Com todas as facilidades disponíveis para se lançar um disco hoje em dia, pelo caminho da independência ou não, é incompreensível que o cultuado álbum Por Favor, Sucesso, uma gema perdida nas profundezas do rock brasileiro, permaneça sem reedição no formato digital. A história dessa peça rara está ligada à era dos festivais de música popular brasileira que, nos anos 60 e 70, tinha para os artistas o valor de um passaporte ao reconhecimento. sexta-feira, 31 de agosto de 2007
pOR fAVOR, sUCESSO
Com todas as facilidades disponíveis para se lançar um disco hoje em dia, pelo caminho da independência ou não, é incompreensível que o cultuado álbum Por Favor, Sucesso, uma gema perdida nas profundezas do rock brasileiro, permaneça sem reedição no formato digital. A história dessa peça rara está ligada à era dos festivais de música popular brasileira que, nos anos 60 e 70, tinha para os artistas o valor de um passaporte ao reconhecimento. rOCK, mEDO & dELÍRIO eM lAS vEGAS
A editora Conrad acaba de lançar, pela primeira vez no Brasil, o testamente gonzo Medo & Delírio em Las Vegas, livro de 1971 do escritor norte-americano Hunter S. Thompson. Originalmente, "Medo & Delírio" foi publicado pela revista Rolling Stone, que encomendou ao escritor a cobertura da Mint 400, uma corrida off-road de buggies no meio do deserto de nevada. Na bagagem, um arsenal de drogas - da mescalina a "uma galaxia inteira de pílulas multicoloridas", conta Thompson. muito esquisito para estar vivo,
muito raro para estar morto
Na ida para o Brasil, de passagem por países da América do Sul, enviou uma carta para o editor do Brazil Herald, com o seguinte relato gonzo: “Estou no limite da insanidade. Enfraquecido pela disenteria, atacado por moscas e vermes, sem correio, dinheiro ou sexo. Perseguido 24 horas por dia por ladrões, mendigos, cafetões, fascistas, agiotas, loucos e bestas humanas de toda espécie”, relata o jornalista na carta. Quando retornou aos EUA, escreveu sobre gangues de motoqueiros e viagens químicas em Las Vegas – as aventuras que estão descritas em Medo & Delírio, sempre em primeira pessoa.
quinta-feira, 30 de agosto de 2007
gRÁTIS
O Supergrass liberou música nova no site da banda. É uma versão ao vivo de "Diamond Hoo Ha Man - Live at Guilford", uma das últimas gravações depois do álbum Road the Rouen, de 2005. As outras canções são "Bad Blood" e "Rough Knuckles". Para fazer o download, antes é preciso preencher um rápido cadastro. O sexto álbum do Supergrass está sendo produzido por Nick Launay, que já trabalhou com Nick Cave & Bad Seeds. iPOD'S 20
"I Had Too Much Dream Last Night" - Eletric Prunes
"Sugar Baby Love" - Rubbets
"Stupid Girl" - Neil Young
"Frank Hide" - Celibate Rifles
"O Cheiro do Óleo" - Superguidis
"Young Girl Sunday Blues" - Jefferson Airplaine
"Sugar Magnolia" - Greatfull Dead
"Stab your Back" - Damned
"The Good Humor Man He Sees Everything Like This" - Love
"Rock'n'Roll Queen" - Mott the Hoople
"Festa Punk" - Replicantes
"Great Big Kiss" - Johnny Thunders
"Golden Hair" - Syd Barret
"Old John Robertson" - The Byrds
"Menina Super Brasil" - Júpiter Maçã
"Walk Like a Man" - Grand Funk Railroad
"Rebel Rebel" - David Bowie
"Theme from Shaft" - Isaac Hayes
"Can't Blame the Youth" - Bob Marley & The Waillers
"Block Buster" - Sweet
wHO'S tHE bEST?
