quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

mEMÓRIAS fRAGMENTADAS*

O CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL APRESENTA:

Hou Hsiao-Hsien e o Cinema de Memórias Fragmentadas

POR CRISTIANO BASTOS

Pela primeira vez em Brasília,  o Centro Cultural Banco do Brasil fará a projeção de películas do cineasta taiwanês Hou Hsiao-Hsien. Os filmes serão exibidos de 02 a 16 de janeiro.

Iniciando a programação de 2011, a mostra "Cinema de Memórias Fragmentadas" exibirá todos os 18 filmes realizados pelo diretor. Até hoje, nenhuma dessas produções foi lançada comercialmente no Brasil.

A mostra Hou Hsiao-Hsien e o Cinema de Memórias Fragmentadas abre o ano trazendo à capital federal o consagrado Hou Hsiao-Hsien, diretor que é figura-chave do novo cinema de Taiwan. Hou também é considerado um dos cinco mais importantes realizadores do planeta.

Nas três últimas décadas, sua obra – identificada com a "bitola 35mm" – foi reconhecida em diversos festivais mundo afora. No domingo, dia 02 de janeiro, às 19h30, no CCBB de Brasília, haverá uma sessão de abertura.

Antes serão exibidos os filmes Menina bonita (Jiu shi liuliu de ta) e Vento gracioso (Feng'er titacai).

"Eu não desejo contar histórias. Meu desejo, antes, é criar climas, ambiâncias", anotou Hou Hsiao-Hsien. É com esse espírito "etéreo" que sua arte ganhará retrospectiva completa na cidade.

Hou é um cineasta laureado: foi eleito o Diretor da Década de 90 pelos críticos internacionais de Village Voice e do Film Comment e seus filmes, além de exibidos em Cannes, receberam prêmios em Berlim e Veneza.

Ainda que com inegável reconhecimento da crítica, as películas de Hou Hsiao-Hsien – as quais mal são distribuídas no Ocidente – estiveream, até agora, limitadas ao restrito circuito de festivais. Muitas delas são praticamente desconhecidas do público brasileiro.

A oportunidade é única, portanto, para se iniciar na filmografia de Hou, um dos mais renomados cineastas asiáticos da atualidade.

Gratuitamente, ao público da mostra serão distribuídos 150 catálagos que versam sobre a obra de Hou Hsiao-Hsien. A compilação reúne 18 textos inéditos de críticos de cinema como Cássio Starling, Fernando Veríssimo e Carlos Helí de Almeida.

No catálago também há ensaios escritos nas décadas de 1980/90 por autores como Olivier Assayas, Jonathan Rosembaum, Antoine de Baecque e Ruy Gardnier.

No cenário cinematográfico dos anos 90, Hou certamente é um dos cinco mais importantes realizadores. Seus filmes impressionam logo de cara pela distanciada lente com a qual focaliza seus personagens.

É, na verdade, sua característica mais recorrente – a primeira que salta aos olhos. Dois lemas de Confúcio são evocados na arte de Hou, segundo ele: "Olhar e não intervir" e "Observar e não julgar".

A estréia de Hou Hsiao-Hsien na direção aconteceu em 1980, com Menina bonita. Com seu terceiro filme, A grama verde de casa (1982), foi indicado ao Golden Horse Award, considerado o "Oscar taiwanês".

Desde então, tem contribuído para a formação de uma nova consciência acerca do cinema em Taiwan.

Internacionalmente, Hou obteve reconhecimento internacional com Os Garotos de Fengkuei (1983) e Um verão na casa do vovô (1984), ambos vencedores do Festival dos 3 Continentes, em Nantes, França.

Seu filme autobiográfico, Tempo de viver e tempo de morrer (1985), levou o prêmio internacional da crítica no Festival de Berlim em 1985 e também foi indicado melhor filme no Festival de Roterdam.

Hou Hsiao-Hsien prosseguiu fazendo filmes aclamados pela crítica: Poeira ao vento (1986) e A filha do Nilo (1987). E, gradualmente, foi considerado um dos cineastas mais inovadores do mundo.

Em 1989, seu Cidade das Tristezas ganhou o cobiçado Leão de Ouro no Festival de Veneza. Em 1993, a obra-prima O mestre das marionetes recebeu prêmio do júri em Cannes.

Seus filmes seguintes, Bons homens, boas mulheres (1995), Adeus ao sul (1996), Flores de Xangai (1998), Millenium Mambo (2001), Café Lumière (2004), Três tempos (2005) e A viagem do balão vermelho (2007) foram aclamados por crítica e público.

Todas essas festejadas produções, e também muitas outras, poderão ser vistas no mês de janeiro na mostra "Hou Hsiao-Hsien e o Cinema de Memórias Fragmentadas", que será realizada no Centro Cultural do Banco do Brasil de Brasília.

Confira a programação.

ASSESSORIA DE IMPRENSA
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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

"bABY, I bORN tO lOSE"

A vida nos desfalca sem avisar, excluindo as melhores pessoas de nossa convivência. Uma delas foi embora esses dias. A notícia de sua morte chegou aos amigos por terceiros. Jairo William era o seu nome. Caveman, seu auto-apelido. Morreu por causa de complicações da Aids aos 30 anos.

É uma obrigação minha falar dele, afinal, o conheci e apresentei aos amigos meus que se tornaram os amigos dele em Porto Alegre: Carlinhos Carneiro, Marcelo Benvenutti e muitos outros. Jairo e eu nos conhecemos por causa do rock, essa é a verdade.
Por volta de 1992, auge do grunge, bairro Itú-Sabará, Porto Alegre, berço da banda Liverpool nos anos 60. Caveman morava com a família na parte superior do sobrado onde meu irmão, Marcelo, e eu trabalhávamos pro meu pai em sua empresa de artigos de pesca (!), Fish-Ton.
Éramos adolescentes. Nosso trabalho era embalar anzóis, bóias, chumbadas e outros artefatos pra pesca que meu pai revendia nos supermecados de todo o Rio Grande do Sul. Tínhamos um gato vira-latas muito meigo, o Maragato, que nos acompanhava na lida diária.
Na pestana pós-almoço, Maragato curtia aninhar-se em cima de mim pra tirar seu cochilo felino. Fora encontrado num bueiro defendendo a irmã gata do ataque das ratazanas. Um gato valente, o Maragato. Até hoje lhe sou saudoso e, por muitos motivos, ao rememorá-lo a melancolia invade meus sentimentos. Pior agora: ao pensar em Maragato Jairo Caveman vem por tabela.
Nosso encontro foi motivado por The Kinks. Em 1992, arrumar uma fitinha cassete da banda inglesa era como, guardado os devidos parâmetros, ter acesso a uma cópia de Paêbirú. Marcelo e eu trabalhávamos o dia inteiro ouvindo a Rádio Ipanema FM num rádio Telefunken circa 1973, do meu pai. "Sintonia modular".
Depois acoplamos um cassete-player e, quando a programação ficava chata, a gente apelava pras coisas que ambos ouviam na época: Velvet Underground, David Bowie e T-Rex. Um dia meu irmão arrumou vinil do álbum Tanx, que trocou por outra bolacha. Ouvir o disco foi das experiências mais mágicas que tive com arte durante um tempo bem expressivo - até que descolasse um cedê do The Slider e Eletric Warrior.
Na rádio tocava Kinks, "You Really Got Me". Os dois ficavam naquelas, sempre que ouviam: "Que fissura pra ter um disco desses caras..." Nosso trabalho era às portas abertas e, num desses dias de Kinks on the radio, Jairo, recém mudado pro andar de cima, chegou-se até a entrada, ficou sacando o som um pouquinho e, arregalando seus olhos azuis-orbitais, soltou: - Cês tão ouvindo Kinks?! Não acredito! Que massa!
A empatia foi no ato. Daí Jairo fez a grande revelação: - Eu tenho uma cassete dos Kinks.
Apavorado com a emoção da notícia, quase me deixei fisgar pelo anzol que embalava na hora. Subi até sua casa, conheci sua vó, com a qual morava e ele trouxe o the best The Kinks. Estava tudo lá: "All Day All Night", "Lola", "Set me Free", "Tired of Waiting" - enfim, parte das canções mais lindas e pungentes um dia feitas no rock. Quase chorei.
O tempo se foi, o grunge virou old fashioned e Jairo Willian Caveman mudou-se pra outro bairro. Perdemos o contato. Fomos nos reencontrar em 1998, nas cercanias do extinto Bar João, reduto dos street punks em Porto Alegre, hoje demolido. Aqueles punks que bebem cachaça, fazem artesanato e vestem camiseta da Janis Joplin.
Jairo foi o cara mais punk que conheci em toda minha vida - no que há de mais verdadeiro na etimologia. Eu estava no meio da faculdade de jornalismo, precocemente era redator da Rádio Atântida e editava junto com colegas a Revista ZE. Jairo assumia-se como o vagabundo. A vida inteira negou-se a trabalhar; sua grande preocupação era arrumar trocados pra comprar sua cachacinha de butiá no João e arrumar um baseado pra "fritar um bacon" - expressão de sua lavra.
