sexta-feira, 18 de julho de 2008

pARAÍBA1

As filmagens do documentário sobre Paêbiru, lendário disco composto pelo pernambucano Côrtes em parceria com Zé Ramalho trouxeram à Paraíba a dupla de documentaristas Cristiano Bastos e Leonardo Bonfim junto com o multimídia Lula Côrtes.
Se trata da terceira visita à cidade de Ingá, no Agreste paraibano. As imagens são da fotógrafa Flora Pimentel.As viagens têm a intenção de reproduzir o caminho feito pelos músicos há mais de 30 anos, cujo caminho para a Pedra do Ingá, onde existem inscrições rupestres, inspirou a composição de um dos mais psicodélicos discos da música popular brasileira, Paêbiru.
As imagens são da fotógrafa Flora Pimentel e o projeto tem om apoio da Arrecife Produção Cinematográfica, da Cabra Quente Filmes e da cineasta Kátia Mezel. Na Paraíba, a Secretaria de Turismo do Estado e a prefeitura de Ingá têm oferecido ajuda aos cineastas.
Confira a galeria de fotos

eU: nO bOM dIA pARAÍBA

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quinta-feira, 17 de julho de 2008

pAÊBIRÚ: dIRETORES vOLTAM a fILMAR nA pEDRA dO iNGÁ

POR ASTIR BASÍLIO

A dupla de documentaristas Cristiano Bastos e Leonardo Bonfim, ao lado do multimídia Lula Côrtes, partem hoje para a terceira visita à cidade de Ingá, no Agreste paraibano. Tudo isso faz parte das filmagens de um documentário sobre Paêbirú, lendário disco composto pelo ernambucano Côrtes em parceria com Zé Ramalho.
As viagens procuram reproduzir o caminho feito pelos músicos há mais de 30 anos, cujo caminho para a Pedra do Ingá, onde existem inscrições rupestres, inspirou a composição de um dos mais psicodélicos discos da música popular brasileira, Paêbirú.
"As nossas idas à Ingá reformularam o conceito do próprio filme. Agora, posso te dizer em primeira mão, que o nosso trabalho é um 'road movie doc'", informa Cristiano Bastos. "Estamos em uma Kombi e vamos filmando a cidade e, dentro do próprio veículo, ficamos assistindo alguns clássicos da psicodelia no cinema, como Head, Psyc Out e Monterey Pop, e filmando isso também. Então tem esse lance metalingüístico também", conta.
Durante o percurso, a dupla foi entrando nas cidades que fazem parte da rota para a Pedra
de Ingá e entrevistaram pessoas. Leonardo Bonfi m conta que o processo de gravação está sendo uma verdadeira 'viagem'. Ele diz que as lendas e histórias, das pessoas destas cidades, bem
como os seus mitos foram incorporados ao filme.
"O que mais nos chamou a atenção foi que todas as histórias sempre têm uma pedra. Algumas
pessoas não conheciam a Pedra do Ingá, mas havia histórias relativas a outras pedras", observa Leonardo Bonfim. “Vamos divulgar bastante as cidades e a cultura paraibana”, avalia Cristiano Bastos.
Por isso, o documentário acabou agregando o apoio da prefeitura de Ingá, além da Secretaria de Turismo e Desenvolvimento Econômico do Estado da Paraíba.
*Jornal da Paraíba, 16/07/2008. Fotos: Flora Pimentel.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

rÁDIO cOQUETEL mOLOTOV

Em clima de comemorações ao Dia Mundial do Rock, o programa traz dois convidados especiais. O primeiro é Cristiano Bastos, jornalista que está no Recife produzindo um documentário sobre o disco "Paêbirú", de Lula Côrtes e Zé Ramalho, falando sobre a psicodelia brasileira, recifense e gaúcha dos anos 70.
Logo em seguida, Zeca Viana, do Volver, entra no papo para apresentar músicas do tão aguardado segundo disco da Volver, "Acima da Chuva". O programa, que transcorreu em um clima agradável e descontraído, trouxe ainda as seguintes músicas:
The Million Dollar Quartet - (Elvis, Perkins, Cash e Jerry Lee Lewis) - "I shall not be moved"
Bob Dylan & Johnny Cash - "Sitting and wonder"
Zé Ramalho & Lula Côrtes - "Nas paredes da pedra encantada"
Flaviola e o Bando do Sol - "O Tempo"
D. Kalaf e Sua Turma - "Guerra"
Volver - "Acima da Chuva"
Volver - "Dia Azul"
Raul Seixas e a Sociedade da Grã-Ordem Kavernista - "Eu vou botar pra ferver"
Mercenárias - "Polícia"

