quinta-feira, 29 de julho de 2010

mETEORANGO kID x nOVOS bAIANOS

"10 anos sem estudar, 10 anos vagabundando por aí.
10 anos de maconha, 10 anos marginal.
Cagar é só o que dá vontade de fazer.
Cagar, porra! Mas é duro.
Só eu pra dizer o trabalho que me deu pra chegar até aqui".

(Fala de Meteorango Kid – O Herói Intergaláctico)

Em 1972, a capa do disco Acabou Chorare, dos Novos Baianos, foi premiado como "melhor produção gráfica" daquele ano. A arte leva assinatura do múltiplo Antônio Luis Martins, mais reconhecido como "Lula", protagonista do cult-movie Meteorango Kid – O Herói Intergaláctico, do baiano André Luiz Oliveira.

A produção de Meteorango - considerado o grande "trash tupiniquim" - emaranha-se aos primórdios soteropolitanos da banda.

O primeiros long-plays dos Novos Baianos e, também, É Ferro na Boneca, o d[ebut d a banda e m LP, além de Meteorango, também serviram de trilha para o longa-metragem Caveira My Friend (1970), do falecido Álvaro Guimarães.

Na gravadora RGE, Lula Martins, que também é artista plástico, fizera a capa do compacto Novos Bahianos, o qual tinha as músicas"Colégio de Aplicação"/"De Vera". Para Acabou Chorare, desenvolveu uma técnica de desenhos à base de canetes hidrocor e esferográficas.

O artista afirmava pintar "a cor do som".

Outra feita por Martins, é a surrealística capa do álbum Caia Na Estrada E Perigas Ver, de 1976.

Meteoranguizando - Em Meteorango Kid, o anti-herói Lula vive na pele de um jovem e desesperado estudante da classe média baiana, assim como todos, oprimido pela ditadura e pela moral brasileira de 40 anos atrás.

O "intergaláctico" personagem atravessa o cotidiano labirinto com as únicas armas que possui: suas fantasias e seus delírios libertários. Meteorango conversa fluentemente com os códigos tropicalistas e com a arte pop.

E não hesita em antropofagizar o cinemão norte-americano. O roteiro é recheado de citações a heróis estrangeiros como Batman, Fantasma e Tarzan.

Na seqüência de abertura, quase uma síncope, Lula encarna a "agonia do Messias". Trajado de Cristo, o personagem delira numa colagem de descontínuos close-ups montados sob os mais diversos ângulos.

Recentemente, Martins contou algumas de suas histórias, que envolvem tanto os Novos Baianos quanto o cinema marginal da Bahia, no livro Mágicas Mentiras (Vento Leste). Ainda muito jovem, Martins largou confortável vida familiar para perambular pelo "microcosmo pré-hippie".

Em março de 1970, meses antes de morrer, a cantora norte-americana Janis Joplin (1943-1970), passara como um furacão pelo Rio de Janeiro: fez topless em Ipanema e foi expulsa do hotel Copacabana Palace, por nadar nua na piscina.

Após, literalmente, botar pra quebrar na Cidade Maravilhosa, ciceroneada pelo cantor Serguei (que até hoje se gaba do fato), Janis recebeu uma indicação de Ricky, um surfista carioca, para que fosse a Salvador encontrar-se com um amigo seu.

O tal amigo era Luiz "Lula" Martins (vej afotos abaixo).

Na Bahia, Janis teria um pouco mais de "sosssego": "Foram quatro dias mágicos, que mudaram minha vida", conta Martis (leia mais).

O artista gráfico Rogério Duarte, criador do cartaz do filme Deus e O Diabo Na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha, definiu Lula Martins como "ave rara de nossa constelação".

Diretor do Conselho de Estudos Brasileiros da Universidade de Tulane, o norte-americano Christopher Dunn atribui ao personagem vivido por Lula em Meteorango "força-símbolo da resistência nacional".

Para Dunn, o motivo é a representatividade visual que o personagem alcançou no filme. De forma geral, a valia o brasilianista, críticos e estudiosos têm O Bandido da Luz Vermelha como "o primeiro grande filme marginal".

Todavia, opõe-se o norte-americano, Meteorango Kid, par a ele, revelou, com muita mais força, a desilusão da juventude brasileira daqueles "chumbados anos":

"Meteorango é o primeiro filme do desbunde brasileiro. Em pleno AI-5, teve ousadia de encenar, por exemplo, um ritual cotidiano tão conhecido - mas pouco representado no cinema nacional, que é a preparação cuidadosa de um baseado seguida do seu dionisíaco consumo", analisa Dunn.

Fã de Meteorango, o escritor Jorge Amado definiu o filme como "um soco violento que comove e revolta".

No depoimento dado à reportagem da Rolling Stone ("Tinindo Trincando"), sobre o álbum Acabou Chorare, Lula Martins falou, especialmente, sobre a criação da capa do ábum.

A arte de Acabou Chorare foi criada a partir de semiótico retrato (que enquadra uma desoladora mesa na casa dos Novos Baianos, no Sítio do Vovô) casionalmente tirado pelo guitarrista Pepeu Gomes.

Mas, antes, curta um trecho de Meteorango Kid - O Herói Intergaláctico (1969), de Andre Luiz Oliveira.

Who's Next?