sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

iRREDUTIBILIZANDO

APLAUSO 110 nas bancas...

... e no Portal APLAUSO: 70 músicas do cancioneiro pop-gaudério disponíveis para download, com capa, encarte e informações exclusivas para que o internauta monte seus próprios discos

Na reportagem de capa de APLAUSO 110 ("Por favor, sucesso!"), o repórter Cristiano Bastos revela que nem sempre o Rio Grande do Sul é capaz de suportar o crescimento de artistas locais, especialmente quando se trata de rock-n-roll.

Desde antes dos anos 1960, muitas bandas buscam em São Paulo a fama e as vendas que o mercado gaúcho é incapaz de proporcionar. Estudioso do assunto, Bastos traz à tona um valioso debate mercadológico, ilustrado tanto por histórias de quem recém chegou à capital paulista quanto de quem foi e voltou – como a Bidê ou Balde, capa desta edição.

Para resgatar essa linguagem, APLAUSO também oferece aos seus leitores uma compilação, dividida em dois volumes (e um terceiro de extras), de arquivos históricos do rock rio-grandense. Idealizado e produzido por Cristiano (coautor do livro Gauleses Irredutíveis – Causos e Atitudes do Rock Gaúcho), o álbum Gauleses Irredutíveis Merecem APLAUSO pode ser baixado gratuitamente no site da revista: http://www.aplauso.com.br/.

Para que o leitor monte seus próprios discos, é só imprimir capa, contracapa e encarte (com informações de 70 músicas), desenhado com ilustrações feitas a partir de flyers de artistas e bandas de diferentes épocas do cancioneiro pop-gaudério.

Dos 70 fonogramas editados nesses dois álbuns, alguns são recém gravados, outros são inéditos ou foram colhidos quase diretamente em suas matrizes originais. É o caso de grande parte das canções e álbuns localizados entre as décadas de 1960/1970, cujas mastertapes, até hoje, jamais foram remasterizadas. É o caso de bandas como Os Brasas, Liverpool, Bixo da Seda e Os Cleans. Na medida do possível, Gauleses Irredutíveis Merecem APLAUSO procura coligar nomes que representam diversas “eras” da música jovem gaúcha.

Uma palhinha da coletânea...

Lançado em fita K-7, Último Verão, álbum de estreia de Julio Reny, apresentava o petit hit "Cine Marabá". A canção tocou bem nos primórdios da Ipanema FM, em Porto Alegre, e, tanto quanto, na extinta Fluminense, a "maldita", que irradiava os “venenos” de Niterói, Rio de Janeiro.

"Cine Marabá" é um dos fonogramas cedidos por Reny que foram reunidos na compilação "Gauleses Irredutíveis Merecem APLAUSO", com a qual a revista presenteia seus leitores.

A coletânea traz surpresas de artistas e bandas como Rosa Tattooada, Pupilas Dilatadas, Pública, Loomer, Júpiter Maçã, Os Replicantes, Yanto Latino, Os Cleans, Os Brasas, Conjunto Melódico Norberto Bauldauf e Lovecraft.

"Me Deixa Desafinar", novo single da Bidê ou Balde, é um dos hits do especial. Mimi Lessa, lendário guitarrista do Liverpool e do Bixo da Seda, hoje radicado no Rio, foi responsável pela liberação de duas gemas: uma delas é "Por Favor, Sucesso", o hino que dá nome a esta reportagem.

Outros destaques

El Mapa de Todos, agora no RS - Um dos extras da reportagem de capa de APLAUSO 110 já está publicado no Portal APLAUSO. Trata-se de uma entrevista com Fernando Rosa, editor do site Senhor F (http://www.senhorf.com.br/) e produtor do festival El Mapa de Todos, cuja segunda edição acontece entre 12 e 14 de abril em Porto Alegre. Na entrevista, Rosa faz uma profunda análise do panorama do rock independente sul-americano.

