A cédula de identidade não mente: o cara se chama Flavio Basso. Com esse nome de ascendência italiana, ele foi frontman dos Cascavelletes, uma das bandas que inventou o rock no Rio Grande do Sul e cuja (má) fama está registrada em artefatos como "Menstruada", "O Dotadão" (gravada pelos Ratos de Porão) e "Minissaia sem Calcinha".
Nos vetustos 1989, Basso protagonizou um dos grandes momentos de picardia do rock brasileiro quando o semi-hit "Nega-Bom-Bom" (do refrão bubblegum "Bom-bom-bom faz aquela nega do outro lado daquela rua/Baby/Punhetinha de verão") entrou na trilha sonora da novela Top Model.
Flavio Basso, então, saiu de cena. Voltou realinhado, anos mais tarde, folk e dylanesco, como Woody Apple - mas também foi fogo de palha. Transformou-se em Júpiter Maçã, alcunha com a qual lançou o clássico A Sétima Efervescência, com devidos créditos a Timothy Leary, Albert Hofman e aos laboratórios Sandoz. Mas não durou. Num ataque semântico-artístico, renomeou-se outra vez como Jupiter Apple e adotou o inglês para embarcar de vez no desbunde do álbum Plastic Soda (1999). Em Hisscivilization (2003), a criatura seguinte, deu um passo a frente ao testar sonoridades que - é preciso perseverança, às vezes - não se decidem entre o indigesto e o incompreendido.
Recém-chegado da Inglaterra e ainda tentando achar a chave para voltar para "dentro da casinha", em Porto Alegre, Júpiter Maçã deu essa entrevista exclusiva para o site da Bizz. Aproveite para ouvir a inédita "Open Letter", gravada em 2000. Se você tem alguma idéia a respeito do universo e dos códigos jupiterianos, já sabe: não espere dele respostas convencionais para perguntas "mais ou menos convencionais". Ou você acha que é todo o mundo que fica um mês sem tomar banho, que se diz um "encantador de um rio curvilíneo" e que, um belo dia, acorda e pensa que é o John Lennon em pessoa?