terça-feira, 8 de julho de 2008

a bANDA mÁGICA dE cAPTAIN BEEFHEART*

Por um tempinho (mas só por um tempinho, viu?), esqueça "os discos mais importantes da história do rock": Sgt. Peppers, Pet Sounds, Os Mutantes, Are You Experienced – essas maravilhas canônicas.
Largue de mão, por uns dias, daqueles que já passaram, inclusive, de recém-redescobertos, como London Calling. Ou os clássicos cult: V.U, The Slider, All the Young Dudes, Unknown Pleasures.
Relaxa, as obras-primas existirão pra sempre. Nenhum advogado vai dar sumiço nelas, a liga Wasp não tá nem aí, e a Igreja Católica não medirá forças e esconjuros com o poder imbatível & satânico do rock.
Do umbral, novas levas de discos extraordinários e esquecidos, quase alienígenas, de autores fantasmagóricos - sim, mortos! - clamam em maximum volume pra reencarnarem novamente nos ouvidos esquecidos de roqueiros que andam meio desligados e muito indulgentes com o passado.
É possível que se façam de surdos, mas não de loucos (ou será o contrário?) ao apelo renovador dos grandes discos. Em troca de resgate, oferecem alento ao excesso de repetição & mimetização desses dias inomináveis.
Entes vivos, alguns álbuns são missionários de antigas boas novas que ainda tão valendo. Nós é que perdemos a noção, preferindo adorar hypes insuportáveis como óleo de rícino (ainda existe esse treoço?) ou mais passageiros que o Iggy naquela música - não a versão do Capital, por favor!
Neles, há fôlego pra superar a pasmaceira travestida de novidade, com excessões aqui e ali, que tomou conta do rock "atual". Como pedras, o rock ainda rola nos shows, nos discos, nas plataformas de sempre - só que, faz algum tempo, agora o rock é das pistas (!) - e todo mundo concorda que isso é moderrrnidade (com três erres mesmo): o rock "das pistas".
Estamos todos roubados. Na década de 70, o rock das pistas era a Disco. Se for assim, vão deixar só pro Radiohead gravar os verdadeiros álbuns e, daí, putz, que saco vai ser. Grandes álbuns de rock carecem ser deprês em alguns momentos, mas também precisam ser alegres e anarquistas.
Além disso, existe a suspeita de que a tecnologia, antes proclamada como a grande revolução televisionada, vem tolhendo a criatividade nos estúdios. Tomara que não.
Álbuns que ficaram perdidos no passado agora são fonte de sonoridades futuristas. O tempo é implacável com o bom e não perdoa o ruim. Esses discos ficaram décadas esquecidos, agüentaram modas fugazes e mofaram nos compartimentos empoeirados das discotecas.
A alquimia foi feita: converteram-se em elixires sonoros. Saboreá-los agora é uma honra e, sobretudo, deleite. A new generation de bandas precisa, urgentemente, ouvir outros fabulosos discos que os arquivos do rock têm guardados em milhares de gavetas - e não só aqueles clássicos citados no início do texto.
Simples assim: se as bandas não ouvirem tudo que, como lição de casa devem ouvir (e não é pouco!), para terem alguma noção sobre estética do rock, tão fodidas. Vão ser uns comuns. Vão usar t-shirt do David Bowie sem nunca ter ouvido The Man Who Sold The World.
E a imprensa, que não perdoa, sempre vai falar mal. É óbvio. Por mais que os crossoveres regionais e as boas intenções imperem, não há "mistura" que segure a onda. Depois, não adianta chorar, se descabelar, achar que é o fim.
Os Ramones, para chegar na sua genial simplicidade de três acordes, antes, tietaram todas as melhores bandas: Joe Ramone era fanático por rock, amava Marc Bolan, Slade, Johnny Thunders; enlouquecia com o wall of sound do Phill Spector e delirava com os timbres de guitarra que Tony Visconty conseguia com Ronson/Bolan.
Joe era um apaixonado por canções e produções. Por isso deixou o legado que deixou. O Renato Russo, para engajar legiões, parou para ouvir todos os fantasmas que dialogavam com a sua sofrida alma - de Nick Drake a Tim Buckley, de Maddona a Edith Piaf. Uma genialidade que não é exclusivamente dele, portanto. Hoje, sua coleção de discos é uma pinacoteca em Brasília, famosa por catalogar os discos que ele escutou para compor seu famoso hinário.
Safe As Milk (1967, RCA), do Captain Beefheart & his Magic Band, é base sonora perfeita para perceber que as roupagens do rock atual já tão todas megaover, belvedere certo para dar um breakzinho na redundância - sempre em cima das mesmas referências e clichês. Os mesmos cabelos, o jeito de tocar guitarra. Até isso.
Ninguém, com bom senso & tímpanos com tolerância limitada, suporta mais os simulacros mal ajambrados de estética novaiorquina e britânica da década de 70 e início dos 80 que sobrelotam o cenário. O cenário de hoje tem muito das pistas de dança: o cara enjoa e ninguém quer mais saber da banda. É ela que dança no esvaziar do salão.
Será que todo mundo pensa que vai formar uma banda, fazer os trejeitos do Tom Yorke ou, pela quadribilésima vez, emular The Who e Beatles e, ainda assim, pensar que está fazendo algo legal e "fresco"?
Música ficou no segundo plano. Uma explosão inevitável de imagens, modelitos descolados, videoclipes frenéticos, clipes mais legais que a música - a música, que está a frente da imagem, quando o lance é a própria música. E o fashionismo? Franjinhas emo, terninhos mod, sei lá mais o que e, agora, as munhecas, além da balaca. Gostaria que alguém me explicasse pra que servem as munhequeiras...Rock wear?
E o som?! O som...Bom, o som, deixa pra lá. Seja no Brasil, fora do Brasil, na Antártida ou na Islândia: Deu, cansou. Como o novo não passa de quimera, poderia ter dito Cortázar - Máquina do Tempo, por favor: Ativar!
