Branco Mello reuniu imagens captadas, desde meados dos anos 80, para pintar colorido mosaico dos Titãs. Filme resgata a graça da banda que atravessou 25 anos de vida
POR CRISTIANO BASTOS
Agora que o tempo justifica a "maturidade" do rock brasileiro, que somatiza mais de duas década - desde que explodiu (no 'boom anos 80') -, veio a temporada da "colheita documental".
POR CRISTIANO BASTOS
Agora que o tempo justifica a "maturidade" do rock brasileiro, que somatiza mais de duas década - desde que explodiu (no 'boom anos 80') -, veio a temporada da "colheita documental".
Pela bitola de documentários, algumas dessas histórias estão chegando ao mercado. São produções que têm primado pela boa qualidade técnica e que submergem tanto ao "mainstream" quanto ao "underground" do rock no Brasil.
Caso de Titãs – A Vida Até Parece Uma Festa, lançado em DVD pela Warner e de Guidable - A Verdadeira História dos Ratos de Porão - que surpreende pela sinceridade e, em certas horas, pela raridade das imagens que apresenta.
Sem dúvida, a melhor delas é o registro da vez em que Ratos de Porão e Sepultura encontram-se ao vivo e tocam diante uma enlouquecida platéia de headbangers, em Belo Horizonte.
É o momento do histórico crossover que juntou, no Brasil, o punk com o metal pela primeira vez.
As filmagens de A Vida Até Parece Uma Festa começaram em 1986, ano em que o vocalista Branco Mello, para registrar tudo o que acontecia com os Titãs em turnês, estúdios e ensaios, comprou uma câmera VHS.
Sons e imagens foram captadas e arquivadas em vários formatos desde então: VHS, Hi-8, Super 8 e mini DV.
"Comprei uma câmera e comecei a filmar na época do Cabeça Dinossauro. Meu plano era colher material e fazer um filme. Não tínhamos ideia da perenidade dos Titãs e ninguém apostava em nada", conta Mello, que divide a direção do filme com Oscar Rodrigues Alves.
Sons e imagens foram captadas e arquivadas em vários formatos desde então: VHS, Hi-8, Super 8 e mini DV.
"Comprei uma câmera e comecei a filmar na época do Cabeça Dinossauro. Meu plano era colher material e fazer um filme. Não tínhamos ideia da perenidade dos Titãs e ninguém apostava em nada", conta Mello, que divide a direção do filme com Oscar Rodrigues Alves.
No filme, a trajetória da banda foi amarrada através do grande repertório de cançõs pop gravado em muitos álbuns - e da história:
O início em São Paulo, o primeiro sucesso ("Sonífera Ilha"), as prisões por porte de drogas, o antológico show Cabeça Dinossauro, os bastidores das gravações do álbum Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas, as saídas de Arnaldo Antunes e Nando Reis, a morte de Marcelo Fromer, as viagens pelo Brasil e pelo mundo.
Segundo Branco, a única certeza que a banda tinha, à época, era o bom momento vivido pelos Titãs. E, por causa disso, seria interessante guardar imagens para um futuro documentário.
"Quando começaram aparecer as primeiras câmeras portáteis, muita coisa estava acontecendo. Podíamos registrar coisas de nossa vida e de nossa intimidade, além filmar os shows. Era tudo muito curioso, rico e novo", retrata o titã.
O processo que resultou no vídeo recém-lançado iniciou naquela época. "Comecei a decupar fitas e mais fitas de VHS ainda nos anos 80. Depois que, anos atrás, tudo foi digitalizado montei um teaser do filme", situa Branco. E
Segundo Branco, a única certeza que a banda tinha, à época, era o bom momento vivido pelos Titãs. E, por causa disso, seria interessante guardar imagens para um futuro documentário.
"Quando começaram aparecer as primeiras câmeras portáteis, muita coisa estava acontecendo. Podíamos registrar coisas de nossa vida e de nossa intimidade, além filmar os shows. Era tudo muito curioso, rico e novo", retrata o titã.
O processo que resultou no vídeo recém-lançado iniciou naquela época. "Comecei a decupar fitas e mais fitas de VHS ainda nos anos 80. Depois que, anos atrás, tudo foi digitalizado montei um teaser do filme", situa Branco. E
Em 2002, Branco convidou o premiado diretor Oscar Rodrigues Alves para dividirem roteiro, montagem e direção do filme.
