quinta-feira, 1 de outubro de 2009

sTYLEPOWER


O suicídio de Ian Curtis, no dia 18 de maio de 1980, fechou dois ciclos: de sua célere existência e do punk - esteticamente dizendo.
A "tensão'77", insulflada pelo punk, contra o stablishment (da música e da sociedade) foi substituída pelo "pesar'80" de Curtis, que amparou-se na dor contra sua própria vida.
O Joy Division não só fez chover uma nuvem negra sobre o rock como escalou um séquito de crias, como o Sisters of Mercy e o Bauhaus.
Os herdeiros da melancolia ainda procriaram entre si. Muitos ainda vagam por aí, moribundos, choramingando pelos cantos. Carregam, em seu calvário particular, o slogan "Poesia por um Mundo Mais Obscuro e Triste".
Há quem diverta-se com goticismos (é certo que Robert Smith sempre tirou sua onda), assim como há quem se contente sendo o placebo do Placebo. Isto é: o nada do nada.
A new wave fez um "psicodrama" no rock e varreu do mapa a deprê pós-punk.
Evidente que, faceira, a depressão continuou rolando em úmidos porõezinhos submundanos. Nada comparável, entretanto, ao gênio bem-humorado do Devo, Talking Heads, The Knack e B-52's - as bandas que escarneceram acrílica felicidade na cara dos tristões e tristonas.
A nova onda pop varreu tudo pelas redondezas e, entre jóias soltas na enxurrada, carga abundante de poptrash foi acumular-se no ralo das Fm's. Coisas legais dos anos 1980 foram parar em "filmes de geração", como Ferris Bueller's Day Off (Curtindo a Vida Adoidado), de 86.
Não tardou para que a nova onda se subdividisse em tipologias mais complexas e bizarras. Na Inglaterra chegou a rolar um litígio de formas, chamado "A Guerra de Estilos".
Durante a guerrilha pouser, o do-it-yourself foi mandado às cucuias. Entrava em voga o "stylepower" - o poder do estilo: androginia setentista versus vestes sessentistas, cortes de cabelo punk, cores vibrantes e cítricas, ombreiras e gel.
Além de frufrus e rococós até não poder mais.
O confronto visual gerou novas correntes. A exacerbada new romantic gerou mais um bando de "poodles": Spandau Ballet, Duran Duran, Human League, Adan and the Ants e Blow Wow Wow.
O último é outro conjunto inventado por Malcom McLaren.
Na crista dessa onda, a loja Sex, empresariada por McLaren, virou World's End, especializada em looks sob medida para novos românticos: indumentárias de Napoleão, trajes de pirata, fantasias de guerreiros japoneses.
Outra facção new waver era a dos grupos technopop Depeche Mode, Soft Cell, Heaven 17 e Yazoo. A new wave - que não era só festiva - também tinha sua ala não-afetada e trabalhista.
Vindos da classe trabalhadora, Dexy's Midnight Runners, XTC, The Skids e Angelic Upstars engajavam-se a favor da redução da jornada de trabalho e por melhores salários.
Plastic Bertrand, The Normal Suburban Lawns, Martha & The Muffins, Gleaming Spires, The Monroes são nomes condenados a nunca mais se ouvir falar.
Superlativa, a new wave ainda gestou outras aberrações que nem valem comentário. São marolas de uma maré que - para pior - já havia mudado.

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