistura de estilos é natural. Se vê muitas bandas misturando muita coisa e não se fala muito em estilo. Não existem os gravatinhas, os jaquetinhas e nem a turma mod. Têm muitas pessoas fazendo música. Se vai ficar bom ou ruim só o tempo mostrará.
[[DESORIENTAÇÃO]] E a versão de "Não me Mande Flores" que você regravou, o que tem de novidade?
Inclui uma versão da música no repertório dos shows com Os Dubem, que era minha banda em Porto Alegre. Eu senti que a canção tinha muito a ver com o que estava fazendo, manipulando rock com outros elementos. Daí rolou o primeiro arranjo. A versão que gravei com o Rafael Crespo ainda tem resquícios desse arranjo. Tem a pegada rock, mas a maluqueira ficou mais forte. Tem intervenções de eletrônicas e guitarreiras doidas. Acho que ficou bem diferente das versões do De Falla e do Urubu Rei.
[[DESORIENTAÇÃO]] O novo disco vai mesmo se chamar Di-Versão?
Di-Versão foi o nome que pensei caso o disco fosse todo de versões de músicas que gosto. Mas vai ser variado. Ainda não pensei no nome. O conceito vai ser da destruição total de preconceitos. Quero mostrar que o Século 21 tem que se render ao bom senso. Nada é bom ou ruim. Ambos tem seu valor!
[[DESORIENTAÇÃO]] Saudades dos tempos do De Falla?
Gosto muito de história. Adoro meus companheiros de banda. De todas que já tive e de todas que terei. Acho sempre importante o aprendizado que as pessoas trazem pra nossas vidas. Mas não sou saudosista. Já fizemos uma volta em 2005. Foi divertido. Estamos conversando pra, talvez, dar uma nova ativada. A gente gosta do que fez e sempre é bom tocar com os amigos. Espero que role muitas reuniões – até porque, a gente nunca falou que a banda acabou. Volta o e meia alguém se adona do nome e lança alguma coisa...
[[DESORIENTAÇÃO]] Alguma parceria com o Edu K?
O Edu K é um parceiro musical e amigo muito importante. Aprendi muita coisa com ele. Mesmo sem ele saber disso. O cara sempre foi um criador e destruidor – quase ao mesmo tempo. Estávamos sempre nos recriando no palco e nos discos. Ele era o cabeça. Claro que, depois de um tempo, ele tomou conta geral de tudo. Daí ficou meio chato. Mesmo assim, achei importante fazer parte de todos os momentos dessa convivência. Muito do que sou hoje veio dessa época. Vem de muitos fatores, mas Edu K é um fator importantíssimo! Acho uma parceria meio difícil, mas não impossível. Musicalmente a gente está meio distante. Talvez em algum encontro maluco. Quem sabe...

dE fALLA (1988)

O segundo álbum o do De Falla, apelidado pelo vocalista Edu K de It's Fuckin Boring to Death (controverso, pois o nome só é perceptível na lombada do vinil), é o último disco da banda pelo selo Plug da major BMG.
Cercados pela crítica, que aguardava novo sopro de criatividade, o DeFalla não frustrou as expectativas: do pós-punk do primogênito LP, partiram pro crossover maluco de rap, funk e heavy metal, em 1988 - o que prova que estavam ligados nas últimas tendências estrangeiras que, há vinte anos, recém saíam do berço.
São perceptíveis as influências de Run-DMC, Beastie Boys e Red Hot Chili Peppers, sem que a banda perdesse de vista microfonias, vinhetas absurdas e letras fundindo português e inglês (como em "I Have to Sing a Song"). O De Falla também não fez concessões à peculiar obssessão pelos temas sexo & violência. O disco é um dos pioneiros do uso do sampler no Brasil. Entre outras colagens, quem prestar atenção pode sacar uma fala de Denis Hopper no filme Veludo Azul, de David Lynch.
Logo na abertura, a versão upgrade de "Como Vovó Já Dizia", de Raul Seixas, numa versão rap com muitos escratch e batidona arrasa quarteirão. Na opinião do guitarristra Mini, dos Walverdes, esse disco sintetiza parte importante do espírito do rock gaúcho - que é estar extremamente conectado no que está rolando mas, ao mesmo tempo, cultivar certa atitude de "não tô nem aí para nada": "Nesse álbum, a mistura de pop, hip-hop, rock, pós-punk e funk soa incrivelmente chinela e sofisticada ao mesmo tempo".
A insanidade prossegue faixa após faixa, como na versão desconstruída de "Revolution" (que era pra ser uma versão dos Beatles e, como não ficou nada semelhante à original, virou música do De Falla mesmo) e no hit "Repelente". O "lado B" começa com "It´s Fuckin Borin to Death" - cuja letra cita o filme Nascido para Matar, de Stanley Kubrick - e prossegue com o groove demoníaco de "Satã (é coisa do diabo)". Tonho Croco, da Ultramen, confirma a diversão: "Gastei o vinil e a fita cassete de tanto ouvir!".

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

1001 dISCOS

Quase dois quilos pesam os "1001 discos para ouvir antes de morrer (Sextante, R$ 45, em média)", lançado recentemente no Brasil do original inglês 1001 Albums You Must Hear Before Die. Robert Dimery e Michael Lydon são os coordenadores editoriais deste compêndio de 950 páginas. Dimery colabora com as revistas Time Out e Vogue e escreveu The Rise And Fall Of The Stone Roses. Lydon é um dos fundadores da Rolling Stone e biografou a vida de John Lennon.
Para definir a lista dos 1001 discos, Dimery mobilizou 90 jornalistas e críticos de música de todo o mundo. A lista não é imaculada (e qual é?), mas o livro fica além de simples inventário de música pop. Seria melhor classificado como uma excursão cronológica pela história da indústria fonográfica. Passeio que parte do álbum In The Wee Small Hours (1955), de Frank Sinatra, e vai até Get Behind me Satan (2005), do White Stripes.
Fora a variedade das informações, cada álbum foi contextualizado historicamente com detalhes sobre produção, design e lista de canções. Só as imagens das mais de 900 capas, artistas e bandas valem a aquisição. A única coisa duvidosa foi a escolha de Syd Vicious para ilustrar a capa da edição brasileira. Nos tempos de Never Mind the Bollocks, único disco dos Sex Pistols que aparece no livro, Syd nem era da banda.
O grande gênero privilegiado é o rock, mas todos os estilos estão lá: soul, dance, world music, hip-hop, rap, jazz, bossa nova, eletrônica, blues, punk, heavy metal, disco, experimentalismo. Para o Brasil, a lista reforça o quanto a música nacional ganhou reconhecimento planetário de anos pra cá. São destacados cerca de 20 discos famosos da MPB.
Entre eles: Francis Albert Sinatra & Tom Jobim (1967), Stan Getz e João Gilberto (Getz Gilberto - 1963), Astrud Gilberto (Beach Samba – 1967), Mutantes (Os Mutantes - 1968), Caetano Veloso (Caetano Veloso - 1968), Milton Nascimento e Lô Borges (Clube da Esquina – 1972), Jorge Ben (Africa/Brasi - 1976), Elis Regina (Vento de Maio - 1978), Sepultura (Arise – 1991/ Roots – 1996) e Bebel Gilberto (Tanto Tempo - 2000).
O livro também apresenta as obviedades de sempre: What's Going On, de Marvin Gaye, The Rise And Fall Of Ziggy Stardust, do Bowie e London Calling, do The Clash, são tão previsíveis quanto uma nova tour do Deep Purple no ano que vem. O equilíbrio é possível pela inclusão de estranhices como Einstürzende Neubauten e Aphex Twin. O Radiohead é o grande excesso. Todos os álbuns da banda foram comentados - faltou apenas falar de Pablo Honey, mas isso seria demais da conta. Britney Spears e Mariah Carey são bobagens inevitáveis.
Os textos são bem escritos (a edição brasileira pecou na tradução ao errar o sexo de alguns artistas) e envolventes e, com a leitura, mesmo bandas aborrecidas como Dire Straits e Boston se tornam mais ou menos atraentes. A cada folheada, o impulso de sair correndo pro eMule e baixar o livro página por página. Uma obra para atiçar os neófitos e estimular a curiosidade dos colecionadores de rock.
Go Girl Crazy! (1975) - Dictators
Em 1975, dois rapazes norte-americanos, Legs McNeil e John Holmstrom, gastaram a maior parte do seu verão ouvindo o álbum Go Girl Crazy!, dos Dictators. Embebedavam-se todas as noites e acabavam aos gritos cantando cada uma das canções do disco. Não muito tempo depois, estes dois rapazes foram os fundadores da revista Punk, uma das bíblias desse movimento anárquico que eclodiu nos últimos anos da década de setenta. Tal como os New York Dolls, os The Dictators eram precedentes do punk. Anos antes de se ouvir falar dos Ramones, Dead Boys e dos Sex Pistols, Dick Manitoba, a "arma secreta" dos The Dictators, já cantava sobre vomitar comida no McDonalds, beber cerveja e assistir a filmes duvidosos de série B. Go Girl Crazy! foi um dos primeiros discos punk, muito antes de se ouvir falar dessa definição. Mas oferecia muito mais: sons de garage surf e heavy metal – o guitarrista Ross "The Boss" Funichello fundou muito mais tarde os Manowar. Os The Dictators conseguiram inúmeros admiradores, em parte graças ao sentido de humor da banda. O disco incluía todos os ingredientes para ser um êxito, mas os acontecimentos tomaram um rumo infeliz. Pouco tempo depois do lançamento do álbum a Epic despediu-os: má gerência, turnês mal planejadas e brigas entre os membros da banda não ajudaram. O álbum não atraiu grande interesse até 1977, momento em que bandas como os Ramones tinham já polido a sua própria marca punk. Os Dictators foram marginalizados. No entanto, Go Girl Crazy! chegou primeiro.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