Tinha motivos pessoais pra assumir a misantropia. Nunca o condenei pelas escolhas que fez. Jairo carregava um sentimento muito ruim, que pesava sobre sua cabeça: ter sido negado pelo próprio pai, homem bem-sucedido que o rejeitou desde criança deixando sua família na pior. Crescera sob o signo do abandono, já que sua mãe, apesar de esforçada, ter se destacado pela falta de comunicação com o filho.
Jairo foi encontrar alento e algumas respostas (?) no punk. Quando voltei a encontrá-lo, também descobria no punk como encarar certas aflições geradas pela sociedade. De Kinks, sem nunca abandoná-los, passamos à Buzzcocks, Sham 69, MC5, Stooges, Black Flag, Heartbreakers, New York Dolls, Pistols, The Boys (uma grande banda punk-mod que só ouvi com ele e nunca mais encontrei em lugar nenhum). Depois montamos uma "banda": eu (guitarra), Francis (baixo), Alisson e Caveira (hoje na Bidê ou Balde), na bateria.
O Jairo era o crooner (mistura bem realística ente Lux Interior e Robyn Tinner). Naquele tempo, Caveman desfilava frondoso corte de cabelo estilo White Panther. Os Dedicados Seguidores da Moda era o nome da banda. Barulho não faltava. O som, sim, é que era de menos. Eu atacava com um pedal Supper Fuzz Big Muff fabricado na União Soviética. Tinha cor de tanque de guerra, tamanho e peso de tijolo. A distorção era excruciantemente maravilhosa: soava como 1000 colméias em dia de festa. Éramos muito ruins e, no repertório, apenas Buzzcocks, Kinks e Mudhoney.
Jairo, com o passar do tempo, ficava cada vez mais ensimesmado. Agora percebo que a coisa só degringolou de vez quando, sem dinheiro pra bancar suas diversões entorpecentes, começou a fazer michê na rua José Bonifácio, em Porto Alegre. Jairo era assim: quando soube que Dee Dee Ramone pagava seus vícios prestando serviços sexuais, sentiu-se legitimado pelo ídolo. Numa dessas vacilou sem camisinha.
Boatos a seu respeito corriam nas rodas dos "amigos". Diziam, os maledicentes, que havia transado com fulano e sicrano. Faziam isso só pelo prazer mórbido de especular doentiamente. Uma maledicência pior que a da revista Veja. Jamais confessava sua doença aos outros. Comigo, sentia-se à vontade pra falar sobre tudo, de modo que, certa vez, me deu a entender sobre sua condição de saúde. Me chamava de Tom Verlaine...Jamais comentei com ninguém sua confissão. Viveu até seus últimos dias confecionando seus fanzines xerocados no melhor estilo Sniffin Glue. Seus textos eram mirabolantes e fantásticos, sempre com muito rock'n'roll e situações pras quais, agora, qualquer defição seria mero exercício minimalista.
Muitas vezes, tentei ajudá-lo pra ver se conseguia uma grana regular. Um desses fanzines era o Testemunhas de John Lennon. Ficava super feliz quando lhe dava umas revistas pra fazer suas colagens dadaísticas.
Inspirado em Jairo William Caveman, há quase uma década, escrevi o conto que - com todas suas imperfeições ortográficas e gramaticais originais -, reproduzo na postagem abaixo, sem me dar ao trabalho de corrigir. Flyng V: Innerspace, a história de um jovem subarbano abduzido por um casal de alienígenas swinggers.
Antes, reproduzo um texto que Jairo escreveu para Vive Le Flesh Nouveau!: "Summer 69". Sua morte ocorreu há cerca de um mês. Tomamos conhecimemento por um mero: "Tu sabia que o Jairo..." Uma amiga o tinha visto dias antes. Dissera estar "virado num palito". Pegou uma gripe e terminou seu breve show de três acordes. Não sei o dia em que nasceu, tampouco, o que morreu. Mas nada disso tem importância. Na realidade, para Jairo, nada disso importaria mesmo.
Flyng V é uma fantasia baseada na sua vida naquele momento, em algum lugar no final dos anos 90: o cara que certa vez me confessou ter se masturbado "olhando uma estela no céu". Essa história foi escrita após ter escutado tal relato. Ou melhor, escrevi pensando que a possibilidade imaginada seria uma forma plausível pra que superasse seus problemas terrenos.
Prefiro pensar na possibilidade onírica de sua morte à, simplesmente, imaginar que tenha ido ao céu ou ao inferno ou ao limbo. Não havia lugar pra Jairo Willian Caveman nesse mundo maniqueísta. Não sei se há em outros mundos. Talvez no espaço.


