quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
sÓ nÓS dOIS (1970/lP)
1970 RCA Victor
BBL 1540
Vinyl
Só nós dois - (Joaquim Pimentel)
Lágrimas - (Bracchi/Vrs. Amilcar Cerri-G. Pazzali)
Conselho - (Oswaldo Guilherme/Denis Brean)
Trazendo vida à minha vida - (Altemar Dutra)
Saudade danada (Nelson Gonçalves)
Dá pena (Osmar Navarro)
Insensatez (Tom Jobim/Vinicius de Moraes)
Funeral de um sambista (Jair Amorim/Evaldo Gouveia)
Foi Deus (Alberto Janes)
Foi um rio que passou em minha vida (Paulinho da Viola)
Cadê sono pra dormir (Anicio Bichara/José Messias)
Samba do perdão (Benil Santos/José Orlando)
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
sÓ nA pARCERIA
fAMÍLIA gONÇALVES sOBRAL
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
lULA cÔRTES & zÉ rARMALHO: pAÊbIRÚ
*Steve Rybicki (Foxy Digitalis)
nEMO: "mÚSICA dE cÔRTES é dECIDIDAMENTE bRASILEIRA"*
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
a cRÍTICA...
Na edição de 9 de julho de 1976, Klein, do Diário do Grande ABC, escreveu o texto "Mitos e segredos na Terra de Sumé dos Cariris".
O repórter "cantou a pedra":
"Paêbirú permanecerá silencioso como a Pedra do Ingá, com suas escrituras mágicas, ritualísticas e infinitas, atravessando os tempos com sua verdade muda, gravada a ferro e fogo na rigidez da pedra, impenetrável como a consciência de nossa época.
(...) Quanto à música, é das mais dignas já surgidas por aqui, e passá-la em apreciação é impossível longe de um toca-discos.
O jornalista Celso Marconi resenhou no Jornal do Commercio, de Recife, em 1975: "Ninguém, no Brasil, atualmente está fazendo algo nem mesmo semelhante. É preciso salvar esse álbum, e não é só isso. Fazê-lo chegar a todo o país, principalmente ao mercado Rio/São Paulo. Quem não ouviu (ou não ouvir), inapelavelmente, estará por fora".
lULA cÔRTES: rOSA dE sANGUE (1980)
LULA CÔRTES - Rosa de Sangue Rosemblit - LP 20.005
Folk - Psychedelic - 1980
Lado A
Lua Viva
Balada da calma
Casaco de pedras
Nordeste oriental
Bahjan - oração para Shiva
Lado B
São Tantas as Trilhas
Noite preta
Dos inimigos
A pisada é essa
Rosa de sangue
wOODSTOCK cABRA dA pESTE!*
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
nO sUB rEINO dOS mETAZOÁRIOS
MARCONI NOTARO - No Sub Reino dos Metazoários
ROZENBLIT - LPLCP-009
Progressive - Psychedelic - 1973
Lado A
Desmantelado
Ah Vida Ávida
Fidelidade
Maracatú
Made in PB
Antropológica
Lado B
Antropológica ii
Sinfonia em Ré
Não Tenho Imaginação pra Mudar de Mulher
Ode a Satwa
"Desmantelado"
"Fidelidade"
"Made in PB" (letra: Zé Ramalho / guitarra: Robertinho de Recife)
jAGUARIBE cARNE: aNTROPOFAGIA pARAIBANA
POR CRISTIANO BASTOS
Em 1974, ano em que Paêbirú foi concebido, os irmãos/músicos paraibanos Pedro Osmar e Paulo Ró invadiam o cenário cultural de João Pessoa com o grupo-manifesto Jaguaribe Carne.
Na Paraíba, para enfrentar a ditadura militar, o Jaguaribe Carne armou-se para uma verdadeira guerrilha cultural. A munição que tinham: anti-música & antiarte.
Criminosos".
Em meados dos anos 1970, assim eram tachados os grupos que professavam preceitos como "estudo, difusão, prática, experimento e intercâmbio cultural". Clichê, hoje, de qualquer grupo autointitulado "transgressor".
O Jaguaribe Carne tem importância grande, seja em João Pessoa como nas diversas localidadezinhas nordestinas nas quais sua proposta de arte desconstrutora conseguiu chegar.