2. Por Favor, Sucesso (1969) - Liverpool
3. De Falla (1987) - De Falla
4. O Futuro É Vórtex (1986) - Replicantes
5. TNT (1987) - TNT
6. Bixo da Seda (1976) - Bixo da Seda
7. DeFalla (1988) - DeFalla
8. Coisa de Louco II (1995) - Graforréia Xilarmônica
9. Fita demo da Vórtex (1987) – Cascavelletes
10. Olelê (2000) – Ultramen
oS 10 mELHORES dISCOS do rOCK gAÚCHO
FÁBIO PRIKLADNICKI
Foram 50 personalidades consultadas, entre músicos, críticos, jornalistas e produtores. No total, mais de 80 títulos citados. Tudo para descobrir quais são os melhores discos da história do rock gaúcho. Cada votante convidado por APLAUSO indicou os cinco melhores álbuns, em ordem de preferência. O melhor de cada um recebeu cinco pontos. O segundo melhor, quatro. E assim por diante, até o quinto melhor, que recebeu um ponto. A seguir, estão destacados os dez discos com a melhor pontuação.
a sÉTIMA eFERVESCÊNCIA (1996) – jÚPITER mAÇÃ
No regresso de uma jornada relâmpago pelo folk dylanesco, no começo dadécada de 90, como Woody Apple, o compositor Flavio Basso (ex-Cascavelletes e TNT) inaugurou sua fase elétrico-psicodélica ao empunhar novamente a guitarra e assumir a alcunha de Júpiter Maçã. Montou a banda Júpiter Maçã & os Pereiras Azuiz e gravou a fita demo Ao Vivo na Brasil 2000 FM, de 1995, que já antecipava parte das músicas que entrariam no repertório de A Sétima Efervescência, lançado pelo selo Antídoto/ACIT.quarta-feira, 29 de agosto de 2007
A revista Brazuca, distribuída entre a colônia brasileira na França e na Bélgica, destacou nossa música na capa da última edição, Musique Brésilienne. A matéria principal, assinada por este jornalista - nas versões french e português -, traz uma entrevista exclusiva com Sérgio Dias, dos Mutantes. Ele falou sobre os planos da banda e dos shows da nova tour pela Europa e Estados Unidos.terça-feira, 28 de agosto de 2007
o sUÍCIDIO aNUNCIADO dE zIGGY sTARDUST & aS aRANHAS dE mARTE
Em 1973, no palco do teatro Hammersmith Odeon (Londres), David Bowie deu por encerrada a sua mais expressiva fase, das inúmeras que a sua extensa carreira produziu. Em uma noite de atmosfera obscura, guitarras ameaçadoras, teatralidade e frenesi do público adolescente, Bowie cometeu o assassinato do seu alter-ego, o rockstar alienígena Ziggy Stardust.vACA aMARELA
Neste fim de semana, nos dias 31 de agosto e primeiro de setembro, tem a sexta edicão do Festival Vaca Amarela, em Goiânia Rock City. São 32 bandas, de Goiás e de outros estados brasileiros. O festival marca a filiação do Vaca Amarela a Associação Brasileira dos Festivais Independentes (Abrafin). a vOLTA dOS gAULESES
Confirmadíssimo. O livro Gauleses Irredutíveis - Causos e Atitudes do Rock Gaúcho, de Alisson Avila, Cristiano Bastos e Eduardo Müller, será relançado, com acréscimos, durante a 53° Feira do Livro de Porto Alegre, em outubro, pela editora Doravante (ex-Sagra Luzzatto). A nova edição terá prefácio escrito pelo músico e cineasta Carlos Gerbase e contará com uma lista dos 100 discos essenciais do rock do RS formulada por Fernando Rosa, jornalista e editor do site SenhorF.Em 2001, Gauleses Irredutíveis foi a obra de autores estreantes mais vendida da 47° Feira do Livro de Porto Alegre - e, assim que lançada, esgotou rapidamente sua primeira edição. Virou peça de colecionador disputada em sebos e na internet. O livro também ficou conhecido fora do Brasil, em países como Itália, Inglaterra e Estados Unidos. Os autores do coletivo italiano Wu-Ming, do best-seller Q-O Caçador de Hereges, leram o livro e deixaram seus comentários em uma série de matérias no site da Wu-Ming Foudation. Gauleses, inclusive, foi referência para um livro nos mesmos moldes, lançado pelo coletivo, sobre o rock italiano.
