domingo, 30 de novembro de 2008

cASA dA eSQUINA 23

pÚBLICA: lUGAR qUALQUER

pÚBLICA: o fILME sEMPRE a rODAR*

POR CRISTIANO BASTOS

(...) Naquela noite
de 2001, Metz nos contara que tinha uma banda - só que não demos muita bola, a real é essa.

Afinal, encapotado em seu traje britpoper, no gelado saguão da Faculdade, segurando seu caderno, Pedro ainda era um piá (a little boy...). A instituição Pública, contudo, já existia.

Tal qual o conceito da banda, as nítidas influências - a poesia, o mote, a pulsão sonora, as canções. Com a popularidade do livro Gauleses Irredutíveis, passamos a organizar na cidade (de Porto Alegre) as Segundas Irredutíveis, espécie de happening roqueiro que acontecia mensalmente no bar Dr. Jekyll.

A Pública praticamente estreou lá.

Pelo que me lembro (ou não lembro), nessa época, tinham outra formação. Claro que, atualmente, a banda está melhor anos-luz. Esse detalhe eu já tinha percebido em 2007, quando fui cobrir o festival Bananada, em Goiânia, pela revista Bizz. A Pública apresentou um dos melhores shows.

O disco Polaris, de 2006, já apontava os claros horizontes sonoros que tomariam a seguir. Em 2008, Como Num Filme Sem Um Fim, eu diria, comprova - não exatamente - a evolução da banda. Melhor ainda, confidencia o "tanto", o "quanto" e "como" amadureceram. Um amadurecimento estético, sobretudo.

Amadurecer é o pressuposto mor, sem o qual qualquer banda do mundo está fadada à bancarrota mercadológica. Seja no mainstream, no underground ou no... "mainstream do underground". Até os Ramones sofreram mudanças formais, quando foram produzidos por Phill Spector.

O produtor manteve os punks reféns no estúdio com uma arma apontada para suas cabeças durante sessões de gravação. O resultado, no entanto (o que importa, no fim das contas), saiu diferente de tudo que algum um dia, em seus devaneios pop, Joe tenha sonhado conceber.

Amadurecimento à parte, as "influências de coração" não mudaram na Pública: Stone Roses, John Lennon, The Cure, David Bowie, Supergrass. Pelo contrário, elas se fortaleceram. E ainda tem muitas outras sonoridades na jogada. São amores musicais que não dão para esquecer. E, sim, os compositores locais: Nei Lisboa & Júpiter, que a Pública admira.

Como Num Filme Sem Um Fim é cheio de nuances instrumentais caprichadas e amplificadas pela produção em estúdio do técnico Marcelo Fruet. Algumas músicas foram abrilhantadas por participações especiais. É o caso de "Canção de Exílio", um dos pontos altos do disco, com a guitarra micro sinthetizer de Gabriel Guedes (Pata de Elefante).

A seqüência de abertura, que inicia com "Quarto das Armas", "1996", "Canção de Exílio", "Casa Abandonada" e "Vozes", empolga e contagia. São músicas que têm o poder de tomar os ouvidos de assalto, embora o mais justo é que viessem a invadir as rádios brasileiras com suas melodias pop.

"Sessão da Tarde" é um vaudeville ensolarado, no melhor estilo dos Kinks. Combina com Porto Alegre, aliás. A referência sixitie-mod prova que a linha do horizonte da Pública não é guiada apenas pelo presente - afinal, os simulacros do presente podem ser tão enfadonhos quanto os simulacros do passado, se mal interpretados ou, pior, apenas imitados...

A Pública também ataca nas baladas, óbvio (um forte deles), e exibe, sem ser blasé, a notável envergadura instrumental dos seus integrantes - bem acima duma média que anda por aí a nos constranger os ouvidos e a paciência, por sinal.

Dia desses, comentava com um grande amigo, cuja opinião muito levo em consideração, que uma das coisas que mais tinha chamado a minha atenção em Como Num Filme Sem Um Fim era a maneira como fora gravado: distanciando-se ao máximo do método de gravação que eu e ele denominamos de "massa corrida".

O método ainda é adotado por muitos toscos aventureiros em estúdio, em pleno esplendor do século 21.

"Massa corrida": método no qual produtor e banda entram em estúdio e registram as canções diretamente, praticamente ao vivo, sem direcionamento algum no sentido de, conscientemente, estruturar uma engenharia de gravação e produção.

Um dos produtores que melhor conseguiu fazer bons álbuns desse jeito foi Chas Chandler, com o Slade. Mas o Slade era o Slade. E é bom lembrar que com Jimi Hendrix, que ele também produziu, a metodologia escolhida não foi o da "massa corrida"...

E, de qualquer modo, Chas está morto mesmo.

Vida longa à Pública - sucesso para Como Num Filme Sem Um Fim!

*Aqui, ó

jOVEM cOWBOY

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

mENSTRUADA!

nÃO mE mANDE fLORES

dE fALLA (1988)

O segundo álbum do De Falla, apelidado pelo vocalista Edu K de It's Fuckin Boring to Death (controverso, pois o nome só é perceptível na lombada do vinil), é o último disco da banda pelo selo Plug da major BMG.
Cercados pela crítica, que aguardava novo sopro de criatividade, o DeFalla não frustrou as expectativas: do pós-punk do primogênito LP, partiram pro crossover maluco de rap, funk e heavy metal, em 1988 - o que prova que estavam ligados nas últimas tendências estrangeiras que, há vinte anos, recém saíam do berço.
São perceptíveis as influências de Run-DMC, Beastie Boys e Red Hot Chili Peppers, sem que a banda perdesse de vista microfonias, vinhetas absurdas e letras fundindo português e inglês (como em "I Have to Sing a Song"). O De Falla também não fez concessões à peculiar obssessão pelos temas sexo & violência. O disco é um dos pioneiros do uso do sampler no Brasil. Entre outras colagens, quem prestar atenção pode sacar uma fala de Denis Hopper no filme Veludo Azul, de David Lynch.
Logo na abertura, a versão upgrade de "Como Vovó Já Dizia", de Raul Seixas, numa versão rap com muitos escratch e batidona arrasa quarteirão. Na opinião do guitarristra Mini, dos Walverdes, esse disco sintetiza parte importante do espírito do rock gaúcho - que é estar extremamente conectado no que está rolando mas, ao mesmo tempo, cultivar certa atitude de "não tô nem aí para nada": "Nesse álbum, a mistura de pop, hip-hop, rock, pós-punk e funk soa incrivelmente chinela e sofisticada ao mesmo tempo".
A insanidade prossegue faixa após faixa, como na versão desconstruída de "Revolution" (que era pra ser uma versão dos Beatles e, como não ficou nada semelhante à original, virou música do De Falla mesmo) e no hit "Repelente". O "lado B" começa com "It´s Fuckin Borin to Death" - cuja letra cita o filme Nascido para Matar, de Stanley Kubrick - e prossegue com o groove demoníaco de "Satã (é coisa do diabo)". Tonho Croco, da Ultramen, confirma a diversão: "Gastei o vinil e a fita cassete de tanto ouvir!".
*Da votação da Aplauso que escolheu os 10 mais do Rock RS. A classificação:
1. A Sétima Efervescência (1996) - Júpiter Maçã
2. Por Favor, Sucesso (1969) - Liverpool
3. De Falla (1987) - De Falla
4. O Futuro É Vórtex (1986) - Replicantes
5. TNT (1987) - TNT
6. Bixo da Seda (1976) - Bixo da Seda
7. DeFalla (1988) - DeFalla
8. Coisa de Louco II (1995) - Graforréia Xilarmônica
9. Fita demo da Vórtex (1987) – Cascavelletes
10. Olelê (2000) – Ultramen