sOUNDTRACK dE uMA gERAÇÃO*


Por Cristiano Bastos
Não parece, mas trinta velinhas já foram assopradas desde que, nos remotos 1977, o punk partiu o rock ao meio. Nem por isso o grande documentário da época, Punk Rock Movie, tem qualquer edição comemorativa prevista no Brasil.

Tudo bem - para isso existe o Google Video. Lá o filme pode ser assistido na íntegra. Registrado em Super8 por Don Letts (diretor de The Clash: Westway to the World, entre outros), Punk Rock Movie - ao lado de Rude Boy, do The Clash, e The Great Rock'n'Roll Swindle, dos Sex Pistols - é fundamental para entender o fenômeno que tomou conta da Inglaterra nos anos 1970.

Genuinamente tosca, a câmera de Letts captura apresentações vibrantes do Clash, Pistols, Wayne County & the Electric Chairs, Generation X, Slaughter and the Dogs, The Slits, Siouxsie & the Banshees, Subway Sect, X-Ray Spex, Alternative TV e The Heartbreakers.

Com tantos tipinhos esquisitos circulando nos bastidores dos shows, o jovem, mas sempre feio, Shane MacGowan, dos The Pogues, quase não mete medo.

A apresentação dos Pistols é histórica: marca a estréia do "baixista" Syd Vicious, a mais nova contratação do big boss Malcom McLaren.

Os novaiorquinos dos Heartbreakers sobem ao palco e uma legião calçando botas Doc Martins pogueia feliz da vida no Roxy Club - enquanto Johnny Thunders, como alguém disse, "toca sua guitarra como quem solta cusparadas".

*Revista Bizz

terça-feira, 16 de outubro de 2007

o gRANDE sONHO dO cÉU

Existe uma grande vantagem quando se compra livros em hipermercados: o etiquetador de preços – sorte nossa – não tem noção alguma do valor verdadeiro de certos títulos. E não tem mesmo. A impressão é que está se livrando dos livros como se livra de carregamentos de lingüiça calabresa com data de validade expirada.
A mais-valia praticada nas livrarias de supermercados (coisa um tanto pós-moderna) é tão pragmática quanto "a resposta" que o leitor do gênero auto-ajuda aguarda na próxima página. Se está faltando alguma coisa na despensa da sua vida, simples, você vai ao mercado, como de costume, e lá pode escolher entre os mais sortidos modelos de bengalas encadernadas disponíveis no varejão editorial. Se sempre há um problema, o livro com a sua solução já foi lançado - nem que seja para resolver o problema do bolso do PHD espertalhão que o escreveu.

Foi assim que, na noite do domingo, fiz algumas aquisições num hipermercado da capital federal por deliciosos e confortáveis dez reais. Na hora de pagar, o caixa do supermercado me veio com a seguinte observação: “É raro alguém comprar livros de ficção. O pessoal só quer saber de auto-ajuda”. Detritos como o Monge e o Executivo, O Poder da Paciência e, no topo das listas, o best-seller dos volúveis, O Segredo. Calafrios...Como me disse sabiamente uma nova amiga, “a boa literatura de ficção é a única e verdadeira auto-ajuda”. Não sei se fiquei mais pasmo com a observação do caixa ou com a arrepiante visão na gôndola dos livros: “100 Clássicos da Auto-Ajuda”.
Em meio ao entulho editorial, encontrei duas jóias. O relançamento da literatura cut-up de Almoço Nu (Ediouro), de William Burroughs, com a adição de trechos e fragmentos dos originais do escritor datilografados, e O Grande Sonho do Céu (Editora Arx), do escritor, ator e roteirista Sam Shepard. Quem já se deparou com os escritos de Shepard, como Cruzando o Paraíso (Mandarin), sabe o quão gratificante é a leitura de um dos seus livros. Literatura cheia de predicados que prima por concisão, simplicidade e sintaxe despojada.
O Grande Sonho do Céu reúne 18 contos, oscilantes entre a calamidade humana e a redenção individual. Impossível não ser cooptado ao sentimento de amor que Shepard dedica à solidão e – como sempre – aos cenários desolados do interior dos Estados Unidos. No conto Vivendo o Cartaz, o homem induz um jovem balconista a refletir sobre a existência a partir da visão de uma mensagem manuscrita, dependurada num gordurento restaurante de beira de estrada. Absurdo filosófico-prosaico, verdade, que não serve para apaziguar as lamentações das almas afoitas em torno dos manuais de autocomiseração soltos à venda por aí.
Vencedor do Pulitzer, além de escritor Sam Shepard é um desses grandes atores, de maravilhosa plástica e atuações salvadoras - até dos piores filmes. No cinema, seu grande feito é o roteiro de Paris, Texas, do diretor alemão Win Wenders, laureado com a Palma de Ouro em Cannes.
Um excerto de Sam Shepard em Crônicas de Motel, escrito em um dos moquifos que o autor habitou à beira das estradas:
Sentia um parentesco menos com a música do que com a voz da rádio. A sua qualidade sintética. A sua voz única, distinta das vozes que a atravessam. A sua capacidade de transmitir a ilusão de gente a grande distância. Dormia com o rádio. Falava para o rádio. Discordava do rádio. Acreditava numa Terra Longínqua do Rádio. Como achava que nunca encontraria esta terra, reconciliou-se consigo mesmo limitando-se a ouvir rádio. Acreditava que tinha sido banido da Terra do Rádio e condenado a errar eternamente pelas ondas sonoras, ansiando por um posto mágico que o devolvesse à sua herança há muito perdida.
22/12/79 Homestead Valley, California.