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
cARLINHOS & oS íNDIOS
Entrevista exclusiva do Carlinhos Carneiro, da Bidê ou Balde, pro site da Bizz. Auxiliado por uma médium que o guiou para incorporar três entidades indígenas, das etnias Xavante, Kraho e Guarani, Carlinhos & Os Índios (isso já é nome de banda...) falaram sobre as atividades paralelas da Bidê - quando não está com o microfone na mão o vocalista mantém uma rotina campeira - e contaram como Rivers Cuomo liberou a versão de "Buddy Holly" do primeiro disco. Por fim, a indiada enfileirou todos os seus ídolos do rock gaúcho. Mantenham a calma e fiquem atentos, que "eles" exigem respeito! - Carlinhos, você está sozinho na sala ou tem mais alguém com você aí?
Sim, eu estou acompanhado. Sinto a presença dos três índios, meus camaradas, que vieram tentar rever o mundo através de mim e fizeram da minha fala uma ponte pra algumas das suas intenções e delírios. Pois os mortos deliram...
quinta-feira, 16 de agosto de 2007
eU sOU mICKEY rOURKE!
Cristiano Bastos, mais conhecido como T.Rex por sua adoração pseudo-fake por Marc Bolan, chutador de bunda de alternativos e defensor dos textos de auto-ajuda na terceira pessoa do plural (no estilo "eles que se fodam") poderia ser um Jack London se fosse mais bêbado e menos capitalista. Obviamente, é, pra mim, o criador de uma das melhores frases ditas durante uma noitada em todos os tempos. Lá pelo fim do século passado, no antro porto-alegrense chamado Garagem Hermética lotado de cadelinhas underground e fêmeas obtusas que se multiplicam nos ambientes roqueiros da classe média chinelona, T. Rex saiu-se com a seguinte frase, que resume grande parte da cultura jovem ocidental do Século XXI: "SINTO PEITOS EM MEUS COTOVELOS!"
segunda-feira, 13 de agosto de 2007
eM óRBITA pELO mUNDO
Leia a íntegra deste texto na edição impressa da APLAUSO 86
dELÍRIO cOLETIVO
Nem é preciso comentar: a exortação "descabe-se de tanto dançar em clima de saudável hedonismo" foi mesmo obedecida na "Festa, Rock Medo & Delírio na Montanha". A festinha virou hit. Simplesmente não vale a pena tentar explicar uma noite de muito rock, diversão e muitos outros "aõs" que nem é preciso dizer... Casa lotada de belos espécimes humanos. Ficamos metabolizando as bem-aventuranças da festa durante toda a semana seguinte (algo comparável, para mim, somente a lendária festa no Teatro Nilton Filho, com o show da JKABAK, nos anos 90). O clamor para uma nova edição da festinha é grande e já tem até uma data programada: 6 de Outubro. Quem foi curtiu. Se ficou curioso, apareça na próxima. Nós te avisaremos. Um Top 20 que "bombei" na festa, em ordem aleatória:
quarta-feira, 8 de agosto de 2007
fIM dE jOGO
Infelizmente, a revista Bizz - mais uma vez - sumiu de cena, ou melhor, das bancas. Que é a terceira ou quarta vez que a revista fecha suas portas, em mais de 20 anos entre idas e vindas, não é nenhuma novidade. Nos anos 80 e 90, período árido de informações da era pré-internet, a Bizz saciou com informações milhares de leitores amantes de música pop com a expertise de lendários colaboradores: Ana Maria Bahiana, José Augusto Lemos, Celso Pucci, André Forastieri e Thomas Pappon - só pra ficar em alguns. Era preciso esperar um mês inteiro pra buscar a nova edição da revista nas bancas - tempo que, pros mais fissurados, parecia não ter fim. Uma alternativa era comprar tablóides como Melody Maker e New Musical Express, no aeroporto, pra saber o que estava rolando no