Outra entrevista exclusiva disponível no Portal APLAUSO é com o produtor paulista Leonardo Dias Pereira, que promove em São Paulo o "Urbanaque Apresenta", série de encontros roqueiros organizados pelo magazine eletrônico Urbanaque (http://www.urbanaque.com.br/). Em suas edições, o Urbanaque procura trazer bandas e artistas de fora de São Paulo, assim como do próprio rock.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

cOELHA bRANCA

Algumas pílulas te fazem crescer, outras te fazem encolher. E as que a sua mãe te dá não fazem efeito algum. (Grace Slick)

POR CRISTIANO BASTOS

Cena esquizofrênica do filme Medo e Delírio em Las Vegas, de Terry Gillian: esparramado na banheira louco de pedra, o narcotizado Dr. Gonzo (Benício Del Toro) implora a Raoul Duke (Johnny Depp) para que arremesse o toca-fitas na água quando a canção que ringe dos alto-falantes atinja o clímax.

O comando é imperativo: "Feed your head! Feed your head! – estrofes finais de "White Rabbit", música banida das rádios nortes-americanas, em 1967, por causa da apologia às viagens alucinógenas.

A voz que emposta potência e candura para cantar as aventuras de Alice in Wonderland, após ter lanchado  pílulas psicodélicas, é de Grace Slick, a bela, talentosa e politizada cantora e letrista do Jefferson Airplaine.

Em "White Rabbit", espécie de Bolero de Ravel embalado numa canção de ninar de movimentos circulares, um dos hinos da head music, Grace pincelou tonalidades ainda mais "dietilamídicas" à naturalmente lisérgica obra de Lewis Carrol.

Grace divide a autoria de "White Rabbit" com o irmão, Darby Slick, com o qual ela integrava o Great Society, banda que registrou a música antes do Airplaine.

Os irmãos Slick também assinam "Somebody to Love", peça sonora não menos simbólica que "White Rabbit".

São hits que fulguram no fundamental álbum do Jefferson Airplaine, Surrealistic Pillow, que marca o début de Grace nos vocais da banda da Costa Oeste dos Estados Unidos.

Musa do acid rock de San Francisco, Grace não foi a única fêmea talentosa da cena do rock psicodélico que prevalecia na Califórnia – e no mundo – no auge do Verão do Amor.

Mama Cass e Michelle Phillips (do Mamas and the Papas), Nico e Janis Joplin eram grandes vozes. Mas nenhuma delas juntava, tal Grace, intraduzível beleza, nata habilidade como songwritter e domínio sobre a complicada matemática construtora de canções pop e metricamente perfeitas.

O escritor gonzo Hunter Thompson sempre assumiu o fetiche por Grace Slick. Cansou de afirmar que música, além das estimadas drogas, sempre fora "combustível":

Pessoas sentimentais chamam isso de inspiração, mas o que elas realmente querem dizer é combustível. Isso acontece de novo, e de novo, e cedo ou tarde você é fisgado, e fica viciado. Toda vez que ouço "White Rabbit", estou de volta à meia-noite viscosa de San Francisco, procurando por música, dirigindo uma motocicleta vermelha veloz ladeira abaixo em direção ao Presidio, me curvando desesperadamente nas curvas através dos eucaliptos, tentando chegar ao Matrix a tempo de ouvir Grace Slick tocar sua flauta.

No rock dos anos 1970/1980, é clara a linha condutora que parte do estilo vocal de Grace Slick e influencia outras mulheres do rock: da chata (pra burro) Alanis Morrisete à chata (pra caralho) Dolores O'Riordan, da poetisa punk Patty Smith à runaway Joan Jett, todas reverenciaram – da melhor à pior forma – a força vocal de Grace.

Alcoólatra, vegetariana e defensora dos animais, com o fim do Airplaine Grace Slick encarou a insipidez do Jefferson Starship, cuja formação fora diluída numa enjoativa receita de hard rock ufológico e sintetizadores.

E o que ainda restara do Jefferson Airplaine reduziu-se à corruptela "Starship" e seu rock inofensivo, perfeito para rodar no easy listening boco-moco das rádios adultas.

A beleza e o charme de Grace Slick arrebataram muitos corações.