domingo, 14 de outubro de 2007

fLUXUS

Quando John Lennon conheceu Yoko Ono, em 1966, ela já era uma conceituada artista Fluxus, o grupo vanguardista criado por Geoge Maciunas com idéias do compositor John Cage, em Nova York. O beatle foi ver a exposição de Yoko, Ceiling Painting (instalação na qual uma escada conduzia o observador até um vidro no teto onde uma lupa ampliava a pequena inscrição: "Yes!"), e ficou encantado com a obra da futura esposa. A rigor, o começo do fim dos Beatles foi tudo culpa do Fluxus...
Se o Fluxus fez o favor de enterrar os Beatles (pois já era hora de alguém pará-los), ao menos a natureza bizarra e destrutiva de certas atuações do grupo, como as chamadas Música de Ação, legaram algumas "lições simbólicas" para o rock. A performance fluxista Peça de Guitarra, do artista Robin Page, apresentada durante o Festival de Desajustes, foi uma das mais impactantes dessas atuações, como descreve Victor Musgrave no livro The Unknown Art Movement. A ação lembra a cena de Blow-Up - Depois Daquele Beijo, de Michelangelo Antonioni, em que Jeff Beck, irritado, arrebenta guitarra e amplificador numa espelunca perdida na Swinging London:
Vestido em um reluzente capacete prateado e segurando sua guitarra pronta para tocar, Robin esperou alguns minutos antes de jogá-la no palco violentamente e chutá-la na direção do público, pelo corredor e escada abaixo, até sair na rua Dover. O efeito foi dramático, os espectadores levantaram-se e correram atrás dele enquanto ele dava voltas no quarteirão chutando o que ainda sobrava da guitarra.
O guitarrista do Who, Pete Towshend, transformou a destruição da guitarra em uma poderosa alegoria para os hippies, em Woodstock, e um emblema ainda mais legítimo para os punks da década seguinte. O registro perfeito é a imagem congelada de Paul Simonon, do Clash, na cultuada capa do álbum-testamento London Calling. A fotógrafa Pennie Smith - em momento de sublime felicidade fotográfica - captura o exato momento em que o baixista imola seu instrumento num show nos Estados Unidos por causa da qualidade péssima do equipamento.
Os fluxistas foram longe demais e perderam-se na loucura das excentricidades performáticas. O cúmulo foi a Missa-Fluxus, deturpação até mesmo para os pioneiros fluxistas. O inglês Stewart Home, autor de Assalto à Cultura - utopia, subversão e guerrilha na antiarte do século XX (Conrad Livros), traz um relato sobre a bizarra liturgia.
Na cerimônia, com liturgia semelhante à católica, os coroinhas trajavam fantasias de gorila, o vinho sacramental era mantido num tanque e derramado por uma mangueira, as hóstias eram biscoitos azuis recheados de laxante e o pão era consagrado por uma pomba mecânica que cagava sobre ele. O ritual tinha prosseguimento com o sacrifício de um Super-Homem inflável abarrotado de vinho; tudo acompanhado intermitentemente pela sucessão de uma sonoplastia previamente gravada com sons desconexos como o latir de cães raivosos, assobios de locomotivas, o piar de passarinhos e o estopim de tiros. De forma semelhante, existiam bizarrices como os Esportes-Fluxus, o Casamento-Fluxus, o Divórcio-Fluxus e até o Funeral-Fluxus.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

sOMEBODY tO lOVE

Cena esquizofrênica do recente clássico de Terry Gillian, Fear and Loathing Las Vegas: esparramado na banheira, o narcotizado advogado Dr. Gonzo (Benício Del Toro) implora para que Raoul Duke (Johnny Depp) arremesse o toca-fitas na água quando a canção que ringia dos alto-falantes atingisse o seu clímax.
A voz feminina é imperativa: "Feed your Head! Feed your Head! – estrofes finais de "White Rabbit", música banida das rádios em 1967 pela apologia que faz as viagens alucinógenas. A voz retumbante que emposta candura & potência para cantar as aventuras de Alice in Wonderland depois de lanchar alguns cogumelos psicodélicos é de Grace Slick - a um só tempo a bela, talentosa e posicionada vocalista do Jefferson Airplaine (na célebre foto).
Em "White Rabbit", espécie de Bolero de Ravel embalado numa canção de ninar com movimentos circulares que virou um dos hinos da head music, Grace pincelou tonalidades ainda mais dietilamídicas a já lisérgica obra de Lewis Carrol. Ela também escreveu "Somebody to Love", peça sonora não menos simbólica do período. As duas músicas estão no álbum fundamental do Airplaine, Surrealistic Pillow, que marca o debut de Slick nos vocais da banda.
Musa do acid rock de San Francisco, Grace Slick não foi a única fêmea talentosa da cena do rock psicodélico que prevalecia na Califórnia – e no mundo – no auge do Summer of Love. Mama Cass e Michelle Phillips (dos Mamas & The Papas), Nico e Janis Joplin eram grandes vozes, só que nenhuma delas juntava, como Grace, uma beleza intraduzível, habilidade nata para song writter e domínio sobre a complicada matemática construtora de canções lindamente pop.
O jornalista gonzo Hunter Thompson sempre assumiu seu fetiche por Grace Slick. Cansou de afirmar que música - além das drogas - sempre fora um "combustível" para ele:
"Pessoas sentimentais chamam isso de inspiração, mas o que elas realmente querem dizer é combustível. Isso acontece de novo, e de novo, e cedo ou tarde você é fisgado, e fica viciado. Toda vez que ouço 'White Rabbit', estou de volta à meia-noite viscosa de San Francisco, procurando por música, dirigindo uma motocicleta vermelha veloz ladeira abaixo em direção ao Presidio, me curvando desesperadamente nas curvas através dos eucaliptos, tentando chegar ao Matrix a tempo de ouvir Grace Slick tocar sua flauta".
No rock dos anos 70 e 80, é clara a linha condutora que parte do estilo vocal de Grace Slick e atinge outras roqueiras: da chata (pra burro) Alanis Morrisete à chata (pra caralho) Dolores O'Riordan, da poetisa punk Patty Smith à runaway Joan Jett, todas reverenciaram – da melhor à pior forma – sua força vocal. Alcoólatra, vegetariana e defensora dos animais, com o fim do Jefferson Airplaine Grace Slick encarou a insipidez do Jefferson Starship, um Airplaine diluído numa receita enjoada de hard rock ufológico, teclados e sintetizadores. E, por fim, o que restara do Jefferson Airplaine original reduziu-se à corruptela Starship e seu rock inofensivo, perfeito para rodar no easy listining boco-moco das rádios adultas.
A beleza de Grace Slick arrebatou muitos corações. Apaixonado, o cantor folk Country Joe McDonald compôs a balada "Grace" em seu louvor. Jim Morrison teve um rápido affair com ela encharcado em bourbon. Em 1998, Grace confessou que, de todas as pessoas com quem sempre desejara ter um caso amoroso, só faltaram duas: o guitarrista Jimi Hendrix e o ator inglês Peter O'Toole.
Em 1994, após reclamação da vizinhança, um policial vai até a casa de Grace Slick, em Tiburon, Califórnia, para ver o que estava acontecendo. É surpreendido pela cantora completamente embriagada e por uma arma carregada apontada para ele. Sua sentença foram 200 horas de prestação de serviços comunitários, além de ser obrigada a comparecer aos Alcoólicos Anônimos por três meses. Hoje, a amadurecida Grace Slick jura que sua garganta está longe da bebida. O fabuloso canto de antes, porém, não se fez mais ouvir como naqueles dias em que a vida era onírica e as cores vibravam intensamente.

oS tRAFIS de sATANÁS

A banda platina Satan Dealers toca um vigoroso garage rock baseado nas bandas proto-punk dos anos 70. Em julho, se apresentaram no festival Porão do Rock, em Brasília, e tocaram em algumas cidades brasileiras.
De volta à Argentina, a banda está em estúdio produzindo o seu primeiro disco em castelhano, sucessor do álbum The Brightest View (Scatter Records), que no Brasil é distribuído pela Tratore.

