sexta-feira, 22 de outubro de 2010

dESMONTANDO bIDÊ oU bALDE: oUTUBRO oU nADA!

1. Hollywood #52
Junção de loucuras, cheia de referências ao que ouvíamos na época e ao que passava pela nossa cabeça, à casa e ao lugar onde morávamos em São Paulo.
A casa ficava no bairro Brooklin, que tem uma rua chamada Hollywood bem pertinho. Nossa casa era uma "mansão" com quarto nos fundos, onde improvisamos um estúdio que era habitado por cupins.
De minha parte, decreta a morte da "necessidade" de ficar rico e famoso propagandeada na primeira fase da banda.
2. Cores Bonitas
Uma das músicas mais antigas da Bidê, provavelmente das que nasceu no primeiro ensaio. Ela passou por diversas versões antes de chegarmos à versão Breeders.
É assim que à chamávamos antes de surgirem Leonardo Boff e seus arranjos de corda e sopro: aí tudo mudou.
Quando a galera ouvia os arranjos sendo executados pela primeira vez, no estúdio, na hora da gravação, as gurias choraram, nossos queixos caíram e finalmente fez sentido na minha cabeça o lance de adicionar cores à uma canção...
E não havia música mais apropriada para adicionar cores do que uma chamada "Cores Bonitas".
3. Microondas
A base da guitarra, das estrofes, foi a primeira coisa que inventei num violão, quando os guris tentavam me ensinar a tocar "Melissa". Era uma espécie de exercício meu para aprender a trocar direitinho de acordes.
Um dia eles ouviram eu tocando isso no ensaio e resolveram fazer uma música em cima...Eles transformaram aquela minha brincadeira numa das músicas mais preza da Bidê! Virou outra coisa. Tanto que eles nem tocam a música do jeito que eu tocava.
Já trocaram os acordes há tempos! (hahaha) No começo, na letra, só existia aquela parte falada, meio rap, do final da música. Depois, de uma piada interna minha e da Katia, de chamar o lance de reencontrar alguém que já tinha ficado ou namorado de microondas, veio a letra principal.
31/2. Ímpares Fantásticos
Intrumental embutida no final de "Microondas" que nasceu da batidinha do Casio SK-5 da Katia, provavelmente. Tem o barulhinho de um projetor de cinema no fundo, imitando a primeira faixa do "Clouds Taste Mettalic" dos Flaming Lips.
Foi umas das primeiras a ter participação afú do Pilla, que tinha recém entrado na banda quando começamos a ensaiar e gravar o disco.
Como todas as outras instrumentais, não foi mixada: seus volumes foram apenas levantados e mandados pra masterização - e isso foi umas das coisas loucas do disco e que eu acho mais massa!
4. Bromélias
Nasceu na sala da casa de São Paulo, com o Sá e o André tocando sonzinhos com violão e teclado sentados no chão. É sobre saudade, só podia ser - era o assunto que mais tínhamos condições de falar na época.
Inventamos um milhão de versos sobre saudade, partida e "casa", mas ficaram os da histórinha que está na música.
O papo "bromélias" do verso sobre a mãe que tem bromélias penduradas nela, veio de uma 'paródia' que tínhamos feito da música "Patê" da Graforréia, e resolvemos incluir (e, depois, dar título à canção).
É filha direta do surgimento da onda Strokes em 2001, logo após a Clarah Averbuck ter pintado lá em casa numa das nossas festas com umas demos deles e eu ter ido à galeria do rock atrás daquele mesmo Cd.
5. Adoro Quando Chove
Essa nasceu de uma frase que larguei num dia que uma mulher linda demais entrou na Lancheria do Parque: adoro quando as gostosas vêm ao bar!
Depois, foi só ouvir o riff que o Sá fez num ensaio e encaixá-la de alguma forma (e descambar pro romantismo total quase ingênuo que era o momento que eu estava vivendo).
Tem a estrutura que mais nos divertimos e suamos fazendo no estúdio improvisado de São Paulo.
51/2. Pobre Johnny Thunders
Essa também nasceu d'eu brincando de aprender a tocar um instrumento, dessa vez o baixo. Eu tava brincando com essa idéia de surf no baixo, os guris gostaram e resolveram trabalhar em cima dela.
Acho tri massa que a música mais minha da Bidê seja uma instrumental. Mas, claro, o arranjo que a banda fez, as notas certas que os guris incluíram e o baixo tocado direito que o André gravou foram o que fizeram a música ser "discável" e ter aquele som legal.
Tudo isso e, claro, a chuva gravada em estéreo por nós e pelo Thomas Dreher, no estúdio.
6. A-há!
Gravada na época do nosso primeiro disco, com o Caveira na batera, mas não conseguimos mixar a tempo de entrar no disco. Foi uma das últimas músicas a ser arranjada para o primeiro. Viajo que isso a aproxima mais do "Outubro ou Nada!".
A entendemos como espécie de música de abertura de um provável "lado b" do disco, onde estariam canções como ela e "Matelassê", mais antigas (que já tinham sido gravadas antes) e as "doidêras" do álbum.
7 . Matelassê
"Matelassê" foi criada por encomenda para a Revista da Atlântida. O então editor da revista, Eduardo Nasi, me ligou um dia e pediu que eu escrevesse uma letra sobre óculos escuros, para um editorial de moda da revista.
O fiz ao meu modo, fugindo e bastante do tema, e com uma melodia na cabeça. Daí um dia cantarolei essa melodia pro Sá, que tirou seus acordes e compôs a música comigo (nossa primeira parceria).