ROCK AS SAFE - Safe As Milk é uma experiência psicodélica maravilhosa - e por excelência. É o disco mais acessível do louco, músico & pintor Don Van Vliet, o Captain Beefheart. O sujeito era comparsa de infância de Frank Zappa e depois virou seu parceiro musical. Daí já viu.
Segundo o arqueologista do rock Bento Araújo, editor da revista Poeira Zine, a idéia original de Beefheart (como se fosse possível prever o que se passava na cabeça desse maníaco) era fundir blues do Delta do Mississipi com free jazz e música concreta de Stockhausen & John Cage: "Beefheart queria soar como se Howlin Wolf tivesse tomado ácido e passasse a recitar peças de poesia surrealista, nunca mais tendo uma chance de recuperar sua sanidade novamente", define o jornalista.
Para se ter uma idéia, Beefheart fazia esculturas e pinturas aos quatro anos de idade, quando a família foi morar no deserto de Mojave. No meio do deserto, desenvolveu sua musicalidade aprendendo sozinho a tocar sax e gaita. As habilidades lhe deram amizade (na escola da região) com outro músico inovador, Frank Zappa. Não demorou muito e estava tocando com as bandas locais The Omens e The Blackouts.
Bento lembra que a peculiar voz de quatro oitavas de Beefheart era quase impossível de ser gravada. Não é a toa que, durante as sessões de Safe As Milk, vários microfones foram avariados assim que ele abriu a boca, dada a violência vocal: "Busco o som de uma serra-elétrica cortando uma chapa de metal", disse Beefheart.
Em 1969 saiu o duplo Trout Mask Replica, produzido por Zappa com nada menos que 28 atentados musicais. Não é digerível nas primeiras audições e gerou muito mais influência do que $$$. Do prog ao punk, em colisão à new wave, ninguém saiu ileso.
A música de Beefheart tinha o acompanhamento de um grupo rotativo de músicos chamado Magic Band, que esteve ativo do meio dos 60 ao início dos 80. Van Vliet, famoso pela fama de ditador com os músicos, também tocava saxofone de uma forma barulhenta e sem didática, o estilo free jazz. As composições têm a estranha mistura de marcações de tempo inusitadas e letras surrealistas.
Safe As Milk é um precipício de boas surpresas do início ao fim. Abre com um típico e inofensivo blues, "Sure 'Nuff 'N Yes I Do", e pula para o embalo rock-garageiro-psicodélico de "Zig zag wanderer" - que pode funcionar nas pistas de dança mais criativas & ousadas, sem que todos fiquem te olhando com aquela cara atravessada de "que porra essa?!"...
Uma beleza da natureza. Safe as Milk não é só insanidade. Algumas vezes passeia de mãos-dadas por baladinhas singelas e delicadas, como "Call on me" e "I'm so glad", boas para dar apaixonados beijos na boca.
A voz de Don Van Vliet é instrumento poderoso, que ele usa & abusa em "Electricity", música de vocal sinuoso acompanhado de guitarras mais zombeteiras que vespeiro em dia de eleição. Assombroso!
"Dropout Boogie" entrega porque Mark Arm, o cara do Mudhoney, falou que Safe as Milk é um dos venenos prediletos na sua estante de discos em Seattle. Disco que ele não tira da vitrola.
Recitando divertidas onomatopéias, em determinado momento parece que ouvimos Beefheart clamar em "Dropout Boogie": " Cebola, Cebola! - Cebola, Cebola!". Demais.
Mas o que Sr. Bigg Muff me confessou:
Qual álbum da primeira era piscodélica não sai nem a pau do seu player?
Arm - Escuto um monte de coisas diferentes e, uma hora ou outra, todas acabam deixando o meu toca-discos. Mas, Safe As Milk, do Captain Beefheart & the Magic Band é um grande álbum da primeira fase do piscodelismo. Assim como The Psychedelic Sounds, o primeiro do 13th Floor Elevators.
"Yellow Brick Road", a próxima faixa, um country rock salpicado de LSD e acid rock, antecipa todas as nuances do psicodelismo, como todo álbum, na verdade, faz - registre-se.
"Abba Zaba" é uma colagem pop de cacofonias e instrumentais inusitados. "Plastic Factory", blues com a harmônica selvagem de Beefheart, sua voz de bandido e base de guitarra fuzz lutando box com os instrumentos - mais ou menos isso, se possível. "Grown So Ugly", outro blues-rock adulterado - ninguém nunca fez blues-rock como Beefheart, nem Jon Spencer, que, esperto como é passa perto muitas vezes.
"Autumn's Child", o grand finale em soul rasgado. O início do segundo turno do pleito das vespas, um pouco mais tranqüilo e, até o fechamento das urnas, deliciosamente caótico, meio parecido com o Brasil.
O relançamento de Safe As Milk, de 1999, vem com sete bônus: "Safe As Milk (Take 5)", "On Tomorrow", "Big Black Baby Shoes", "Flower Pot", "Dirty Blue Gene", "Trust Us (Take 9)" e "Korn Ring Finger". Todas sobremesas deliciosas pós-refeição principal.
A formação que tocou em Safe As Milk é matadora.
Don Van Vliet: vocais
Ry Cooder: guitarra, baixo ("Abba Zaba" solo)
Doug Moon: guitarra
Alex Snouffer & St. Clair: guitarra
Jerry Handley: baixo
John French: bateria
Milt Holland: percussão, marimbas
Sam Hoffman: teremim Taj Mahal: percussão
Também pudera! Agora tudo explicado. A história deveria ser reescrita – ao menos parafraseada: "Dos poucos seres humanos que ouviram Safe As Milk, quem ouviu, pirou".
Deus queira que as bandas descubram, no oásis de criatividade e de loucura armazenado em tipos como Captain Beefheart, onde e como nascem as grandes idéias e as belezas feitas para durar para sempre.
E vivam os novos roqueiros!
*Tarde nunca é pra relembrar o pra sempre