O vocalista Adrián Outeda (a frente na foto) conversou sobre a origem do nome Satan Dealers, a cena independente argentina e a intolerância clássica - no futebol - entre brasileiros e portenhos.

Conte maiores detalhes de como é "negociar" para Satã. Dá lucro?
Outeda - Lucro certamente não dá. A gente faz esse trabalho sujo porque gostamos mesmo (risos). É apenas um jogo entre duas palavras que representa o lado escuro da vida de qualquer um. Na verdade, originalmente o nome Satan Dealers foi pensado com a palavra "same" no meio. Assim, ficaria Satan Same Dealers. No álbum Brightest View, fizemos essa brincadeira na contracapa: "Satan = Dealers".
Parece uma piada com os britânicos do Cosmic Dealer, que no álbum Crystalization (1971), foram considerados "traidores" da tradição psicodélico-garageiro e acusados de enfeitar tudo com firulas do rock progressivas...

Outeda - Nãoooo! Apenas gostamos de rock, garage, hardcore e, o tempo todo, estamos conhecendo bandas novas e deixando-se influenciar por algumas delas.
A conversa continua lá no site da Bizz. Aproveite e ouça a exclusiva "Bajo Esa Piel".

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

fLYNG bURRITO

Integrante dos Byrds e um dos fundadores do Flying Burrito Brothers, Gram Parsons é mais uma vítima da combinação genilidade + morte trágica. Parsons foi encontrado morto em setembro de 1973, no quarto de sua casa em Joshua Tree, na Califórnia. Diagnóstico: over de morfina aditivada por tequila em doses cavalares. Ele tinha apenas 26 anos de idade - um "gurizão".
Mesmo tão jovem, o cara é um dos preceptores do country rock e, antes de morrer, estava terminando seu segundo álbum-solo, o cultuado Grievous Angel. O fotógrafo Andee Nathanson - que clicou outros loucos insanos da época, como John Phillips, Alice Cooper e Frank Zappa - imortalizou centenas de registros de Gram Parsons. Algumas das belas imagens preto & branco de Nathanson podem ser apreciadas em Fine Art Photographs.
Outra exposição legal de se visitar, virtualmente, é a do fotógrafo Bobby Klein, que teve sob a sua mira Jimi Hendrix, Dennis Hopper e Janis Joplin. Essa é uma galeria sobre o The Doors pré-fama - do tempo em que Jim Morrison deixava de ser um vagabundo em Sunset Strip para personificar o sex symbol de sua geração e - pouco depois - viver o papel de maior bêbado do mundo.

zE

O texto é do Carlinhos Carneiro - A RevistaZE, fanzine megalomaníaco que existiu no planeta Terra no século passado, entre 1996 e 1999 - e foi um verdadeiro marco referencial para a criação alternativa gaúcha, brasileira, mundial e até inter-galaxial -, ainda festeja uma década de seu nascimento.
A volta da ZE, para o lançamento de uma edição extraordinária comemorativa e um site com todos os seus números em versão online (e outras tantas frescuras), significa um revival de todas emoções criadas pela revista na época, e uma forma de chamar a atenção de um novo público que, na boa, é carente de uma publicação com conteúdo editorial diferenciado, absurdo e criativo (como estavam todos os alterna-jovens do mundo até o finzinho de 96, quando ela surgiu).

Pra quem não conhece a história, é o seguinte: a RevistaZE (a propósito, lê-se "revista zê") foi concebida por um bando de (então) pós-adolescentes bêbados, famintos por esculhambação, antiarrrte e xis-bacon, que circulavam pelos corredores da Famecos (faculdade de comunicação da PUC de Porto Alegre) - mas desde o início foi encarada com muito empenho, pois eles sempre tiveram noção do valor de "vitrine para seus trabalhos" que o fanzine tinha (e vem daí a hiper-valorização dele, sempre considerado uma revista, por mais que sua realização, mesmo que cheia de primor, fosse artesanal como a de outros zines).
Com um design preza, HQ's e personagens minimalistas, textos absurdos, piadas internas transbordantes e cativantes, e um padrão de qualidade fora do normal, desde o seu número zero, rapidamente a ZE (lê-se zê) agitou Porto Alegre, que até então não tinha ninguém que desse uma cara "mais bem acabada" ao que acontecia no seu "lado alternativo", firmando-se no status de cult e referencial (mesmo que, para alguns, inconscientemente), para tudo que estava por vir na cidade.

A combinação "revistas lindas e loucas + festas de lançamento arrasadoras" fez com que todo mundo conhecesse e falasse bem da RevistaZE, esse falatório e algumas edições da revista chegaram a grandes meios de comunicação do país, que logo estavam dando espaço em suas editorias especializadas para falar dela, e assim espalhava-se o bafafá (principalmente entre comunicadores e universitários).
Passados dez anos, seus criadores e colaboradores cresceram profissionalmente e se espalharam mundo afora, além de terem terminado seus cursos de publicidade e jornalismo na Famecos: NIK (editor, designer e responsável pelos HQ's) - Ilustrador e desenhista, trabalha em importantes publicações como VIP, Playboy, Superinteressante, Rolling Stone Espanha; fez a capa dos discos de Bidê ou Balde (do colega Carlinhos) e MQN (de Goiânia) e de livros de Daniel Galera e Frank Jorge, entre outros.
Chaves (designer e editor) - Músico e compositor de música eletrônica, onde atende pela alcunha de CH5; designer gráfico do estúdio de criação Lava, responsável pelo projeto gráfico da revista VOID, entre outros, e pela capa do álbum "001", da Groove James - da qual também já foi integrante (junto com Nik e Chico).
Chico Berlota (editor e redator) - Músico e compositor, guitarrista das bandas Groove James e Borracharia; Personal Preza; jornalista, assessor de imprensa; produtor; Gerente de Engradados. Carlinhos Carneiro (editor e redator) - Vocalista e compositor da (banda de rock) Bidê ou Balde, modelo-ator, integrante do movimento arrivista Vive le Flesh Nouveau!, "rapaz gordo com um cabelo excêntrico", segundo o grande produtor do show business Manoel Poladian. Marcelo Benvenutti (colaborador) - Contador, publicitário e escritor, autor dos livros "Vidas Cegas" (Ed. Livros do Mal), "O Ovo Escocês" e "Manual do fantasma amador" (K edições) e "Livro da capa laranja" (Ed. Cafeína não é proibida).
Cristiano Bastos e Alisson Ávila (colaboradores) - Jornalistas, trabalham ou trabalharam para importantes publicações como as revistas Play, Aplauso, Bizz, Meio & Mensagem, entre outras, são autores do livro "Gauleses Irredutíveis - Causos e Atitudes do Rock Gaúcho", integrantes do movimento arrivista Vive le Flesh Nouveau!.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

lUSO-sTONER

Quão estranha deve ser uma banda portuguesa que tem seu parentesco musical registrado na genealogia distante do country e do folk rock norte-americano?

