quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

gAULESES iRREDUTÍVEIS*

Os últimos anos foram generosos em histórias orais do rock. Lá fora, tudo começou com Coração Envenenado – Minha Vida com os Ramones, de Dee Dee Ramone, ex-baixista e fundador da banda.

Foi essa biografia que inspirou Legs McNeil e Gillian McCain a escrever Mate-me Por Favor – Uma História Sem Censura do Punk, que contava a história do gênero através do depoimento de seus protagonistas. Entre eles, ninguém menos que Lou Reed, Patti Smith, Iggy Pop e, é claro, os Ramones.

Enquanto o livro de Dee Dee só chegaria aqui em 2004, o livro dos editores da revista Punk virou sensação quando chegou ao Brasil no final dos anos 1990. Todos queriam o indiscreto volume com capa de fundo laranja e título em enormes garrafais pretas.

Se hoje toda uma geração lamenta a divisão da obra em dois volumes, que perdeu metade da graça com a abolição da cor berrante, muitos também são o que choram o sumiço de um outro livro, esgotado em virtualmente todas as livrarias portoalegrenses.

Acontece que o livro de McNeil e McCain gerou frutos aqui no sul. Baseado nele, Alisson Avila, Cristiano Bastos e Eduardo Müller escreveram o hoje lendário Gauleses Irredutíveis, no qual esmiuçaram o rock gaúcho nos mesmos moldes dos primos americanos.

Lançado em 2001, o livro foi um sucesso imediato. Hoje disponível apenas em sebos (fica a dica para quem quiser comprar), Gauleses Irredutíveis reuniu personagens e causos memoráveis da nossa cena.

Conheça alguns deles:

CARLOS EDUARDO MIRANDA

Ele ganhou atenção de todo o país como o "jurado mau humorado" do programa Ídolos, no SBT. Mas muito antes de se tornar uma espécie de Simon Cowell brasileiro, Miranda já era figura carimbada do rock gaúcho.

Antes de imaginar se tornar produtor e executivo da gravadora Trama, o "não-músico" dirigiu os selos Banguela e Excelente, atuou como jornalista e integrou as bandas Taranatiriça, Urubu Rei, A Vingança de Montezuma, Três Almas Perdidas e Atahualpa y us Pânques.

E no palco ele era ainda mais agressivo que na frente das câmeras. Entre suas peripécias, ele conta no livro como foi repreendido após uma edição do festival Rock Unificado por jogar garrafas de plástico no público.

JÚPITER MAÇÃ

Flávio Basso dispensa apresentações. Júpiter Maçã e Jupiter Apple em carreira solo, ele encabeçou as bandas TNT e Cascavelletes nos anos 1980. Compositor, multi-instrumentista e desvairado, escandalizou gerações com seus shows caóticos, tão pontuais quanto seu talento.

No livro, ele conta como se ressentiu quando, na época do Cascavelletes, Frank Jorge resolveu voltar a tocar com a Graforréia paralelamente.

Então decidiu sabotar o show com Alexandre Barea, baterista da banda. Mas os dois beberam muito antes, e a sacanagem ficou pela metade. "A gente chegou cambaleando, no meio da galera, empurrando todo mundo", completa Barea.

EDU K

Nascido Eduardo Dornelles, o líder do De Falla, afastado da banda desde 2004, passou a se dedicar à música eletrônica. Mas "o maior golpista da Gália" ainda é mais lembrado pelo seu trabalho no rock, no grupo que o fez famoso nacionalmente e em outros tantos.

No livro, além de assumir que faz tudo por dinheiro, ele conta como quase apanhava, até da própria mãe, por sair na rua vestindo apenas um maiô: "Às vezes, vinha a polícia, ou parava um caminhão, e descia um monte de cara sedentos dizendo 'vem cá, minha puta!'".

MARCELO BIRCK

Marcelo foi o primeiro vocalista e guitarrista da Graforréia Xilarmonica. Mas enquanto o irmão Alexandre seguiu no commando das baquetas na banda, ele resolveu ir para outras paragens e deu início a uma carreira solo. Como Miranda, também tornou-se produtor.

Mas uma de suas histórias mais memoráveis no Gauleses tem mais a ver com os maiôs de Edu K. No livro, ele conta como surgiu o visual da Graforréia no seu início: "Minha mãe resolveu botar fora um monte de roupas démodé – e eu e o Frank Jorge resolvemos usá-las. Tinham uns modelos absurdos: umas ceroulas listradas de amarelo, vermelho e verde… Daí, nos olhamos e dissemos: 'vamos montar uma banda com isso!'", completa Frank.

EGISTO DAL SANTO

Egisto Dal Santo não pára. Além da Colarinhos Caóticos, ele já passou pelas bandas Ponto de Vista, Elektra, Groo Brothers, Acretinice Me Atray, Benedyct Eskine e Saltin Mantra. Em carreira solo, venceu Júpiter ao assumir em diferentes fases três nomes diferentes: Egisto Ophodge, Egisto 2 e Egisto Dal Santo, o mais recente.

Como produtor já assinou mais de 40 discos. Entre eles, o clássico máximo de Flávio Basso, A Sétima Efervescência. Não satisfeito em produzir, Egisto também tocou para a gravação do disco. No livro, dá pra conferir como, durante um show da Colarinhos, a policia entrou pela segunda vez no antigo Garagem Hermética e fechou toda a rua Barros Cassal.

Gauleses Irredutíveis, de Alisson Ávila, Cristiano Bastos e Eduardo Muller
Editora: Sagra-Luzzatto
Quanto: R$ 22 (267 págs.)

*Publicado no blog do Curso Superior de Formação de Músicos de Rock, da Universidade do Vale dos Sinos (Unisinos).

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