mainstream estrangeiro. Algo fora da realidade artística local.Na real, é uma lástima que a Bizz tenha "soçobrado" (e não foi por falta de esforços da equipe comandada pelo editor Ricardo Alexandre) na sua breve reexistência - isso só prova a vulnerabilidade do mercado editorial brasileiro. Pior ainda, atesta uma vulnerabilidade maior ainda da imprensa brasileira especializada em música, que ficou com uma importante lacuna a ser ocupada - e não se sabe por quem, até agora. O trono está vago e não será ocupado pela Rolling Stone, por motivos óbvios: a linha editorial da RS não está circunscrita apenas aos domínios musicais. Basta ver as capas da revista - a última é Os Simpsons. Sites de "jornalismo" musical têm aos montes na web, contudo, são pouquíssimos os que cumprem o papel de serem legais, informativos e bem feitos ao mesmo tempo. A excessão heróica é o site SenhorF, que sozinho praticamente move a cena independente brasileira na mídia. Recém sepultada, a Bizz já causa saudades.
O destino era Floripa, ônibus da meia-noite. Devorei aquele exemplar madrugada adentro com o mesmo labor que Jack London descreveu a respeito dos milhares de livros que leu insaciavelmente como única saída viável para ascender de proletário mal-pago a escritor engajado em causas universais. A analogia é meio exagerada, mas é mais ou menos por aí. Eu estava à cata de informações sobre o fabuloso mundo da música pop. Depois disso descobri e me interessei pelo jornalismo.
Na Bizz tomei contato com as bandas que amo incondicionalmente, em reportagens que, fora a informação, despertavam ainda mais a curiosidade. Provável que o primeiro facho de luz da minha adoração mística por Marc Bolan & T.Rex tenha sido lançado por textos da revista. Li o arrepiante testamento sobre o álbum The Slider escrito por Jean-Yves Neville e tive a alma irremediavelmente iniciada no mistério que circunda os grandes gênios do pop. Como brincou o quadrinista Joe Sacco na HQ Derrotista "Marc Bolan foi um enviado dos deuses para lembrarmos que somos todos crianças". Outra discoteca básica sedutora foi a do Surealistic Pillow, do Jefferson Airplaine. Depois de ler o texto ficava aquela impressão: Grace Slick, uma mulher num mundo de bandas emasculadas e ela compôs "White Rabbit" e "Somebody to Love"?! O jeito era conseguir o disco. Até hoje essa é (era) minha seção predileta.
Aliás, esse atraso de informações, que caracteriza o rock nacional nos anos 80, tem a ver com isso: não existiam revistas. Nos anos 70, ganhamos uma versão pirata da Rolling Stone; depois, a Pop!, que começou bem, mas logo descambou pra uma espécie de Capricho unissex da música. Por causa dessa carência de informações, o Brasil do meio dos anos oitenta vivia uma onda New Wave old fashion, enquanto que, na Europa e nos Estados Unidos, o gênero esgotara-se há pelo menos uns cinco anos. O único consolo é que os gringos apenas estavam fazendo "lixo mais desenvolvido" - a menos que você considere a turma dos new romantics a coisa mais legal do planeta...Hoje, graças à internet, a anacronia é coisa do passado. O cara em Londres lança uma última tendência eletrônica e, por aqui, os filhotinhos já se proliferaram no dia seguinte. É até uma praga. E uma coisa lúdica da Bizz: qual leitor não colecionou as fichinhas que vinham encartadas na revista? Algumas fichas da minha coleção ainda estão lá, outras viraram descolados porta-copos do Sig-Sig Sputnik, Abba, Byrds, Crosby Stills Nash & Young, The Cramps.