No caso da Born a Lion, natural de Marinha Grande (Portugal), o absurdo foi possível, ainda que o saque cultural que eles promovem, ao evocar lendas como Johnny Cash e Steppenwolf, seja explícito.

A paisagem de Marinha Grande, ao contrário da aridez desértica que inspira o som da Born a Lion, é de muita praia, sol e nem sinal de deserto a milhares de jardas marítimas. Pra confundir ainda mais, a cidade integra a região que forma o nicho do turismo devocional de Fátima, ponto de passagem de incontáveis fiéis que visitam a região em busca de um novo presságio católico - ou talvez um milagrezinho. Por outro lado, castelos e mosteiros medievais carregam nas tintas acinzentadas. Só pra completar, tem um brasileiro infiltrado na banda, o baterista Rodrigo Cassiano.
As influências da Born a Lion são tão vastas como as pradarias: Johnny Cash, Immortal Lee County Killers, Black Sabbath, Led Zeppelin, gospel, blues e, pra botar lenha na fogueira, Mooney Suzuki, Danko Jones e Jon Spencer Blues Explosion. Veja quem são e o que pensam esses caras nessa entrevista especial.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

fRUIT tREE

Marcado para 6 de novembro o relançamento do box-set Fruit Tree, de Nick Drake, com os seus únicos e maravilhosos álbuns: Five Leaves Left, Bryter Layter e Pink Moon.
A nova versão do box vem com um filme sobre a vida de Drake, A Skin Too Few, e um livro que traz análises de todas as músicas do compositor feitas por pessoas próximas a ele, como Joe Boyd (produtor), John Wood (engenheiro de som) e Robert Kirb (arranjador).
Entre as minhas canções prediletas de Nick Drake: "Poor Boy", "Hazey Jane I", "Way to Blue", "River Man" e "Saturday Sun". Pungência, elegância, claustrofobia, tristeza incurável, desespero & beleza absoluta...

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

rOCK, mEDO & dELÍRIO II

A festa nunca termina no refúgio montanhesco do agente soviético Chico Daniel. Destacado pra negociar a vida de reféns russos sob a mira de baionetas japonesas na península de Assuwa, ao noroeste de Krakatoa, desde a Segunda Guerra Mundial, Chico empregou técnicas pavlovianas de persuasão - mas, tristemente, não conseguiu evitar o infortúnio dos camaradas Oleksandr Zavarov e Valeriy Lobanovs'ky, respectivamente, 102 e 109 anos nas paletas.
Antes que nosso agente pudesse dissuadir os japas, os pobres Zavarov e Lobanovs'ky bateram as botas. Há mais de 50 anos eram alimentados com ração à base de algas e caranguejos. Não há quem agüente...

Negociação do Chico com os japas:

- Pô, solta os caras, meu!

- 典及現代音樂並常 (Vai se f****!)

- Cara, tu não vê que os dois já tão um caco? A guerra acabou!

- 典及現代音樂並常設音... (O azar é deles...)

- Beleza.

Bom...Intrigas internacionais, tragédias humanas e política à parte, Chico liberou sua casa para a segunda edição da festa "Rock, Medo & Delírio na Montanha" - com o especial guest da Família Matusquela. Sandrinho de Tramanda, o surfista sem prancha do Planalto Central, recém-separado da estrela de SOS Malibu Pamela Anderson (eterna garota Tommy Lee), também voltou. A Manoela Frade, essa misteriosa imigrante húngara do Ducado de Oberschlesien, continua sendo a hostess da festa. Ela está mais adorável do que nunca!

O mesmo esquema de sempre: apenas R$ 10,00 - mas leve sua bebidinha predileta para inflar a imensa piscina de gelo montada no pátio da mansão. Energias e fluidos vitais serão recompostos por afrodisíacos caldos. Traga novamente as suas fantasias (e muitas outras, se quiser).

Discotecagem: Cristiano Bastos. DJ convidada: Marta Crioula.

Vamos lá, de novo: Não perca mais essa oportunidade de se divertir e ser feliz!

DEPOIMENTOS
Baby Consuelo: "Galera, não vai rolar de ir na festa, mas vou mandar Sarah Sheeva, Zabelê, Nana Shara e Pedro Baby no meu lugar, ok? Beijos de luz!"
Miyamoto Musashi: "Adolo loque'n'loll. A festa Medo & Delílio é pelfeita pla moler na pista. Na última me divelti pla calamba e dancei pla calalho"
Pepeu Gomes: "RÁ!"
Cicciolina: "Só os gatinhos..."
Embaixada da Rússia: "Zavarov e Lobanovs'ky deram suas vidas pela Rússia".
Mickey Rourke: "Só as gatinhas..."
Erasmo Carlos: "Festa de arromba. Só o pessoalzinho papo firme. Uma brasa, mora!"
Serguei: "É uma pena que a Janis não esteja mais aqui. Ela ia adorar!"
Menino do Rio: "Pô, parceiro...se não for é burro. Só as gatinhaschass"
Woody Allen: "As pessoas boas dormem muito melhor à noite do que as pessoas más. Claro, durante a noite as pessoas más se divertem muito mais"
Oscar Wilde: "A única coisa necessária é o supérfluo"
Frase ouvida por alguém na última festa: "Sinto peitos em meus cotovelos!"

terça-feira, 25 de setembro de 2007

cHAPARRAL

Depoimento da crítica de música e cinema Ana Maria Bahiana - autora do livro Almanaque dos Anos 70 e ex-secretária de redação da Rolling Stone na sua versão pirata - para meu trabalho de final de curso, sobre as vanguardas e o Punk.
Luxuosa orientação do cineasta e ex-replicante Carlos Gerbase (Tolerância, Sal de Prata). Bahiana tece sábia metáfora com o chaparral, um tipo de vegetação rasteira típica dos estados da Califórnia, Nevada e Arizona, para explicar a tensão auto-comburente do Punk.

O chaparral é a vegetação típica das regiões de transição às margens do deserto e, provavelmente, a paisagem natural mais filmada do mundo, uma vez que está presente, inexoravelmente, em qualquer coisa que seja rodada num raio de 200 km de Los Angeles. O chaparral não é bonito nem feio, mas tem uma característica notável: pega fogo sozinho. O chaparral pega fogo até hoje, e até os hoje bombeiros da Califórnia entram em estado de ultra-alerta entre agosto e outubro.
O chaparral pega fogo porque tem uma combinação única de óleos vegetais altamente combustíveis sob o calor do sol. E o chaparral pega fogo porque essa é sua forma de se reproduzir: com o calor do fogo abrem-se os diminutos cones que contêm as sementes da próxima leva de chaparral. As sementes caem na terra calcinada, germinam durante o inverno e brotam no início da primavera num chaparral tão mais espesso e mais abundante quanto forem intensos os fogos de outono.
Por que a música seria diferente do chaparral, se ambos giram na mesma espiral que não tem começo e jamais terá fim, e que podemos chamar de vida? O novo nasce sempre, irresistivelmente, e nascer é tarefa dura, que exige sangue e dor entre os humanos. Destruir nem sempre é ruim: o que se destrói hoje alimenta o que vem depois, que por sua vez será destruído. O Punk destruiu e foi destruído, por isso vive sempre, tanto naquilo que destruiu quanto no que gerou. O preço da tábula rasa é aceitar que se construa sobre ela.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

yOUTH iNTERNATIONAL pARTY


Primeira parte de um artigo sobre a Youth International Party, os Yippies. No apogeu do flower power, eles tocaram o horror na sociedade norte-americana com táticas de guerrilha midiática. "Misturamos a política da nova esquerda com um estilo de vida psicodélico. Nossa maneira de viver, nossa própria existência, nosso ácido e nosso rock, aí está a verdadeira revolução!", pregava o profeta do grupo, Jerry Rubin. Perservere na leitura e descubra porque o levante punk (é...) tem tudo a ver com frekagem.