sTEPPIN'sTONE

mETAL mUSIC mACHINE

sWEET, sWEET hEART

pOLICE oF mY bACK!

(yOU cAN'T pUT yOUR aRMS aROUND) mEMORY

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

oS sEGREDOS tALHADOS pOR sUMÉ

Quando as tiras do véu do pensamento
Desenrolam-se dentro de um espaço
Adquirem poderes quando eu passo
Pela terra solar dos cariris
Há uma pedra estranha que me diz

Que o vento se esconde num sopé
Que o fogo é escravo de um pajé
E que a água há de ser cristalizada
Nas paredes da pedra encantada
Os segredos talhados por Sumé

Um cacique de pele colorida
Conquistou docilmente o firmamento
Num cavalo voou no esquecimento
Dos saberes eternos de um druida
Pela terra cavou sua jazida

Com as tábuas da arca de Noé
Como lendas que vêm do Abaeté
E como espadas de luz enfeitiçada
Nas paredes da pedra encantada
Os segredos talhados por Sumé

Cavalgando trovões enfurecidos
Doma o raio lutando com Plutão
Nas estrelas-cometas de um sertão
Que foi um palco de mouros enlouquecidos
Um altar para deuses esquecidos

Construiu sem temer a Lúcifer
No oceano banhou-se na maré
E nas montanhas deflorou a madrugada
Nas paredes da pedra encantada
Os segredos talhados por Sumé

Sacrifique o cordeiro inocente
Entre os seios da mãe-d’água sertaneja
Numa peleja de violas se deseja
É que o sol se derrube lentamente
Que a noite se perca de repente

Num dolente piado de Guiné
Nos cabelos da ninfa Salomé
Nos espelhos de tez enluarada
Nas paredes da pedra encantada
Os segredos talhados por Sumé

mOSCA nA sOPA

tU éS o mDC

mE dEIXA eM pAZ

pLUNCT, pLACT, zUM!

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

69 eROTIQUE

aTOMIC!

a aUTO-DESTRUIÇÃO dE gIA cARANGI

POR CRISTIANO BASTOS

O showbissnes é uma varinha de condão com dupla magia: feitiço que produz fama e tragédia quase na mesma medida. Uma legião de almas já escoaram pelo ralo do mainstream. Mas, das célebres vidas ceifadas por excessos, quantas partiram de verdade seu coração? Poucas histórias superam em tristeza a apressada trajetória, na vida e nas passarelas, da modelo norte-americana Gia Marie Carangi (1960-1986). A morte de Gia, vítima da Aids, da fama, do vício em heroína - e especialmente de si mesma - já tem mais de 20 anos.