A entrevista a seguir, com o guitarrista e vocalista do Mudhoney, Mark Arm, foi publicada na edição derradeira da revista - julho, capa dos Los Hermanos -, com o sugestivo nome de O Último Show (acredita-se que o título foi uma brincadeira com o iminente fim da revista). Arm, o boa-praça, um dos caras que iniciou o grunge em Seattle, fala sobre sua estante de discos e revela as coisas legais que anda ouvindo.
A entrevista rolou na última - a terceira - passagem do Mudhoney pelo Brasil. Com certeza um dos shows mais a fudê que vi em toda a minha vida. Aquele show de 2002 no Teatro de Elis, em Porto Alegre. Todo mundo pogando em felicidade fuzz: Benvenutti, Talitha Jones, Carlinhos, Fidel, Caíco, Alisson - velhos amigos e parceiros de beligerância roqueira. Depois do show, Mark Arm foi assistir Os Replicantes no bar Garagem Hermética (o antigo, ainda) e curtiu um monte a tosqueira da banda gaúcha. Certo amigo nosso até fumou um cigarrinho do diabo com o cara no desenrolar daquela madrugada gélida de Porto Alegre. Anos mais tarde, presenciei Mark Arm fazendo os vocais do falecido Robin Tyner no retorno do MC5, em São Paulo, e ele segurou a onda legal. Foi carregado pelo público do Campary Rock. E, meses atrás, no festival Porão do Rock, em Brasília.
Lá embaixo, no blog, outra matéria publicada na última edição da revista, seção Tesouros Perdidos, sobre o disco Young, Loud and Snooty, dos Dead Boys, que nunca tinham aparecido nas páginas da Bizz - por causa disso, fico feliz de tê-la escrito. Afinal, todas as grandes bandas que caminharam sobre a face da terra - um dia - saíram na Bizz.
Todo mundo sabe que Mark Arm (em frente na foto) é um fissurado colecionador de discos de rock. Na sua terceira vinda ao Brasil, com o Mudhoney, ele abriu o jogo sobre os seus álbuns prediletos, o que anda ouvindo e destacou, entre os seus dez mais, a banda carioca Os Brasões, um registro raro da psicodelia brasileira.Qual álbum da primeira era piscodélica não sai nem a pau do seu player?
As trilhas sonoras de Russ Meyer são itens importantes na sua coleção, já que Mudhoney é o nome de um filme do diretor?
Qual o mais novo título passou para sua discoteca?
terça-feira, 7 de agosto de 2007
sESTINE: fOLK rOCK cOM pOESIA bEAT
"Brasília sofre pela herança. Tem muita banda querendo ser 'a nova Legião'. Só que, ao invés de compor melodias bonitas, prefere dar sermão político na platéia. Até no meio indie tem dessas coisas", provoca o compositor Márcio Porto, cantor e guitarrista da banda brasiliense Sestine. rOCK mEDO & dELÍRIO nA mONTANHA!
Não perca essa oportunidade de se divertir e ser feliz!
segunda-feira, 6 de agosto de 2007
o iMPÉRIO cONTRA-aTACA
Memórias de quase dez anos, 1998, eu acho, se alguma coisa aqui dentro não estiver danificada a essas alturas, me fazem lembrar a primeira vez que ouvi aquele terrível nome saindo da boca do Carlinhos Carneiro: "Bidê ou Balde". Na hora não me soou muito bonito. Todos conheciam as fantásticas capacidades dadaístas do Carlinhos já tenro jovem - que sempre foi e ainda é - e desde os tempos em que ele ainda era um balconista de videolocadora (alguém já imaginou o Carneiro nessa situação?). Acredita-se que toda a pulsão criativa do Carlinhos tenha sua gênese ali naquela diminuta locadora de Bagé, onde ele prescrevia Blue Velvet e Twin Peaks pra clientes em estado de mania & depressão. Alguns deles se afundaram tanto em David Lynch que não voltaram. Carlinhos havia ido longe demais - e tão jovem...A Bidê ou Balde (pensem o que quiserem, os sisudos detratores) é uma das melhores bandas surgidas no encastelado estado do Rio Grande do Sul em todos os tempos. O iconoclasta Outubro ou Nada! é um álbum repleto de grandes canções, com riffs tão bem tirados que parecem saídos direto de uma abastada vaca leiteira, sem mencionar as melodias encantadoras, os sexy vocais da Vivi e da mamãe-Katia. E mais: o disco é arranjado com uma elegância que pouco se vê na música pop brasileira - independente ou não. A cada faixa, engendra uma admirável engenharia de passagens sonoras, suítes e lindas microfonias. Ouça. Amo riffs e "Metalassê", o grande power hit do álbum, conseguiu ser um dos melhores que ouvi em toda minha vida de obsessões roqueiras.