Nossa música é uma reação a toda essa babaquice de paz, amor e felicidade. Os hippies ficam tentando te convencer de que o mundo é uma maravilha, mas é só olhar ao redor para ver em que merda estamos" (Ozzy Ousborne)

CRISTIANO BASTOS

Sempre que por algum pretexto – saudosismo, moda, revisão histórica – os ideais propagados na década de 60, no auge da era “paz e amor”, regressam à sociedade pela implacável lei nietzschiana do eterno retorno, dois arquétipos fatalmente assaltam as interpretações. Na verdade, são estereótipos facilmente desvendáveis. Mas, caso você não tenha a mínima idéia de que modelos são esses, há um teste bastante simples para identificá-los. Siga as instruções: primeiro, pense num tipo riponga. Em seguida, deixe que a primeira e mais espontânea personificação se materialize na sua mente.

Cá entre nós, responda: involuntariamente veio-lhe à cabeça a estampa de um hippie pacifista (ou um bando deles) metido numa daquelas marchas a favor da paz que, no fim das contas, nunca levaram a nada - não foi? Agora repita o teste. Tente, dessa vez, imaginar ícones da época. Constate se a imagem formada, paradoxalmente, não tem a ver com beligerância. Pondere, no entanto, se essa beligerância não é a de rebeldes ídolos juvenis, cujas “mensagens de protesto” foram transcodificadas pelo sistema em um comércio rentável como poucos. Foi ou não foi?

Quem, submetendo-se a inutilidade desse exame, poderia supor que a maioria dos movimentos de constestação jovem que iniciaram a contracultura dos anos 60 são influências, na verdade, da revolta Provos (de provocador) holandesa, por exemplo? Não é do Provos de Amsterdam que falaremos aqui, mas é certo que, sem ele, possivelmente a esquerda hippie norte-americana e o Maio de 68 francês (cânones da contracultura) tivessem ficado sem antecedentes de muitas das táticas que adotaram para serem percebidos na esfera política.

Talvez também não aprendessem uma das palavras mágicas que lhes garantiu politização e que se tornou emblema desse tempo: consciência. Especialmente no caso da juventude norte-americana, que ao contrário da européia, responsável por levar o fardo de uma esquerda já institucionalizada, não possuía a experiência rebelde e contestatória da contracultura. Da mesma forma que as suas minorias éticas e culturais, que não encontravam respaldo político nas formas tradicionais de representação, como sindicatos e partidos.

Nos anos 60 - como ainda hoje -, espetacularizar a paz, a decadência e a celebração de sexo, drogas e rock era uma concessão menos arriscada que permitir a alas hippies coléricas que submergissem do underground. Renegá-las, provou que o sistema, no caso da cultura hippie, procurou ressaltar apenas as pretensas qualidades e as inúmeras vicissitudes dessa geração. Tolerá-las, significaria admiti-las como parte do show - liberdade que, enfim, não seria boa para o zelo do stablishment. Sabiamente o sistema soube ocultar os fatos realmente perigosos à sua sobrevivência, em detrimento de outros - de aparência igualmente perigosa, embora inofensivos na sua proposição.

Expor a face lasciva, decadente e estereotipada da juventude hippie revelou-se uma das formas de proteção mais eficientes contra a insurgência de levantes que não propunham apenas a dissipação, mas a (des)construção de uma realidade. Mas, ainda que com as rédeas ideológicas sob controle, o sistema não evitou a virulência de grupos hippies de extrema esquerda que invadiram a cena - o chamado “estilo freak de agitação política”. Grupos como os Yippies (Youth International Party), formados por hippies anarquistas, não chegaram a renegar totalmente o binômio paz e amor, mas agregaram a ele importantes fatores estratégicos.

Os yippies, liderados pelos agitadores Abbie Hofmann e Jerry Rubin, pertenciam a mesma linhagem de outros movimentos raivosos da época - como os Motherfuckers (de John Sinclair), os White Panthers (uma corruptela branquela dos Black Panthers), os Diggers (anarquistas psicodélicos) e os Black Panthers (o poder negro) - e eram, na sua maioria, estudantes egressos da subcultura flower power. A principal exigência Yippie foi por mudanças sintonizadas com o novo modo de viver da juventude: um peculiar estilo que exaltava o rock, as drogas e a política de esquerda. Segundo a definição expressa por Rubin, ex-líder estudantil da Students for a Democratic Society (SDS), “os yippies são os verdadeiros revolucionários da Era de Aquário”:

"Misturamos a política da nova esquerda com um estilo de vida psicodélico. Nossa maneira de viver, nossa própria existência, nosso ácido e nosso rock, aí está a verdadeira revolução!". Com declarações como essa Rubin garantiu aos yippies a notória fama de hábeis manipuladores da opinião pública. A agitação política do grupo, toda arquitetada em atos teatrais e simbólicos, tinha como alvo direto a mídia. Poucos, como eles, valeram-se tão bem da máxima contemporânea do “use a mídia” para o fim de seus propósitos.

Justamente por se apoderarem dos aparatos de mída - e, posteriormente, por se apropriarem de redes privadas de telecomunicações -, os yippies ganharam o status de primeira vanguarda de hackers modernos. É patente deles a subversão de sistemas telefônicos conhecida como phreaker (neologismo entre as palavras freak-phone-free). Motivados pelo valor exorbitante das chamadas de longa distância, praticado pelo monopólio da Bell Telephone, os phreakers criaram a Caixa Azul, um dispositivo que evita a cobrança de taxas telefônicas.

A ousadia só fez aumentar o caráter periculoso e subversivo do grupo, e os integrantes se tornaram foras-da-lei procurados em todos os Estados Unidos. Em 1971, Abbie Hoffman e Jerry Rubin fundaram a primeira revista hacker da história, a YIPL/TAP (Youth International Party Line - Technical Assistance Program), que ensinava passo-a-passo como montar um sistema phreaker. Havia, nessas ações, contudo, um forte apelo lúdico e a intenção de zombar com as situações: utilizando livremente as redes telefônicas, os yippies promoviam as famosas party lines. Nessas festas “em linha”, participavam pessoas dos mais diversos lugares do mundo e ninguém pagava nada.

Foi mesclando política esquerdista e as idéias da contracultura à parafernália dos meios de comunicação, que os ativistas yippies pediram o fim da guerra do Vietnã, reivindicaram a legalização da maconha, o direito de voto para maiores de 12 anos e a suspensão desse direito para cidadãos com mais de 50. Terroristas da mídia, eles também quiseram manipular a opinião pública por meio de algumas manifestações que, todavia, nunca ocorreram: colocar LSD num imenso reservatório de água, organizar uma marcha de 20 mil hippies nus e tomar de assalto o escritório da National Biscuit Company em Chicago, para exigir a distribuição gratuita de biscoitos entre a população pobre, foram ofensivas nunca concretizadas.