A dupla partiu das mais de 200 horas de material original, organizado pela produtora Angela Figueiredo. De abrangente pesquisa em emissoras de TV, vieram os programas de auditório, videoclipes e entrevistas que dão o tom ágil do doc.
Na montagem, os produtores perceberam que a riqueza do material dispensava a monótona figura do "narrador em off":
"Abrimos mão do narrador porque as músicas falam por si próprias. O filme está mais para 'As Aventuras dos Titãs', quase como se fosse uma ficção, do que para 'A História da Banda'", contrabalança Branco.
A dupla partiu das mais de 200 horas de material original, organizado pela produtora Angela Figueiredo. De abrangente pesquisa em emissoras de TV, vieram os programas de auditório, videoclipes e entrevistas que dão o tom ágil do doc.
Na montagem, os produtores perceberam que a riqueza do material dispensava a monótona figura do "narrador em off":
"Abrimos mão do narrador porque as músicas falam por si próprias. O filme está mais para 'As Aventuras dos Titãs', quase como se fosse uma ficção, do que para 'A História da Banda'", contrabalança Branco.
GUIDABLE – "Guidable é o termo criado pelos integrantes da banda de hardcore Ratos de Porão. Define confusão mental, bagunça generalizada ou simplesmente um sei lá. Também pode ser usado quando não se acha a palavra certa no momento apropriado. Muitas vezes substitui o foda-se com eficiência".
Essa é a senha para explicar "Guidable", piada interna que dá nome ao documentário A Verdadeira História do Ratos de Porão. Representa, na verdade, o espírito com que o doc (com muita eficiência) narra a história dos Ratos de Porão - momento que também se confunde com a chegada do punk no Brasil.
Em 2006, a dupla de Marcelo Appezzato e Fernando Rick, da Black Vomit Films, de São Paulo, foram convidados por João Gordo para rodar um filme sobre a banda. A tarefa - quase impossível para uma produção de baixo orçamento - levou dois anos.
Guidable ainda não ganhou versão em DVD. Vem tendo exibições pelo país em cine-clubes e sessões especiais. A maior parte do material usado no doc pertencia ao arquivo particular do vocalista dos Ratos de Porão, João Gordo.
"Ele tinha quase tudo, mas também tivemos que correr por fora. O maior trabalho foi garimpar as caixas e caixas de material", explica Fernando.
Para pontuar quase três décadas de carreira, a dupla entrevistou, de forma independente, os precursores do levante punk brasileiro, como Rédson (Cólera) e Clemente (Inocentes).
Os diretores também pesquisaram centenas de arquivos, em diferentes mídias, além dos arquivos pessoais dos integrantes atuais e antigos da banda. A abordagem que fazem do vasto consumo de drogas é de uma franca - e pouco vista - sinceridade.
"Dificilmente, algum artista se expõe dessa forma. Tudo o que se vê no filme, aconteceu não só com eles, mas com muitos músicos por aí. A diferença é que os Ratos não foram hipócritas".
Essa é a senha para explicar "Guidable", piada interna que dá nome ao documentário A Verdadeira História do Ratos de Porão. Representa, na verdade, o espírito com que o doc (com muita eficiência) narra a história dos Ratos de Porão - momento que também se confunde com a chegada do punk no Brasil.
Em 2006, a dupla de Marcelo Appezzato e Fernando Rick, da Black Vomit Films, de São Paulo, foram convidados por João Gordo para rodar um filme sobre a banda. A tarefa - quase impossível para uma produção de baixo orçamento - levou dois anos.
Guidable ainda não ganhou versão em DVD. Vem tendo exibições pelo país em cine-clubes e sessões especiais. A maior parte do material usado no doc pertencia ao arquivo particular do vocalista dos Ratos de Porão, João Gordo.
"Ele tinha quase tudo, mas também tivemos que correr por fora. O maior trabalho foi garimpar as caixas e caixas de material", explica Fernando.
Para pontuar quase três décadas de carreira, a dupla entrevistou, de forma independente, os precursores do levante punk brasileiro, como Rédson (Cólera) e Clemente (Inocentes).
Os diretores também pesquisaram centenas de arquivos, em diferentes mídias, além dos arquivos pessoais dos integrantes atuais e antigos da banda. A abordagem que fazem do vasto consumo de drogas é de uma franca - e pouco vista - sinceridade.
"Dificilmente, algum artista se expõe dessa forma. Tudo o que se vê no filme, aconteceu não só com eles, mas com muitos músicos por aí. A diferença é que os Ratos não foram hipócritas".