Pensar o interior do Brasil, iconoclasticamente, fora dos grandes centros urbanos - não se pode negar: é proposta das mais verdadeiramente atraentes.
As metrópoles - indica o conturbado tédio reinante - esvaziaram-se de tudo. Especialmente de temáticas.
Muitos músicos estagiaram no grupo paraibano, como Chico César, que se uniu ao Jaguaribe (ou ao Carne) recém-chegado à capital, João Pessoa. César vinha de Catolé do Rocha.
O som do Jaguaribe: ciranda, coco, maracatu, caboclinho e boi - em suas raízes. E, por outro lado, o mundo: música oriental, africana, vanguardas européias, modernismo brasileiro, jazz.
A história da Jaguaribe Carne, spobre a qual Pedro Osmar conta um pouco nessa entrevista, também virou documentário - Jaguaribe Carne: Alimento da Guerrilha Cultural. A produção é da Gasolina Filmes e a direção, assinada pela dupla Fabia Fuzeti e Marcelo Garcia.
Na sua opinião, Paêbirú ajudou a desenvolver o cenário paraibano?
Pedro Osmar - Paêbirú é um caso à parte na discografia nordestina, fruto do "entretenimento experimental" de músicos pernambucanos e paraibanos em suas buscas pessoais por saídas na fusão do rock com a cultura popular (Chico Science nem era nascido ainda...).
Pena que eles não tenham seguido essa linha de experimentação nos anos 80 em diante! Mas geraram a vanguarda da música nordestina a partir de Alceu Valença com a música-manifesto "Vou danado pra catende" (apresentada no festival Abertura, da Rede Globo, em 1975).
Certamente que Alceu não estava sozinho. Com ele estavam Lula Cortes, Zé Ramalho, Ivinho, Israel Semente...E isso gerou um liquidificador bem nervoso que vem rolando coisas até os dias de hoje, tal a força dessa energia criadora.
Como andavam as coisas por aí, por volta de 1975, ano de lançamento de Paêbirú?
Pedro Osmar - João Pessoa vivia o auge da vivência teórica e prática do tropicalismo nordestino, por meio das ações polêmicas de Carlos Aranha e seu grupo, Jomard Muniz de Brito, Celso Marconi, Raul Córdula, Chico Pereira, Unhandeija Lisboa e também Zé Ramalho, Jarbas Mariz, Babi, Paulo Paiva, Paulo batera...
Enfim, a galera pensadora e dos conjuntos de bailes, botando pra quebrar. Isso criava um certo clima de efervescência entre os compositores que, como eu, estavam engantinhando na música.
Mas era um tempo de muito embate estético, dos confrontos da bossa nova, da canção de protesto, da música regional, da jovem guarda, nos festivais de música. Algo bem vigoroso para todos. Praticamente a maioria das grandes obras dos compositores paraibanos vieram desse período.
O Jaguaribe Carne está em qual contexto desta história? E que nome esse! Explica:
Pedro Osmar - O grupo Jaguaribe Carne de Estudos surge no meio dos festivais de música dos anos 70, especificamente em 1974, num festival estudantil promovido pelo gremio do Liceu Paraibano.
Os festivais é quem ditavam a moda naquele tempo, era para onde tudo convergia. O Jaguaribe Carne pôde fazer a diferença com suas experimentações, com sua "arte querendo ser diferente dos outros"...
E conseguimos manter essa identidade até hoje, chegando a ser um grupo de arte multimídia com produção ímpar. O nome do grupo tem a ver com nossas inquietações pelo novo, pelos estudos autodidatas das linguagens experimentais e pela coragem.
Coragem de ousar ser diferente, ocupando o lugar de destaque nas idéias que circularam e circulam, até hoje, na cultura paraibana.
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
mOLHADO dE sUOR (1974)
Produção musical: Eustáquio Sena
Arranjos de base: Geraldo Azevedo & Alceu Valença
Arranjos de percussão: João Côrtes
Arranjos de Cordas e metais: Waltel Branco
.
