segunda-feira, 30 de junho de 2008
dIÁRIO dE pAÊBIRÚ
domingo, 29 de junho de 2008
o hOMEM dA bOSSA*
sábado, 28 de junho de 2008
oS mISTÉRIOS dE pAÊBIRÚ*
sexta-feira, 27 de junho de 2008
fLYNG V:INNERSPACE
G.G.Allin
- O abduzimos antes de isso ocorrer - foi o que teve como resposta.
quinta-feira, 26 de junho de 2008
quarta-feira, 25 de junho de 2008
pAÊBIRÚ eM oLINDA
terça-feira, 24 de junho de 2008
pROTETORA dE uMA oBRA cLÁSSICA*
sAGA dE pAÊBIRÚ sERÁ rECONTADA*
segunda-feira, 23 de junho de 2008
bIDÊ oN gLOBO
domingo, 22 de junho de 2008
fREE jAZZ a bOLONHESA*
sábado, 21 de junho de 2008
nO jB
quinta-feira, 19 de junho de 2008
pREPÚCIOS tEXTICULARES*
Sentados numa praça do shopping. Leopoldo e Rubens. Ambos já lá pela quinta idade. Moraram nos EUA durante a infância. Para se ter noção, assistiram “Branca de Neve e os sete anões” na matiné de lançamento. E já não eram tão pequenos! Discutem sobre São José da Arimatéia na história do Cordeiro. Sobre ele e sobre a imaculada. Acham que não se discute virgindade. "Ela era virgem e ponto".
Estão cansados dos jovens e até hoje não aceitam o suposto homossexualismo de Liberace.
- Eles vestem-se mal, molambentos, calças caídas e aspecto sujo. Não reconhecem a sabedoria dos mais velhos e se julgam modernos. – resmunga Leopoldo.
- Não acredito e deu! Pelo menos a Mae West ele deve ter comido. Ela devia ser muito vagabunda. Não é possível que o Liberace, com toda aquela bossa, tenha sido fresco. E digo outra coisa, ele nem sequer morreu. Liberace vive! Acho que virou vendedor de telefone celular, isso dá grana e ele sempre foi um gênio! – retruca o amigo.
- Não respeitam nem a eles mesmos. Andar por aí deste jeito não vai chamar a atenção de ninguém. Os jovens de hoje espantam a todos aqueles que prezam por uma sociedade justa e livre dos arrenegados pela graça de todos os bens totais.
- Cala a boca, Poldy! Vamos ver se aquele CD dos Sonics não tá em promoção na Multisom. Eu tô muito velho pra agüentar as tuas reclamações.
Julie
Mais ou menos quatorze cantores de Viena sentados naquela sala de espera. Esperam. Do alto-falante, uma música. Aparentemente, o vocalista acaba de descobrir que uns certos rumores sobre a atriz Julie Christie eram verdade. Mas nenhum dos jovens cantores de Viena se preocupa com a atriz de Doutor Jivago, e parece que ela concorreu a um Oscar estes tempos. Era com ela aquele O céu pode esperar, onde toca a musiquinha do programa do Jaime Copstein. Mas eles não conhecem a rádio Gaúcha, tanto os que estão naquela sala quanto os integrantes da banda americana. Esperam; os cantores. Gostam é da Romy Schneider. Disputam por um papel na remontagem austríaca de Cats. Todos se conhecem, mas não se cumprimentam. Alguns cresceram juntos e estudaram juntos, mas hoje preferiram este silêncio que, por sua vez, deu lugar à música sobre a tal atriz. De certa forma, ainda se sentem estigmatizados por serem conterrâneos de Hitler, o que é curioso. Definitivamente não parece que nenhum deles vá se levantar e perguntar aos outros: “Afinal de que rumores sobre Julie Christie este infeliz tá falando?” – até por que os vienenses são assim.
Como será que está a música na Áustria hoje em dia?
