sábado, 23 de maio de 2009

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POR CRISTIANO BASTOS

Músico do campo e criador do rock rural, Zé Rodrix não gostava de médicos

À meia-noite de ontem (quinta-feira), o destino carregou outro brasileiro ilustre. Seu nome: Zé Rodrix. O cantor e compositor, fundador do grupo Sá, Rodrix & Guarabyra, morreu em casa, em São Paulo, aos 61 anos,vítima de parada cardiorrespiratória.

Rodrix deixa mulher, seis filhos e dois netos.

A filha Bárbara Rodrix, 18, prestou ao pai o primeiro atendimento: "O que me tranquiliza, é que ele não sofreu. Estava muito bem, gozando o melhor momento de sua saúde. Aparentemente, não havia nada de errado", contou a filha ao Jornal de Brasília. Segundo Bárbara, Zé Rodrix chegou em casa sentindo-se mal", conta.

A irmã, Mariana, médica,foi chamada para atendê-lo como fazia habitualmente. "Papai não gostava de médicos. Ele não queria ir para o hospital. Sentiu que ia desmaiar, teve convulsões e uma parada respiratória." Zé Rodrix faleceu a caminho do Hospital de Clínicas, em São Paulo:

"Tentaram reanimá-lo mais ou menos à meia-noite. Recentemente, ele tinha feito exames, sua saúde estava perfeita", lamentou Bárbara, que toca violão e, recentemente, finalizou a gravação de seu primeiro disco, produzido pelo pai: "Como sempre, ele não parava".

O multiartista recifense, Lula Côrtes (que, nos anos 70, foi expoente do chamado "udigrudi nordestino"), diz que o som de Sá, Rodrix & Guararabira embalou boa parte de sua juventude. O rock rural, observa Lula, era a demonstração verdadeira da vontade de toda uma geração que descobriu em "ir morar no campo", uma forma toda particular de liberdade e de integração com a natureza, bem característico das experiências lisérgicas hippies daquela época:

"É uma perda irreparável. A música brasileira fica, mais uma vez, privada de um grande talento."

A co-autora do livro Psicodelia Brasileira - Um Mergulho na Geração Bendita (que narra as histórias da contracultura brasileira, nas décadas de 60 e 70), Tatiana Melo, situa mais importantes do que se convencionou chamar de contracultura brasileira".

Na década de 1970, Rodrix morou no famoso Solar da Fossa – espécie de pensão-pulgueiro, lar
dos desbundados cariocas – e fundou o Som Imaginário, big band dos sonhos e uma das mais importantes representantes da psicodelia nacional.

"Depois, caiu na estrada como Sá e Guarabyra e, em suas letras, conseguiu traduzir o ideário hippie americano para a juventude brasileira."

Rodrix cantava a liberdade, a natureza e a vida simples. Quando a música lhe impediu de criar, no início dos anos 80, voltou-se à publicidade: "Além de seu trabalho, Zé foi um cara que vivia e
transpirava, liberdade e criatividade. Não é a toa que seus filhos são artistas", diz Tatiana, ao rememorar que, na época em que escrevia o livro, seus autores eram apenas estudantes.

Zé Rodrix, porém, nem se importou com isso, e abriu-lhes o coração e suas histórias da juventude. "O Brasil perdeu um de seus grandes compositores".

Music: non-stop - Multi- instrumentista (piano, acordeom, flauta,bateria, saxofone e trompete), compositor de jingles e publicitário, Zé Rodrix não "parava". Em 1967, participou do Festival de Música Brasileira da TV Record,acompanhado de Marília Medalha, Edu Lobo e o Quarteto Novo, com a canção Ponteio Nos anos 70, integrou o progressivo Som Imaginário,mas continuou compondo.

"Casa no Campo", composição sua e do músico Tavito, ganhou o Festival de Juiz de Fora, em 1971, e fez muito sucesso na voz de Elis Regina. Outro sucesso seu foi "Soy Latino Americano" Ao lado de Sá e Guarabyra,Rodrix se consagrou como um dos ícones do chamado "rock rural".

Também atuou no grupo Joelho de Porco No início dos anos 2000, o músico causou polêmica ao revelar, em uma entrevista,que era maçom. Zé Rodrix chegou a lançar uma trilogia de livros sobre a maçonaria.


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