POR LULA CÔRTES
Corri ate lá, e descendo uma pequena elevação dei com o inesperado: uma imensa pedra medindo uns 15 a 20 metros de comprimento com a forma de um lagarto imenso e sua barriga era totalmente bordada pelos fungos antiqüíssimos e pelas escritas estranhas, imagens humanas e espirais desenhadas em relevo forte.
Êxtase.
A cabeça rodava sobre o pescoço e os olhos não sabiam ainda o que fitar. Entramos num templo, era a única coisa que sabíamos ao certo. Na areia quente, fosseis de búzios do mar, toda aquela área fora um mar antigo, a água cantava, as cigarras e os pássaros invisíveis, eram como sereias.
Nenhuma nuvem, e no rosto da terra os mesmos mapas dos rostos dos homens que havíamos encontrado em BACAMARTE.
A pedra brilhava e hipnotizava os lagartos pequenos. Estes correndo dada a quentura do chão, caiam em buracos espiralados e lisos, cavados pelas águas através dos anos, dali não podendo mais sair.
Suas pequenas garras não aderem à superfície lisa e quase mármore da Pedra Polida. As cobras têem as suas presas quando cai o sol. Sentamos a beira d'água. Os sapos entoavam um canto como o som do OMM.
Os troncos gemiam com vento que era mais forte. Uma música estranha se formava com os carros-de-boi gemendo distante, como um misto de festa e de incelença, como lamento e festejo do uno vital.
Harpa dos ares, e o mundo era um feixe de afinadíssimas cordas de cobre brilhante, e essas cordas loucas, e os gemidos seus se entrelaçavam nos galhos dos arvoredos tortos se misturando no verde do juazeiro novo e entre as bages secas e as sementes duras e vermelhas do mulungú sozinho.
AXÉ-CAÔ.
E as lâminas das pedreiras brilhantes eram como as tarrachas dessa afinação natural. O lagarto imenso coxilava e sua boca tocava um poço no lajedo levemente.
Ele bebia.
Com o tempo passando e os dedos nervosos como se tocassem, apalpávamos a pedra, enquanto com pequenos cacos de um coité quebrado, jogávamos água no dorso do templo ou nos altares do réptil.
Jogávamos água com avidez e os símbolos pulsavam e se moviam, cresciam e respiravam. O calor da pedra transformava em ar a umidade e um cheiro estranho emanava dessa fumaça, como se saindo dos fungos cinza-esverdeados.
Os fungos grandes eram como escamas e se estendiam em todo o corpo do animal. Às vezes sentados numa pequena sombra de uma rachadura, parecíamos assustados trogloditas, raquíticos e indefesos.
E aquele imenso sáurio nos olhava e era manso e pleno. Ali seria um templo da fertilidade?
O vento trazia as sementes da Paina, voando em seus veículos de seda de algodão quase cristalino, e os levava passeando ante as cavernas dos nossos olhos acesos.
Na barriga do templo-animal outro calango menor se achava gravado. Medindo uns três palmos. Outro símbolo redondo e com uma cruz, muito se assemelhava a um gameta feminino.
Órion regendo a terra-mãe.
E formas como um homem e uma mulher de cabeça para baixo, como se deitados talvez, o milho, as frutas encravadas, e ainda um símbolo incrível que multo nos fazia crer em toda essa loucura verdadeira.
Uma maçã e uma serpente.
O vento cantava entre as horas do mundo. E elas se passavam vagas e acústicas, lerdas e infladas, sopradas como as nuvens, raras e brancas. Os quatro elementos juntos formavam como um só corpo.
De homem e de mulher composto em formas indefinidas, e esse corpo fecundo, se alastrava no vento, se derretia no tempo, se demonstrava no mundo. Fetos dentro da água éramos no leito do rio.
E pássaros sobre o juízo éramos pensando muito.
Que caminho maravilhoso se estendia como sendo o rio, que branco e cristalino se move. Havíamos achado uma pirâmide anterior às Aztecas ou Incas?
A imagem da montanha com arestas quase triangulares do município de Bacamarte nos invadia e nos fazia crer estarmos em terras de um antigo reino ou civilização.
Será que a localização dessa montanha formaria um triângulo eqüilátero com as pirâmides do México e do Egito? A vontade que nos afligia agora, era de cavarmos com as próprias mãos o sopé da montanha piramidal.
Continua...