Rubens
Continuavam sendo Binho e Poldy, Rubens e Leopoldo. Seguindo naquela odisséia diária. Esperando apenas para voltarem para o lar geriátrico onde dormiam. Onde mulher alguma os trairia. Onde a comida é quentinha e gratuita, mas mesmo assim preferem pagar um McLanche Feliz do Praia de Belas. Discutiam a infeliz constatação masculina de se ter as costas peludas. A partir da negação do fato de já terem perdido muito do pêlo que ostentaram no passado, examinavam todas as possibilidades perdidas pela existência infame destes infernais seres que vivem perpendicularmente, em sua maioria, ao corpo do homem não depilado.
Estavam transtornados com os beijos estalados dos jovens. Estalavam-se rapazes e garotas por todos os lados do shopping. Estavam abobalhados com o estabelecimento comercial da maionese, com a popularização do patê e o apelo surpreendentemente saboroso da mortadela.
- São beijos mal dados de quem pouco ama, de quem pouco conhece a vida e as belezas do sexo oral. É ostentação de adolescente mal vestido, destes que nunca reconheceram o potencial de Thales Pan Chacon. – resmunga Rubens.
- Há 50 anos atrás estas coisas eram em sua maioria caseiras. Minha esposa fazia. Agora maionese vem em, como é mesmo o nome? Ah! Sachês. Sábio aquele que dizia: “A maionese é o ópio do povo.” – ou ainda – “O meu cachorro é sem ervilha e com bastante maionese, por favor.”. Eu acho que a salmonela foi uma criação dos fabricantes de margarina. – retruca o amigo.
- Acho que eu só precisava de mais um beijo estalado em praça pública, antes de morrer.
- Deixe de bobagem, Binho, eu ainda te amo tanto. Agora vem, vamos para casa, aqui não tem aquele tipo de danoninho que tu gostas. Vamos ver o Jornal Nacional e dormir no quentinho da nossa cama.
Heleno
Heleno, o Apicultor, dizia ao Vinícius: “Sabe Moraes, nós somos os maiores estrategistas, maiores que Hitler e Stalin.” Grande cara, ele. Não me lembro de alguma vez ter lhe visto pagar para entrar num lugar na noite. E sempre estava nas melhores festas. Uma vez lhe perguntei: “E aí Apicultor, o que tu faz no exército?” - prontamente ouvi a resposta – “piloto de coronéis”, eu ri.
Quando vinha para Porto Alegre, ele pegava o carro da vó dele, um Voyage, e saíamos, ele, sempre com um inconfundível boné do Quércia (para presidente). E onde passávamos as pessoas se perguntavam quem seriam aqueles bagaceiros do interior liderados por um fã do ladrão do Quércia. Era muito preza! Ele é um daqueles caras que eu nunca vou me esquecer. Agora tá casado, ou algo assim, e parece que entrou numas de ir para bosques, meditar. De vez em quando os guris encontram ele e tomam uns baita trago juntos de novo. Daí eu fico sabendo das novas do Apicultor. Faz tempo que eu não vejo o Heleno. Acho que já faz dois carnavais.
Orestes
Duas amigas, suponhamos Márcia e Ana Carolina:
Sabe aquele cara, o Leonardo, de quem eu te falei?
Tô ligada!
Esses dias eu saí com ele e com uns colegas dele, da agronomia de Santa Cruz. Fomos num daqueles barzinhos da República. Os guris são trilegais e daí – conversa vai, conversa vem – acabei ficando com um deles. E agora eu tô ficando com ele - direto.
Que massa! E como é que ele é?
Ele é súperdéiz! Tipo – mmm – é loiro, cabeludo, toca flauta e se chama Orestes.
Orestes?!
É. Por que?
Eu sempre sonhei em ter um primo chamado Orestes.
Um primo?! Por que Orestes?
Sei lá, ele seria tipo um primo quietão que vem de Montenegro nas férias. E daí ele sempre sairia comigo, iríamos no Cais, e daí eu apresentaria ele pra a Lúcia ou pra a Lisi, e uma delas ficaria com ele e daria pó pra ele. Seria, sei lá, diferente. Eu tô cansada dos meus primos de Alegrete.
Tô ligada!