Voltando ao esquisito do nome, eis que Carlinhos Carneiro está agora em um projeto paralelo à Bidê ou Balde (nesse momento tricotando novas composições), cujo nome é ainda mais strange: O Império da Lã. Tente formar em imagens o que Império da Lã poderia significar pra você. Na minha cabeça vem algo como um reinado de ovelhas no topo do mundo, o obscurantismo pós-Revolução dos Bichos. Ou algo mais prosaico, como uma loja especializada em lãs e malhas de todos os tipos fincada numa daquelas galerias da Rua dos Andradas. Quem sabe, então, uma senha secreta pra detonar a guerra nuclear...
Depois de uma histórica estréia mundial, há pouco mais de um mês, na fronteiriça cidade de Jaguarão (que rendeu-se por completo à barbárie da banda em dois shows lotados, cada um com mais de 2 horas de duração - e, de lambuja, ainda entregou a vizinha cidade uruguaia Rio Branco aos domínios do Império), os cavaleiros imperiais querem encabeçar o mundo. No repertório da dominação, além de músicas de autoria da banda, um passeio guiado por canções de Tim Maia, Frank Sinatra, Bob Marley, Erasmo Carlos, Wilco, Beatles, Supergrass, Roberto Carlos e Beck.
O plano, para um futuro bem próximo, confidencia Carlinhos, é aumentar os domínios do Império da Lã, arregimentando seguidores e adoradores em novas cidades. E, a seguir, a grande meta da banda para ingressar no seu sonho de mainstream: fazer shows em praças de alimentação, churrascarias, lojas e galerias de arte, para "arrecadar agasalhos (e alimentos, e brinquedos - além de novelos de lã, para virarem agasalhos em terapias ocupacionais de clínicas e asilos) para ajudar os necessitados e, de quebra, divertir-se em lugares inusitados". Império da Lã não é só despotismo - tem o seu viés social.
"Logo logo, o mundo será pequeno para o Império da Lã!", profetiza Carlinhos Carneiro. Planta-se a dúvida: O que será da Orquestra Imperial daqui pra frente?!
quinta-feira, 2 de agosto de 2007
a aMARGA sINFONIA dO sUPERSTAR
Uma banda
Difícil. Fico com o dream team da Backbeat.
Um disco
In Utero, do Nirvana, que me deu vontade de ter uma banda. Era 1994.
Um pedal
Oliver Bass Chorus! Plugue o microfone e você fica com a voz igual à do Ozzy Osbourne!
Herói
Stephen Malkmus, cuja sensibilidade musical e senso de humor admiramos e seguimos.
Anti-herói
Bob Dylan. Se lambuzou todo naquele submundo descrito pelos beats. Cresci ouvindo ele, com meu velho. Outsider de carteirinha.
Livro
Clichê, vá lá: On The Road, Jack Kerouac.
Lugar dos sonhos pra tocar
Queria ter tocado com o Mudhoney no Teatro de Elis, na Porto Alegre de 2001.
Fã perfeito
Philippe Seabra. Gosta da banda, libera o estudiozão pra gravar e dá palpites. Heheh.
O cantor mais cool do rock
Beck Hansen tem a genialidade escorrendo por debaixo do sovaco! O cara canta e dança demais, recicla sons e é um compositor que se reinventa como quem troca de cueca.
