sábado, 23 de maio de 2009

bURTISMO bEM pEGADO!*


Burt Bacharach – Porto Alegre, Teatro do Sesi – 13/04/2009

Eu apertei a mão do Burt Bacharach! Bota isso na capa da revista! Liga pro além e avisa o meu coroa que rolou essa preza – ele vai abrir um sorrisão orgulhoso e levantar o polegar da mão direita como quem diz "Agora sim!", enquanto pede mais uma rodada de scotch pra ele, pro Frank, pro Dean e pro tio Russo.

Depois disso, sinceramente, fico apenas no aguardo de um bate papo com o Sean Connery e o Francisco Cuoco, uma churrascada com o Beck e os caras do Flaming Lips (de repente alguém do Wilco de bicão), uma beberragenzinha qualquer com o Adam Sandler e o Steve Buscemi e uma pajelança com Woody Harrelson, Willie Nelson e Snoopy Dogg...

Depois de apertar a mão do Burt Bacharach, na boa, fiquei bem menos exigente com meus sonhos absurdos (exceto os que envolvem a Eva Mendes, claro!).

Mas não foi só isso não, jóvens! Teve o show - e é isso que me trás à escriba dessas linhas. Showzão! Empolgante, romântico, finíssimo e, claro, em se tratando de um dos maiores compositores da música moderna, repleto de hits.

Tão repleto de hits que logo no começo, depois de uma introdução com "What the world needs now is love", ele cometeu o que cheguei a pensar ser o disparate de "gastar" alguns de seus maiores sucessos em um medley – nele, "This guy is in love with you", "I say a little prayer", entre outras, praticamente reduzidas a breves citações.

Mas não, eu estava enganado, não foi disparate, foi a melhor forma encontrada para incluir num show de cerca de duas horas o grosso de sua excelente produção nestes mais de 50 anos de carreira.

Antes de chegar ao Teatro do Sesi, onde aconteceu o espetáculo, ou até antes de ler as matérias que rolaram sobre o show na imprensa, na semana que o antecedeu, eu estava também curioso com o formato da banda com a qual ele se apresentaria – e sonhando com os fabulosos arranjos orquestrados dos discos do mestre.

E ele se veio com um pianão de cauda no centro do palco, de onde regia cheio da energia e empolgação com que carrega seus 80 anos no corpo, um grupo de 10 integrantes: uma violinista gatinha; dois bróders encarregados dos sopros (um variava entre tipos de sax e outro ficava entre o trompete e o flugelhorn); um baixista e um batera que cumpriram com as expectativas e mantiveram as sempre bem engrenadas traquitanas da típica cozinha bacharachiana; três vocalistas (duas cantoras com vozeirões lindos e um magrão que cantava legal, mas era meio balaqueiro demais pro meu gosto); e outros dois tecladistas (que às vezes abusavam dos timbres de strings e meio que quase chineleavam a coisa toda - mas, beleza, faz parte!).

A primeira música que o próprio Burt cantou no show só apareceu lá pela metade, e foi "The Look of Love", no meio de um outro medley, dedicado às canções que ele compôs para trilhas de filmes, onde também estavam "Raindrops Keep Falling on My Head", "What’s New, Pussycat", "Alfie" e mais outras várias – talvez o momento mais emocionante!

Foram uns cinco ou seis medleys na noite toda, reunindo em uma estrutura só, clássicos do maestro alternando-se com canções que eram executadas separadamente, sempre apresentadas com muita simpatia por Bacharach (por exemplo, antes de "That’s what friends are for" ele a dedicou aos presidentes Lula e Barack Obama, como "novos amigos", e antes de um medley com as primeiras composições suas a serem gravadas ele disse que até para ele, elas pareciam ser de outro compositor).

Às vezes a introdução era para destacar a canção ou medley que estavam por vir, ou algum músico ou vocalista que eram destaque na faixa, às vezes era só um gracejo ou charminho, afinal o cara é pura catêga!

E a importância de se ter um manancial de catêga desses na nossa cidade, a Porto Alegre que sempre foi vista como usina de boas idéias, principalmente musicais, será que foi valorizada?

Bom, aí podemos correr pruma discussão semântica, pois valorizada foi sim, e pacas – os ingressos mais baratos, no 'distante mezanino', custavam 250 reais e os de platéia baixa, bem pertinho do Cara, eram 450 reais (que, na boa, há de ser salgado até pra quem tem muuuita grana!).

Mas infelizmente essa valorização toda afastou o público das gostosas cadeiras do teatro e do espetáculo de música e finésse que se assistiu. Afastou um público mais jovem de ter contato com um dos maiores compositores ainda vivos do mundo, e o afastou um pouco mais de sua excelente música.

Assim como a crise financeira (que existe sim!) afastou gente que teria condições, de dar-se o luxo de ir assistir Burt Bacharach em um evento elegante... E o resultado foi um teatro com apenas metade de sua capacidade recebendo um dos maiores verbetes da música moderna. Pena!

Mas o showman não deu bola pra isso, pois de vários "issos" é feita a estrada de um mestre do seu porte! Fez um showzão! E ainda recebeu com carinho a cidade e foi atrás de Porto Alegre oferecendo amor e cumplicidade como suas canções falam.

Segundo a produção local, logo após o café da manhã do dia do show, Burt foi correr no Parcão (parque próximo ao hotel que o hospedou), e mais tarde caminhou no Parque da Redenção e pela orla do Rio Guaíba, pontos turísticos obrigatórios da capital gaúcha.

E depois de toda essa andança e mais de uma hora e meia de show, ele e seus 80 anos ainda voltaram ao palco sorridentes para fazer dois bis. Pois a cada vez que saía, ele ganhava um mimo de algum fã, um arranjo de flores, uma palavra de carinho, um aperto de mão...

Ah sim, eu já contei? Eu apertei a mão do Burt Bacharach! Acho que já, né?! Mas, enfim... Sim, é verdade! Juro! Foi bem no finalzinho do show, no último bis, ele e sua banda repetiram "Raindrops Keep Falling on My Head" e antes de encerrar tudo de vez com a música que haviam aberto o show, "What the world needs now is love", ele se aproximou da beira do palco e abaixou-se para cumprimentar os fãs que já não mais aguentavam aquela austeridade toda de show de 450 reais e foram para a frente do palco demonstrar o carinho, respeito e amor pelo grande maestro que haviam assistido.

Foi demais! Inesquecível!

*Carlinhos "Bidê ou Balde" de Mascarenhas Carneiro apertou a mão do Burt. Acho que ele já disse isso, né? Como diria o Chicão, parceiro nosso: "Préééééééééza!". Fotos: Diego Marques. Leia o original na edição de maio da revista Noize.

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