Gia teve uma carreira tão curta e glamourosa e um final tão infeliz e degrandante que, na ficção, nem o óbito misteriosa da personagem Laura Palmer aproxima-se dos requintes de degradação física e moral auto-indulgidos pela modelo. Perto do hecatombe pessol de Gia, as mortes de Kurt Cobain e Sid Vicious, retardados ícones da heroinomania, são brincadeiras estúpidas de dois desacerebrados. Gia é dessas almas perdidas que gostaríamos de incluir em nossas preces diárias.
Em 1979, aos 17 anos, Gia Carangi, uma ex-caixa de lanchonete da Filadélfia, vai pra Nova York apostar na carreira de modelo. Sua ida ao topo foi veloz. Em menos de um ano, sua beleza desnuda (cuja pele, considerada perfeita, poucas vezes era preciso maquiar) ganhou as capas da Cosmopolitan, Glamour e Vogue, as mais importantes revistas de moda do mundo.
No intervalo de quatro anos, tempo que sua carreira durou, Gia representou marcas famosas, como Christian Dior, Giorgio Armani, Levi's e Yves Saint Laurent. Foi a modelo favorita dos fotógrafos Francesco Scavullo e Richard Avedon e a mais requisitada dos estilistas Gianni Versace e Diana Von Fustemberg. Em abril de 79, a carreira de Gia decolou de vez quando estrelou na capa da Vogue Paris, fotografada por Chris Von Wangenheim. Nessa sessão, conheceu Sandy Linter, que trabalhava como assistente e com a qual teve ardente (e polêmico) caso de amor dos bastidores da moda.
Nos anos 80, Gia causou rebuliço na pele da primeira mulher a desfilar com roupas masculinas e, também, por aparecer no estúdio de cara lavada vestida num velho jeans rasgado. À paisana, para ressaltar seu lesbianismo Gia vestia-se com indumentárias masculinas; por debaixo da roupa, porém, escondia-se o corpo feminino mais lindo de sua geração.
No final da década de 70, literalmente, o universo da moda ainda estava "dentro do armário". Gia foi a primeira modelo a assumir-se como homossexual. Entretanto, segundo confessou em seu diário, sua vida teria sido inteiramente diferente se, no fim das contas, gostasse de homens. Muitas pessoas que cruzaram pela vida de Gia e descreveram-na como mulher de enorme presença – a mais linda e cool da sua época. Por outro lado, sua vulnerabilidade psicológica era ainda mais notória.
A morte de sua amiga e agente, Wilhelmina Cooper, em 1980, devastou a frágil psiquê de Gia. Foi quando começou a se revolver na areia movediça da dependência química. De acordo com a biografia Thing of Beauty, de Stephen Fried, provavelmente, o fato alterou todo o curso de sua vida, "transfomando seus dias num inferno de drogas". Hoje, apreciando suas fotos é difícil perceber que mulher tão linda como Gia dissimulasse vício tão infeliz.
Os problemas enfrentados pela da top model tem gênese nos traumas de infância: ainda criança, sua mãe abandonou lar e marido. A bipolaridade extrema (nunca tratada) - oscilante entre picos de felicidade e tormentas emocionais - foi a porta de entrada da infernal trip junkie na qual, sem volta, jogou-se a modelo.
Celebridade, logo Gia virou habitué do Studio 54, club novaiorquino onde a drogadição rolava solta na fritura hedonista da era disco. Não tardou para introduzir-se na cocaína e, bem rápido, foi apresentada à heroína. Se não estava louca de coca ou herô, Carangi chapava-se de ambas as subtâncias - o speedball, combinação perigosa que fazia a cabeça de seu maior ídolo: David Bowie.
Gia teve dois importantes títulos. Um deles foi ser a primeira modelo da história a ser chamada de "super top model". Na linha cronológica do fashionismo, ela é mãe de Gisele Bündchen e madrinha de Cindy Crawford. A semelhança entre as duas era tão notável que, na estreia, Crawford recebeu o apelido de "Baby Gia". Na incipiência devastadora da Aids, Gia foi a primeira "mulher famosa" diagnosticada com o vírus nos Estados Unidos, doença contraida pelo compartilhamento de seringas.
O vício custou carreira, dinheiro e, por fim, a vida de Gia Carangi. No auge do sucesso, numa única temporada, a modelo chegou receber cachê de U$ 750 mil - cifra elevadíssima para os padrões da indústria da moda no áureos anos 80. O cachê diário de Gia, em média, era de U$ 10 mil. No fim da carreira, em 1984, não lhe sobrara um mísero tostão. Começou a prostituir-se com homens para conseguir dinheiro para as drogas. Na sarjeta, fo preciso declarar-se indigente para tratar sua doença no sistema público de saúde. No final da doença, que, em dois anos, a devastou completamente, os músculos de Gia descolaram-se inteiramente do corpo.
A carreira de Gia começou a ruir quando, durante uma sessão de fotos, as marcas de picadas foram descobertas em seus braços. Foi o fim de sua carreira. A modelo passou para a lista negra do mercado da moda. A capa da Cosmopolitan que ilustra esse post foi a última parição de Gia numa publicação especializada. O fotógrafo e amigo Francesco Scavullo teve de forçar a barra para que Cosmopolitan publicasse o ensaio de Gia na edição de abril de 1982. Note que a foto esconde os braços de Gia por trás do vestido. Essa história é retratada na premiadíssima cinebiografia da HBO Gia – Destruição e Fama, produção que salva a carreira de Angelina Jolie.
No Brasil, o telefilme foi lançado diretamente em vídeo. Merecidamente, Angelina Jolie ganhou o Globo de Ouro pela atuação, responsável por alavancar sua carreira de atriz. Ela mostra porque sua bissexualidade fez fama em cenas pra lá de ousadas em uma produção televisiva. Tão picantes que cerca de seis minutos de cenas foram cortadas; são achadas apenas na versão alongada do filme. A escolha de Jolie para o papel foi a mais acertada possível. Não lembro de nenhuma atriz em Hollywood que reúna beleza e personalidade complexa para representar uma vida tão perturbada como a de Gia.
Drogas e moda são velha combinação. Antes de Gia, a musa de Andy Warhol, a modelo e socialite norte-americana Edie Sedgwick enlouqueceu até morrer abusando de remédios e de drogas psicodélicas. Sua história é contada no filme Factory Girl (2006), com Sienna Miller no papel de Edie.
Em 1997, a morte do fotógrafo de moda Davide Sorrenti por overdose de heroína, aos 20 anos de idade, escancarou o temário das drogas pesadas nas manchetes dos jornais. Na época, sua namorada era a modelo adolescente James King. Ela tinha 14 anos quando lhe ofereceram heroína numa sessão de fotos: "Eu vivia cercada por drogas. Era algo que estava sempre presente. O editor, o fotógrafo, todo o mundo fumava ou injetava drogas", revelou King.
A heroína gozou seu "momento fashion", em 1993, com a chegada da moda grunge. Fotografada pela Vogue britânica, Kate Moss tornou-se o rosto do "heroin chic". Algumas modelos afirmam que nunca viram drogas sendo consumidas no mundo da moda. "Ouço boatos, mas nunca vi", disse Cindy Crawford - a Baby Gia.
Hoje, Gia Marie Carangi é mais conhecida por ter sido dependente de heroína e morrido de Aids do que, extamente, pelo seu trabalho. No final da vida, Gia queria essa história fosse contada para que outras pessoas tivessem a oportunidade de aprender com a tragédia. Dessa forma, nem tudo teria sido em vão. Do mundo da moda, ninguém compareceu ao funeral.
Giaweb
Site completíssimo com imagens de todas as capas e trabalhos fotográficos de Gia Carangi: editoriais, nus e trabalhos para grifes como Vogue, Dior e Versace. Traz fotos da modelo antes da fama, de lingerie, trajes de banho, links e muito mais.
Giatube
Ela é uma das modelos famosas dos anos 80, ao lado de Zoe Lund, que participam do clipe de "Atomic", do Blondie. Gia aparece dançando e pulando nas partes 1.51, 2.34, 3.15 e 3.55
Documentário The Self Destruction of Gia. Traz entrevistas com Gia, sua mãe, amigos, amantes, estilistas e fotógrafos sobre a morte da modelo. Em quatro partes
Gia completamente chapada numa gravação rara em vídeo
Série de imagens raras de Gia Carangi
Angelina Jolie & Elizabeth Mitchell...

