
O século 20, na abordagem do poeta paulista Décio Pignatari, foi o "século dos séculos". Na década de 50, ao lado dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos, Pignatari foi responsável pelo lançamento mundial da poesia concreta (vanguarda com bases no Brasil), que decretou a morte do verso como recurso poético. Experimentação, termo-chave para entender a arte produzida nessa época, diz Pignatari, é conseqüência do principal fator operante naquele momento, a industrialização. Revolução que desencadeou todas as demais: "Na arte, foi a era do experimento. Na imagem, a fotografia e o cinema; primeiro, em preto e branco, depois, em cores. Na música, a concreta, de ruídos, serial, dodecafonista. O cubismo, na pintura. Depois de Flaubert, na literatura, apenas novidades: de Joyce a Proust, a reforma no romance. Em poesia, então, nem se fale: Apollinaire, Pound, Eliot", pontua.
Claudio Willer (poeta de filiação surrealista)
Em meio ao estrondoso alarido que foram as vanguardas históricas é improvável uma opinião unânime – favorável ou não – quanto ao legado que deixaram. Herança que, positiva ou negativa, incontestavelmente manifesta-se nas inúmeras encarnações contemporâneas da arte. Na opinião do poeta surrealista Claudio Willer, o "poder subversivo da imaginação", que as vanguardas trouxeram à arte, é uma postura que ainda está valendo. No caso do Surrealismo, diz Willer, tem de ser pensado como um movimento de idéias, voltado à relação entre poesia e vida: "Em meados do século 19, Baudelaire, na sua crítica ao realismo submisso ao mundo, já chamava a imaginação de a rainha das faculdades. Essa postura crítica ainda continua valendo", atesta Willer.
Augusto de Campos (poeta concreto)
Para outro poeta de filiação concreta, Augusto de Campos, a contenda – se as vanguardas vingaram ou malograram no intento de rejuvenescer uma arte já senil e discursiva – está superada. Campos afirma que elas agiram positivamente e, mesmo que ao renegar o discurso, terminaram por ditar outros (como na miríade de manifestos escritos), ainda que libertários quando surgiram: "A sublevação das primeiras vanguardas operou transformações fundantes na linguagem artística, colocando-a em sintonia com o seu tempo", coloca. O concretista ainda reforça: "É claro que elas deram certo, pois não há artista posterior significativo que não tenha sido tocado de algum modo pelas suas propostas. É uma evidência histórica que nem cabe mais discutir", diz Campos.