Marco
Duas amigas, suponhamos Márcia e Ana Carolina:
De quem é esta frase na tua agenda?
Que frase?
Essa aqui: “Vivemos para sobreviver aos nossos paradoxos.”. O que significa isto?
É daquela banda que o meu irmão escuta, que eu te falei.
E por que tu não coloca mais as frases do Bob?
Sei lá, acho que eu nunca gostei muito da qualidade das traduções. Além do mais, palavras tipo JAH, parecem coisas não-brasileiras. E eu tô tri numas de Brasil depois da Copa.
É mesmo!
Chega o gerente da Renner. Que se chama Marco é fácil de se saber, pois está escrito no crachá, entretanto, poucos sabem que na verdade ele é o Homem-Gafanhoto Americano travestido de gerente da Renner:
As senhoras me desculpem, mas nenhum dos cartões de vocês tem crédito.
Bah, que merda!
Ta, deixa assim. Obrigada, - mmm – Marco.
Afastam-se da loja, põem seus respectivos cartões em suas respectivas carteiras:
Bem gatinho esse gerente, né?
É. E bem elegante, ele.
Todas são ludibriadas pelo Homem-Gafanhoto Americano.
*A sessão "ginecológica" que Carlinhos Carneiro tinha nos tempos da REVISTA ZE, agora de volta neste blog periodicamente. Dê uma folheadinha.
mAIS uM cORPO qUE cAI*
Então o Ned me contou a sua história:
*Mais um capítulo da saga do bar Garagem Hermética, por Leo Felipe.
quarta-feira, 18 de junho de 2008
terça-feira, 17 de junho de 2008
segunda-feira, 16 de junho de 2008
mENSAGEM dEL cOMANDANTE eN cHEFE
"Não quero mais!" Chegou desse negócio! Vou pra casa cuidar dos meus cães, fumar meu charuto e não perder mais nenhum capítulos da novela das 8h".
No site da Rolling Stone, uma turma de respeito faz tributo ao "encantador de cadeiras de massagem". Fã assumido, Luis Fernando Verissimo deixou palavras sábias sobre Donato:
“Segundo o Louis Armstrong, quem precisa que alguém lhe explique o que é jazz, nunca saberá o que é jazz. Quem precisa que alguém lhe explique o que é ‘balanço’ tem mais sorte – basta ouvir João Donato. Ele não é uma pessoa, é uma definição”.
Também passaram por lá, o produtor Bernard Ceppas, artistas como a atriz e cantora Talma de Freitas e Arnaldo Antunes. No andar de baixo, reprodução da reportagem sobre o músico acreano.
domingo, 15 de junho de 2008
sábado, 14 de junho de 2008
o pAÊBIRÚ é nOSSO!
Infelizmente, o mitológico álbum duplo nem chegou a ver lançamento em CD no Brasil, enquanto sua música é prestigiada por colecionadores mundo afora.
A equipe de documentaristas da produtora Flesh Nouveau! Filmes assumiu com paixão a responsabilidade de contar esse fabuloso pedaço “naufragado” da musicologia brasileira. Está em fase apurada de pré-produção o Projeto Paêbirú, nome provisório do documentário feito em quatro bases: as cidades de Brasília, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Recife, onde tudo começou.
Pelo que se tem notícia, será o primeiro registro cinematográfico sobre um disco "psicodélico" gravado no Brasil. Os envolvidos no projeto acreditam que a obra seja a "a mais psicodélica".
Mais do que gênero pontual, Paêbirú é um tratado sobre botânica, história, folclore, sonoridades, signos, ritos e ancestralidades.
O documentário também fará um resgate audiovisual da explosão criativa de Lula Côrtes, um dos artistas magistrais de Pernambuco.
Segundo o jornalista, diretor e roteirista Cristiano Bastos – ganhador do prêmio de melhor Vídeo Experimental no Gramado Cine&Vídeo de 1999, com 5 Minutos –, a equipe trabalha com o prazo de pouco mais de um mês e meio para a pré-produção, que inclui pesquisa histórica, regional e estética, produção e pesquisa de trilha sonora: “O Doc é sobre um período 'hippie' da história, só que o ritmo da produção é punk", compara Bastos, atualmente mergulhado na obra de Côrtes.