As especulações que estas pretensas tomadas de atitude tiveram na mídia, entretanto, as tornaram contundentes simbologias. Rubin, principal porta-voz da contestação midiática do movimento – autor da cartilha revolucionária Do It! –, anos mais tarde, admitiu que a mídia é uma arma sem precedentes. Tão poderosa para incitar pessoas quanto qualquer retórica política. Porém, da qual é praticamente impossível, uma vez tornando-se algoz dela, sobreviver incólume às suas manobras.

Em ações reais, de uma audácia que alterava a ordem – inclusive econômica – dos Estados Unidos, os yippies causaram rebuliço na bolsa de valores ao jogar centenas de notas de dólares de um mezanino na cabeça dos operadores de mercado. Estes, obviamente, deixaram imediatamente seus postos para esgoelarem-se atrás do dinheiro. Resultado: desequilíbrio instantâneo das cotações. Na Inglaterra - quando Rubin se reuniu a grupos revolucionários para formar uma seção britânica da Youth International Party –, vilipendiaram milhares de telespectadores ao invadir o programa líder de audiência David Frost Show. Imagens gravadas do programa, mostram 14 yippies ingleses liderados por Rubin munidos de pistolas d’agua e fumando maconha ao vivo no estúdio. Entre eles, a futura punk Caroline Coon. O mais célebre “recruta” yippie na inglaterra, no entanto, foi o beatle John Lennon - apesar de sua declaração de que “o sonho havia morrido”.

De volta à América do Norte, a Youth International Party organizou um Human Be-In* na Estação Central de Nova York na hora do rush. Meta: somente chamar a atenção das pessoas que tentavam retornar aos seus lares após um dia de trabalho. Também lançaram Pigasus, um suíno, como candidato à presidência dos Estados Unidos em 1968. Para difundir as tensões políticas da época em diversões inerentemente juvenis e como alternativa aos grupos de esquerda formais, Jerry Rubin e Abbie Hoffman tiveram a idéia de criar um militante festival de música, o Festival of Life, que ocorreria durante a Convenção Nacional do Partido Democrata, no Lincoln Park, em Chicago (durante a convenção, os yippies designaram Pigasus para representá-los entre a classe política). O conceito do festival era a fusão de categorias artísticas multidisciplinares, interligadas pela participação conjunta de escritores, atores, músicos e cientistas.

Os head liners Allen Ginsberg e Timothy Leary, acompanhados dos músicos Arlo Guthrie e Phil Ochs, das bandas The Fugs, MC5 e Country Joe and The Fish e do grupo teatral The Bread and the Puppet Theatre, conduziram o evento, que se destacou pelo cunho político-dramaturgo-literário-musical-psicodélico. A celebração, entretanto, acabou ficando somente com a conotação da repressão dirigida pelas autoridades e a proposição de "celebrar a vida" tornou-se apenas uma efêmera idéia na cabeça dos yippies. O ápice do incidente aconteceu durante o show da banda MC5 (banda empresariada pelo ativista John Sinclair), quando tropas da polícia chegaram para reprimir os calorosos protestos.

A brutalidade da polícia, sem saber como agir contra os arroubos de espírito típicos dos yippies e demais agitadores presentes, transformou o nonsense desse teatro de guerrilha em explosões de violência. Na ocasião, agindo sob a bandeira do grupo paralelo Chicago 7, Abbie Hoffman, Jerry Rubin, Tom Hayden, Dave Dellinger, Bobby Seale, Renni Davis, John Froines e Lee Weiner foram indiciados por conspiração. Assim como os Black Panthers, que foram dizimados pelos golpes sujos de Edgard Hoover, chefão do F.B.I – que permitiu a introdução da heroína nos guetos negros –, os yippies foram caçados como inimigos públicos da segurança nacional.

O caso, conhecido pelo Julgamento da Conspiração de Chicago, tornou-se um dos mais famigrados, senão um dos mais atribulados da história dos tribunais norte-americanos. Até mesmo durante a defesa os yippies procuraram enfatizar sua tendência sarcástica, o que os levou a uma acirrada discussão com o juiz Julius Hoffman. Terminaram condenados à prisão por desrespeito à corte e o incidente colaborou para a desintegração do grupo. Abbie Hoffman, preso por porte de cocaína em 1973, terminou nos anos 80 por adotar o estilo de vida yuppie (ganhando fortunas palestrando em universidades), que viria a ser toda a antítese dos ideais yippies. Em 1989, Hoffman morre em decorrência de uma overdose de drogas.

O articulista Richard Neville, escrevendo para o periódico engajado Play Power, em 1970, explica como certas atitudes subversivas podem ser aceitas para que outras não se sobressaiam. Neville coloca que a criação de uma contracultura - na sua opinião um acontecimento que não se pode prever, fenômeno que surge independentemente -, mais do que qualquer efeito, tem profundas implicações políticas. Ele questiona: "Porque, enquanto o sistema, com seu talento para a sobrevivência, pode absorver políticas, não interessando o quanto radicais ou anarquistas elas sejam (abolição da censura, a saída do Vietnã, maconha legalizada, etc.), por quanto tempo pode agüentar o impacto de uma cultura alienígena? – uma cultura que é destinada a criar um novo tipo de homem?”.

* Os Human Be-In reuniam milhares de adeptos da cultura flower power que se juntavam para celebrar os temas que difundiam: música, liberação sexual, literatura, política de esquerda e estilo de vida alternativo. As bandas Merry Pranksters e Greatful Dead foram as mais engajadas, organizando eventos grátis ao ar livre que conectavam música e catarse psicodélica. O First Human Be-In, em janeiro de 1967, realizado no Golden Gate Park, em San Francisco, serviu de modelo e motivou empresários da indústria fonográfica a patrocinar o Monterey Pop Festival – encontro que antecedeu o grandioso - em termos de marketing, público e atrações - festival de Woodstock, em 1969.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

o sÉCULO rEBELDE

Em 2001, finalizei uma grande reportagem sobre o legado das vanguardas históricas na arte do século 20. Por cima: como Dadaísmo, Surrelismo, Cubismo e outros ismos influenciaram (essa é a palavra) manifestações contemporâneas da arte - do CoBrA ao Critical Art Ensemble. E extemporâneas, como o modernismo brasileiro e a Poesia Concreta. A longa análise, que não foi publicada na época por razões comerciais da revista APLAUSO, será capa da edição de dezembro. Com enfoque adaptado aos cinco ou seis anos que se passaram - obviamente. Alguns depoimentos que colhi com fontes respeitáveis:
Décio Pignatari (poeta concreto)

O século 20, na abordagem do poeta paulista Décio Pignatari, foi o "século dos séculos". Na década de 50, ao lado dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos, Pignatari foi responsável pelo lançamento mundial da poesia concreta (vanguarda com bases no Brasil), que decretou a morte do verso como recurso poético. Experimentação, termo-chave para entender a arte produzida nessa época, diz Pignatari, é conseqüência do principal fator operante naquele momento, a industrialização. Revolução que desencadeou todas as demais: "Na arte, foi a era do experimento. Na imagem, a fotografia e o cinema; primeiro, em preto e branco, depois, em cores. Na música, a concreta, de ruídos, serial, dodecafonista. O cubismo, na pintura. Depois de Flaubert, na literatura, apenas novidades: de Joyce a Proust, a reforma no romance. Em poesia, então, nem se fale: Apollinaire, Pound, Eliot", pontua.

