POR CRISTIANO BASTOS
Rio de janeiro, 16 de abril de 1998, quinta-feira. No apartamento da filha e empresária, Margareth, o cantor Nelson Gonçalves atende ao telefonema do presidente da gravadora BMG (antiga RCA Victor), Luiz Oscar Niemeyer. A ligação trazia boas novas. Uma festa, em alto estilo, programada para dali alguns dias, celebraria os triunfantes 58 anos do astro na companhia.
Recorde inigualável da fonografia brasileira – quiçá, mundial. Em seguida, Nelson recebeu felicitações pelo álbum Ainda é Cedo que, editado havia três meses, já vendera mais de 150 mil cópias. Foi o último, porém, de uma odisséica carreira de sucessos. No sábado, dois dias após o telefonema de Niemeyer, nocaute. Aos 78 anos, o coração impávido do “Metralha” beijava a lona: a morte desferia seu golpe baixo contra o maior cantor do Brasil. “Fui à padaria, e quando voltei, meu pai não estava mais lá”, retrata a caçula Margareth.
O boêmio tinha jurado cantar até 2001. Dessa vez, porém, se fora para sempre. Os dez anos sem Nelson serão bem recordados com o lançamento de jóias revolvidas diretamente de sua majestosa arca de sons e histórias. Certamente, a peça de maior valor documental é o DVD Eternamente Nelson – Especial e Registros Raros da Carreira de Nelson Gonçalves, espetáculo de gala produzido pela Rede Globo cujo som e imagem (de 1981) foram remasterizados.
Os extras são "de verter lágrimas": clipes do Fantástico, aparições na TV e duetos com artistas como Martinho da Vila e Alcione – fora os francos (e divertidos) causos sobre vida e obra que ele desfia dentro de um ringue, seu habitat fora dos palcos. A Sony&BMG, detentora dos fonogramas do cantor, também prepara reedição especial de seu primeiro LP, Nelson interpreta Noel (1954).
Contudo, o regalo mais intimista do pacote é a publicação de O Canto que Me Embalou – Poemas para meu pai, Nelson Gonçalves, livro escrito por Marilene Gonçalves, sua filha com a primeira esposa, Elvira Molla, em que reparte detalhes subjetivos da sua intimidade paterna.
Da educação sexual à literária, o pai ensinou-lhe tudo, reverencia a filha mais velha: "Fomos morar juntos quando ele se divorciou de Lourdinha Bittencourt. Nos domingos, a gente ia à TV Rio, para ver as lutas de boxe. Íamos a pé, conversando. Papai me contava sobre os rendevouz da Avenida Atlântica e o que as meninas virgens faziam lá... Ele falava comigo como se fosse um amigo e não a filha de 17 anos".
Cantando para seis gerações, Nelson Gonçalves entrou, saiu e voltou à moda. Na vida, os ambivalentes arquétipos de "decaído" e "campeão" servem-lhe como luva de boxe: gozou sucessos, amargou ruínas e se redimiu na sarjeta. "A morte do Nelson desfez a trindade dos artistas do rádio – soberania que ele tinha com Orlando Silva e Francisco Alves – e encerrou a era mais mítica da música brasileira", estima o produtor e amigo José Messias, hoje jurado do programa Raul Gil.
A estatura da obra de Nelson Gonçalves assombra: são 70 milhões de discos vendidos – média espetacular de mais de um milhão anuais. Nos cálculos do próprio cantor, da gravação de estréia, a valsa "Se Eu Pudesse Um Dia" (outubro de 1941), ao derradeiro Ainda Cedo (1997), são mais de dois mil registros fonográficos, sulcados em 183 discos de 78 rotações, 100 compactos, 200 fitas cassete e 127 LPs. Só o compacto de "A Volta do Boêmio" faturou dois milhões de exemplares.
*Na edição de dezembro da Rolling Stone - nas bancas. Muito em breve, outras grandes surpresas sobre Nelson Gonçalves. Enquanto elas não chegam separei uma trinca de "sonatas de amor" - do tempo em que os pares ainda dançavam agarradinhos - pra ver se, com a benção do Metralha, "colaboramos" para semear amor (!) neste mundo (se o ex da Suzana Vieira soubesse a história de Nelson não teria feito a idiotice que fez. E bota idiotice nisso!). Essas são canções que amaciam, despedaçam (ou refazem) corações. Quer saber como o seu anda batendo ultimamente? Escute A Voz...