Apaixonado, o cantor folk Country Joe McDonald compôs a balada "Grace" em seu louvor.

Jim Morrison teve um rápido affair com ela encharcado em bourbon.

Em 1998, Grace confessou que, de todas as pessoas com quem sempre desejara ter um caso amoroso, só faltaram duas: o guitarrista Jimi Hendrix e o ator inglês Peter O'Toole.

Em 1994, após reclamações da vizinhança, um policial vai até a casa de Grace Slick, em Tiburon, Califórnia, conferir o que estava rolando. É surpreendido pela cantora completamente embriagada e por um cano fumegante apontado para sua cara.

A sentença de Grace foi estipulada em 200 horas de prestação de serviços comunitários. Ela também foi obrigada a comparecer aos Alcoólicos Anônimos durante três meses.

Hoje, Grace Slick jura que sua garganta dourada está longe da bebida. Mas o fabuloso canto de antes não se fez mais ouvir como naqueles dias - em que a vida era mais onírica e as cores pareciam vibrar com maior
intensidade.

gRAÇA

jEFFERSON aIRPLAINE lOVES yOU





segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

pSICODELIA à bRASILEIRA

A história do disco mais caro do Brasil, valendo até R$ 5 mil, é investigada em documentário

POR LEONARDO LICHOTE - O GLOBO

Rio de Janeiro - Inscrições rupestres misteriosas, mitos indígenas, boas doses de psicodelia, uma busca para reconstruir as obscuras origens de uma lenda da música brasileira…O roteiro tem elementos que parecem moldados para a ficção, algo como um Indiana Jones lisérgico.

Mas Nas Paredes da Pedra Encantada (visite o blog oficial), filme de Cristiano Bastos e Leonardo Bonfim, é um documentário -  "road doc", como define Cristiano - que investiga a história do raríssimo disco Paêbirú: Caminho da Montanha do Sol, de Zé Ramalho e Lula Côrtes, lançado em 1975.

- Há vários motivos para se falar de Paêbirú - defende Cristiano. - É o disco mais caro do Brasil, sua última cotação está entre R$ 4 mil e R$ 5 mil, o dobro do Louco Por Você, o primeiro de Roberto Carlos (existe uma edição pirata, em vinil, de Paêbirú, lançada na Europa, mas que não vem com o livro que acompanhava o original, trazendo estudos sobre a região e informações sobre a lenda do Caminho da Montanha do Sol). Mais que a raridade, ele é o fundador de uma psicodelia genuinamente brasileira, com elementos da cultura indígena. E sua história tem toda uma mística. Das únicas 1.300 cópias da prensagem original, 1.000 foram perdidas numa enchente em Recife. Nunca vi uma história tão fantástica como a que circunda esse álbum.

Jornalista, Cristiano tomou contato com a fantástica história quando fez uma reportagem para a revista Rolling Stone sobre o disco. Quando percebeu que sua apuração poderia render um documentário, se lançou com Leonardo Bonfim na aventura de tentar reconstituir os fatores que permitiram o surgimento do álbum.

O termo "aventura" não é exagero.

Cristiano morou entre Pernambuco e Paraíba por três meses, investiu dinheiro do seu bolso no filme - atualmente em fase de montagem - e penou para encontrar seus personagens. Mais que isso, quase foi preso durante as filmagens:

- Estávamos na cidade do Ingá do Bacamarte (município da Paraíba onde se localiza a Pedra do Ingá, onde estavam as inscrições que serviram de estopim para o processo criativo que gerou o disco) quando a polícia nos abordou, com vários carros e armas apontadas para nós. Estava havendo uma onda de assaltos a bancos na região, e eles, vendo aquele grupo andando de um lado para o outro e fazendo ligações, acharam que éramos ladrões. Tivemos que ser libertados pelo prefeito, que já sabia do projeto e inclusive colaborou com dinheiro para as filmagens.