Alceu Valença: lead vocals & acoustic guitar
Lula Côrtes: dulcimer
Geraldo Azevedo: craviola & brazilian acoustic guitar
Piri: craviola & mandolim
Cassio: guitar bass & brazilian acoustic guitar
João Côrtes: druns
Hermes: percussion
Ronaldo: flute
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
cHICLETE aMERICANO vS bANANA bRASILEIRA*
Conta sobre a época em que a Ave Sangria surgiu.
Marco Pólo - Estávamos em plena ditadura militar. Uma parte dos jovens se engajou na luta armada. Outra, como era o meu caso, na arte. Uma arte comprometida com a ruptura, a afronta ao moralismo vigente, ao cerceamento à liberdade.
Eu morava no Rio e quando cheguei no Recife, no final de 1972, encontrei a cena musical fervendo.
Havia as bandas Nuvem 33, muito boa, Flaviola e o Bando do Sol, também excelente, Phetus, Licar, Marconi Notaro e outros. Logo depois houve um festival em Fazenda Nova, que ficou conhecido como o "Woodstock pernambucano".
Foi nossa primeira apresentação com o nome de Tamarineira Village, uma referência ao Hospital Psiquiátrico da Tamarineira e à Vila dos Comerciários, perto de onde a maioria dos membros da banda morava.
Depois, nos apresentamos no Beco do Barato e no Teatro do Parque, com shows que tinham por nome Fora da Paisagem e Corpo em Chamas. Fomos contratados pela Continental pra gravar um LP. Enxugamos o grupo, deixando só os músicos profissionais. Antes participava, informalmente, todo mundo. Cerca de umas 15 pessoas. E mudamos o nome da banda para Ave Sangria.
Gravamos e o disco começou a tocar nas rádios. Veio a Censura e recolheu das lojas e proibiu de tocar. Fizemos o show Perfumes & Baratchos no Teatro de Santa Isabel e encerramos a banda.
E o lance glitter?
Marco Pólo - Não nos vestíamos de mulher. Apenas eu usava batom, durantes as apresentações, e depois os outros membros da banda passaram a usar também, mas só durante os shows. Queríamos chocar os burgueses, o machismo, o moralismo da tradicional família pernambucana.
Israel Semente, nosso baterista, tinha mania de me dar uma bitoca (encostava os lábios nos meus), como se fosse um beijo, em pleno palco, era um escândalo. Depois de me ver cantar "Seu Waldir" (canção que, em tom de deboche, falava do amor de um homem por outro), um amigo meu deixou de falar comigo.
Mas as menininhas burguesas sabiam qual era nosso verdadeiro interesse sexual.
De que forma a Ave Sangria coloca-se no chamado "udigrudi nordestino"?
Marco Pólo - Éramos, fundamentalmente, uma banda de rock, do rockão pesado. Mas, também tocávamos baião, maracatu e samba (a música "Seu Waldir", que provocou a proibição do disco, na época, é um samba de breque). Tocávamos baião e maracatu com a mesma fúria guitarreira como quando tocávamos nossos rocks.
Nossas influências eram os Beatles, os Stones, Hendrix e Jackson do Pandeiro. Ou seja, como na música dele, o Jackson, misturávamos o chiclete americano com a banana brasileira. Fazíamos uma fusão, o que era visto como heresia por grupos musicais tradicionalistas e seus defensores.
*Na foto, Marco Pólo está à direita da ninfa (pobre menor 30 anos atrás...) prestes a ser "imolada" pelo bando de cabeludos.
Os demais são Ivson Wanderley (guitarra solo e violão), Paulo Rafael (guitarra base, sintetizador, violão, vocal), Almir de Oliveira (baixo), Israel Semente (bateria) e Juliano (percussão).
Não, necessariamente, nessa ordem.
Play the Ave:
"Seu Waldir"
"Corpo em Chamas"
"Geórgia, a Carniceira"
fLAVIOLA
Flaviola e o Bando do Sol (1974)
Canto Fúnebre
O Tempo
Noite
Desespero
Canção do Outono
Do Amigo
Brilhante Estrela
Como os Bois
Palavras
Balalaica
Olhos
Romance da Lua
Asas
pROSA bOA
Não é possível mirar o oceano sem pensar na história do país. Por instantes, paro e a imagino tudo o que de melhor (e pior), em mais de 500 anos, desembarcou por essas divisas marítimas.