'Summer 69'

Jairo Willian Caveman

Ao som de "summer 69", de Pink Floyd, conto a história sobre um casal que se amava. Ela agora jaz no pijama de madeira e ele, ainda viril, chora sobre vela e despede-se da sua amada e já defunta esposa. Ele tinha 40, ela 60.
Quando se conheceram ele tinha 20, e ela, uma coroa enxuta com olhos coloridos de farolete, direcionava todo seu amor para ele, o preenchendo de libidos e magnetismo atrativo com pitadas de voluptuosidade, ela se entregou a ele.
Foram morar juntos e com o passar do tempo ele dava incomodação por ser muito novo. Ela pagava quem quisesse pra trepar com ela. Como a vida de todo casal que presta, eles inutilizavam-se aos fins de semanas pro resto do mundo e ficavam apenas em casa a se amarem.
Com o decorrer do tempo, uns dez anos de relacionamento – se não me falha a memória –, ela começou a apresentar os problemas corriqueiros da velhice: reumatismo, manchas na pele, cabelos tão soltos quanto “algodão-doce” – como dizia carinhosamente ao seu cangote enquanto transavam – câncer de mama, miomas... uma porção de porcarias que a impedia de desfrutar do sexo furtivamente, e mesmo assim possuía o amor dele em abundância, o que todo mundo admirava e apoiava.
Passando 15 anos de suas relações, os dois começaram a sentir os sintomas do declínio. Já não podiam transar embaixo do chuveiro, pois, ele sentia-se como se estivesse fazendo sexo com um cadáver: todo molengo, se largasse o boneco cairia no chão, então, transavam apenas embaixo das cobertas, se não fosse ali sua fonte de sexo ele sustentava um celibato, em espera que seu bebê morresse e ele pudesse arranjar outra, eles transavam ao som de violinos com cordas bumbadas que emitiam o tanger da angústia, da pestilência que sofre o ser humano no decorrer dos anos, quando as crinas da vara entoavam a melodia ela pedia pra parar e resmungava sorrateiramente que não era mais possível, apenas lhe olhar e ficar rememorando os bons e velhos tempos, então, se abraçavam e choravam até o despontar da alvorada, quando ela jazia completamente morta em seus braços.
Jairo Willian

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

fREE cANINOS bRANCOS

rATOS dE pORÃO

Três décadas de barulho e anarquia da banda que consagrou João Gordo

POR CRISTIANO BASTOS - ROLLING STONE

Em 2010, os Ratos de Porão celebram 30 anos de punk/hardcore com um presentão e uma certeza. O mimo é a edição de Guidable – que sai agora em DVD duplo. São seis horas de extras, entre show e clipes.

"Guidable" é piada interna cunhada pela banda. Define desde "confusão mental" até um simples, e eficiente, "foda-se".

A história dos Ratos confunde-se com a chegada do punk ao Brasil. O filme, da dupla Marcelo Appezzato e Fernando Rick, da Black Vomit, levou dois anos para ser feito com orçamento praticamente zero. A maior parte do material pertencia ao arquivo particular do vocalista João Gordo.

Precursores do punk brasileiro, como Rédson (Cólera) e Clemente (Inocentes), também dão as caras no documentário.

