quinta-feira, 5 de agosto de 2010

bARRADOS nO bAILE*

"Pouco antes do lançamento de Acabou Chorare, em 1972 os Novos Baianos fizeram uma apresentação no Salão Nobre do Fluminense, no Rio de Janeiro. Um salão pomposo, com vitrais, que tinha sua ocupação reser vada a grandes festas.
Eu estava no clube com meu irmão, naquele final de tarde de sábado, quando notamos, junto ao portão de acesso ao clube, um cartaz anunciando: "Show dos Novos Baianos". Conhecíamos o grupo porque tínhamos em casa o primeiro LP deles, "É Ferro na Boneca".
Claro, não íamos perder a chance de ver o show deles logo mais. Fomos até o "salão" e ouvimos do porteiro que nossa entrada não seria permitida: estávamos com sandálias de couro, cabelo grande, bem ao estilo hippie daquela época.
Teríamos que colocar um calçado apropriado, essa foi a informação. Assim que chegamos de volta ao portão do clube, quem estão chegando? Os Novos Baianos, que desciam de uma kombi portanto seus instrumentos.
Era um bando de cabeludos (os cabelos muito maiores que os nossos), com roupas que pareciam terem sido colhidas aleatoriamnete num brechó, sandálias de couro e/ou de borracha de pneu, como que saidos diretamente dos arredores da Lagoa de Abaeté, epicentro dos hippies do Rio, de São Paulo e da própria Salvador.
Meu irmão e eu sorrimos, imaginando a cara do porteiro que nos barrou ao ver os "artistas" que se apresentariam logo mais no salão pomposo do clube. Evidentemente, meu irmão e eu vimos o show, mas antes tivemos que ir em casa colocar roupa adequada.
Embora não conhecêssemos o repertório, achamos o máximo aquela mistura do sotaque brasileiro embalado pela guitarra ensandecida de Pepeu, uma Supersonic, se não me engano, com o corpo cortado numa diagonal por ele mesmo.
Parecia ter sido achada no lixo, mas o som que ele extraía dalí...
Curioso é que aquele bando de hippies não combinava mesmo com o ambiente. Mas o público careta gostou do espetáculo. Para nós, foi a senha para comprar o Acabou Chorare assim que o disco foi lançado, um dos melhores da música brasileira de todos os tempos.
*Depoimento do historiador Nelio Rodrigues, autor do livro Histórias Perdidas do Rock Brasileiro (Nit Press).

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