É difícil descrever a sensação.
Disputas, comércio de especiarias, tráfico de escravos - e o traço holandês, cuja herança cultural afeiçoa-se a rostos, à arquitetura de prédios históricos e aos mínimos detalhes da colorida complexidade de Pernambuco.
Brincalhão e sagaz, Valença é um prosador nato e o principal animador do carnaval da cidade. Todos os anos, diretamente de sua sacada, ele esquenta os foliões tocando frevos, toadas e contando animados causos de nordestinidade.
À revista Brasileiros, ele falou de tudo um pouco: sua infância, as influências musicais, carreira, shows. Para quem pensa que mercado independente é coisa de artista moderno, Alceu foi um dos primeiros artistas a ter o comando da própria carreira – um feito e tanto ainda hoje no Brasil.
Não toco na rádio, não pago jabá e não estou em nenhuma grande gravadora. Perguntam-me sempre: 'Por onde andavas, tão desaparecido?' Eu falo: 'Por aí, velinho, dando show para trinta mil pessoas em algum lugar desse país'", diverte-se. "Entendeu, velho?", diz seu bordão predileto. E assim iniciamos a conversa.
Onde começa sua história?
Alceu Valença – Na Fazenda Riachão,
Canto medieval?
Alceu – Os aboios são medievais, o modo como os violeiros e os cegos de feira tocam. São menestréis, então, é uma tradição ibérica que veio bater no Brasil, evidentemente na época do descobrimento. Convivi muito com isso, meu avô manejava uma viola que só. Também fazia versos de improviso, além de tocar e ler música. Nessa cidade, São Bento do Una, eu também ouvia as vozes e sons da feira, mas já estão se extinguindo.
Como você tornou-se artista?
Alceu – Minha família toda é muito musical, apenas meu pai e minha mãe não são. Como papai e mamãe não faziam música, eu também não podia. Ficava ali sem poder cantar, só ouvindo. Não poder tocar e cantar foi um complexo terrível que carreguei até os 13 anos. E eu queria tocar violão porque havia uma febre na minha rua. O velho achava que música era algo estigmatizado, coisa de cachaceiro... (pára para pousar para a foto).
Como fazia para ouvir música?
Alceu – Em minha casa não tinha toca-discos. Até que um dia, depois de tanta reclamação, compraram uma radiola. Papai comprou, mas não liberava grana para comprar os discos. A mesada era muito pequena. Era minha irmã que comprava os discos, mas eles não faziam minha cabeça. Ela tinha discos de Cauby Peixoto, Roberto Carlos, que era uma coisa que eu gostava, mas muito distante. Tinha um disco do Peri Ribeiro de bossa nova que eu gostava! Mamãe terminou comprando um violão para mim, só que não me deram professor. Aprendi sozinho. Mas, até hoje, não toco muito bem.
Quais foram suas principais influências?
Alceu – Luiz Gonzaga e aqueles que o influenciaram. Gonzaga é filho musical dos mesmos violeiros de minha infância. Ele fez a síntese dessa cultura – digamos que ele seria os Beatles. Ouço tanto Luiz Gonzaga quanto os músicos anônimos que o influenciaram. É diferente do cara que, hoje, pega o disco do Gonzaga sem ouvir o que esteve atrás.
E a influência da cultura brasileira, do folclore, entre os músicos?
Alceu – O folclore já morreu. Quando se fala em folclore existe um senso pejorativo a respeito. Penso no folclore como o arcabouço cultural que um povo construiu. No Brasil, deixaram o folclore de lado (imita contorcendo o rosto de modo blasé), viraram a cara. Mas se metem no blues, por exemplo, que particularmente, acho maravilhoso. Não se dão conta que o blues, na verdade, nada mais é que do que folclore. Vem da raiz folk. Só que é folclore norte-americano. Existe no Brasil uma total falta da curadoria. Ninguém sabe mais "o que é o que não é".
O que falta no Brasil?