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

kINDA kINKS*

Toda vez que um gigante do rock manda recado que vai despertar de uma sonolenta temporada de hibernação, não é a emoção que fala mais alto – é o pé-atrás.
Depois do ostracismo, o regresso dos dinossauros aos palcos e aos estúdios cheira a golpe ou recende à naftalina. A reação alérgica de abrir o guarda-roupa da casa de praia que ficou fechado por uns verões.
Muita gente vibrou com a volta dos Stooges, mas, nem os mais fanáticos sabem o nome de uma música do novo último disco deles, The Weirdness. Eu sei: “My idea of fun”, que tem jeito de "No Fun" recauchutada. Os New York Dolls lançaram One Day it Will Please Us to Remember Even This, porém, qual graça sem Johnny Thunders e Arthur Kane Killer?
Existe uma multidão saudosista disposta a financiar a volta de todos os mortos-vivos do rock – então, who cares? Viva a necrologia do pop! Eu apóio. Na volta de um sobrevivente como o MC5 – show que vi com os próprio olhos, em 2005 – a latente expectativa era de se reviver a emoção genuína que se tem ao ouvir um disco como Kick out The Jams: virulência punk em alta octanagem, duelos sônicos de guitarra e deleite noise, basicamente.
A banda, ainda que desfalcada de Fred Sonic Smith e Robin Tyner, claro, fez de tudo para concretizar o sonho coletivo presenteando a todos com um simulacro quase perfeito dessas nossas expectativas. Saí de lá enganado e feliz. Se faz uma ressalva pro MC5: a banda não fazia apresentações desde que se separou, há 35 anos atrás.
Se você não concorda com nada escrito até aqui, tudo bem – foi só um nariz de cera pra justificar que também tenho defuntos que gostaria de ressuscitar enquanto a morte não ceifa as almas que restaram no panteão de heróis clássicos do rock. Se eu tivesse chancela divina (ou financeira) pra isso, não resta dúvida de que a primeira banda pra qual daria o meu "sopro de vida" seria The Kinks. Eles estão no topo da minha lista além-túmulo.
Something Else By The Kinks – Fãs como eu, que passaram a adolescência – e ainda na idade adulta – sonhando ver os Kinks tocando “Waterloo Sunset”, “Till the End of the Day”, “All Day All Night”, “Set me Free”, “Picture Book”, “Lola”, podem soluçar à vontade. Ray Davies, o homem a frente dos Kinks, anunciou que a banda vai se reunir em 2008. Davies é um dos maiores cronistas do Império Britânico e, antes de assumir esse papel, foi o grande hitmaker da Britsh Invasion. Ele é o cara.
Na obra dos Kinks estão os melhores álbuns de rock já gravados nos anos 60 e 70. A banda nunca alcançou dimensões gigantescas de público, de estrutura ou de fama e sempre foi mais cultuada do que popular, então, nunca se desgastaram em espetáculos megalomaníacos. Quem já ouviu sabe que a maioria das canções dos Kinks são à prova de envelhecimento. Se você é neófito e se interessou, fácil, vá na internet e ache um the best of da banda. Depois deixe por conta da sensibilidade. Catequizado, siga para o resto, atacando nas principais fases da banda.
A fase guitar (The Kinks, Kinda Kinks, The Kinks Kontroversy, Face to Face); psicodélica (Something Else By The Kinks, The Kinks Are the Village Green Preservation Society, Arthur – Or the Decline and Fall of the British Empire); hard caipira (Lola versus Powerman and the Moneygoround Part One, Muswell Hillbillies); conceitual (Preservation Act 1, Preservation Act 2, Soap Opera); e até glitter (Sleepwalker).
Agora, o melhor de tudo nos Kinks: eles não gozam da importância e da seriedade canônica dos contemporâneos Beatles. Essa coisa de insuperabilidade que é imperativa e chega a ser irritante. Estabelecer o posto de “Melhores de Todos os Tempos” para o Fab Four é adimitir importância menor para todo o que surgiu antes e depois deles. Ser mais mortal preservou nos Kinks boa parte da mística que, nos Beatles, perdeu-se por causa da massificação. O quarteto de Liverpool já teve o DNA inteiramente desvendado, graças a exegese exagerada da sua obra e aos lançamentos oportunistas que chegam no mercado todos os anos.
Ray Davies fez o anúncio da volta durante o lançamento do box set Retrospective e aproveitou pra desabafar sobre a sua carreira solo. Davies disse que gostaria de voltar a tocar com os Kinks: “Você sente falta da interação. Com outros músicos é diferente, não tem a mesma paixão”. Vejo essa sanha de tocar como “a” diferença no vôo de regresso de qualquer desses pterodátilos do rock. Imagine (mas não faça trocadilhos) Lennon e McCartney se reunindo pra reativar os Beatles. Se já naquela época eles não tocavam...
Como as letras de Davies, os Kinks tiveram uma trajetória peculiar. Colocaram inteligência e literatura no psicodelismo, foram venerados pelos punks no final dos anos 70, presenciaram e usufruíram do nascimento da MTV nos anos 80 e terminaram sem gravadora e com discos de baixa vendagem no começo dos 90, convivendo lado a lado com bandas que influenciava, como The Fall, Blur e Pretenders (Chrissie Hynde foi a ex-senhora Davies). Deixaram um legado de mais de 30 discos, entre álbuns, coletâneas, trilhas sonoras e dezenas de singles que ainda inspiram o rock alternativo mundo afora.
♪ Girl, you really got me goin ♪ - Em 2007, o hit “You Really Got Me” (número 1 em todo o Reino Unido) completou 42 anos. Pra sacar a importância dessa música, é bom lembrar que Ozzy Osbourn disse mais de uma vez que, se não fosse ela, provavelmente, o Black Sabbath não teria nem existido.
É fácil imaginar Ozzy e Ritchie Blackmore dando cabeçadas no balanço contagiante de “You Really Got Me”. Depois dela, os riffs powerchord, ou seja, baseados em acordes fortes e poderosos, foram a base de clássicos do hard rock pesado como “Smoke On The Water”, do Deep Purple, e "Paranoid", do Black Sabbath.
O som inflamado de guitarra de “You Really Got Me” é mérito do irmão de Ray, o guitarrista Dave Davies, um dos membros originais dos Kinks. Dave conseguiu o timbre único dessa música com uma Harmony Meteor de segunda mão ligada a um amplificador Vox AC-30. O guitarrista furou o alto-falante com um lápis e espetou algumas agulhas de costura.
Assim, fez com que o som da guitarra soasse especialmente rachado e distorcido. Resultado: nenhum guitarrista da época (1964) jamais conseguiu reproduzir o efeito de Dave e do seu destruidor experimento. Em termos de barulho, os Kinks foram a vanguarda. O páreo continua duro até hoje.
*A propósito: agora os Kinks, parece, vão voltar

i nEED yOU/sET mE fREE

mAN oR aSTROMAN?

sONHO dE vERÃO

wIPE-oUT!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

jUST a jEEPSTER

Quando Marc Bolan disse em "Main man"(canção autobiográfica do álbum The Slider), que "agora gostava de rock", não estava para brincadeira. Nem era metáfora.

Eletric Warrior é o segundo disco da fase elétrica do T-Rex. Tem inscrição garantida na Arca Universal das Eternidades do Rock'n'Roll - instituição cuja sede fica em Memphis, Tennessee.

Bolan derrama sensualidade poética em Eletric Warrior de um jeito...especial. Espacial - idem. Como um chafariz de melodias estranhas que ele trine com sua voz extraterrena.

O cara só podia ser extraterrestre. Declarou certa vez: "Não sei de onde venho. Sei apenas que, daqui, não sou". Pelo menos é que está naquela ficha que vinha encartada na Bizz, nos 90's? Lembras?

As canções de Eletric são tão primorosamente belas e simples que chegam a ser estranhas por serem tão belas e simples. Caso da balada "Planet Queen", que abre o lado-B num ritual pop-xamânico. Um lado B que abre com "Planet Queen" é um lado e B e tanto. Vai dizer.

Embora a capa (a icônica aura de Bolan encobrindo o "monolítico" ampli) sugira sonzões ultra-hard rock, a verdade é que o disco está mais para perolário de doces canções afloradas no espírito de Marc Bolan.