Mais tarde, quando a mesma Revista da Atlântida nos convidou para sermos a matéria de capa de uma edição, e também o disco que vinha encartado, não titubeamos em nos pilharmos a gravar a música que tinha sido inventada pra eles e incluí-la no tal disco (o Ep Para Onde Voam os Ventiladores de Teto no Inverno?).
Mas, ao contrário de "A-há", foi regravada pra entrar em Outubro com pequenas diferenças, mas um som mais potente e a banda mais acostumada a tocá-la.
8. Dulci
Descaradamente, "Dulci" nasceu de uma espécie de versão Pavement pra "Lucy in the Sky With Diamonds", com letra totalmente baseada na fonética das palavras da letra beatle em cima da melodia torta que inventamos pra ela.
Praticamente todo mundo deu idéias pra letra, que acabou de ser escrita minutos antes de ser gravada, principalmente a Katia e o Pedro - mas teve até participação do Thomas Dreher (que sugeriu o "vermelho canalha", do rosto envergonhado da Dulci: referência aos jargões do nosso ídolo Plato Divorak).
A homenageada que dá nome à música era a Dulci Pereira, divulgadora da Antídoto (selo que lançou o disco) na época, mas as referências são mil e quinhentas, desde filmes adolescentes dos anos 80 às óbvias lisergias.
9. O Antipático
Letra e melodia, quase inteiras, nasceram numa ressaca duma festa do canal Multishow e são bem sobre o fim da nossa relação com o empresário Manoel Poladian e o ex-guitarrista Rafael Rossatto (por mais que a imagem d'o antipático' talvez seja uma coisa bem do Rossatto que, logo que havíamos nos mudado pra São Paulo cunhou a frase – que um dia ainda virou: "eu não vim a São Paulo pra fazer amigos!").
Eu viajava que ela era um encontro do Ozzy com o Roberto Carlos. A letra se encaixa com o tema de "Hollywood #52", pelo menos na minha cabeça – o que dá ao disco um teto de quase-unidade (o que se reforça com a emenda que foi dada entre ela e "Soninho").
10. Soninho
Outra das antigas, essa valsinha também passou por várias versões, umas mais guitarreiras que outras, e acabou encontrando nessa loucura Duprat do arranjo que o Boff fez sua versão tão definitiva. Essa nós tocamos ao vivo muito poucas vezes depois que o disco saiu.
Outra novidade é a Vivi e a Katia fazendo as vozes principais. O arranjo tem uma esquisitice que eu adoro (tanto os de cordas e sopros quanto o da banda e das vozes).
11. Aeroporto
Mistura de Weezer com "Cut your Hair" do Pavement, duas referências óbvias da primeira fase da banda. Essa foi uma das primeiras a ser composta após a fase do primeiro disco, quando ainda tinha o Rossatto na banda e antes de irmos pra São Paulo.
Sobre a letra, já pensei tantas coisas, que nem sei mais no que estava pensando quando a escrevi. Só sei que é sobre amor, amor em aeroporto, gostos diferentes.
11 ½. My Name is Going
Esse tetinho das faixas instrumentais, tem gravações de vários momentos colados na masterização.
Começa com uma gravação em K-7 direto da sala da nossa casa em São Paulo, com o André e o Sá pirando com os instrumentos. Daí entra todo mundo gritando "My Name is Going" - um dos tantos bordões do Pedro, que significa algo tipo "já tô indo".
Então entra o Thomas dando a ordem de "gravando" pra dar Rec na fita e a banda inteira tocando aquilo que havia sido criado pelo Sá e pelo André em São Paulo.
Por cima ainda foi incluído um irritante barulho de pedal wah-wah ligado invertido pelo Pilla, sem querer. O mais legal é o final: a fita de duas polegadas acabou no meio e foi gravado o barulho dela acabando: a música não termina e o teto é preto.
12. O Que Eu Não Vejo Não Existe
Manchesterismo sobre ciúme e infidelidade totalmente criado em São Paulo, falando sobre a insegurança de estarmos vivendo longe das nossas pessoas.
Apesar do título dar um tom de corno-mansismo pra música, a frase representa a atitude que mais repudiávamos na época: o lance de ignorar o desconhecido e reagir apenas com desconfiança, por mais que, talvez, infundada.
O mais legal da gravação, pra mim, foi o baixo com efeito dum pedal muito louco do André e o arranjo de vozes no final da música.
13. Não Adianta Chorar
Essa é pura emoção, né... Descarga dos nossos sentimentos e dúvidas na época - ctrl+alt+foda-se no que quer que estivesse nos afligindo.
Estávamos felizes de ter escolhido fazer a coisa certa: um disco, um disco bem do jeito que queríamos, do qual estávamos orgulhosos.
E tem o sax do Rodrigo Siervo solando com a galera naquele final emocionado. Tudo de massa!
14. Cores Bonitas
Era só uma versão acústica de "Cores Bonitas" e acabou virando outra coisa. Talvez seja a minha gravação preferida da Bidê, até por ter se transformado tanto no resultado final.
Palmas pro Leonardo Boff, um dos principais responsáveis pelo caráter especial que o disco ganhou em nossas vidas.
E vem um monte de efeitos, e acaba o disco - e entra uma versão ao vivo (gravada em estúdio) de "Hollywood #52", ali colocada especialmente praqueles aparelhos de som que, após o fim do álbum, o repetem (assim, o final e o início de Outubro ou Nada! se uniriam - sem fim).

Who's Next?