Se ainda restar uma única centelha punk flamejando no dia em que as profecias sobre o fim do rock se cumprirem, Young, Loud and Snotty não será olvidado em meio aos destroços.
Nem mesmo o descaso da Sire Records, cujo desinteresse pelo álbum praticamente o levou à proscrição do seu catálago, consegue abafar esse testamento de alta periculosidade sonora deixado pelos Dead Boys.
Lançado no levante de 1977, o álbum marca a estréia fonográfica da banda que, na verdade, era considerada intrusa na cena punk. Com agravante de não serem de Nova York, Londres ou, tampouco, Detroit.
A célula do grupo – Stiv Bators (vocais), Cheetah Chrome (guitarra) e Johnny Blitz (bateria) – vinha de Cleveland, no interior dos EUA, onde já horrorizavam com as formações Frankstein e Rocket From The Tombs.
Sobreviveram à pecha de punks caipiras e foram anunciados com o surrado clichê: "a resposta americana aos Sex Pistols". Até hoje, Young, Loud and Snotty soa como uma metralhadora carregada de projéteis mortíferos. Logo de cara, "Sonic Reducer" festeja a juvenilidade exorcitando microfonias.
"Ain't Nothin to Do", "All This and More" e "Down in Flames", alguns dos impiedosos murros desferidos nos 28 minutos do disco, prescrevem o receituário da banda: substâncias químicas, letras arrogantes e riffs durões. Estilhaços do estrago causado voaram longe – em Seattle, acertaram o Green River (núcleo do Mudhoney) e, no Brasil, botaram os Forgotten Boys no mau caminho.
A festa acabou em 1979. Bators montou o The Lords of the New Church, mas sucumbiu à exacerbação gótica, enquanto Chrome se deu mal com o Ghetto Boys. Em 1990, Stiv Bators é atropelado por um motorista bêbado na França.
Examinado, os médicos lhe deram alta (depois se descobriu que ele tivera um coágulo no cérebro). Foi pro hotel e adormeceu despreocupado, como um autêntico garoto morto.
NAZISMO LÚDICO
Niilistas, os Dead Boys tinham prazer em chocar a todos com suásticas nazistas. São famosas as fotos da suástica que o guitarrista Jimmy Zero esculpiu na púbis da groupie Eileen Polk. Eles também adoravam polemizar com Genya Ravan, judia e produtora do álbum Young, Loud and Snotty.
QUALUUDS
Bators não segurou a onda ao topar o seu herói, Iggy Pop, em uma espelucunca de Nova York. Pancadão de qualuud, apagou com a cara enfiada em uma tigela de sopa. Uma das suas glórias pessoais foi "ser o cara que alcançou o pote de manteiga de amendoim para Iggy" se bezuntar durante a histórica performance de em "I Feel Alright" (ou 1970), na qual o iguana põe-se de pé, soberano, sobre o público de Cincinatti, em 1970.
NADA FÁCIL...
"Alguém me disse pra ir no CBGB's pra ver a melhor banda do mundo, os Dead Boys. Então fui lá uma noite quando eles estavam tocando, entro e a primeira coisa que vejo é Stiv Bators sendo chupado no palco por uma garçonete. A primeiríssima coisa". (Bebe Buell, groupie e mãe de Lyv Tyler)
Loung, Loud and Snotty/ Dead Boys/ Sire (1977)/ Relançado, em CD, pela Warner Bros em 1992/ Inédito no Brasil/ Ouça:
I Need Lunch
*Revista Bizz