A certeza que traz Guidable é que, se a banda seguisse a entornar o lema de "Beber até Morrer" (um dos clipes extras) – entre outras "cositas", – nenhum dos ratos teria sobrevivido para assoprar as velinhas nesta efeméride.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

nAS eNTRANHAS dO sERTÃO bRASILEIRO

Livro revela o estilo de vida, as vestimentas e os acessórios do bando do Lampião

POR CRISTIANO BASTOS - ROLLING STONE

Acaso o nova-iorquino Andy Warhol houvesse topado com a legendária "silueta" de Virgulino Ferreira da Silva, o temido cangaceiro Lampião, provável que o mais popular entre os mitos brasileiros também seria imortalizado na sua famosa galeria de retratos – lado a lado a vultos como James Dean e Marilyn Monroe.
A impecável obra Estrelas de Couro – A Estética do Cangaço, porém, restaura à lenda a "chispa" simbólica empunhada por Lampião.

Frederico Pernambucano de Mello, o autor, é autoridade no tema do cangaço.
No prefácio, rubricado por Ariano Suassuna, o armorialista-mor confessa: "É o livro que eu gostaria de ter escrito".

Estrelas de Couro, além de tudo, é um tomo lindamente ilustrado. Escava na (ainda ignota) "cultura material" estilizada via mãos e cérebro do pernambucano Virgulino, legítimo factótum.
A edição apresenta, também, peças autênticas de manejo dos cangaceiros: signo-de-salomão, cruz-demalta e a flor-de-lis são apenas parte dessa "fortuna ornamental".
"O cangaceiro", anota o autor, "vestiu-se de cor e riqueza para atender seu anseio de arte nos motivos profundos do arcaico".
Muito orgulho, cor, festa e, para tingir de vermelho, litros de sangue derramado. Excelente obra para entender um espinhoso capítulo da história do Brasil.

fASHIONGAÇO





sábado, 4 de dezembro de 2010

dANDO uMA bOA oLHADA dEBAIXO dA cAMA

Entre junho e novembro de 1991, a Editora Record tentou, essa é a verdade, publicar no Brasil o clássico gibi Tales from the Crypt, da EC Comics.

Ao todo, apenas sete parcas edições do Contos da Cripta viram a luz das bancas de jornais.

Guri novo, consegui comprar somente dois desses números.

Esse aqui é um exemplar que se salvou no alfarrábio das relíquias de minha adolescência. De dezembro de 91, a edição traz, entre outros, um conto de psico-ficção-científica muito chocante escrito por Ray Bradbury.

Jackie Davies, Kurtzmann e Frazeta são outros autores que também "exprimiram sangue" na páginas da Cripta.

Lembro ter lido e folheado o gibi, filho único, dezenas de vezes - e não sem o mesmo calafrio de sempre. O motivo eram os enredos de suspense na linha soberbamente canônica (e horripilante) do mestre Edgard Allan Poe.

Numa das estórias mais impressionantes, após cometer grave crime o bandido fica paranóico com as próprias digitais e, por fim, consigo mesmo.

Desabaladamente sai a limpar a cena do crime com igual obssessão do "noiadinho de pedra". Finalmente pira: o crime nunca compensa.

Noutro quadrinho, o pobre e desavisado viajante noturno descobre-se numa convenção de... vampiros! Tarde demais.

A única coisa, na real, que a Record fez direitinho foi apresentar material antigo da EC Comics no formato "magazine", seguindo especificações originais da revista.

Em sua existência breve, a edição nacional primou por desleixo gráfico, papel de terceira e impressão meia-boquíssima.

Não emplacou por falta de capricho.

No divertidíssimo Nostalgia do Terror dá para conhecer todas as edições da Tales From The Crypt saídas no Brasil.

O site conglomera verdadeiro universo paralelo de capas, títulos e editoras (de épocas distintas) e libera, também, downloads de hq's de artistas da velha e nova guarda.

Ainda tem contos, reportagens e o apavorante "Correio do Terror". A ilustração desse post é um almadiçoado walpapper: roube-o aqui. Seria muito legal seria se a Record - ou outra esperta editora  -reeditasse o gibi no Brasil.

E, nem é preciso dizer, com a merecida qualidade.

Enquanto não rola delicie-se com uma série de capas originais da Tales From The Crypt da década de 1950, era dourada da revista.

E, antes de ir dormir, não esqueça: dê uma boa olhada debaixo da cama!





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