sábado, 23 de outubro de 2010

tUDO É pREZA


POR CRISTIANO BASTOS/URBANAQUE

A Bidê ou Balde voltou!

Depois de seis longos anos de exílio do noticiário pop e marrom a intrépida trupe comandada pelo mais novo pai de família da praça, Carlinhos Carneiro, deu uma rasteira no hiato e lançou dois singles de uma vez só, que irão figurar no EP a ser lançado no fim do ano:

A grudenta "Me Deixa Desafinar" e a falsa melosinha "Tudo É Preza". (ouça abaixo)

Nosso destemido colaborador Cristiano Bastos (o mano Cristiano) entrevistou o vocalista que teve de ser auxiliado por uma médium que o guiou para incorporar três entidades indígenas das etnias Xavante, Kraho e Guarani.

Carlinhos & Os Índios (isso já é nome de banda…) falaram sobre as atividades paralelas da Bidê – quando não está com o microfone na mão o vocalista mantém uma rotina campeira – e contaram as boas novas da banda, como Rivers Cuomo liberou a versão de "Buddy Holly" do primeiro disco.

E, por fim, a indiada enfileirou todos os seus ídolos do rock gaúcho. Mantenham a calma e fiquem atentos, que "eles" exigem respeito!

Vamos lá?

Sim, vamos!

Você está sozinho na sala ou tem mais alguém com você aí?

Sim, eu estou acompanhado. Sinto a presença de três índios que vieram tentar rever o mundo através de mim e fizeram da minha fala uma ponte para suas intenções e delírios. Pois os mortos deliram.

Do quarto ao lado escuto a presença de minha senhora e nossa filhinha (primeiro um resmungo chorado, depois um 'pega a teta, Sofia' e então os estalos semelhantes aos de beijos, sinalizando que ela se atracou no papá).

E eu estava agora há pouco falando pra um antigo colega de faculdade no MSN, a quem prezo carinhosamente, sobre o quanto é maravilhoso procriar e estar envolto em amor incondicional.

Como você se sente nunca estando solitário?

Como um canguru, ainda.

Você está pronto para falar sobre a banda, A Bidê ou Balde?

Sim, acho que sim. Os índios gostam da Bidê. E a minha filha, Sofia, mais ainda! Ás vezes só dorme quando colocamos o Outubro ou Nada! para embalá-la no sono. E seguido pego a Bruna, minha mulher, musa e personal stylist, cantando 'Me Deixa Desafinar' pra ela nanar!

Depois de toda a sensação que a banda causou quando surgiu, qual o momento da Bidê hoje?

Estamos, finalmente, lançando material novo na bocada! Semana passada, no dia do meu aniversário, 6/10, rolou a estreia da primeira música inédita nossa em 5 anos, 'Me Deixa Desafinar', na rádio Atlântida – principal rede de rádio pop da região sul do Brasil.

Lançamos com exclusividade lá, antes mesmo da internet, de blogs e de rádios de caráter mais indie e ansiosas por novidades, na tentativa (bem sucedida!) de reestabelecer a parceria que sempre tivemos com eles.

É também uma reafirmação de um lance que sempre temos que reafirmar: somos uma banda pop – uma banda pop que se alimenta até de coisas nada pop, mas que enxerga viabilidade pop em tudo que gosta, e com isso ainda pretende salvar o pop das garras do iogurte desnatado estragado.

Desde que a música entrou na programação os caras receberam uma enxurrada de pedidos de execução dela, de gente curiosa em ouvi-la (até gente de outros estados, onde não pega a rádio, pediu para ouvi-la online, no site da Atlântida), os saudosos de novidades da Bidê e gente nova, que curtiu a música de cara!

Isso é muito massa e inspirador, principalmente por causa do sistema que escolhemos para lançá-la (e consequentemente para lançar todo o nosso novo álbum), aos poucos, em pílulas… primeiro essas músicas ["Tudo é Preza!" foi lançada na internet também] e mais rádios, e ambas estarão em um EP que deve chegar da fábrica em novembro, com 5 faixas…

Daí seguiremos gravando singles e/ou EPs até ter o equivalente a um disco ou algo do gênero, como um box de EPs (que é a origem da ideia)… então ter uma estreia boa, com ótima recepção, é muito inspirador para as coisas que vamos continuar gravando e produzindo!

(um dos índios fala através de Carlinhos, com carregado sotaque de índio): acho preza dizer que a Bidê é a única banda brasileira que tem um vocalista que não assistiu Avatar, nem Nosso Lar – ainda.

