sexta-feira, 7 de março de 2008

sONETO pARA mARÇO

A partir da próxima semana, o blog começa uma série de bate-papos com diversas personalidades da cultura brasileira. Da mídia, das letras, da música e de outros ramos.
A estréia já está marcada: será com o paulista Glauco Mattoso. Além de poeta, Glauco é ficcionista, ensaísta e articulista em diversas mídias.
Glauco Mattoso é pseudônimo de Pedro José Ferreira da Silva. O nome artístico, segundo o sonetista, trocadilha com "glaucomatoso" (portador de glaucoma, doença congênita que lhe acarretou perda progressiva da visão, até acegueira total em 1995).
O nome também alude a Gregório de Matos, de quem é herdeiro na sátira política e na crítica de costumes. Nos anos 70, Glauco participou, entre os chamados "poetas marginais", da resistência cultural à ditadura militar, época em que, residindo temporariamente no Rio de Janeiro, editou o fanzine poético-panfletário Jornal Dobrabril (trocadilho com o Jornal do Brasil e com o formato dobrável do folheto satírico).
Na mesma época, começou a colaborar em diversos órgãos da imprensa alternativa, como Lampião (tablóide gay) e Pasquim (humorístico). Na década de 80 e início dos 90, continuou militando no periodismo contracultural, desde a HQ (gibis Chiclete com Banana,Tralha, Mil Perigos) até a música (revista Som Três).
Glauco já foi fonte em algumas reportagens que fiz, como a especial - e polêmica - publicada na revista Aplauso em 2000 - Perversões e Arte. Nessa matéria, que em breve será será reproduzida no blog, Glauco fala do seu maior fetiche, que lhe fez famoso até fora do Brasil: a podofilia - ou seja, sua predileção por pés. No caso dele, masculinos e, de preferência, com chulé. Preferência que ele não esconde em livros como Manual do Pedólatra Amador - Aventuras e Leituras de um Tarado por Pés.
Caetano Veloso (ele, sempre) o homenageou na canção "Língua": "Adoro nomes/ Nomes em ã/ De coisas como rã e ímã/ Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã/ Nomes de nomes/ Como Scarlet Moon de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé e Maria da Fé.
Ao "pé do post", para usar um trocadilho ao gosto do poeta, a reprodução de um soneto fresquinho que ele me enviou:
SONETO PARA MARÇO (GLAUCO MATTOSO)

Em março as coisas voltam ao normal,
depois de muito ensaio e fantasia.
Parece que, passado o carnaval,
funciona tudo e o ano principia...

Mas logo o céu preteja e um temporal
desaba: agora é noite o que era dia.
As águas do verão, que um jovial Jobim cantou,
são mesmo uma agonia...

O congestionamento, o alagamento
e grande prejuízo: eis o que enfrento,
fazendo coração da minha tripa...

E o mês, que não termina?!Inda tem gente
lembrando um trinta e um que, infelizmente,
é nuvem negra e nunca se dissipa...

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