Boa parte do álbum foi (muito bem) usada na trilha sonora do filme Billy Elliot, a real história do garotinho inglês que roubava os LP's do T.Rex, do irmão estivador, e com suas melodias descobre o ballet.

Lennon disse que glam rock nada mais era que o bom e velho rock'and' roll com muita extravagância. Já parou para pensar numa edição remasterizada & expandida do disco, sulcada num velho - quero dizer, novo em folha - bolachão de vinil? No encantado site da Rhino tem...

Ainda melhor que ficar em digressão, claro, é ouvir o disco, mesmo que nessa sua já "antiquada" forma digital/emêpezada. Eletric Warrior é elementar para quem deseja iniciar-se - irreversivelmente - no universo onírico/nonsense e ultrapop de Marc Bolan. Tais os versos de "Mambo Sun", cuja tradução "livre espírito" eu também coloco de "bônus", no final.

Desembrulhe e descubra o que Deus em pessoa pôs - especialmente pra ti - lá dentro do pacote. E Feliz Natal!

MAMBO SUN

Beneath the bebop moon
I want to croon with you
Beneath the Mambo Sun
I got to be the one with you

My life's a shadowless horse
If I can't get across to you
In the alligator rain
My heart's all pain for you

Girl you're good
And I've got wild knees for you
On a mountain range
I'm Dr. Strange for you

Upon a savage lake
Make no mistake I love you
I got a powder-keg leg
And my wig's all pooped for you

With my heart in my hand
I'm a hungry man for you
I got stars in my beard
And I feel real weird for you

Beneath the bebop moon
I'm howling like a loon for you
Beneath the mumbo sun
I've got to be the one for you

SOL MAMBO

Sob a lua do Bebop
Eu quero cantar com você
Sob o Sol do Mambo
Eu tenho que ser o cara com você

Minha vida é um cavalo sem sombra
Se eu não consigo fazer você me entender
Na chuva de jacarés
Meu coração é todo dor por você

Garota você é boa
E eu tenho joelhos selvagens para você
Em uma cordilheira
Eu sou o Dr. Estranho para você

Em um lago selvagem
Não vá se equivocar, eu te amo
Eu tenho uma perna de barril de pólvora
E minha peruca já está cansada para você

Com meu coração em minha mão
Eu sou um homem faminto por você
Eu tenho estrelas em minha barba
E me sinto realmente estranho por você

Sob a lua do Bebop
Eu estou uivando feito um lunático por você
Sob o Sol do Mambo
Eu tenho que ser o cara com você

lOS sHAKERS!

bUENAS bANDAS, dISCOS y oUTRAS cOSITAS


Los Shakers [[Uruguai]]
Banda dos irmãos Hugo e Oswaldo Fattoruso, Los Shakers são o melhor "conjunto de Beatles" do mundo, ao lado dos australianos Easybeats. Cantavam em inglês e gravaram três discos clássicos com a levada beat tradicional. Em 1967, gravaram o "Sgt Pepper's sulamericano", o disco La Conferencia Secreta del Toto's Bar.
Los Saicos [[Peru]]
Banda de Lima, no Peru, é uma espécie de nossa mais perfeita tradução das bandas "nuggets" ou "pebbles". Em 1964, gravou a música "Demolición", um petardo punk da estirpe de "Psycho" ou "Surfin' Bird". Para garantir a lenda, não gravaram nenhum LP, apenas seis compactos sem reedição oficial.
Los Gatos [[Argentina]]
É uma das três bandas fundadoras do rock argentino, ao lado de Almendra e Manal, nos anos 60. Distante da Nueva Ola, que quase não vingou na Argentina, tem a seu favor o fato de fazer rock em espanhol desde o início. Liderada por Litto Nebia, deixou cinco ótimos discos gravados.
Los Mac's [[Chile]]
Um dos vários grupos chilenos importantes da primeira metade dos 60. Mas, além dos demais, destaca-se pela gravação do disco Kaleidoscope Man, em 1967, outra espécie de Sgt. Pepper's local. Psicodelia, garagem e ecos de Stones 66 fazem da banda audição obrigatória.
Los Speakers [[Colômbia]]
Natural de Bogotá, Los Speakers são os responsáveis pelo disco mais "doido" da discografia latina, e também o primeiro independente – Em El Maravillos Mundo de Ingeson. Fundamental pela sonoridade psicodélica e pelo inedetismo conceitual, que incluia uma “pastilha” colada no disco (um chiclete Adams...hehehehe...)
Almendra [[Argentina]]
Banda de Luis Alberto Spinetta, que depois montou outros projetos, em especial o grande Pescado Rabioso. De orientação "Beatles", o Almendra fez a transição dos anos 60 para a psicodelia setentista. Seus singles e o primeiro álbum são clássicos do rock argentino lembrados até hoje.
Los Traidores [[Uruguai]]
Banda dos anos 80, com o tradicional mix de punk & new wave, é responsável por um dos melhores discos da discografia latina: Montevideo Agoniza. Com letras existencialistas e/ou politizadas, traduziu o período que marcou o fim da ditadura, que afastou os jovens do país.
Leusemia [[Peru]]
A grande banda punk da América do Sul, em música, estética e especialmente atitude. Nascida com o Movimento Subterrâneo, deixou alguns dos hinos musicais da juventude peruana. De carreira irregular, retornaram nos anos 90, com o disco A la Mierda lo Demás (Asssinato del Mito), que acabou tendo efeito contrário...
Los Prisioneros [[Chile]]
A maior banda de rock do Chile, um trio com música econômica, entre punk & new wave e letras politizadas - e longas. Surgida ainda sob a ditadura de Pinochet, gravou diversos discos, com destaque para La Voz de Loz 80 e Pateando Piedras, clássicos do rock da América do Sul.
Sentimiento Muerto [[Venezuela]]
Outra banda tão importante quanto desconhecida para os brasileiros. Natural da Venezuela, teve seu primeiro disco lançado em 1987, produzido pelo argentino Fito Paez. Também com estética punk & new wave, incorporava toques de ritmos regionais. Gravou três discos e deixou um hit clássico, "Manos Frias".
CANCIONES PARA SIEMPRE
"Demolición" [[Los Saicos]]
A grande representante do proto-punk latino. Cantada até hoje pelas novas gerações. Até no Brasil ganhou cover, com os gaúchos da Damn Laser Vampires. Tão boa quanto "Surfin Bird", talvez melhor. Pena que os Ramones não a conheceram.
"Oirán tu voz, oirán nuestra voz" [[Leusemia]]
Uma bela canção de geração, típica dos anos oitenta. Sem afetação política, mas reivindicando que "a juventude precisa ter mais espaço". Tem duas versões, uma mais crua, de meados dos 80 e outra posterior, mais trabalhada.
"Aprendizaje" [[Sui Generis]]
A mais fiel tradução do discurso "drop out" sulamericano, com a banda Sui Generis, de Charly Garcia. Um mix de folk & piscodelia, foi um tipo de hino da juventude argentina no início dos anos 70.
"Cae la Lluvia sobre Montevideo" [[Los Traidores]]
Com sua letra sombria, cantava um dos períodos mais difíceis de um Uruguai que teve seus jovens assassinados ou expulsos do país. Com ela, Los Traidores deram sentido ao clima de quase abandono de uma geração.
"Chica Rutera" [[El Mató a Un Policia Motorizado]]
Natural de La Plata, El Mató a un Policia Motorizado é a grande revelação do rock argentino atual. "Chica Rutera", com suas duas frases, se converteu em um mantra suburbano dos “chicos” indies do Rio da Prata.
CANAIS PARA OUVIR & LER SOBRE O ROCK LATINO
Super 45 (e-zine do Chile com rádio)
Zona Indie (e-zine da Argentina com rádio)
Zona de Obras (revista espanhola com política editorial ibero-americana)
Programa Operación Escuchar (Rádio Nacional Faro, de Buenos Aires)
Rolling Stone latina