Antes de decidir um nome para os discos, a Bidê sempre nomeia os discos como projetos. No novo que estão gravando qual é o projeto?

Chamamos esses projetos de nome provisório do disco, nesse é "Projeto: contar patranhas", no primeiro, no segundo e no terceiro eram, respectivamente, "Projeto: ganância", "Projeto: alienação" e "Projeto: simples".

Não é pura e simplesmente verdade que se possa comparar a crença em deuses com a amizade ou o amor que se sente por pessoas com as quais convivemos realmente todos os dias, e que ao longo da vida nos dão provas de reciprocidade (ou de falta dela).

Ninguém toma o pequeno-almoço com deuses, nem vai ao supermercado com deuses nem os leva à escola de manhã. Chamávamos, lá pelas tantas, esse amontoado de coisas passíveis de se tornar um disco de "Projeto: mistério", pois o mistério é um tema ou elemento que liga muitas das canções, sem querer.

Qual a tua opinião sobre a cena de Porto Alegre. O que tu destaca de legal?

Não sou muito de ir ao teatro, mas (em 2007) gostei muito da versão de “Sonho de uma Noite de Verão” que tem o meu amigo Léo Machado no elenco. É num estilo cabaret, cheio de cantorias, muito bem dirigido e com ótimas atuações (na minha modesta opinião).

Vocês fizeram parte de um momento de explosão das bandas independentes. Passados tantos anos, o que mudou no cenário?

Agora o Internacional é bi-campeão da Libertadores, do mundo e da Recopa. Tríplice coroa. Acho preza esse termo/título, que deve ter sido inventado pelos marqueteiros do colorado mesmo. É também campeão da Sul-Americana, e dia desses ganhou com seu time sub-20, acho, a taça cidade de Santa Maria. Uma tremenda mudança no cenário!

O que você anda ouvindo, Carlinhos?

Janelle Monáe! O EP dela e o The ArchAndroid, que estou considerando um dos melhores discos de 2010!

Vocês ainda são filiados ao anti-movimento Vive Le Flesh Nouveau? Quem está por trás de VLFN?

Só eu continuo no Vive Le Flesh Nouveau! O resto do pessoal da banda saiu por desentender-se com convenções religiosas do coletivo. Ninguém está por trás do Vive Le Flesh Nouveau! A Carne Não Tem Raízes!

VLFN! tem a ver com “terrorismo new wave” e “empirismo pop”, conceitos pop-arrrtivistas formulados em Outubro ou Nada?

nÃO COMPRE aRRRTE, gASTE EM cARRRNE! (um dos índios é mudo).

Quem são seus ídolos do rock do Rio Grande do Sul, Carlinhos?

Plato, Flu, Edu K, Júpiter, Frank Jorge, Wander, Mini, Julio Porto, Zé do Bêlo, Tony da Gatorra, Jorjão, André Arieta, Cristiano Zanella, Lee Martinez, Jesus Buceta, Os Panarotto, Carlo, Birck, Petraquinho, Os Felinos, Pedrão Motora, Luiz Wagner, Rangel de Jaguarão, Campo & Lavoura, Vini Tonello, Liverpool, Pancho da Cara, Diego Medina, Rangel de Verdade, Fernando Rosa, o Agromod, Miranda, Flavinho Carneiro, Biba Meira, King Jim, Dr Love, Patrick, Glauco Caruso, Marcos, Cidade, Claudinho Transportes, Padeiro, Six, 4nazzo, Jimi Joe, Guri Assis Brasil, Jairo William Caveman, Kamika, João Carteiro, Moskito, Sting, Vitória Cuervo, Bolada, Pedrão Hahn, o Franco da Blazz, a dona Ivone Pacheco, Serginho Moah, Nando Endres, Cláudio Cunha, Ferla, Nik, Peninha, Katsy Carmichael, Menchen, Benvenutti, Ildo, Cicuta, Rogério da Toca, Getúlio da Boca, Salim, Rossatto, Liege, Deborah Blank, Suzy Doll, Dani hyde, Terréks, Dani Bolan, Chicão e o coral dos Irmãos Guatemala. (…)

Rivers Cuomo aprovou pessoalmente a versão de Buddy Holly, do primeiro disco? Como foi? Ele curtiu? Conta aí.