O jornalista explica que a referência cinematográfica é o documentário Don’t Look Back, de
D.A Pennebaker, a idéia da câmera observadora, mas o espírito da produção é na linha de Great Rock’n’Roll Swindle, sobre os Sex Pistols.
Lula Côrtes já trabalha na criação de uma trilha para o filme.
PAÊBIRÚ - Hoje, o LP Paêbirú, do qual sobraram apenas 300 cópias da tiragem original (1000 foram na enchente que inundou Recife em 1975), perdidas pelo mundo, vale mais do que o primeiro LP de Roberto Carlos. Um único exemplar está avaliado em mais de R$ 4 mil.
Cristiano passou dias ao lado do artista em Recife, conversando e entrevistando. Também produziu uma sessão de fotos com o músico na casa onde o disco foi gravado, na década de 1970.
As filmagens em Recife e no interior da Paraíba iniciam em meados de julho, conforme o cronograma estabelecido. A equipe está reunindo recursos e apoios nas diversas partes do país onde encontram-se os realizadores.
Alguns selos e gravadoras, como a Monstro Discos, já manifestaram interesse em lançar o material em DVD.
Os produtores pretendem angariar apoios e recursos, principalmente, na região Nordeste. O documentário Paêbirú vai reunir músicos da velha e da nova geração recifense para tocar e contar boas histórias.
BAIXE O DISCO
OUÇA
MAIS PROCURADO
eQUIPE dE pRODUÇÃO
CRISTIANO BASTOS (direção, produção e roteiro)
Jornalista, autor do livro Gauleses Irredutíveis – Causos e Atitudes do Rock Gaúcho (Editora Sagra Luzzatto). Colaborava com a BIZZ. Faz reportagens para a Rolling Stone. Foi repórter da revista Bien'Art (Fundação Bienal de São Paulo). Escreve no site SenhorF e para a Revista Brasileiros. Colabora com a revista de cultura e artes Aplauso, de Porto Alegre. Prêmio de melhor vídeo no Festival de Cine&Vídeo de Gramado em 1999, categoria experimental, com “5 Minutos”, julgado pelo diretor Jorge Furtado.
LEONARDO BOMFIM (direção)
Editor da revista virtual Freakium www.freakium.com
Diretor do videoclipe "A Marchinha Psicótica de Dr. Soup", do artista Júpiter Maçã.
Curador e produtor da mostra Cinema Marginal – 40 anos de 1968,
O que diz sobre o DOC Paêbirú: “A referência no documentário é o trabalho do D.A Pennebaker, a idéia da câmera observadora de Don't Look Back – os gestos, olhares, pequenos momentos. O legal é que pretendemos mostrar as coisas e não dizê-las todas ao tempo todo, só para deixá-las mais intrigantes no desenrolar do filme. O disco é muito expressivo, o uso dos instrumentos inusitados, sons, letras, é muito atmosférico. Até vejo relação entre a psicodelia de Paêbirú com o som árido da psicodelia texanados. Há relação com bandas como 13th Floor Elevators, que colocam regionalidades na mistura.
CARLINHOS CARNEIRO (co-roteirista)
Vocalista da banda Bidê ou Balde. Roteirista do vídeo “5 Minutos”. Colega de Cristiano Bastos na Faculdade dos Meios de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica (Famecos/PUC). Editaram juntos a Revista ZE.
www.bideoubalde.com.br
www.revistaze.com
Carlinhos Carneiro: "Préééza!"
FLAVIO SANTOS – FLU
Em 1986, Flu (ainda Flávio Santos) ingressa na banda DeFalla, uma das mais cultuadas do Brasil até hoje. Com o DeFalla, gravou 6 discos, excursionou o Brasil todo e fez show no festival Hollywood Rock, em 1993, ao lado de Red Hot Chili Peppers, Nirvana, entre outros.