Alceu – Nós vivemos carentes de novidades, de oportunidades para conhecer coisas mais genuínas. Dentro da classe intelectual há uma vontade de mudança, mas pouco muda. Em 1988, eu estava preocupadíssimo, não suportava mais o meu próprio sucesso. Queria que aparecesse alguma coisa, e apareceu, não foi? Chico Science, com o mangue beat. E fui vítima desse “novo” que surgiu. Não por parte do mangue beat, mas dos intelectuais que renegavam o passado recente da música pernambucana. Fui um artista que foi “destruído” com a vinda do mangue. E por quê? Achavam que duas vertentes, o novo e o velho, não davam para conviver dentro do mesmo cenário. Fiquei como careta da história. Mas o povão, não. O povo, me público, não me viu como “ultrapassado”. Neste momento eu já tinha rompido com tudo, já achava uma bosta a indústria de cultura. Disse a mim mesmo: "Vou exortar o que resta do meu público, e que já era algo enorme. Na época de rejeição, cheguei a 26 mil pagantes. Fui viajando pelo Brasil e acumulei um público que é absurdo. Sou uma das exceções do mercado.
Como você avalia o mercado musical atual?
Alceu – No nordeste, está acontecendo uma coisa que não é fenômeno musical - é um fenômeno mercadológico. Dinheiro, negócios. Como você faz para ganhar dinheiro e conservar seu valor artístico? Tenho um público maravilhoso, imenso. Sou um fenômeno, fenômeno que a mídia não viu - e estou literalmente cagando para a mídia, pode escrever. Mesmo assim, qualquer show que faço é entupido de gente. Eu convoco o povo, é uma loucura.
* Na foto: Zé Ramalho, Alceu Valença e Lula Côrtes: o "Trio de Catende". Assista o clipe de "Vou Danado pra Catende", única filmagem do grupo existente. Gravado no Festival Abertura, da Rede Globo (1975), cujo nome fora sugestão do general Figueiredo à abertura política. Também se apresentaram Jards Macalé e Walter Franco, entre outros.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
nÃO eXISTE mOLHADO iGUAL aO pRANTO
Não se escuta na terra quem for santo
Não se encobre um só rosto com dois mantos
Não se cura do mal quem só tem pranto
Nenhum canto é mais triste que o final
Não se ouve nos ares nenhum canto
Nem nos cantos da noite nenhum grito
Não se mata o que é feio com o espanto
Não se chora ou agora o que é bonito
Não se pode entender sabendo pouco
Não se dá nota aguda estando rouco
Não se encontra o que é duro aonde é oco
Nem silêncio onde só existe o grito
Música e arranjo - Zé Ramalho & Lula Côrtes
Voz - Zé Ramalho
Viola de 10 - Geraldinho
Tricórdio - Lula Côrtes
Sax - Dikê
Viola de 12 - Zé Ramalho
Berimbau - Jarbas Selenita
Baixo - Lula Côrtes
Flauta em Só e Dó - Ronaldo
Percussão - Lula Côrtes e Zé Ramalho
Lamentos, Suspiros, Conversas, Risadas - Alceu
Geraldinho e Lula Côrtes
Letra - Lula Côrtes
zÉ: "uDIGRUDI fOI uM mOMENTO dE eXCITAÇÃO"
Paêbirú ainda teve grandes participações de músicos como Geraldo Azevedo, Ivinho, Paulo Rafael e Dikê. É de Zé o sax de "Nas Paredes da Pedra Encantada". Na realidade, sua primeira gravação profissional.
Iniciou sua carreira artística em 1970, na cidade de Recife, tocando com músicos como Don Tronxo (guitarrista da trovejante "Raga dos Raios", da parte Fogo), Agrício Noia, Robertinho do Recife, Marconi Notaro e Flaviola. O Zé nos conta um poucas de suas histórias daquele tempo - e de agora.
No videoclip de "Vou Danado pra Catende", o Zé é o "cara da bata". No post seguinte, um texto que ele próprio escreveu sobre "o quão duro" era fazer música pop no Recife dos 1970's...Vai lá.
Zé, tudo bom?!
Zé da Flauta - Tudo ótimo, como sempre!
Como era o ambiente das gravações e composição de Paêbirú, dá pra lembrar?