sexta-feira, 4 de julho de 2008

nAS pAREDES dA pEDRA eNCANTADA

oNDE fOI pARAR eSSA bELEZA?

o rARO pAÊBIRÚ vIRA dOCUMENTÁRIO

PEDRO BRANDT*
DA EQUIPE DO CORREIO BRAZILIENSE
As lendas envolvendo São Tomé em um Brasil pré-Cabral estão espalhada pelo país. O fato é que arqueólogos ainda não conseguem explicar o Paêbirú (palavra que em tupi-guarani quer dizer, entre outros significados, caminho do sol), trilha que atravessa diversos estados brasileiros e teria sido feita por Sumé (corruptela para o nome do santo), para chegar ao Paraguai, fugindo dos guerreiros Tupinambás.
Um outro Paêbirú, no entanto, está prestes a ser desvendado. Lançado em 1975 (e ignorado à época), o disco de Lula Côrtes e Zé Ramalho é considerado o mais raro LP nacional. Em bom estado de conservação, chega a valer mais de R$ 5 mil no mercado de colecionadores.
Muito já se falou sobre esse álbum duplo de psicodelia agreste – que, no Brasil, nunca foi lançado em CD –, mas o documentário capitaneado por Cristiano Bastos, jornalista gaúcho radicado em Brasília, pretende jogar luz definitiva sobre o lendário disco.
Bastos é mais que credenciado para a tarefa – por enquanto, batizada como Projeto Paêbirú. Além de escrever textos para as revistas Bizz e Rolling Stone, é co-autor de Gauleses irredutíveis – espécie de Mate-me, por favor (livro norte-americano que repassa as origens do punk) do rock gaúcho.
"As histórias e mitologias que o disco narra, interpretadas pelo som e criatividade de Lula Côrtes, e do combo envolvido na história, é insuperável", comenta o diretor.
"Vejo Paêbirú além do simples psicodelismo: é uma obra que trata da história dos mitos locais, de questões arqueológicas pouco explicadas até hoje. Sem falar que tudo partiu da cabeça deste gênio que é Lula Côrtes. E Zé Ramalho, não dá para esquecer", continua.
A direção do documentário será dividida com o carioca Leonardo Bomfim, pesquisador do rock brasileiro e editor do site Freakium (http://www.freakium.com/), especializado no assunto. "A psicodelia nacional, apesar de alguns relançamentos em CD, ainda não teve o reconhecimento merecido.É só Mutantes e nada mais. Houve muita coisa, muitas bandas, muitas cenas, como é o caso dessa ponte entre Pernambuco e Paraíba", constata. A produção já se encontra em estágio avançado de pesquisa e entrevistas.
Dividido em quatro partes (água, terra, fogo e ar), Paêbirú é carregado de climas nordestinos (evidenciados pelo uso de instrumentos típicos), sons da natureza e rock psicodélico do mais ácido (cujo melhor exemplo é a faixa Nas paredes da pedra encantada). "Sempre fui uma pessoa muito curiosa quanto aos mistérios do passado. Os símbolos, desde os egípcios, sempre me encantaram muito", comenta Lula Côrtes, sobre as inspirações para o disco.
"A Pedra do Ingá (monumento arqueológico localizado na cidade de Ingá, na Paraíba), me fascinou pela maneira como foi escrita. Com que ferramentas, por quem foram escritas? Existem muitas lendas sobre ela, que parece querer me dizer algo que ainda não consegui entender", conta o pernambucano, na ativa até hoje como músico e escritor.
Sobre as gravações, Lula lembra que quase não existiram ensaios com os músicos. "Eu e Zé Ramalho compúnhamos as bases e propúnhamos o rumo dos arranjos. Depois dessa base pronta, acontecia uma espécie de jam session 'dirigida', especialmente para cada tema", explica.