Em 1999, já fora do DeFalla, Flu lançou pela gravadora Trama seu primeiro disco solo, "...e a alegria continua". Além disso, trabalha em composições de trilhas para cinema e TV. Também alguns longas como Tolerância (Carlos Gerbase), Wood & Stock (Otto Guerra), Anjos do Sol (Rudi Lageman). Trilhas para TV como Histórias Curtas da RBS TV e XPress da MTV internacional.
www.myspace.com/flufli
Jornalista. Dono do selo SenhorF Discos (Superguidis, Graforréia Xilarmônica, Los Porongas) e editor do site SenhorF. Maior autoridade no mercado de música independente nacional. Historiador do rock brasileiro e sul-americano.
www.senhor.com.br
O que Rosa escreveu sobre: “A indústria discográfica brasileira perde uma boa oportunidade de provar que se preocupa um pouco mais do que com o tilintar da caixa-registradora. Paêbirú, que quer dizer "o caminho do sol" (para os incas), poderia ser o primeiro de uma série de raridades a ganhar a luz do dia, para ocupar uma fatia de mercado que, se pequena comercialmente, é fundamental para a preservação da cultura musical brasileira”.
Fundador da banda Graforréia Xilarmônica, Aristóteles de Ananias Júnior, produtor.
O que Birck percebeu: "Em especial, duas coisas me chamam a atenção: a precisão e riqueza das texturas tímbricas (com muitos improvisos), e a interação entre trechos instrumentais e cantados. Música e letra estão integradas de tal forma que chegam a ressoar um certo aspecto xamânico (o que também está presente no instrumental), sem cair em um nacionalismo panfletário, apesar do uso de temas e ritmos que poderiam ser (ou são) de temática folclórica".
www.marcelobirck.com
CONTATOS
Talita Miotto - (61) 9226.9001
Cristiano Bastos - (61) 3201-4532/9922-0130
Julia Claudino, em Recife - (81) 9949-7631
quinta-feira, 12 de junho de 2008
terça-feira, 10 de junho de 2008
segunda-feira, 9 de junho de 2008
cHOVE nO rIO*
Eu e André, filho de Ivone Belem, esposa de João Donato, gastamos o tempo assistindo Devil's Rejected. Eu, pela segunda vez; André, pedia sua décima telentrega na videolocadora da Urca.
Lá, fica a casa de João Donato (vizinha a do Rei Roberto), com vista frontal para a Baía da Guanabara. O sobrado é alugado de uma colombiana amiga da família: lar tranqüilo que o mestre da MPB justamente merece.
André e eu nos deixamos tocar pela parte final do filme, com "Free Bird". Clichê, sim, mas e daí? Clichê legal vale. O filme é doente de tão divertido, todo mundo sabe.
Quem tem sensibilidade pra ouvir as melodias universais desse acreano de 73 anos, provavelmente veja magia nos litros de sangue de catchup que Robie Zombie desperdiçou no filme só pra nos "deitarmos' um pouco na cara da arte.
Devil's Rejected e João Donato, a um só tempo, não é tão bizarro quanto parece. Ver um filme desses na sua casa nem perde o sentido: lá pelas tantas já demos tantas rizadas que, na hora de falar com "the men", a diversão apenas muda de foco.
Aguardo João Donato para a entrevista. O mestre despacha na sala de ensaios com Ronaldo Bastos. Parente meu? Sei lá...
Quando Bastos vai embora, alojando-se embaixo no espaçoso guarda-chuva, o venerável criador de A Bad Donato comenta sem malícia, vestindo o pijama nipopsicodélico, uma de suas "favorit things": "Esse menino veio aqui ensaiar umas musiquinhas..."
Pedimos pizza pra acompanhar a conversa. Pizza no Rio de Janeiro, definitivamente, não é o canal. As garotas, essas são, com certeza. Disso não há dúvida.
Pouco chegado numa entrevista, a princípio, e preguiçoso para falar da própria carreira, na maior parte do tempo, aos poucos João Donato abriu seu coração para Rolling Stone na cozinha do seu lar, enquanto a chuva martelava o telhado da casa e a Cidade Maravilhosa.