O filme - ao qual O GLOBO teve acesso exclusivo - traz entrevistas com personagens como os músicos Lula Côrtes e Alceu Valença (que toca no disco), o arqueólogo Raul Córdula (que apresentou a Pedra do Ingá a Lula e a Zé Ramalho) e a cineasta Kátia Mesel (companheira de Lula então e sócia dele no selo Abrakadabra, que lançou o disco).

As gravações registram muitos momentos musicais espontâneos e até cenas que reforçam as lendas em torno do disco.

- Cada lado do álbum duplo de Paêbirú tem um conceito: fogo, terra, ar e água. Cada um tem uma sonoridade. Fogo é o lado mais roqueiro, ar são músicas mais etéreas… No lado da água, tem uma parte que faz louvações a Iemanjá. No filme, quando Kátia Mesel canta isso, começa a chover - narra Cristiano, que alimenta mais um tanto a mística ao dedicar o filme ao deus Sumé (parte da mitologia de Paêbirú).

Zé Ramalho - que até hoje visita a Pedra e acredita que extraterrestres estão por trás de suas inscrições - não dá depoimento para o filme. Mas autorizou os diretores a usar todas as músicas para contar a história.

- Existe uma rusga entre Zé e Lula, e Zé preferiu não falar sobre o álbum. Mas todos no filme falam dele com muito carinho - nota Cristiano. - Apesar de negar a entrevista, Zé foi muito gente fina, fez um documento liberando a música… Só não queria ter a imagem dele hoje no filme. Ele pergunta por que não falaram do disco quando ele foi lançado (o álbum foi completamente ignorado na época). Aquilo foi muito decepcionante. Além de tudo, Zé Ramalho considera a obra que ele fez solo, posteriormente, muito mais importante. Como o disco tinha um aspecto coletivo, ele ali não tem o peso de ser o portador da mensagem, é só mais uma das vozes.

Mesmo antes da finalização, os diretores já receberam convites para apresentar o filme em festivais.

- Nosso desejo é estrear no É Tudo Verdade - diz Cristiano. - Seria ótimo também ter a exibição na TV, num espaço como o Canal Brasil.

Eles contam com a força da história. E os poderes de Sumé.




Pedra Templo Animal

Música e arranjo - Lula Côrtes & Zé Ramalho
Trompas marinhas - Lula Côrtes
Voz - Zé Ramalho
Okulelê - Zé Ramalho
Viola de 12 - Lula Côrtes
Sereias - Katia e Inácia
Percussão - Marconi, Israel, Agrício
Baixo base - Paulo Raphael
Coro - Alceu, Zé Ramalho
Letra - Lula Côrtes

sábado, 5 de fevereiro de 2011

lITTLE sUZY*

What's It Like To Be Loved (1976)


*Na gestação pré-Patty Smith/Debby Harry/Joan Jett, os primeiros anos da década de 1970, a mignonzinha Suzi Quatro flertou solitária num universo dominado por homens & suas guitarras.

Suzi, possivelmente, foi a primeira fêmea-de-frente do rock-and-roll.

Ao ser descoberta pelo empresário Mick Most, em Detroit, mulheres não existiam no comando das bandas (a que lhe escoltava era formada só por homens). Antes, porém, acompanhada das irmãs Patti, Nancy e Arlene, ela tocou seu baixo Fender Precision-1957 nas Pleasure Seekers.

Norte-americana, Suzi Quatro, literalmente,  invadiu a parada glitter européia com sua voz sexy e rouca, e arrematou alguns Top of The Pops ("Can the Can", "48 Crash", "Daytona Demon", "Devil Gate Drive).

Aggro-Phobia é o terceiro e, também, um dos melhores álbuns gravados por Suzy. Contém os hits de peso "Tear Me Apart", "Wake Up Little Suzy", "Make Me Smile" (cover de Steve Harley).

A dançante "What's It Like To Be Loved" antecipa a fórmula discothèque-rock aprimorada pelo Blondie no embalo de "One Way Or Another": guitarras sintetizadas, efeitos de voz e a indefectível bateria horizontal marchando sobre a melodia.

Padrão ainda muito emulado...

Mas o que é rock senão eterna reinvenção?

Over and over.

Who's Next?