Zé da Flauta - Eu estava com 18 anos quando decidi ser músico profissional. Foi quando também conheci Lula Côrtes e Kátia Mesel, por intermédio de uma prima que era amiga deles. Logo em seguida, conheci Lailson no Conservatório Pernambucano de Música, onde me iniciei nos estudos. Vivíamos na repressão militar, religiosa e familiar e, a casa de Beberibe, onde Lula e Kátia moravam, era o verdadeiro templo da liberdade e da contra-cultura.
Um lugar onde aprendi muito sobre arte e liberdade de expressão. Lá se conversava e se fazia de tudo, inclusive se fumava muita maconha. Se falava muito sobre arte. Foi nesse ambiente que vi nascer Paêbirú e outros discos dos quais participei.
Ninguém sabia o mínimo de teoria musical: tocavamos por pura intuição e rebeldia. Eu mesmo estudava flauta e resolvi comprar um sax que fora de Felinho, um grande saxofonista da década de 50 em Recife. Felinho foi o criador da improvisação no frevo.
Me senti honrado por comprar tal instrumento. Mas, como não conhecia direito o saxofone, paguei por um objeto defeituoso que, na realidade, não servia nem como luneta. Era difícil tirar som naquele instrumento.
Eu não tinha uma boquilha boa e não encontrava a palheta certa. O que me lembro claramente é que cheguei na casa de Lula com ele debaixo do braço e, duas horas depois, estava no estúdio da Rozemblit gravando com ele e Zé Ramalho.
Nunca vou me esquecer disso, pois aquela foi a primeira vez que eu entrei num estúdio para gravar como músico.
Você toca com frequência na Europa. Já vieram lhe comentar sobre Paêbirú?
Zé da Flauta - Sim! Uma vez em Berlim, 2006. O pessoal de uma rádio, com uma intérprete brasileira. Perguntaram sobre Paêbirú e também sobre o grupo de heavy metal Hanagorick, daqui do interior de Pernambuco.
Esses caras fazem o maior sucesso por lá, são famosos. São de Surubim, a terra do Chacrinha.
Dá pra definir "udigrudi"?
Zé da Flauta - É apenas uma terminologia. Naquele caso, nos anos 70, não caracterizou um movimento musical. Era apenas um momento de excitação, perturbação, inquietação artística. Não foi uma idéia com manifesto, objetivo e consistência, como foi o mangue na década de 90.
Alguma história para nos contar de 33 anos atrás?
Zé da Flauta - Cara, são várias! O problema com a censura era grande, com a Polícia Federal, também. Para se fazer um show, tínhamos que fazer prévia para a polícia... Só então eles decidiam se tua banda podia ou não fazer o show, peça de teatro ou o que fosse.
Para se colocar um cartaz na rua, ou mesmo in dor, por exemplo, tinha que ter o carimbo da censura política e estética e, às vezes, isso só podia ser feito no dia do show.
O tricódio de Lula, que ele trouxe do Marrocos, virou um símbolo visual, sexual, sonoro da época. Todos os discos gravados por essa turma, inclusive o meu com Paulo Rafael, tiveram a participação de Côrtes.
Veja como ele dá um brilho especial em "Vou Danado Pra Catende", do Alceu Valença. Neste momento, estou escrevendo um livro de memórias que pretendo lançar no final de 2010.
E hoje?
Zé da Flauta - Ando tocando no meu estúdio, compondo trilhas para TV, filmes, peças de teatro, produzindo discos e artistas. Atualmente estou trabalhando com a SpokFrevo Orquestra, um grupo que ajudei a criar com o objetivo de mostrar o frevo apenas como linguagem musical, sem o folclore. Já tocamos na China, por toda Europa. Vamos para a Índia em outubro. Nós somos uma Big Band de frevo. Eu não toco na orquestra, apenas produzo. Nos assista.
Ouça o Zé:
"Rebimbela da Parafuseta" - álbum Caruá (1980)
Zé da Flauta e Paulo Rafael
a mÚSICA pOP dOS aNOS 70 eM pERNAMBUCO*
Equipamento pra ensaiar também era um drama arretado. A gente tinha que alugar ou pedir emprestado aos conjuntos de baile. Como não existiam estúdios apropriados, como hoje, fazíamos um enorme barulho em nossas casas e nas dos amigos, enlouquecendo os ouvidos dos nossos pais e os dos vizinhos.