Microfonia perfeita
O final de Like a Hurricane no Rock in Rio 3, com a velha Les Paul preta do Neil Young com três cordas arrebentadas sendo esmurrada pela mão já ensangüentada do velho índio, fazendo ecoar estrondosos simulacros de trovões. Incrível!
O "seu" filme de rock já foi feito? Sobre o que ele seria?
Já. Jim Jarmusch pulou na frente, com o Year Of The Horse. Seria algo assim, quando ficarmos mais velhos e caducos, e a iminência do Acidente Vascular Cerebral nos bater às têmporas, rodar um filmezinho em turnê, enxertado com imagens de arquivo!
5 discos do seu Top List:
Bom, pra isso estabeleço um critério, o qual consiste naqueles discos em que eu não pulo NENHUMA faixa. Ouço-o todo, se bobear, no repeat. Parecem coletâneas.
1. Foo Fighters - Foo Fighters
2. My Bloody Valentine - Loveless
3. Stone Temple Pilots - Nº 4
4. PJ Harvey - Stories From The City, Stories From The Sea
5. The Smashing Pumpkins - Siamese Dream
Aforismo predileto
“Não existe trabalho ruim, o ruim é ter de trabalhar”. Seu Madruga.
Lema de vida
Levo a vida tal qual Juca de Oliveira no longínquo comercial da Maracugina. Não há uma frase concreta, mas sim o ato de desfranzir as sobrancelhas, desestressar... “Deixa que depois nóis desatola ela”.
sUPERBADALADOS!
CRISTIANO BASTOS
A um passo de ser lançado, o segundo disco da Superguidis, A Amarga Sinfonia do Superstar (SenhorF Discos), vem cercado de expectativas. O desafio é duplo: reproduzir a sensação do trabalho anterior - que revelou mais de um punhado de gemas pop-distorcidas, como "O Coraçãozinho" e "Espiral Arco-Íris" - e, de quebra, desembaraçar-se de vez dos grilhões que os deixam cativos da corroída rotulagem "rock gaúcho". O jogo, no entanto, está praticamente ganho. "Quem curtiu o primeiro disco vai adorar o próximo", afiança o guitarrista Lucas Pocamacha. Você vai entender o que ele quer dizer quando se flagrar repetindo o refrão "de tanto responder perguntas eu virei uma exclamação", de Exclamação, um dos possíveis hits do disco, cuja fita master APLAUSO teve acesso em primeira mão.
Verdade seja dita: eles nem desconfiavam que o álbum primogênito causaria o frisson que os alçou, um ano atrás, ao status de banda mais falada da cena independente brasileira. Em 2006, a revista Bizz os incluiu na lista das "13 bandas que realmente importam no novo rock", ao lado dos hermanos Los Álamos, da Argentina, e do hype nova-iorquino We Are Scientists. Recentemente, a mesma publicação os definiu como "a grande esperança branca do rock independente brasileiro". Uma eleição feita pelo site Trama Virtual elegeu o debut da Superguidis como o melhor disco independente do ano passado. Com o detalhe que, para eles, foi tudo quase sem querer. "Não fazíamos idéia. Só queríamos gravar uma demo um pouco maior e lançá-la", espanta-se Lucas.
E a coisa não pára por aí. Em junho, tocam no Festival Porão do Rock, em Brasília, com Mudhoney e Bell Rays, dos EUA, e os lusitanos do Born a Lion. Em julho se apresentam em Buenos Aires, La Plata e Montevidéo. E lançam um single em vinil da música Mais um Dia de Cão, uma parceria entre as gravadoras SenhorF e Monstro Discos, de Goiânia. No lado B, uma (sub) versão de Everybody's Got Something to Hide, Except From Me and My Monkey, do White Album dos Beatles.