Aproveite o papo.
*Extra que estará disponível no site da Rolling Stone. Nos próximos dias, o blog vai postar raridades do arquivo pessoal de João Donato, como a carta inédita - e nada convencional - enviada a João Gilberto, onde conta sobre o álbum Quem é Quem, de 1975.
Parte do perfil Dom Natural pode ser lido no site da RS Brasil.
eXTRA! nA cOZINHA do dONATO*
João Donato – Coincidência... Eu estava lá e ia viajar pro Brasil na manhã do dia seguinte. Foi simbólico. Tocar com os cubanos é um prazer inacreditável, porque sempre fui admirador do seu estilo de música. Trabalhei com eles quando morei em Nova York e Los Angeles. Lá, fiz amizade e entendi o que era a música cubana. Tocar com na ilha foi realmente fantástico. Isso tudo foi gravado pela Tetê Moraes e vai virar CD e DVD da minha passagem por lá.
Rola uma historia que, por volta de 1964, você foi ajudado por um cubano numa roubada em Los Angeles, ficou na rua e não tinha direito de entrar no quarto que tinha alugado numa pensão.
Donato – A dona da pensão, que ficava na casa onde Tom Mix, o famoso personagem dos filmes de bang-bang, havia morado, disse que eu não podia mais entrar porque não tinha pago a semana. A mulher ralhou: “Olha aqui, o senhor não pode mais entrar aqui porque não pagou a semana!”. Fiquei na rua meditando o que ia acontecer, começou a fazer frio, ficou de madrugada e aí me deu sono e aquela irritação. Disse pra mim mesmo: “Vou dormir seja lá onde for e, amanhã, quando acordar resolvo essa parada”. Entrei no motel, daqueles chiques que tem em Hollywood. Quando acordei, lá pelo meio-dia, fui na portaria do motel pra dizer que estava sem dinheiro. Expliquei que era um músico brasileiro, que podia deixar um relógio de garantia, coisa e tal. Estava tentando me desculpar quando o atendente falou: “Ah, tem um compositor cubano morando aqui no hotel também”. Nisso, o músico veio se aproximando. Quando chegou, reconheci o congueiro Armando Perazzo. Já o conhecia dos discos que costumava ouvir junto com Tom Jobim e João Gilberto na casa do Mené Nunes. Então, quando ele se aproximou, o saudei, pra fazer uma media, e ele perguntou: “Que passa tchê ?!”. Eu: “Ué, tá passando que dormi aqui mas não tenho dinheiro pra pagar”. “Quanto é?”, perguntou Perazzo. Pagou e, simplesmente, ainda me convidou pra assistir o show dele, um quinteto, logo mais à noite. Ficamos amigos pra sempre.
Depois de 15 anos, você está concluindo um projeto que conseguiu amadurecer quando conheceu um teclado no estúdio do Ritchie. O que tem de especial nesse instrumento?
Donato – O negócio é que tenho admiração por Debussy e Ravel e músicas clássicas francesas. Comecei a estudar as partituras para orquestra com muita facilidade nesse teclado, que imita diversos instrumentos, e acabei fazendo umas experiências em casa.
Sampler?
Donato – É um tipo sampler: imita flauta, violino, piano. Transferi pro teclado toda a escrita que seria dedicada à uma orquestra sinfônica e acrescentei um ritmo ampliado. O resultado ficou muito bom. Pretendo lançar em disco essas experiências com Debussy e Ravel, com um pouquinho de música popular brasileira misturada à receita.
Os demais instrumentos são tocados por uma banda?
Donato – Não, tocados por uma orquestra!
E esse lance de ter um público fiel no Japão. Não é louco pra sua cabeça, que veio do Acre, ir tão longe?
Donato – Não...
Às vezes você não pára pra pensar nisso?
Donato – Já perguntei porque gostam tanto da música brasileira, e me falaram que traz alegria pra eles, os deixa contentes. É das qualidades que talvez eu tenha na minha música que admirem tanto e os fazem felizes.
Nas vezes que vai lá sente que rola um “frisson” japonês?
Donato – É, os japoneses são entusiastas e carinhosos, e demonstram isso publicamente com presentes e aplausos cada vez mais intensos. É surpreendente.
Na Rússia acontece a mesma coisa?
Donato – A mesma coisa. As apresentações foram melhorando com o tempo, e o público também melhorou. O público vai crescendo a cada temporada de shows.
Deu muito trabalho ensinar o calopsita Elvis a assoviar “Bananeira”?
Donato – O Elvis aprendeu naturalmente. O André passa o dia cantando isso, eu também, a Ivone. Existe um complô nessa casa pra fazer com que o passarinho aprenda essa música, e ele já está cantando bastante bem. (risos gerais)
Já teve outras experiências ensinando passarinhos a cantar?
Donato – Não, primeira vez.
O André disse que você aprendeu a gostar de cães por causa do Bambam, o cachorro que ele tinha. É verdade?
Donato – Sim. No início eu achava o Bambam antipático, mas depois me apaixonei por pelo bambam de tal maneira que, hoje, do pessoal da casa, quem sente mais falta dele, agora que morreu atropelado, sou eu.
Me fala um pouco sobre a tua rotina. Dá pra notar que seus horários são completamente distintos...
Donato – Gosto de trabalhar à noite e ficar estudando até cansar e dar sono, até enjoar. Principalmente as partituras de Debussy; esse é o feijão com arroz, o alimento diário.
E a tua criação própria?
Donato – Termina sendo relativa a isso. Estou tão influenciado por Debussy e Ravel que já acho que minha música tem uma parte deles na irrealidade que ela possa ter. Já vem com esse efeito. É como se fosse vírus, o negócio. Acho que peguei o vírus do Debussy e do Ravel.
Como pegou esse vírus?
Donato – Na minha música...Primeiro, de tanto gostar de ler e de comprar tudo quanto é livro de partitura deles, os arranjos das grandes orquestras. Com esse estudo, passei a saber tudo o que acontece dentro de uma orquestra.
Qual a lembrança mais longínqua com a música?
Donato – Um nativo e sua canoa passando na beira do Rio Branco, alguém assobiando uma melodia (assobia “Lugar Comum”)...Depois o Gilberto Gil botou letra. É a lembrança mais remota que tenho, a música que “passou pela minha infância”. Devia ter 6 ou 7 anos. Na época fiz uma música para minha namorada, a Nininha. Eu tinha 7 anos, ela tinha 8.
Foi aí que viu que música era seu negócio?
Donato – Nem sabia! Apenas tinha mania de música, não sabia que viria a ser minha profissão. Profissão mesmo, só depois dos 18, quando fui reprovado pra ser piloto da aeronáutica, como meu pai. Tenho problema de daltonismo e disse pra mim mesmo: “Se não dá pra ser piloto, vou ser músico. Mas não foi decisão tomada...Foi a reprovação de um sonho que eu tinha de ser aviador.
Qual o primeiro instrumento que você tocou?
Donato – Acordeom, que eu ganhei de Papai Noel, ainda aqueles de papelão.
Quem primeiro te ensinou as notas?
Donato – Bom, primeiro foi de ouvido, depois minha irmã, Eneyda, que já tocava piano. Logo após um sargento da banda militar da polícia me deu aulas de “como é que se tocava uma música”: ele lendo a partitura e me ensinando a tocar, decorado de ouvido. Aí passei a tocar músicas da época, “Rosa de Maio”, “La Comparsita”, “Serenata de Amor”. Ouvíamos músicas pelo rádio. E também as músicas das bandas militares e os discos de 78 rotações que precisavam dar corda na vitrola.
*As fotos da reportagem foram produzidas pelo fotógrafo Maurício Valladares, o cara que foi lente dos Paralamas do Sucesso e da Legião Urbana nos 80/90. No Rio, apresenta o radiofônico RoNca RoNca. Publicou o livro Paralamas do Sucesso com o jornalista Arthur Dapieve.
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