sábado, 28 de junho de 2008

oS mISTÉRIOS dE pAÊBIRÚ*

POR ASTIER BASÍLIO
A psicodelia estava no ar: no colorido das roupas, nas telas de cinema. Eram os anos 1970. Mais precisamente, 1975. Dois artistas, o paraibano Zé Ramalho e o pernambucano Lula Côrtes, juntos, conceberam Paêbirú, um álbum radicalmente experimental.
Boa parte das cópias do LP, gravado pela Rozemblit, se perdeu em uma cheia. Sobraram apenas 300 exemplares, que se tornaram raridades a preço de ouro, uma vez que, até hoje, Zé Ramalho não autorizou novas tiragens nem a distribuição oficial em CD. Muitas das lendas e histórias que envolvem esse emblemático disco serão contadas por Cristiano Bastos e Leonardo Bomfim. Quem está a frente da produção em Recife é o filho de Lula Côrtes, Nemo Augusto.
Enfurnado na casa de Côrtes há alguns dias, no Recife, o gaúcho Cristiano está revirando gavetas e conversando com o músico. A história, além do documentário, renderá uma reportagem para a revista Rolling Stone.
"Eu percebi que o Paêbirú é um assunto muito conhecido aqui no Nordeste e até fora do país, como na Alemanha e Inglaterra, mas ainda não é tão difundido no restante do país", conta.Uma das fontes de inspiração da dupla Ramalho–Côrtes foram as insígnias e os emblemas cravados na Pedra do Ingá. O fascínio ainda se mantém sobre o pernambucano. O músico costuma ir para lá com freqüência.
Por telefone, Côrtes confirmou: "Estive lá no ano passado. Tenho um negócio com aquela pedra". Hoje, a equipe parte com Côrtes refazendo o trajeto que ele e Zé Ramalho fizeram quando da composição de Paêbirú. "Nossa idéia é acampar por lá e sentir o clima e a magia daquele lugar sagrado", conta Bastos.
As gravações do DOC Projeto Paêbirú tiveram início na última quinta-feira, na casa de Alceu Valença, que conversou com Côrtes. Após esta gravação, a equipe foi para o Pina de Copacabana (Recife), onde as filmagens serão feitas com as bandas da atual cena pernambucana, influenciadas diretamente pela psicodelia nordestina e pelo Udigrudi.
Autodenominado um "eterno 'futucador' de coisas, um 'factótum’, Lula Côrtes conta que, na época em que foi lançado, o Paêbirú não teve muita importância. “Mesmo após o lançamento, a recepção foi fria. As pessoas não estavam preparadas pro espírito do disco. Ele foi feito 'hoje', na verdade".
Sobre os efeitos utilizados no disco, Côrtes esclarece que "a maioria dos efeitos não são eletrônicos, como se costuma pensar. Tem panelas com água, pios de caça, vozes humanas, chocalho de cabras. A introdução que antecede o saxofone de 'Segredo de Sumé' é, na realidade, uma corneta de vender picolé".
Mas, quais foram as influências para a loucura musical do disco de Côrtes e Ramalho? "Os discos que mais nos influenciaram eram os temáticos, como Viagem ao Centro da Terra e Frank Zappa e Mothers of Invenvation. Dos brasileiros, basicamente Mutantes. Foi Duprat quem abriu nossas cabeças", informa Côrtes. Naquele tempo, diz o músico, o que se ouvia era It’s a Beatifull Day, Crosby, Stills & Nash, Tyranossaurus Rex, Neil Young, Captain Beefheart, The 13th Floor Elevators "e mais uma penca de coisas…".
Lula gravará com Júpiter Maçã
Cristiano Bastos revela que levará Côrtes a Porto Alegre para gravar com Júpiter Maçã, artista gaúcho que também trilha pelas linhas do psicodélico. "Vai ser uma coisa muito boa. O Côrtes já compôs algumas coisas, o Flávio Basso (líder da banda) já fez algumas bases para ele. Enfim, vai ser o encontro da psicodelia pernambucana com a psicodelia gaúcha", se entusiasma Cristiano.
O encontro dos dois é uma parceria com o estúdio Marquise 51 e a produção será do músico Marcelo Birk. O jornalista Cristiano Bastos, além de se impressionar com a psicodelia musical de Côrtes, está igualmente admirado com as histórias do pernambucano que "trabalhou além das fronteiras, viajou, entrou na casa do Salvador Dali", conta.
Na próxima segunda-feira, o multimídia Lula Côrtes lançará o livro O Lobo e a Lagoa, definido por ele como "uma espécie de conto de fadas para adultos". O pernambucano também é artista plástico. Todas estas facetas, a literatura, a música e as artes plásticas, estarão presentes no documentário.
*Jornal da Paraíba, 28/06/208, sábado. Crédito da foto: Cristiano Bastos. Locação: Casa de Beberibe, onde Paêbirú foi gravado nos anos 70.

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