Ao vestir a famosa t-shirt com os dizeres "I Hate Pink Floyd!", Johnny Rotten deu pontapé inaugural no plano que o falsário Malcom McLaren vinha mirabolando com sua esposa e sócia, a estilista Vivienne Westwood:
Armar-se de moda e niilismo para destronar o rock de sua grandeza monolítica. E encher os bolsos de dinheiro.
O casal era dono da Sex, loja que produzia modelitos em série para abastecer o visual extravagante das primeiras levas da juvenília punk que, em 1977, proliferava-se nas ruas inglesas.
McLaren sempre foi obsessivo pelo binômio moda & rock. Para ele, uma coisa completava outra.
A moda foi das uma razões para as quais ter se oferecido para empresariar os New York Dolls na fase da decadência plena.
Sujeito tão espertalhão que convenceu os Dolls (primeira banda de travestis heterossexuais da história) a fantasiarem-se de comunas embalados em vinil vermelho-glitter - em plena Guerra Fria.
É a indumentária que exibem na capa do álbum ao vivo Red Patent Leather, de 1975.
No colégio, Vivienne Westwood customizava radicalmente os uniformes de suas colegas. Cortava-os para dar mais movimento às saias e, além de esvoaçantes, deixá-las o mais fashion possível.
Quando Westwood "inventou" o vestuário punk tinha na cabeça, basicamente, duas palavras de ordem: política e erotismo trash. Determinou que o punk era bicolor e elegeu preto e vermelho suas cores oficiais.
Vivienne tirou as correntes do anonimato sadô-maso, decretou que rasgos são cool e que tachas e alfinetes de segurança eram acessórios obrigatórios. Por certo tempo, esse foi "o grito" em moda rock.
Grito que reverberou quando o gênero subdividiu-se em pós-punk, new wave e, finalmente, em hardcore. Possivelmente, o old fashioned Billy Idol (ex-Generation X) - o qual, ainda hoje, enfeita-se como em 1977 - é ícone derradeiro do período.
Em Nova York, jardim das vaidades no qual o vírus punk foi inoculado, no anoitecer dos anos 60, a moda obedecia parâmetros mais cartesianos:
Ou as bandas eram elegantes (Blondie); fetichistas & luxuriosas (Velvet Underground); ou calculadamente desleixadas (Voidoids).
Westwood e Katharine Hamnett (nos anos 80) - as duas grandes damas do estilismo punk - são inglesas. Todavia, quem lançou a moda foi o norte-americano Richard Hell.
Blank Generation - Richard Hell (ex-Televison/Heartbrekers) picotava o próprio cabelo, detonava suas calças, sujava seus tênis e adaptava suas t-shirts no melhor estilo faça-você-mesmo.
Uma de suas criações exibia o slogan-súplica "Please Kill Me", que intitulou o livro (Mate-me Por Favor, no Brasil) apurado por Legs McNeil e Gillian McCain, que entrega toda história e toda lama revolvidas em quase quatro décadas de punk.
Em formato pocket book, a edição brasileira, cuja tradução é de Lúcia Brito, encontra-se em qualquer "livraria de supermercado". A diversão é garantida.
O pink floyd David Gilmour afirmou que nunca sentiu-se um "fashion victim". Segundo confessou posteriormente, na época, até considerou charmoso o provocativo "I hate Pink Floyd" grafado na camiseta de Johnny Rotten.
Sabia que tratava-se, no fundo, de esperta tacada de marketing:
"Para mim, sempre tivemos (O Pink Floyd) um apelo underground. Menos, suponho, na mídia. Quando Johnny Rotten usou a charmosa t-shirt estampada com 'Eu odeio Pink Floyd', ele até me falou que era fã. Tinha a ver com a imagem dele e nada a ver com a nossa música", Gilmor contemporizou.
Nos anos 80, Katharine Hamnett levou título de "a primeira guerrilheira da moda", ao apresentar sua coleção de folgadas t-shirts com slogans de protesto político - sempre grafados em negrito e em letras maiúsculas.
Sua última esquisitice foi o lançamento de uma linha de camisetas para homens, as quais vinham com frases criadas sobre fatos ocorridos no ano de 1983.
Algumas delas: "Education Not Missiles", "Stay Alive In 83" e "Worldwide Nuclear Bang Now".
Hamnett também criou slogans para a banda Frankie Goes To Hollywood. Uma dessas peças, "Frankie Say Relax", foi alçada ao hype e vendeu incrível numerário de 150 mil (!) unidades.
Malcom Mclaren, porém, foi imbatível: o mais sacana dos plagiadores parido um dia pelo rock. Até hoje, ninguém desbanca-o nos quesitos malandragem, visão comercial e revolução estética.
Frases tortas e sujas vomitadas pelos Sex Pistols, de suas músicas, como "Get Pissed Destroy" e "No Future", boa parte foi descaradamente encampada das cartilhas especto-situacionistas.
Truque que residia em efeitos meramente semânticos, na fúria sonora sinceramente agressiva e nos alvos que tinham sob mira de suas pistolas sexuais.
No decálago "Como Fabricar seu Grupo", do filme The Great Rock'n'Roll Swindle, de Julian Temple, o sexto mandamento de MacLaren é: "Roube o máximo de dinheiro da gravadora de sua escolha".
O nono: "Leve a Civilização aos Bárbaros - os EUA". E, o décimo, a nonsense indagação: "Quem Matou Bambi?".
Se McLaren é filho bastardo do filósofo Guy Debord, por sua vez, a paternidade do situacionista pertence ao romeno Tristan Tzara. Do poeta dadaísta, Debord saqueou a sentença que poupa séculos da discussão sobre propriedade artística: