POR CRISTIANO BASTOS
"Sou um cineasta por acidente. Minha vocação é mais para subversivo cultural do que para qualquer outra coisa. Vim para desatinar o côro dos contentes."
A autodefinição é própria de um dos diretores mais ativos - e malditos - do cinema brasileiro, o carioca Ivan do Espírito Cardoso Filho, vulgo Ivan Cardoso, inventor do gênero batizado por ele próprio de "terrir" (crossover de terror com comédia).
Para definir Cardoso, o poeta do Kaos Jorge Mautner "vai na alma" do maldito:
"Cineasta profundo, voraz, antropofágico, injetado por estranha melancolia. Poesia tristonha e dourada, cintilante como a loucura. O mundo pop de suas imagens é revestido de uma camada de extasiante e permanente de beleza".
Ivan Cardoso tem história.
A partir de 1970, o cineasta começou produzir vários filmes em super-8, como a série Quotidianas Kodak, na qual faz paródias dos formatos de uma sessão tradicional de cinema no formato de traillers, cinejornais e documentários.
Em 1982, Cardoso realizou O Segredo da Múmia, seu primeiro longa-metragem. O filme começou a ser feito sem história definida, apenas com algumas idéias do diretor e do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, seu amigo pessoal desde o colégio.
O Segredo da Múmia é estrelado pelo lendário ator Wilson Grey, pela primeira no papel de protagonista de um filme. Cardoso também lançou vários "atores", como o maestro Julio Medaglia e o advogado Felipe Falcão.
A película foi grande sucesso de público no Brasil e no exterior e amealhou 20 prêmios, inclusive de melhor filme no Festival de Cinema Fantástico de Madri.
As Sete Vampiras, segundo longa-metragem de Ivan, de 1986, também foi grande sucesso de público. O filme foi visto por mais de um milhão de espectadores.
As Sete Vampiras, segundo longa-metragem de Ivan, de 1986, também foi grande sucesso de público. O filme foi visto por mais de um milhão de espectadores.
Nessa entrevista, o sempre agitado Ivan Cardoso falou sobre indústria cinematográfica, leis de incentivo e condena:
"O cinema brasileiro é um cipoal de problemas".
Qual seu vampiro predileto do cinema?
De fato, o vampiro que mais gosto é o Bela Lugosi. O Christopher Lee também é fabuloso, porém, você fecha os olhos e a imagem de vampiro que primeiro vem a mente é a de Lugosi.
Seus filmes têm sido exibidos nos festivais?
Sim, isso me dá muita satisfação. Mas é querer curar a ferida com band-aid. Ainda prefiro fazer dez mil espectadores no cinema Ipiranga num fim de semana, como antigamente.
Por quê?
O cinema brasileiro é um cipoal de problemas. A gente sempre esteve ligado à coisa da indústria nacional, de reserva de mercado. Por outro lado, a economia liberal quebrou o mundo.
As leis de incentivo ajudariam nas suas produções cinematográficas?
Artista é artista ou é funcionário público? O último ministro da Cultura foi Gilberto Gil. Sempre perguntei a ele porque queria ser ministro quando podia ser cantor. O Estado não vai resolver o problema do cinema. Com o dinheiro público não se faz "cinema". Consegue-se realizar outro tipo de cinema. E qual o problema de lançar O Lobisomem? Não tenho grana, embora o filme tenha custado em torno de R$ 1 milhão.