"As sessões desse álbum reuniram quase todos os músicos que atuavam na cena pernambucana da época, uma das mais efervescentes do país, mas só badalada muitos anos depois", lembra o jornalista pernambucano José Teles. Além de Lula e Zé Ramalho (que só alcançaria sucesso como artista solo alguns anos depois), Alceu Valença e Geraldo Azevedo estão na ficha técnica de Paêbirú.
Gravado nos estúdios da Rozemblit, o disco foi um projeto independente tocado por Lula e sua então mulher Kátia Mesel (responsáveis pela produtora multimídia Abrakadabra) e lançado por conta própria sob o selo Solar. Vinil duplo, contava com encarte de oito páginas ricamente ilustrado.
Por muito pouco, Paêbirú não desapareceu de vez ainda em 1975. Uma enchente inundou o depósito da gravadora – as águas levaram embora todos os discos, com exceção dos 300 que estavam em posse de Kátia.
Relançado em 2005 em vinil e CD na Europa pelo selo Mr. Bongo, logo sumiu (mais uma vez) de catálogo. "Tanto os colecionadores quanto as revistas de música adoraram o disco", conta o inglês David Buttle, responsável pela volta do trabalho ao mercado. Lula Côrtes diz não saber muito bem porque Paêbirú não saiu em CD no Brasil até hoje. "Acho que é desinteresse das gravadoras", arrisca.
Corre o boato que Zé Ramalho não gostaria de ver o disco relançado – uns dizem que pelo fato de seu rosto só aparecer na contracapa, outros pelas referências lisérgicas das músicas.
"Vamos mandar um convite oficial para ele participar do documentário. Adoraríamos, afinal, essa história é dele também", diz Cristiano Bastos. Programado para ser um longa-metragem, Projeto Paêbirú ainda não tem data de conclusão.
*Pedro Brandt também colabora com o SenhorF

pAÊBIRÚ nA oUVIDORIA

O jornalista Cristiano Bastos entrou numa trip forte: está dissecando a história de um dos discos mais doentes da música brasileira, Paêbirú.
A parada vai virar um documentário e, se você levar em consideração o blog do Cristiano e o livro Gauleses Irredutíveis, o resultado vem consistente e instigante.
(Pra quem não conhece, Gauleses Irredutíveis é um livro do Cristiano e mais dois parceiros que fez pelo rock gaúcho o mesmo que o clássico Mate-Me Por Favor fez pela cena novaiorquina: registrou a memória sequelada dos participantes de forma intensa e expontânea).
Vale também dar uma olhada na pesquisa rápida que o Matias fez a respeito do disco.
*Publicado no site da Ouvidoria, onde Gustavo Mini Bitencourt - publicitário e um dos três homens da Walverdes toca - colabora. Mini também escreve no blog Conector. Na foto, Zé Ramalho nos tempos de Paêbirú.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

o gRITO! + cENABEATNIK

Ainda sem nome definitivo, Cristiano Bastos e Leonardo Bomfim gravam documentário no Recife sobre o LP Paêbirú, de autoria de Lula Côrtes e Zé Ramalho.

A produção, encabeçada pela dupla, conta a história do clássico disco perdido na enchente de grandes proporções ocorrido em 1975, no Recife. O documentário deve ser gravado em quatro cidades.

As gravações começaram no Recife, no dia 27 de junho com um bate-papo entre Lula Côrtes e Alceu Valença. Depois a equipe foi até o bar Novo Pina, localizado no Recife Antigo, para uma conversa com bandas da atual cena psicodélica recifense.