Pergunta pro Will, da Wonkavision, porque foi ele que conseguiu a liberação. Ele morava em Los Angeles, disse que ia tentar chegar pra ele na cara dura, mostrar a música e perguntar se ele liberava e dar esse start para liberação junto a editora e tal. Deu certo, o Rivers disse que liberava e deu o caminho das pedras para a liberação.

Na época, ele disse que o cara tinha achado estranho/engraçado ouvir sua própria música em português. Isso é o que mais me marcou. Às vezes me pego pensando na versão islandesa de "Gerson", na turca pra "Mesmo que Mude”, “Me Envergonha” em mandarim…

Na vinda deles ao Brasil, no show em Curitiba, houve um segundo contato massa entre nós e eles: o Sá alugou o seu mini-moog pro Brian Bell tocar, e foi – com a Vivi – no show, acompanhando o sintetizador (viu passagem de som, conheceu os caras, os ensinou seu extraordinário passo de dança "o manobrista Pete Townshend", salvou a Terra e ligou pro Al Gore. Tudo num dia!).

Depois do show eles colocaram no site deles um agradecimento ao Sá, pelo instrumento e por ter salvo o mundo, e falaram da gente. Achei massa.

(o índio com jeito de bicha diz): no Rock in Rio 3 o jorrrnalishta José Flávio Júniorrrr, que era inclusive da Bizz, deu uma cópia do primeiro dishco da Bidê pro Dave Grohl, que comia – ou come ainda, sei lá – aquela mina que tocava no Hole e no Smashing Pumpkinsh que tinha como primeiro nome o mesmo Melissa da música dosh Bidê. Ele mostrou isso pro cara e viu que tinha “Buddy Holly” também. O jorrrnalishta José Flávio Júniorrrr explicou que era a música do Weezer, e o Dave Grohl reshpondeu 'that fuckin' Weezer song???".

Eu achei muito preza que esses dias me disseram o boato que os fãs do Weezer estavam oferecendo 10 milhões de dólares pra eles não mais tocarem e os decepcionarem. Hahaha!]

Rock Sukita é coisa do passado?

Ainda se samba e se sambará. Ainda se beija e se beijará. Ainda se casa e se casará. Ainda se reza e se rezará. Ainda se deita e se deitará, um dia pra sempre. E assim pra sempre será.

Conta como surgiu a história da música "A-Há!"

A letra de 'A-há!' é inspirada num conto do Marcelo Benvenutti, que estava em uma revista que a gente fazia na época da faculdade, no comecinho da banda, a RevistaZE. O texto era sobre uma festa em uma boate portoalegrense, onde do nada faltava luz e havia a aparição de uma entidade/homem com um pau incandescente gritando "eu sou Mickey Rourke".

Além disso, tem muitas passagens do texto na música, além de um tanto de outras coisas que eu mesmo inventei e coloquei na “história”. A título de curiosidade: entre essas coisas incluídas por mim está o nome que cito na primeira estrofe, Renan, que na época veio à música influenciado pela sonoridade do nome do mesmo (por enquanto) senador Renan Calheiros, que tem estado tão em voga nos noticiosos.

E as abelhas?

Pois é, tenho andado muito preocupado com esse lance das abelhas saírem pra polinizar e não voltarem mais para as suas colmeias. Acho isso muito doido!

Carlinhos: quais são as suas 10 canções pop de todos os tempos, se tivesse que montar uma coletânea?

Não sou de listas. Muito menos as que se propõem definitivas. Prefiro imaginar uma coletânea:

"My Sharona" – The Knack
"Sexx laws" – Beck
"Lala love you" – Pixies
"Blinding Sun" – Mudhoney
"Besta é Tu" – Novos Baianos
"Got to Get Into My Life" – Beatles
"Você Não Serve Pra Mim" – Roberto Carlos
"Picture Book" – Kinks
"20th Century Boy" – T-Rex
"Race For the Prize" – Flaming Lips

Mas tinha que ter Clash, Sinatra, Elvis, Jorge Ben, Tim Maia, Erasmo, Lulu Santos, Paralamas, Butthole Surfers, Dinosaur Jr, B52′s, Gang of Four, Titãs, Mutantes, Happy Mondays, Beastie Boys, Beach Boys, Cypress Hill, Rolling Stones, Bob Dylan, Neil Young, Burt Bacharach, Blur, uma pá de coisa… não curto listas…

(a ligação cai e o entrevistador não consegue mais estabelecer contato com Carlinhos).

[ENTREVISTA: Cristiano Bastos/EDIÇÃO: Leonardo Dias Pereira]
Me Deixa Desafinar

Tudo é Preza

Who's Next?