Claudio Willer (poeta de filiação surrealista)

Em meio ao estrondoso alarido que foram as vanguardas históricas é improvável uma opinião unânime – favorável ou não – quanto ao legado que deixaram. Herança que, positiva ou negativa, incontestavelmente manifesta-se nas inúmeras encarnações contemporâneas da arte. Na opinião do poeta surrealista Claudio Willer, o "poder subversivo da imaginação", que as vanguardas trouxeram à arte, é uma postura que ainda está valendo. No caso do Surrealismo, diz Willer, tem de ser pensado como um movimento de idéias, voltado à relação entre poesia e vida: "Em meados do século 19, Baudelaire, na sua crítica ao realismo submisso ao mundo, já chamava a imaginação de a rainha das faculdades. Essa postura crítica ainda continua valendo", atesta Willer.

Augusto de Campos (poeta concreto)
Para outro poeta de filiação concreta, Augusto de Campos, a contenda – se as vanguardas vingaram ou malograram no intento de rejuvenescer uma arte já senil e discursiva – está superada. Campos afirma que elas agiram positivamente e, mesmo que ao renegar o discurso, terminaram por ditar outros (como na miríade de manifestos escritos), ainda que libertários quando surgiram: "A sublevação das primeiras vanguardas operou transformações fundantes na linguagem artística, colocando-a em sintonia com o seu tempo", coloca. O concretista ainda reforça: "É claro que elas deram certo, pois não há artista posterior significativo que não tenha sido tocado de algum modo pelas suas propostas. É uma evidência histórica que nem cabe mais discutir", diz Campos.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

cOISA dE lOUCO II (1994)

Continuação dos melhores discos do rock gaúcho eleitos pela votação da revista Aplauso, em ordem aleatória....
Vanguarda, regionalismo, rock, pop, dodecafonia, atonalismo, multiplicidade temática, jovem-guarda. Todas essas vertentes sonoras - e muitas outras - definem o álbum Coisa de Louco II, o debut em CD da Graforréia Xilarmônica que teve como base a famosa demo tape Com Amor Muito Carinho, lançada pelo selo Vórtex em 1988.
Produzido por Carlos Eduardo Miranda, o Gordo Miranda, e gravado em Porto Alegre, o primeiro disco da Graforréia foi uma aposta da finada Banguela Records, selo distribuído pela Warner de propriedade dos Titãs. Na época, Miranda mostrou o disco para o produtor grunge Jack Andino (Nirvana, Titãs), que se mostrou encantado com as peripécias musicais da banda gaúcha.
"Eu" e "Nunca Diga", dois hits do disco, foram gravados pelo Pato Fu e alcançaram algum sucesso radiofônico nacional e ajudou a difundir a banda. A milonga-rock "Amigo Punk" rompeu as fronteiras sulistas e, hoje, é cantada em coro nos mais longínquos redutos alternativos do Brasil, graças à movimentação do rock independente e da participação da Graforréia nos pŕincipais festivais de rock independente do país.
Mas é com o nonsense irresistível das letras que a banda arrebanha, a cada temporada, novos fãs. A Graforréia, pontua o músico Marcelo Birck (que fez parte da primeira formação e divide com Frank Jorge maior parte das composições do álbum), sempre abusou das letras como recurso para se fugir do conteúdo semântico.
Criar letras era uma dificuldade geral e uma discussões da época era sobre o português ser um idioma complicado para cantar rock: "Como não tínhamos a intenção de compor em inglês, a solução foi partir para espontaneidade, letras sem a menor pretensão de fazer sentido e, na maioria das vezes, criadas de improvisos. O critério de seleção era sempre o primeiro impacto causado por uma idéia lançada durante as sessões de composição, que geralmente aconteciam nos ensaios", conta Frank.

tUNE iN

Technicolor Web of Sound - Sixties Psychedelic Radio é um grande encontro pra quem gosta de vagar pelo espaçoso Planeta Anos 60. Playlist interminável com o mais fino peyote do período. Bom pra ligar, esquecer e - pra quem curte - perfeito pra ouvir trabalhando. Legal que o site dá informações sobre cada uma das bandas.

Aí vai uma lista das bandas que estavam tocando logo após essa postagem. Fora as conhecidas The Amboy Dukes e Mamas & the Papas, alguém já ouviu obscuridades como The Koobas e The Cadaver? Talvez o Plato Dvorak, esse com certeza...

The Amboy Dukes - The Jorney to the Center of the Mind
The Mystery Trend - Johnny Was A Good Boy
Acid Talk - Psychedelic Circus
101 Strings - Flameout
Jefferson Airplane - Share A Little Joke
Pepper & The Shakers - Semi-Psychedelic (It Is)
The Cadaver - Haven't Got The Time
The Mamas & The Papas - Monday, Monday
Condello - The Other Side Of You
Majority One - Charlotte Rose
Apple - Photograph
The Koobas - Face

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

mEDO!

Entre pra Maçonaria e descubra que diabos aqueles caras fazem por lá. Se alguém voltar com vida, conta pra gente depois?

Auto-definição da Ordem Rosacruz:
A presente Ordem Rosacruciana é a beneficiária espiritual das antigas Escolas de Mistério que floresceram no Egito, Babilônia, Grécia e Roma há muito tempo atrás
Ramificações maçônicas: Lions Club, Rotary Club, The Daughters of the Nile (As Filhas do Nilo), Amaranth, Grotto, Cavaleiros Templários, Rito de York, Illuminati, Skull and Bones (Caveira e Ossos), Ordem do Dragão.

wU-mING



Por um membro do alto escalão de Vive Le Flesh Nouveau!:
Descubra porque todo mundo (e ninguém) é um artista.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

rIO cURVILÍNEO

A cédula de identidade não mente: o cara se chama Flavio Basso. Com esse nome de ascendência italiana, ele foi frontman dos Cascavelletes, uma das bandas que inventou o rock no Rio Grande do Sul e cuja (má) fama está registrada em artefatos como "Menstruada", "O Dotadão" (gravada pelos Ratos de Porão) e "Minissaia sem Calcinha".
Nos vetustos 1989, Basso protagonizou um dos grandes momentos de picardia do rock brasileiro quando o semi-hit "Nega-Bom-Bom" (do refrão bubblegum "Bom-bom-bom faz aquela nega do outro lado daquela rua/Baby/Punhetinha de verão") entrou na trilha sonora da novela Top Model.

Flavio Basso, então, saiu de cena. Voltou realinhado, anos mais tarde, folk e dylanesco, como Woody Apple - mas também foi fogo de palha. Transformou-se em Júpiter Maçã, alcunha com a qual lançou o clássico A Sétima Efervescência, com devidos créditos a Timothy Leary, Albert Hofman e aos laboratórios Sandoz. Mas não durou. Num ataque semântico-artístico, renomeou-se outra vez como Jupiter Apple e adotou o inglês para embarcar de vez no desbunde do álbum Plastic Soda (1999). Em Hisscivilization (2003), a criatura seguinte, deu um passo a frente ao testar sonoridades que - é preciso perseverança, às vezes - não se decidem entre o indigesto e o incompreendido.

Recém-chegado da Inglaterra e ainda tentando achar a chave para voltar para "dentro da casinha", em Porto Alegre, Júpiter Maçã deu essa entrevista exclusiva para o site da Bizz. Aproveite para ouvir a inédita "Open Letter", gravada em 2000. Se você tem alguma idéia a respeito do universo e dos códigos jupiterianos, já sabe: não espere dele respostas convencionais para perguntas "mais ou menos convencionais". Ou você acha que é todo o mundo que fica um mês sem tomar banho, que se diz um "encantador de um rio curvilíneo" e que, um belo dia, acorda e pensa que é o John Lennon em pessoa?

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