SENHOR F SEM FRONTEIRA
Na rede, a quinta edição do programa Senhor F Sem Fronteira, apresentado por Fernando Rosa e veiculado pela Rádio Câmara, em Brasília. Destaque para o desconhecido rock paraguaio, com a banda Limón Sutil, e um passeio pela milonga pampeana de Kevin Johansen e Vitor Ramil. Para ouvir todas as edições do Sem Fronteira, é só clicar.

*Fernando Rosa comenta uma lista de dez bandas que fizeram a história do rock sul-americano e destaca cinco músicas simbólicas do cancioneiro rocker-latino

domingo, 16 de novembro de 2008

"uLTRABEBA": tURBOPOTAMOS (pERU)

fROSA: "o rOCK sEMPRE cONECTOU a jUVENTUDE"

Nos próximos dias 27, 28 e 29 de novembro, Brasília vai abrigar o festival El Mapa de Todos, que reunirá artistas do Peru, Chile, Argentina, Uruguai, Espanha, Portugal e Brasil.

O festival tem curadoria de Fernando Rosa, editor do portal Senhor F, e é co-produzido com a Scatter Records, de Buenos Aires. Também é realizado em parceria com o Espaço Brasil Telecom.

Entre as atrações do El Mapa estão Babasonicos, das bandas mais importantes do rock em espanhol atualmente, e La Quimera del Tango, ambos da Argentina. Além de Turbopotamos do Peru (que abriu recemente para o REM, em Lima), Javiera Mena do Chile e Sr. Chinarro (Espanha), Azevedo Silva (Portugal) e Danteinferno do Uruguai.

Do Brasil, tocam Marcelo Camelo, Mundo Livre S/A, Macaco Bong e Beto Só, o anfitrião brasiliense. Afiliado a Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes), o festival integra o calendário oficial de atividades do Ministério da Cultura para o Mercosul.

Neste semestre, o Brasil ocupa a presidência Pro Tempore do Mercosul, com a atribuição de gerir todas as frentes de atuação. O festival será transmitido integralmente e ao vivo pelo Canal Integración para toda a América Latina.

O El Mapa de Todos é um desdobramento - evolução do Senhor Festival. Depois de organizar o evento por três anos, com essas características, em 2007, com participação de artistas da Argentina e do Chile, decidimos ampliar o conceito”, diz Fernando Rosa, idealizador do festival.

Aqui, o idealizador do El Mapa de Todos, Fernando Rosa, falou com exclusividade sobre a cara do rock independente atual, mercado e - claro - a respeito da velha celeuma: mainstream x independente.

Esse é o primeiro festival do gênero no Brasil. Reflete aproximação entre as cenas independentes sul-americanas. O que isso significa, além da música?

Fernando Rosa – Já houve outro, anteriormente, em 1997, o Tordesilhas, um evento realizado pela MTV, em Porto Alegre, com presença de Café Tacuba e Aterciopelados, ainda nem tão famosos, entre outros. A diferença entre os dois, é a completa mudança do padrão tecnológico, do perfil da indústria fonográfica e, especialmente, do advento de uma nova cena independente no país. A combinação dessas condições e também a nossa sintonia com tudo isso é que torna possível reunir o conjunto de artistas que vamos apresentar.

O festival é como uma resultante dessa nova realidade, da força do sentimento de integração que permeia a vida das sociedades da região. Nisso, a cultura, a música jovem e, por tabela, a produção independente, é uma espécie de vanguarda nesse processo em curso. A mudança de governos, com orientação mais social, o descrédito da supremacia do “império”, a exemplo da recente crise financeira, e a quebra de fronteiras por meio da internet arejam o continente.

Então, acredito que o festival, mais do que apenas apresentações musicais, tem um componente sócio-cultural importante. Ele é uma demonstração concreta de que é a aproximação entre os povos sul-americanos é possível.

Qual é a cara do rock independente mundial?

Fernando Rosa – Olha, acho que esta "cara" ainda está em construção, mesmo que existam vários exemplos interessantes. Antes, até pouco tempo atrás, não exitaria em citar imediamente bandas como Sonic Youth, Pavement, Guided By Voices. Mas hoje, diria que artistas de qualquer parte do mundo poderiam identificar-se essa nova "cara".

Assim como a internet horizontalizou o acesso a informação, de alguma maneira existem grandes artistas em qualquer parte do planeta. O problema atual talvez seja que não exista mais uma “cara”, mas várias caras. Javiera Mena, do Chile, Turbopotamos, do Peru, ou El Mato a Un Policia Motorizado, da Argentina, poderiam ser diferentes "caras" dentro desse mundo globalizado. O Brasil, pela sua dimensão, tem muitas "caras", algumas delas já conhecidas no exterior. Em suma, a comunicação moderna é uma festa de fogos de artíficio, o "disco de ouro" já virou "bronze", e nada indica que isso vai decantar tão rapidamente.

O futuro do independente, a longo prazo, é o mainstream? Ou são "água & óleo": não se misturam?

Fernando Rosa – Essa discussão é tipo a do ovo e da galinha, se consideramos os padrões antigos. Para o Lobão, por exemplo, os independentes são a segundona, os aspirantes à primeira divisão. Mas, hoje, como disse o Beto Só em artigo no Senhor F, a coisa está mais para Copa Brasil. Tem muito Santo André dando de relho, como dizem os gaúchos, nos Flamengos da vida. Também, com o "disco de ouro" em 36 mil vendidos, qual a diferença entre o Skank e o Teatro Mágico? Quem é "mainstream" e quem é "independente"?