A equipe do projeto programa uma expedição à Pedra do Ingá, interior da Paraíba, para reviver os passos de Lula e Zé Ramalho. O LP era instrumental e teve sua inspiração neste local do interior da Paraíba, durante uma viagem de Lula e Ramalho. Depois da enchente, só estaram 300 cópias. Hoje, um LP de Paêbirú chega a custas R$4 mil.

Estão programados novas entrevistas com Lailson e Zé da Flauta. O primeiro tocou com Lula Côrtes no disco Satwa e o segundo também participou das gravações do Paêbiru. Estão confirmados, também, Marcos Polo e Almir, que eram do Ave Sangria.

CENABEATNIK

Cristiano Bastos, já famoso para quem frequenta este blog, está em processo de gravação do documentário sobre o álbum Paêbirú & Vida e Obra de Lula Côrtes. Aqui a notícia sobre quem está no projeto e de como ele será realizado.

(Paêbirú" é um disco gravado por Lula Côrtes e Zé Ramalho em 1975, presença certa nos anais da melhor psicodelia brasileira já produzida; Lula Cortês é um artista pernambucano "multimídia" bem antes de existir esse termo, e também um dos pioneiros na fusão de ritmos nordestinos com o rock'roll.)

*Publicado na Revista O Grito!
*Publicado no blog Cenabeatnik

fLESH nOUVEAU fILMES!

Na passarela, desfile dos possíveis logotipos da produtora Flesh Nouveau! Filmes, obra do talentoso amigo Nik Neves, cara que criou a Revista ZE e faz ilustrações pra Playboy, Rolling Stone espanhola e American Express Magazine.
Nik fez a capa de Gauleses Irredutíveis (aliás, é ele que está na capa!) e elaborou a arte gráfica dos primeiros discos da Bidê ou Balde.
A logo - francamente inspirada na marca da 20Th Century Fox - será animadas: do ventre da nossa musa jorrará sangue cenográfico...


quarta-feira, 2 de julho de 2008

pAÊBIRÚ nO pROGRAMA rADAR (tVE pORTO aLEGRE)

o pODER dOS sONHOS*

POR CRISTIANO BASTOS
Se sobrou alguém que não desistiu de sonhar coletivamente, este é o escritor e ativista paquistanês Tariq Ali, radicado em Londres. Seu caso, contudo, nada tem de onírico: "Ação!" é a palavra que traduz sua militância política desde 1968 - ano em que, literalmente, a humanidade decidiu se levantar contra o seu próprio sedentarismo. Mesmo que, novamente, tenha caído na rotina.

A agilidade política da esquerda libertária é o empolgante enredo de O Poder das Barricadas - Uma autobiografia dos anos 60 (Street-Fighting Years, an Autobiography of the Sixties, Boitempo Editorial, 408 págs, R$ 68), obra que reúne relatos e vivências de Ali em lutas que enfrentou de Karach a Saigon, passando por Havana, Londres, Paris e Berlim.

A edição da Boitempo se baseou na versão revista e ampliada pelo autor em 2005. Ali preferiu desconsiderar críticas ao texto original: "Não se deve ajustar a História às necessidades do presente”, argumentou.

Mas o créme de la créme do livro é a entrevista com John Lennon e Yoko Ono, que Tariq Ali fez em 1971 e a Revista Brasileiros reproduz trechos com autorização do autor. Saiba antes o que Ali falou sobre o amigo beatle, expansão da consciência e barricadas, claro.

*Publicado na edição de junho da Brasileiros. Na foto, Ali marcha ao lado de Vanessa Redgrave. Nada mal...

sTREET fIGHTING yEARS

O que a juventude pode aprender com o Maio de 68?

Tariq Ali - Pensar e agir por si mesmos, ser críticos com a política oficial e a mídia que a apóia. Desafiar toda forma de ortodoxia, se opor à pobreza e à guerra.

Como explicar que liberação feminina, revolução sexual e a contracultura eclodiram todas ao mesmo tempo, nos anos 60?

Ali - Elas estavam inspiradas pelas vitórias dos vietnamitas contra os mais poderosos imperalistas mundiais. "Se eles puderam fazer isso, porque não os outros?" Isso inspirou uma onda de esperança que se espalhou pelo mundo. As mulheres ativistas chamaram o seu movimento de Frente pela Liberação das Mulheres, depois que houve a Frente pela Libertação Nacional dos Vietnamitas.

Alguma lembrança marcante da entrevista com Jonh & Yoko? Lennon foi mártir ou vítima, na sua opinião?

Ali - John era um amigo pessoal, e se tornava mais e mais político a cada dia. A canção “'Working Class Hero'” reflete bem seu processo de politização. Ele foi vítima de um louco paranóico norte-americano. Uma tragédia. Poderia ter marchado conosco contra a guerra no Iraque.

Após 40 de barricadas, a consciência política mundial se expandiu?