Estúdio para gravar era outro problema. Só existiam a Rozemblit, na Estrada dos Remédios, a Center, na rua da Concórdia, e o estúdio da TV Universitária, na avenida Norte, que de vez em quando era usado para gravar discos.
Naquela época existiam os grupos Nuvem 33, Phetus, Tamarineira Village (que depois que foi gravar no Rio, voltou com o nome de Ave Sangria), o Ala D'Eli, de Robertinho de Recife, Flaviola e o Bando do Sol, Marconi Notaro, Zé Ramalho, Lula Côrtes, Aristides Guimarães, Aratanha Azul e outros. Por isso, o grande sonho de todos era ir ao Rio ou São Paulo tentar gravar um disco e ver se descolava uma vaguinha à luz do sol. Muitos conseguiram, como Geraldinho Azevedo, Quinteto Violado, Banda de Pau e Corda e Zé Ramalho. Os que ficaram, gravaram aqui mesmo, na Rozemblit.
O LP Satwa, de Lailson e Lula Côrtes, que é o tempo todo um tricórdio e uma craviola, é uma verdadeira obra-prima. Tem melodias lindíssimas e é o primeiro disco independente do Brasil: data de janeiro de 1973. Depois veio Marconi Notaro no Sub-Reino dos Metazoários, gravado metade no Canal 11 e metade na Rozemblit. O disco é muito louco e na época foi proibido pela censura. O som é uma desgraça! Mas o conteúdo é de primeira.
Lula Cortes gravou com Zé Ramalho, em 1975, o famoso Paêbiru, um album duplo no qual eu toco sax soprano em uma faixa chamada simplesmente de "Nas Paredes da Pedra Encantada, os Segredos Talhados por Sumé", regravada pela banda Jorge Cabeleira e o Dia em que seremos todos inúteis (Eita, nome grande da gota!), pelo selo Chaos, da Sony Music.
Vários artistas gravaram no estúdio da Estrada dos Remédios. Seu Zé Rozemblit era um pai para essa gente. Graças ao idealismo dele nós conhecemos, além do frevo, da cantoria e da ciranda (foi o primeiro a produzir discos desses gêneros), os doidos da década de 70. O disco Flaviola e o Bando do Sol é uma jóia rara. Nele, gravei minha primeira música, como compositor. Outra raridade é o terceiro disco de Lula Côrtes, Rosa de Sangue, que a cheia de 76 quase levou rio a baixo. Quem possuir um exemplar desse disco em casa, saiba que tem uma boa grana garantida. Conheço quem pague R$ 500 por ele.
Foi no final dessa década que eu montei meu primeiro selo, o Matita Discos, que faliu com 3 compactos. Um de "Gil Som", num estilo precursor do de Falcão; um do grupo Flor de Cactus, que tinha Lenine como cantor e compositor; e um de Glaucio Costa, cantor de Garanhuns. Os dois primeiros foram gravados nas salas de aula de música da Universidade Federal. Os microfones e uma mesa de oito canais foram alugados à Maristone. O gravador era um Teac-3340S de 4 canais. Foi a gravação mais artesanal que já fiz na vida! Mas valeu ter o registro da PRIMEIRA GRAVAÇÃO DE LENINE.
Naquela época a gente sofria, mas se divertia pra burro. Se tivesse que fazer tudo de novo eu fazia numa boa. O que acontece hoje, é resultado do que fizemos antes. Não sonoramente falando, mas no sentido de luta, trabalho e quebra de tabus.
*Zé da Flauta, músico e produtor
sATWA (1973)
LULA CÔRTES & LAÍLSON - SATWA
Rozenblit - LPP 005
Psychedelic - 1973
Lado A:
Satwa
Can I Be Satwa
Alegro Piradíssimo
Lia, a Rainha da Noite
Apacidonata
Lado B:
Amigo
Atom
Blue do Cachorro Muito Louco
Valsa dos Cogumelos
Alegria do Povo
cAN i bE sATWA?*
*Lailson de Holanda, um dos personagens do doc Nas Paredes da Pedra Encantada. Ouça algumas canções do álbum aqui no andar de baixo, ó:
tERRA
1. Trilha de Sumé
MERCÚRIO / VÊNUS / TERRA / MARTE / JÚPITER/
SATURNO / URANO/ NETUNO & PLUTÃO
Sumé o cariri / fica perto desse mar
Fica perto da tranqüilidade
Da tranqüilidade desse mar
Peixe de pedra e espinhos no homem de ferro
Igualdade
Entre a luz e a linha reta que delineita o horizonte - bis
Pelo Vale de Cristal
Acredite se quiser
O viajante lunar desceu num raio laser
Num radar
Com sua barba vermelha desenha no peito a Pedra do Ingá - bis
Sumé dizei a flor
A mim mesmo e a meu irmão
Que mensagens / que caminhos
Que traços estão nesse chão?