O ponto de partida do estouro foi em 2005. Os guris da Superguidis, estudantes de comunicação da PUC-RS até então conhecidos só no circuito indepentende gaúcho, toparam com o jornalista gaúcho Fernando Rosa, proprietário do selo SenhorF Discos, de Brasília (que lançou outro expoente da nova cena, os acreanos Los Porongas). Deixaram com ele uma cópia da master que tinha a zangada Malevolosidade e a sensível O Banana. Rosa conta que, nos meses seguintes, ouviu a cópia centenas de vezes, torcendo para que se decidissem lançar pelo seu selo: "Na época, escrevi que se tratava de um ‘disco de geração’ - e acho que não errei. A receptividade do álbum e a reação das pessoas, shows Brasil adentro, confirmaram a definição. Não podia ser diferente: com 12 canções exuberantes, o álbum tem tudo o que um disco de rock deve ter: poesia inteligente, guitarras tortas e senso pop de sobra".
O produtor de A Amarga Sinfonia do Superstar e líder da banda Plebe Rude, Philippe Seabra, além de amigo, virou fã dos novos pop-stars de Guaíba: "Eles surgiram no meu estúdio, o Daybreak, como uma lufada de ar fresco soprada pelo ancestral vento Minuano. O futuro do rock brasileiro está nas canções com pegada e postura. Isso os Guidis tem de sobra". Seabra entrega que ficou admirado com a celeridade da banda: "Separamos três semanas de trabalho, sabia que seria rápido. Mas não estava preparado para uma gravação tão ligeira. Mataram o disco inteiro em menos de dez dias! No tempo que sobrou ficamos jogando bola, com exceção do Lucas que, no próximo embate, precisa antes entrar em forma. Ele não agüentou nem quatro minutos de jogo", sacaneia.
No estúdio, banda e produtor optaram pelo método Chas Chandler (que trabalhou com Slade e Jimi Hendrix Experience) de gravação. Isto é: um take só para todas músicas. As artimanhas dos estúdios modernos, como edição e uso de click track (metrônomo quem mantém o baterista no tempo correto da música) e autotune (efeito de pós-produção que afina a voz do cantor), foram deixadas de lado. O segredo, Lucas tenta explicar, "é soar pop sem parecer idiota". A diferença, pontua, está na cara um pouquinho menos infantil que as músicas têm agora: "A ironia mudou de direção. Até poderia dizer que, nesse disco, a ironia está um pouco mais ‘séria’. Só que, por precaução, não vou afirmar isso, não".
Voltando aos rótulos como "rock gaúcho". O objetivo da Superguidis é se manter à parte das bandas que, por opção estética ou falta de referências, tem a "cara do Sul". Na opinião de Lucas falta a essas bandas arejar um pouco a cabeça. "A verdade é que, em Porto Alegre, a galera não está a fim de novidades. Não há mais mercado interno e sequer um selo independente que preste". Outra falha da cena gaúcha, observa o guitarrista, é que ninguém conhece as bandas de fora, e nem quer conhecer, ao contrário do que acontece em outros Estados. Tanto é que a Superguidis cooptou fãs do Oiapoque ao Chuí. "Faz tempo que está rolando um comodismo irritante no Rio Grande do Sul. A impressão é de que o Estado congelou no tempo e, especialmente na música, nos anos 60". Para reforçar o que Lucas diz é só observar o caso da Graforréia Xilarmônica, que não encontrou uma gravadora gaúcha para lançar seu disco ao vivo - editou o trabalho pela mesma SenhorF. Ou então as bandas Pública e Walverdes, que são do selo paulista Mondo 77. "Parece que, no RS, existe um medo de fazer alguma coisa diferente", ele critica.
A Superguidis também não encara o sucesso em suas personificações roqueiras mais clássicas. Os músicos passam longe da pecha de malvadões e garantem nem pensar nos exércitos de groupies desvairadas, ávidas para deixar marcas de batom na cueca do seu roqueiro favorito. "Ainda falta ganharmos alguns milhões para que elas apareçam", despista Lucas. Quanto às drogas, a temível preocupação dos pais nesse negócio profano por excelência chamado rock, então, nem pensar. Diz Lucas: "A melhor droga que nos ofereceram até hoje foi Toddynho, em Belém. Bateu legal".
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