Tariq - Não. Vivemos num mundo dominado pelo consumismo, pelo estilo de vida das celebridades e pelo individualismo - em meio a grande pobreza. E, atualmente, diante de uma crise dos alimentos. Isso não vai durar muito, mas institucionalizou-se uma despolitização. As mudanças políticas na América do Sul (Venezuela, Equador e Paraguai), no entanto, renovaram as esperanças.

jOHN lENNON: "eU nÃO qUERIA sER mORTO"

Ali – Quando você começou a romper com o papel que lhe impuseram como Beatle?

Lennon – Mesmo nos melhores dias dos Beatles eu tentei ser contra, George também. Fomos algumas vezes aos Estados Unidos e Epstein sempre tentou levar a gente no papo para não falar nada sobre o Vietnã. Aí chegou uma hora que George e eu dissemos: "Olhe, quando perguntarem de novo, vamos dizer que não gostamos dessa guerra e que achamos que vocês deviam sair de lá agora mesmo". Foi o que fizemos.


Ali – De certa forma, você já pensava em política quando parecia combater a revolução?

Lennon – Claro, "Revolution". Há duas versões da música, mas a esquerda underground só escolheu a que diz "count me out" ["não conte comigo"]. A versão original, que termina o LP, também dizia "count me in" ["contecomigo"]; pus as duas porque não tinha certeza. Havia uma terceira versão que era só abstrata, música concreta, com seqüências e coisas assim, gente gritando. Achei que estava pintando uma imagem de revolução com os sons, mas cometi um erro, sabe. O erro foi que isso era anti-revolução. Na versão que saiu no compacto, eu dizia: "Quando falarem de destruição, não contem comigo". Eu não queria ser morto.

Ali – Mas aí seu sucesso foi além de qualquer sonho.

Lennon – Jesus, foi uma opressão total. Quer dizer, passamos por humilhação em cima de humilhação com a classe média, o showbiz, os prefeitos e tudo isso. Eram tão condescendentes e estúpidos, todos querendo nos usar. Para mim foi uma humilhação especial, porque nunca conseguia ficar de boca fechada e sempre tinha de estar bêbado ou ligadão para agüentar a pressão. Foi mesmo um inferno...

bACKSTAGE pAÊBIRÚ

Lula Côrtes faz o tricórdio zunir tocando com a gurizada da nova geração do rock de Recife. As bandas Canivetes, Os Insites, Anjo Gabriel, O Gigantesco Narval Elétrico, Dunas do Barato e Malvados Azuis - além de Canibal (Devotos) e Dirceu (Jorge Cabeleira) - marcaram presença. O registro foi feito no bar Pina de Copacabana, parte antiga da cidade e locação do primeiro dia de filmagens. Crédito: Flora Pimentel.

terça-feira, 1 de julho de 2008

tRABALHO sUJO*

Cristiano Bastos, um dos autores de um dos livros mais legais sobre o pop brasileiro (o ótimo Gauleses Irredutíveis, sobre o rock gaúcho), partiu para uma aventura na outra ponta do país.
Embarcou numa jornada para Pernambuco, para contar a história de um dos discos mais emblemáticos da discografia brasileira, o enigmático Paebirú.
Lançado por Zé Ramalho e Lula Cortes no mítico ano de 1975, o disco talvez seja um dos principais tratados psicodélicos brasileiros.
Longe dos experimentos pop e pueris dos Mutantes ou das releituras retrô puxadas por gente como Jupiter Maçã, Mopho e Supercordas, o disco da dupla afunda pesado num misticismo hippie brabo, auxiliada por expansores de consciência diversos e submete o ouvinte a uma dose cavalar de barulho e lisergia sonora e faz Araçá Azul, de Caetano Veloso, por exemplo, soar tão inofensivo quanto uma sessão de autopsicanálise.
Não bastasse isso, o disco ainda é o vinil mais raro - e portanto, caro - do país. Nem o lendário Louco por Você, que Roberto Carlos fez questão de esconder, é tão valioso. O microdocumentário Procurado Número Um do Brasil, produzido pela potiguar Mudernage, fala um pouco da importância do disco como relíquia.
(...)
O jornalista gaúcho Marcelo Ferla faz uma conexão entre o Rio Grande do Sul e Pernambuco:
"Não é uma tese formal, apenas um brainstorm: RS e PE, que em um momento foram colonizados por europeus, têm muitas semelhanças: uma autonomia artística em relação ao q no Sul se chama 'centro do país' (RJ/SP); são estados historicamente de oposição política, o que é fortemente refletido em sua música (a Insurreição pernambucana é considerada marco no nacionalismo brasileiro/a Guerra dos Farrapos a única que não teve vencedor nem vencidos: deu empate, oficialmente); ambos têm dificuldades de serem ouvidos/compreendidos e precisam criar mercado e mecanismos próprios; têm juventudes migrantes, que precisam sair do Estado em busca de espaço e emprego (mas voltam quando podem); têm músicas regionais próprias muito parecidas (baião e vanerão) e levadas pelo memo instrumento: gaita por um, sanfona pelo outro; acima de tudo, tem uma grande, quase nacionalista, paixão por seu território – só no RS e em PE as torcidas levam bandeiras de seus estados nos estádios de futebol, por exemplo. (Em termos de Brasil, se pensarmos dos estados mais autônomos e que influem nos demais, a Bahia é + universal e africana, MG tão brasileira quanto RJ e SP, uma cidade do mundo); RS e PE são distantes deste universo".
A íntegra está no site do Alexandre Matias, o Trabalho Sujo