Onde fica tua estrela?
Quanto é daqui para Marte?
Quanto pra Plutão?
domingo, 21 de dezembro de 2008
tRILHA dE sUMÉ
Voz - Zé Ramalho
Congas - Zé Ramalho, Lula Côrtes, Marcelo
Flautas em Sol e Dó - Ronaldo
Flauta Doce - Jonathas
Tricórdio solo - Lula Côrtes
Baixo - Zé Ramalho
Pente - Alceu
Sax alto e tenor - Dikê
Letra - Raul Córdula e Zé Ramalho
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- zÉ: "uDIGRUDI fOI uM mOMENTO dE eXCITAÇÃO"
- a mÚSICA pOP dOS aNOS 70 eM pERNAMBUCO*
- sATWA (1973)
- cAN i bE sATWA?*
- bLUE dO cACHORRO mUITO lOUCO (gUITAR: rOBERTINHO d...
- vALSA dOS cOGUMELOS
- sATWA
- tERRA
- tRILHA dE sUMÉ
- lOUVAÇÃO a iEMANJÁ / rEGATO dA mONTANHA
- o sOM dA pEDRA
- pEDRA tEMPLO aNIMAL
- pAÊBIRÚ nA lISTA dA rATYOURMUSIC
- pAÊBIRÚ nO cONEXão cONVERSE
- nUM rITMO dE aMOR dESESPERADO
- nELSON iNTERPRETA nOEL (1955/lP)
- nOITE dE sAUDADE (1961/lP)
- fLOR dO mEU bAIRRO
- sEGREDO é pRA qUATRO pAREDES...
- nAQUELA mESA
- vOLTA mETRALHA!
- pAÊBIRÚ / gLOBO / pARAÍBA
- hIT
- pEGANDO a gAL
- pOÇAS d'ÁGUA
- eSTREITÁ-LA cONTRA o cORAÇÃO
- mICROFONIA
- rEI dO rÁDIO
- mITOLOGIA
- cAUSOS dO nELSON*
- cARMEM! mEU aMOR dE pERDIÇÃO
- eSTA nOITE mE eMBRIAGO
- a mEIA lUZ...
- rENÚNCIA
- fAZENDO uMA sOCIAL
- eNTÃO tÁ fECHADO!
- qUARTETO
- eLE sE fOI, o bOÊMIO...
- sAÚDE, nELSON!
- nELSON x jOFRE (iBIAPUERA, 1966)
- mEDALHÃO
- pOR fAVOR, mANDE nOTÍCIA
- dOLORES sIERRA
- aINDA é cEDO aMOR...
- "o hOMEM eRA uM dIAPASÃO"*
- a dEUSA dO aSFALTO
- aBRAÇO aMIGO nO éDER jOFRE
- jOGANDO bOXE
- mARINA, mORENA, mARINA...
- cIÚME, mONSTRO dA sOCIEDADE
- uMA pRÉZA dO aTAULFO
- o mITO fRENTE à cÂMERA
- pROCURADO
- tOCANDO O hORROR
- "cONTAVA cAUSOS mUITO bEM"
- tRÊS aPITOS
- pALHAÇO
- sAUDADE dO cAFÉ nICE
- o mETRALHA & o lOBÃO
- aUTO-rETRATO
- nEM aS pAREDES cONFESSO
- fILHARADA
- uMA fORÇA dO sILVIO
- sEGREDO
- cAMISOLA dO dIA
- cARLOS gARDEL
- cASANDO a fILHA mARILENE, a "lENINHA"
- cANAL9
- oN tHE bEACH (50'S)
- sUAS mÃOS...
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dezembro
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