Mas, do ponto de vista de qualidade autoral, da construção de um novo mercado, a diferença existe. Os melhores lançamentos vem do independente e o "mercado" mais vivo é também o "indie", por meio da plataforma de festivais da Abrafin e dos selos alternativos. Acredito que, em meio à crise, floresce um novo espaço de divulgação, de relações diferentes entre artista e público e um novo mercado.

Musicalmente, o que há de mais interessante na escalação do El Mapa?

Fernando Rosa – O mais interessante é o mosaico, o "recorte do momento" que conseguimos montar, reunindo artistas clássicos, emergentes e novatos. A argentina Babasonicos é a maior banda da América do Sul atualmente. Sr. Chinarro, com 10 discos gravados, é uma legenda do "indie" espanhol, que tem tradição. A novata Javiera Mena é atualmente o nome mais falado da nova música chilena.

Os peruanos Turbopotamos abriram para o R.E.M, no Estádio Nacional de Lima, no último dia 14 de novembro. Então, com esses exemplos, acho que oferecemos ao público brasileiro uma bela oportunidade de ouvir o que, de fato, é o melhor do pop latino atualmente. Mas, claro, em cada um desses países existem outras bandas, tão boas quantas, que poderiam estar no festival. E, que, certamente, estarão em edições futuras.

Qual é a sua grande aposta no festival?

Fernando Rosa – Ninguém em especial, mas sim que o festival cumpra seu papel de começar a mudar a relação do público brasileiro com o rock, com a música sul-americano, e ibero-americana também. E também que a idéia da integração saia fortalecida do evento, que existe por essa razão, desde o início de sua concepção, há mais de um ano.

Como todos os projetos de Senhor F, e os festivais da Abrafin, "não estamos nessa por dinheiro", para citar o velho Zappa. Nesse caso especial, temos um compromisso editorial histórico da própria revista, hoje portal Senhor F, com a divulgação do rock latino no país.

O Brasil lidera esse mercado?

Fernando Rosa – Liderar, no sentido de atividade econômica de dominação, não. Até porque o intercâmbio ainda é pequeno entre o Brasil e os demais países. Possivelmente, até se vende mais música brasileira na América do Sul, do que se consome música latina no Brasil. Mas, pela dimensão continental, pela quantidade de grandes cidades, o Brasil pode ser uma possibilidade de atuação para os artistas sul-americanos.

Assim como as capitais sul-americanas podem deixar de ser "um lugar distante" além-fronteira, para se tornar um local tão ou mais próximo do que se locomover dentro do Brasil. O que ainda, no entanto, é visto com algum ceticismo, é feito com movimentos pontuais. Veja, por exemplo, a tentativa de introduzir a ótima Julieta Venegas no Brasil, com shows fechados em São Paulo. Ou o lançamento de Andres Calamaro no Brasil, embora feito daquele velha e burocrática maneira, onde sequer a Senhor F recebeu um email, um release, que fosse.

Também fizemos nossas incursões, nosso movimentos no sentido de construir essas pontes, do que é exemplo a parceria com a produtora e selo Scatter Records (da produtora paulista Sylvie Picolotto), de Buenos Aires, com quem dividimos a montagem artística e logística do El Mapa de Todos. Antes disso, também com eles, lançamos o disco dos gaúchos Superguidis na Argentina, que hoje já tratam Buenos Aires como sua "segunda" casa.

Então, o que vislumbro é a possibilidade de um grande mercado sul-americano, onde os artistas circulem mais, toquem mais em diferentes países. Isso é o que está movimentando a nova música brasileira hoje, e é o que pode, e deve, aproximar aristas, públicos, produtores e selos nos próximos anos. Com a bendita ajuda da internet, é sempre bom lembrar.

Porque a escolha de Brasília para sediar o festival?


Fernando Rosa – Brasília tem a "cara" do festival, pois assim como o El Mapa de Todos busca a integração, a cidade tem essa característica em sua essência de construção, ainda jovem e universal. Acredito que, pelo menos em sua primeira edição, Brasília foi a escolha ideal, até pela sua condição, nesse ano, de Capital Sul-Americana da Cultura.

Também teve peso a parceria com o Espaço Brasil Telecom que muito contribui na promoção e realização do evento. Mas, pela própria idéia da integração, o festival pode acontecer em outro estado, outra capital, e até mesmo em outro país. Isso vai depender também das condições sociais, econômicas, políticas, das futuras e possíveis parcerias.

O que um festival desse tipo pode trazer de bom ao Cone?

Fernando Rosa – Olha, pela primeira vez na história do continente sul-americano, os governos interagem de forma coordenada e em favor dos interesses de suas populações. Estamos superando, assim esperamos, anos, décadas, séculos de exploração, de divisões internas, sempre em prejuízo dos povos da região. Isso nos terrenos da política, da economia, da infra-estrutura, com iniciativas como a Unasul, o Parlamento do Mercosul, o Banco do Sul, a conexão energética, etc.

A cultura, e a música em especial, como ponta-de-lança em qualquer processo de aproximação entre diferentes povos, não pode ficar de fora. O festival é uma pequena contribuição com essa disposição integracionista, compartilhada por importantes parceiros. Nessa edição, e esperamos que também nas próximas, contamos com o apoio do Canal Integración, da TV Brasil, da Rádio Câmara, da Secretaria de Cultura do GDF.

O Canal Integración e a Rádio Câmara, por exemplo, vão transmitir o evento ao vivo, que poderá visto em toda a América do Sul. O Ministério da Cultura do Brasil também incluiu o festival em seu calendário oficial de eventos culturais para o Mercosul na gestão Pro Tempore do Brasil.

Quem diria um dia o rock seria elo de ligação entre a juventude dos países vizinhos...

Fernando Rosa – Olha, na verdade, acho que sempre foi. Lembro que no tempo das infames ditaduras, nas décadas de sessenta e setenta, especialmente, isso de alguma maneira já ocorria. Os jovens exilados, auto-exilados, perseguidos que eram obrigados a sair de seus países, traziam em suas mochilas, ao menos alguns discos.

Ou um violão, onde reproduziam as canções que mais lhes tocavam, que tinham a ver com suas vida. Particularmente, conheci muita coisa assim, como Sui Generis, Pescado Rabioso ou Daniel Viglietti, de onde vem a inspiração do nome do festival, tirado de verso da música "Milonga de Andar Lejos".

sábado, 15 de novembro de 2008

pORQUE sOU gREMISTA*

Domingo, estive em um churrasco da Sociedade Satélite Prontidão, onde se reúne a “gema” dos mulatos de Porto Alegre. Lá houve tudo de bom, bom churrasco, boa música e boa palestra. Mas como nestas festas nunca falta uma discussão quando a cerveja sobe, lá também houve uma, e foi a seguinte:

Uma turma de amigos quer saber porque, sendo eu um homem do povo e de origem humilde, sou torcedor tão fanático do Grêmio.