Recorde inigualável da fonografia brasileira – quiçá, mundial. Em seguida, Nelson recebeu felicitações pelo álbum Ainda é Cedo que, editado havia três meses, já vendera mais de 150 mil cópias. Foi o último, porém, de uma odisséica carreira de sucessos. No sábado, dois dias após o telefonema de Niemeyer, nocaute. Aos 78 anos, o coração impávido do “Metralha” beijava a lona: a morte desferia seu golpe baixo contra o maior cantor do Brasil. “Fui à padaria, e quando voltei, meu pai não estava mais lá”, retrata a caçula Margareth.
O boêmio tinha jurado cantar até 2001. Dessa vez, porém, se fora para sempre. Os dez anos sem Nelson serão bem recordados com o lançamento de jóias revolvidas diretamente de sua majestosa arca de sons e histórias. Certamente, a peça de maior valor documental é o DVD Eternamente Nelson – Especial e Registros Raros da Carreira de Nelson Gonçalves, espetáculo de gala produzido pela Rede Globo cujo som e imagem (de 1981) foram remasterizados.
Os extras são "de verter lágrimas": clipes do Fantástico, aparições na TV e duetos com artistas como Martinho da Vila e Alcione – fora os francos (e divertidos) causos sobre vida e obra que ele desfia dentro de um ringue, seu habitat fora dos palcos. A Sony&BMG, detentora dos fonogramas do cantor, também prepara reedição especial de seu primeiro LP, Nelson interpreta Noel (1954).
Contudo, o regalo mais intimista do pacote é a publicação de O Canto que Me Embalou – Poemas para meu pai, Nelson Gonçalves, livro escrito por Marilene Gonçalves, sua filha com a primeira esposa, Elvira Molla, em que reparte detalhes subjetivos da sua intimidade paterna.
Da educação sexual à literária, o pai ensinou-lhe tudo, reverencia a filha mais velha: "Fomos morar juntos quando ele se divorciou de Lourdinha Bittencourt. Nos domingos, a gente ia à TV Rio, para ver as lutas de boxe. Íamos a pé, conversando. Papai me contava sobre os rendevouz da Avenida Atlântica e o que as meninas virgens faziam lá... Ele falava comigo como se fosse um amigo e não a filha de 17 anos".
Cantando para seis gerações, Nelson Gonçalves entrou, saiu e voltou à moda. Na vida, os ambivalentes arquétipos de "decaído" e "campeão" servem-lhe como luva de boxe: gozou sucessos, amargou ruínas e se redimiu na sarjeta. "A morte do Nelson desfez a trindade dos artistas do rádio – soberania que ele tinha com Orlando Silva e Francisco Alves – e encerrou a era mais mítica da música brasileira", estima o produtor e amigo José Messias, hoje jurado do programa Raul Gil.
A estatura da obra de Nelson Gonçalves assombra: são 70 milhões de discos vendidos – média espetacular de mais de um milhão anuais. Nos cálculos do próprio cantor, da gravação de estréia, a valsa "Se Eu Pudesse Um Dia" (outubro de 1941), ao derradeiro Ainda Cedo (1997), são mais de dois mil registros fonográficos, sulcados em 183 discos de 78 rotações, 100 compactos, 200 fitas cassete e 127 LPs. Só o compacto de "A Volta do Boêmio" faturou dois milhões de exemplares.
*Na edição de dezembro da Rolling Stone - nas bancas. Muito em breve, outras grandes surpresas sobre Nelson Gonçalves. Enquanto elas não chegam separei uma trinca de "sonatas de amor" - do tempo em que os pares ainda dançavam agarradinhos - pra ver se, com a benção do Metralha, "colaboramos" para semear amor (!) neste mundo (se o ex da Suzana Vieira soubesse a história de Nelson não teria feito a idiotice que fez. E bota idiotice nisso!). Essas são canções que amaciam, despedaçam (ou refazem) corações. Quer saber como o seu anda batendo ultimamente? Escute A Voz...