jOGADO aOS tEUS pÉS

cUIDADO cOM oS tUBARÕES!*

O atelier de Lula Côrtes, em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, fica de frente pro Oceano Atlântico. Da sacada do apartamento, vista para os arrecifes da praia de Candeias e para os famintos tubarões que só esperam alguém marcar bobeira dentro d'água pra iniciar o festim.
Dias atrás, ataques feriram gravemente dois adolescentes em Piedade, próximo daqui.
O barco do controle de pesca da Universidade Rural de Pernambuco faz sua ronda. Em média, captura, diariamente, 20 cações presos em espinhéis.
O número revela a preocupante proliferação de cetáceos nessa perigosa porção aquática: "Proibido tomar banho", inutilmente advertem banhistas e surfistas as placas fixadas na extensão de areia.
Côrtes explica que o aterro dos mangues e a destruição do estuário de Suape, para instalação do novo porto de Recife, prejudicou gravemente a cadeia alimentar dos tubarões: "Não são eles, com certeza, que devem levar a culpa pelos ataques. Culpados somos nós, que acabamos com seu habitat", protesta o artista.
O apartamento de Lula fica numa área nobre da História do Brasil: aqui, nesse pedaço de terra, foram pelejadas batalhas que delinearam importantes rumos políticos do país. A batalha de Jaboatão de Guararapes, em 1648, expulsou os holandeses das fronteiras marítimas.
As lutas deixaram em Recife traços da cultura indiana, cujas tropas mercenárias foram contratadas pela Holanda para a guerra. Mas isso já é papo pra outra conversa com Lula. Agora, fique com a entrevista, onde o nosso "factótum" predileto falou sobre arte, história, Pedra do Ingá, rock psicodélico e más-companhias...
*Capa do álbum O Gosto Novo da Vida (Ariola, 1980): sucesso de vendas

lULA cÔRTES: "sOU uM fACTÓTUM"

Qual importância de Paêbirú pra música brasileira?
Lula Côrtes - Na época em que foi feito, nenhuma. Mesmo após o lançamento, a recepção foi fria. As pessoas não estavam preparadas pro espírito do disco. Paêbirú é um disco de "hoje", na verdade.
Os efeitos do disco foram feitos como?
Côrtes - Se costuma pensar por aí, que a maioria dos efeitos são eletrônicos, quando são, na realidade, panelas com água, pios de caça, vozes humanas, chocalhos de cabra. A introdução que antecede o saxofone de "Segredo de Sumé" é uma corneta de vender picolé. Louco, né?!
O que descobriram de mais preciso fazendo Paêbirú?
Côrtes - A amizade e, depois, harmonia pra continuarmos trabalhando em vários álbuns. Cada qual, após Paêbirú, seguiu seu caminho: Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, Lailson, Zé da Flauta e Jarbas Maris.
Quais bandas vocês ouviam?
Côrtes - It's a Beatifull Day, Crosby, Stills and Nash, Tyranossaurus Rex, Neil Young, Captain Beefheart, Grand Funk Railroad, e mais uma penca de coisas…
Alguma obra serviu de modelo pras "loucuras" do grupo?
Côrtes - Os discos que mais influenciaram foram os temáticos: Viagem ao Centro da Terra, Ozzy Bizza, Frank Zappa & Mothers of Invenation. Dos brasileiros, basicamente Mutantes. Foi Duprat que abriu nossas cabeças.
Que tipo de energia tem na Pedra do Ingá?
Côrtes - A energia do mistério, do lendário que ficou no inconsciente coletivo e gerou muitas lendas "mal-assombradas"... Ainda hoje procuro outras formas de energia no local.
O que há de mais revelador em toda essa historia?
Côrtes - Às vezes, se está num lugar tão raro, em beleza e mística, que nem nos damos conta. No som, a fusão do folclore com a abordagem livre, vanguardistas e psicodélica que tivemos.
Depois de Paêbirú, quais caminhos seguiste na música?
Côrtes - O caminho do RPB: Rock Popular Brasileiro. Já trabalho com a banda Má Companhia, de Recife, há 17 anos.
E hoje?
Côrtes - Hoje sou um eterno futucador de coisas, um factótum.

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