Por sorte, lá estava também o senhor Orlando Ferreira da Silva, velho funcionário da Biblioteca Pública, que me ajudou a explicar o que meu pai já havia me contado. Em 1907, uma turma de mulatinhos, que naquela época já sonhava com a evolução das pessoas de cor, resolveu formar um time de futebol. Entre estes mulatinhos estava o senhor Júlio Silveira, pai do nosso querido Antoninho Onofre da Silveira, o senhor Francisco Rodrigues, meu querido pai, o senhor Otacílio Conceição, pai do nosso amigo Marceli Conceição, o senhor Orlando Ferreira da Silva, o senhor José Gomes e outros.

O time foi formado. Deram o nome de Rio-Grandense e ficou sob a presidência do saudoso Julio Silveira. Foram grandes os trabalhos para escolher as cores, o fardamento, fazer estatutos e tudo o que fosse necessário para um clube se legalizar, pois os mulatinhos sonhavam em participar da Liga, que era, naquele tempo, formada pelo Fuss-Ball, que é o Grêmio de hoje, o Ruy Barbosa, o Internacional e outros.

Este sonho durou anos, mas no dia em que o Rio-Grandense pediu inscrição na Liga, não foi aceito porque justamente o Internacional, que havia sido criado pelo “Zé Povo”, votou contra, e o Rio-Grandense não foi aceito.

Isso magoou profundamente os mulatinhos, que resolveram torcer contra o Internacional, e o Grêmio, sendo o seu maior rival, foi o escolhido para tal.

Fundou-se, por isto, uma nova Liga, que mais tarde foi chamada de Canela Preta, e quando esses moços casaram, procuraram desviar os seus filhos do clube que hoje é chamado o “Clube do Povo”, apesar de não sido ele o primeiro a modificar seus estatutos, para aceitar pessoas de cor, pois esta iniciativa coube ao Esporte Clube Americano e vou explicar como:

A Liga dos Canelas Pretas durou muitos anos, até quando o Esporte Clube Ruy Barbosa, precisando de dinheiro, desafiou os pretinhos para uma partida amistosa, que foi vencida pelos desafiados, ou seja, os pretinhos. O segundo adversário dos moços de cor foi o Grêmio, que jogou com o título de “Escrete Branco”. Isto despertou a atenção dos outros clubes que viram nos Canelas Pretas um grande celeiro de jogadores e trataram de mudar seus estatutos para aceitarem os mesmos em suas fileiras, conseguindo assim levar os melhores jogadores, e a Liga teve de terminar.

O Grêmio foi o último time a aceitar a raça, porque em seus estatutos constava uma cláusula que dizia que ele perderia seu campo, doado por uns alemães, caso aceitasse pessoas de cor em seus quadros. Felizmente, esta cláusula já foi abolida, e hoje tenho a honra de ser sócio-honorário do Grêmio e ter composto seu hino que publico ao pé desta coluna.

I

Até a pé nós iremos
Para o que der e vier
Mas o certo e que nós estaremos
Com o Grêmio onde o Grêmio estiver

II

Cinqüenta anos de glória
Tens imortal tricolor
Os feitos da tua história
Canta o Rio Grande com amor

III

Nós como bons torcedores
Sem hesitarmos sequer
Aplaudiremos o Grêmio
Aonde o Grêmio estiver

IV

Lara o craque imortal
Soube seu nome elevar
Hoje com o mesmo ideal
Nós saberemos te honrar

V

Para honrar nossa bandeira
E o Grêmio sem Campeão
Poremos nossa chuteira
Acima do coração


*Crônica de Lupicínio Rodrigues originalmente publicada em sua coluna semanal no jornal Última Hora, de Porto Alegre, no dia 6 de abril de 1963. A editora L&PM reproduziu no livro Foi Assim (1995).

nERVOS dE aÇO

terça-feira, 11 de novembro de 2008

HUSTONtUBE: iN tHE bEGGINING...

hUSTONtUBE: fALCON mALTESE


"nAS pAREDES" cOMEÇA a sER eDITADO

POR FERNANDO ROSA

A produtora Flesh Nouveau! Filmes começa a editar, essa semana, um trailler/teaser do documentário "Nas Paredes da Pedra Encantada", dirigido por Cristiano Bastos e Leonardo Bomfim - sobre o álbum Paêbirú - Caminho da Montanha do Sol, de Lula Côrtes e Zé Ramalho (1975).

Em Porto Alegre, onde o filme será editado, os diretores contam com a parceria das produtoras Baxada Nacional (que recentemente finalizou um doc sobre a banda Pública) e Estação Elétrica (a qual finalizou, também, um documentário sobre o artista gaúcho Carlinhos Hartlieb, cuja direção é de Renê Goya).

Recentemente, a reportagem especial "Agreste Psicodélico", publicada na Rolling Stone Brasil (setembro), de autoria de Cristiano Bastos, foi traduzida na Itália sob o título "La Pietra Psichedelica". Também já está no ar o Myspace do documentário, com fotos da produção, filmagens e locações.

Um dos discos mais raros da história do rock e da música brasileira, o álbum duplo 'Paêbirú', creditado a Lula Côrtes e Zé Ramalho, foi gravado entre os meses de outubro e dezembro de 1974, em Recife (PE). Clássico do pós-tropicalismo, com (over)doses de psicodelia, o álbum traz quatro movimentos - no vinil, um para cada lado - dedicados aos elementos água, terra, fogo e ar.

O disco por si só é uma lenda, mas ficou mais interessante ainda pelas situações que envolveram a sua gravação, o que agora será contado pelo documentário de Bastos & Bomfim. A gravadora Rozenblit ficava na beira do rio Capiberibe, e o disco, depois de gravado, foi levado por uma das enchentes que assolavam a região.

Contando com a co-produção do grupo multimídia Abrakadabra, o disco trazia um rico encarte, que também sucumbiu ao aguaceiro. A partir dos anos noventa, o disco virou uma lenda, transformando-se um dos ítens mais valorizados no mercado da psicodelia mundial.

*SenhorF

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

cHINA gIRL

jESUS: i'M iGGY

tHE mAN wHO: bANG!

tHE mAN wHO sOLD tHE wORLD

rED hOT cHILLI sTARDUST

sUFRAGETT cITY (vERY rARO)

yOUR pRETTY fACE...

mOTOR cITY iS bURNING bABE

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

lEGALIZE iT

mICK&tOSH

wILD tHING

cLUB bAND

hOUND dOG

lOCK'n'lOLL nIGGER

rOCK'n'rOLL nIGGER II

lOVE: aLONE aGAIN oR

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